_arquivos/image002.jpg)
Dimensão
técnico-operativa na formação profissional de
assistentes sociais
The
technical-operational dimension in the professional training of social workers
Jheniffer FIGUEIREDO*
_arquivos/image004.png){kind=small}
http://orcid.org/0000-0002-2311-4057
Reinaldo Nobre PONTES**
http://orcid.org/0000-0002-1371-450X
Karina Camille Marques
CEZAR ***
http://orcid.org/0000-0002-6591-6189
Olga Myrla
TABARANÃ****
http://orcid.org/0000-0001-9254-3384
Resumo:
O presente trabalho
aborda, de forma introdutória, a temática da dimensão técnico-operativa no contexto
da formação profissional em Serviço Social, objetivando identificar como a
temática figura na produção científica de Serviço Social nas duas mais importantes
universidades da região Norte do Brasil, Universidade Federal do Pará (UFPA) e
Universidade Federal do Amazonas (UFAM). A base empírica para a análise foram
os resultados de levantamento bibliográfico (estado da arte) realizados no
banco de teses e dissertações da CAPES.
Concluímos, preliminarmente, que a temática abordada por este trabalho
apresenta baixa representatividade no universo de pesquisas científicas
produzidas na área de conhecimento do Serviço Social e se encontra ainda mais
escassa na pós-graduação das instituições em tela, com maior evidência na UFPA.
Palavras-chave:
Formação
Profissional. Dimensão Técnico-Operativa. Serviço Social. Região Norte.
Abstract: This work addresses, in an introductory way, the technical-operational
dimension within the context of professional training in Social Work. It
identifies how prominent the theme is in the scientific output on Social Work
in the two most important universities in the Northern region of Brazil, the
Federal University of Pará (UFPA) and the Federal
University of Amazonas (UFAM). The empirical basis for the analysis is a
bibliographical survey (state of the art) carried out in the CAPES database of
theses and dissertations. We conclude that this theme is poorly represented in
the scientific research published in the area of Social Work and is even
scarcer in the postgraduate programmes of the institutions in question, with the
greater lack being at the UFPA.
Keywords: Professional Training. Technical-Operational
Dimension. Social Work. North
Region.
Submetido em:
30/01/2021. Aceito
em: 24/06/2023.
1
Introdução
|
N |
a
história pós-reconceituada do Serviço Social a relação
entre o processo de formação profissional e a dimensão técnico-operativa (antes
chamada de prática profissional) passou a ser compreendida por meio de sua
mediação com e por intermédio das demais dimensões da profissão
(teórico-metodológica e ético-política), enquanto categorias analíticas
estruturantes da área de conhecimento do Serviço Social. Tais reflexões vêm
propiciando avanços reconhecidos no campo profissional e acadêmico (Santos; Backx; Guerra, 2017), sem no entanto
poder-se dizer que não restam problemas teóricos e práticos de monta a serem
enfrentados.
Considerando
o cenário conjuntural que se apresenta na sociedade brasileira, no que concerne
aos avanços do conservadorismo e suas expressões particulares no Serviço Social
brasileiro, percebem-se evidências da compreensão dialética do movimento das
categoriais do método entendidas na sua materialidade na vida real dos
sujeitos, e que esta se encontra ameaçada por correntes teóricas que operam a
cisão da relação teoria-prática e propõem respostas práticas/demandas socioinstitucionais
imediatas.
Essas
correntes teóricas, presentes na profissão nas Ciências Sociais desde há muito,
impulsionadas pelo avanço do neoconservadorismo explícito de governos de
ultradireita, se encontram conjuntamente no direcionamento das políticas
sociais neoliberais. Sua presença retrógrada se materializa na orientação presente
nas respostas às requisições cotidianas do trabalho profissional a partir de
princípios e diretrizes que individualizam tanto a causalidade, quanto a
intervenção profissional e rebatem no Serviço Social como um todo, ameaçando
conquistas ainda em consolidação. Tal processo e
tensionamento revela, portanto, a disputa pela hegemonia tanto no campo
da sociedade civil quanto no campo profissional.
Todavia,
temos nos princípios formativos do Serviço Social, construídos hegemonicamente
e expressos no documento das Diretrizes Curriculares
da Associação Brasileira de Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS) (1997), para
além dos demais documentos normativos da profissão que dão materialidade ao
Projeto Ético Político, uma direção prático-interventiva diferente do
pragmatismo neoliberal. Adotou-se, coletivamente, um método e uma teoria social
crítica que orientam
assistentes sociais a realizar leitura da realidade concreta cotidiana
estabelecendo conexões dialéticas entre teoria/prática que permeiam as respostas
profissionais requeridas pelas expressões da questão social que se apresentam
nas demandas de trabalho institucional.
Pensando sobre essa contradição entre a proposta de formação
profissional sintetizada nas Diretrizes Curriculares da Associação Brasileira
de Escolas de Serviço Social
(ABESS) (1996) e as requisições práticas do trabalho de
assistentes sociais, que pressupõem direções societárias e orientações
profissionais a partir de dicotômicas perspectivas teóricas, optamos por realizar,
mesmo que introdutoriamente, um levantamento das principais produções científicas
na área de Serviço Social, tendo como foco a categorias da formação profissional e da dimensão
técnico operativa.
Objetivamos
com este trabalho apresentar o estado da arte das produções acadêmicas que dissertam
sobre as mencionadas categorias e seus elementos constitutivos inscritos no
catálogo de teses e dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal
de Nível Superior (Capes). A partir desta aproximação preliminar desejamos
apresentar um mapeamento destes trabalhos dissertativos, apontando as
pós-graduações de vínculo dos trabalhos e os principais resultados a que estas
chegaram. Para tanto, a pesquisa para elaboração deste artigo optou pelo método
do materialismo histórico-dialético, com ênfase quantitativa.
O
trabalho está disposto em três momentos. Primeiramente, apresentamos,
introdutoriamente, o debate sobre formação profissional e como vem se
estruturando a dimensão técnico-operativa nesse processo. Em seguida,
apresentamos os processos metodológicos da coleta de dados e expomos seus
resultados. Por fim, apresentamos as sínteses das produções acadêmicas e as
discussões levantadas por estas, bem como as conclusões do artigo.
2
Dimensão técnico-operativa na formação profissional: o
processo histórico-dialético a partir das Diretrizes Curriculares da ABEPSS
(1996)
Sabe-se
que, em sua gênese, o Serviço Social emerge como profissão quando inserido na
divisão sociotécnica do trabalho, na especificidade histórico-temporal do
capitalismo monopolista, a partir de requisições demandadas pelo Estado no
tocante aos conflitos sociais que vinham enfrentando o conjunto dos atores
sociais. Deste modo, o papel social exercido pela profissão se assenta em
responder as demandas institucionais, atuando como intermediador da relação
entre o Estado e a classe trabalhadora. Temos que o Estado propõe enquanto respostas
às demandas sociais e às políticas públicas e sociais que passam a ser instrumentos de mediação dessa relação donde o
profissional de Serviço Social irá atuar, majoritariamente, na fase terminal de
execução (Netto, 2011b).
Desde
sua emergência até o tempo presente, a profissão de Serviço Social executa seu
trabalho mediante as demandas emergentes da contradição entre capital e
trabalho que surgem como expressões da questão social, as quais se configuram
enquanto matéria-prima do trabalho dessa área profissional e de conhecimento. Essas
expressões com o passar dos acontecimentos históricos impulsionados pelas
mudanças provocadas mediante as crises cíclicas desse sistema (MÉSZÁROS, 2011)
se complexificaram e se apresentam sob novas e mais
contraditórias determinações e mediações criadas a partir das demandas do
capital e seu sistema de produção.
Discutindo
formação profissional em Serviço Social na singularidade do contexto socioeconômico
e cultural do Brasil, no qual predomina a formação histórica de um capitalismo
periférico onde a organização da classe burguesa em nada se assemelha as dos
países tidos internacionalmente como de capitalismo central, temos que a
profissão acompanhou as mudanças e transformações sociopolíticas e adequou sua
estrutura curricular para a formação de novos assistentes sociais baseando-se
nos princípios positivistas conservadores. Avançando no processo histórico, no
período compreendido entre as décadas de 1960 e 1990 a categoria profissional
começa a traçar novos rumos que corroboraram na transformação da cultura e ethos profissional
a partir de solicitações da categoria de assistentes sociais que requeriam
outras perspectivas interventivas em detrimento das demandas surgidas no
contexto da conjuntura social a qual enfrentavam (Abramides,
2019).
Esse
processo foi denominado no que hoje conhecemos como Movimento de
Reconceituação, o qual provocou uma transição desde a incorporação da
perspectiva teórico-metodológica fundamentada no método do materialismo
histórico-dialético e da sua teoria social. Esse novo fundamento
teórico-filosófico e revolucionário, ao ser introduzido na formação profissional
e nos demais subsídios legais da profissão - Lei de Regulamentação (1993) e Código
de Ética (1986), irá influenciar nas demais dimensões profissionais, quais
sejam a ético-política e técnico-operativa, estabelecendo
também uma relação dialética intrínseca entre ambas (Abreu, 2016).
Destacamos,
entretanto, que esses princípios nos quais a proposta das Diretrizes
Curriculares da ABEPSS (1996) se estrutura sofreram alterações relevantes
quando da sua aprovação pelo Sesu/MEC (Brasil, 2002),
alterações que suprimiram eixos importantes e caros à perspectiva crítica da
profissão pós-Reconceituação. Essa supressão tem como pano de fundo as adequações
das superestruturas governamentais dos estados nações às exigências de
organizamos internacionais as quais norteiam suas ações estratégicas para com
as políticas econômicas e demais políticas públicas, e aqui destacamos as
investidas na política educacional a nível básico e superior, sob orientação da corrente neoliberal[1].
O
esvaziamento da avançada proposta da ABEPSS expresso na proposta do Ministério
da Educação, em 2002, ocasionou um reducionismo teórico-metodológico, desvio
ético-político e uma valorização da dimensão do ensino técnico-operativo
descolando-a das demais dimensões constitutivas da tríade. Além disso, do ponto
de vista da organização e direção social dos cursos formadores de assistentes
sociais se colocava o risco – pela massificada privatização – de “[...] apenas
uma pequena parcela dos cursos existentes estaria comprometida com a construção
coletiva da formação coordenada por esta entidade [ABEPSS]” (Abreu, 2016, p.
254).
Ao
discorremos sobre a dimensão técnico-operativa que, nas palavras de Guerra
(2012) é o espelho da profissão, devemos entendê-la como o momento de mediação
que se expressa no cotidiano do trabalho profissional e deve-se assim o fazer
tendo em vista a inter-relação dialética para com as demais dimensões, sendo o
meio pelo qual o Serviço Social vê e é visto. Seguindo essa perspectiva, temos
que esta dimensão se expressa na prática que se objetiva e incorpora-se
as outras dimensões do trabalho (teórica, investigativa, ética, política,
interventiva e formativa) mediando os conhecimento e arcabouços teórico com a
realidade concreta e cotidiana do ser social.
Por
ser a dimensão que comporta, entre outros elementos, os instrumentos e técnicas
de trabalho do assistente social está sujeita a incorrer, se não for bem
trabalhada, em um conjunto de procedimentos técnicos esvaziados de sentido
teórico ou mesmo político na percepção racional do sujeito profissional (Guerra,
2012). Essa lógica pragmática, que corrobora com o que Guerra (2017) denomina
de racionalidade formal-abstrata,
alinha-se às exigências do mercado de trabalho em vista da lógica neoliberal
norteadora do sistema capitalista contemporâneo que provoca,
tensiona e subsumi as práticas interventivas da profissão, bem como as normas e
condutas das relações sociais, a uma tendência individualizante para com as respostas
às demandas que se apresentam.
Faz-se
necessário ponderar que, no reforço da resolubilidade das demandas a partir de
uma perspectiva pragmática, ocorre nos primeiros
anos do novo século um expressivo alargamento das instituições de Ensino a
Distância (EaD), conjuntamente
com o avanço tecnológico que surge como possibilidade de uma inovadora
alternativa metodológica de ensino e colocando-se como possibilidade de
qualificar a mão-de-obra, oferecendo um curso de nível superior por um preço de
mercado mais barato e em menos tempo de duração. “[...] até meados da década de
1990 os cursos à distância eram profissionalizantes ou de complementação de
estudos (por correspondência e telecursos)” (Lima, 2007, p. 145). Essa nova
modalidade de ensino tem por finalidade a formação em massa de profissionais
com baixo curso (Abreu, 2016). No Serviço Social essa modalidade de ensino tem
início no ano de 2006 e desde então vem crescendo e tomando vastas proporções
exigindo atenção e atuação clara e contundente das entidades representativas,
em especial para voltar sua atenção no tocante à baixa qualidade do ensino ofertado
e suas consequências nos espaços sócio-ocupacionais com grave impacto junto à
população usuária.
Como
sinalizado nas linhas acima e apontado no relatório do Conselho Federal de
Serviço Social (CFESS) no documento intitulado Sobre a incompatibilidade
entre graduação a distância e Serviço Social
(2014), em seu volume II, essa modalidade de ensino predispõe à formação de
profissionais direcionados para o atendimento rápido às demandas imediatas. A
lógica de formação em massa de novos profissionais não condiz com a qualidade
formativa proposta pela profissão. Deste modo temos, segundo crítica de Guerra
(2012), nesse processo formativo, uma supervalorização da dimensão técnico-operativa
que incorre em um tecnicismo.
Santos (2006, 2010) e
Guerra (2012) advertem para o equívoco ocorrido no repensar do Serviço Social
que concerniu em considerar que ao avançar no fortalecimento do aporte teórico
e político superaríamos as fragilidades anteriores e isto seria suficiente para
qualificarmos a prática profissional. A essa ambiguidade se atribui a concepção
de que a teoria se transmuta, automaticamente, em prática; que teoria oferece
instrumentos próprios; ou ainda, que na prática a teoria se aplica.
“Fortalece-se a confusão entre metodologia e procedimentos metodológicos, entre
método e teoria e entre teoria e prática social” (Santos, 2006, 2010).
Guerra (2012)
considera que a opção, em primeiro plano, pelo aprofundamento no suporte
teórico marxista e o amadurecimento político que incorreu em deixar para
segundo plano as reflexões sobre os instrumentos, técnicas e a forma de
correlação entre as dimensões é consequência do receio em recair em velhos ranços
das formações pretéritas que, como já apontamos, supervalorizavam o campo da
prática e seus instrumentos e técnicas. Complementarmente, Santos (2010)
elucida que ao negligenciar o ensino da dimensão técnico-operativa, supondo que
profissionais de Serviço Social saberiam mediatizar a relação entre o acúmulo
de conhecimento da realidade social e do trabalho profissional, passaria de uma
postura tecnicista para uma visão teoricista e politicista da profissão.
Na
contemporaneidade as mediações de afirmação e sustentação do projeto ético-político
do Serviço Social, que tem nas Diretrizes Curriculares (1996) um de seus
pilares de sustentação, encontram-se tensionadas pelas disputadas endógenas e
exógenas da profissão por conta das principais tendências de formação
profissional as quais são reflexos das tendências mundiais do projeto
educacional do ensino superior no país (Lewgoy;
Maciel, 2016).
Dentre
essas tendências, destacamos a sólida política privatista que implica na
expansão massiva de cursos de Serviço Social, principalmente na modalidade de
ensino a distância; a precarização do ensino que reforça um conservadorismo
tecnicista e moralista resgatando um tradicionalismo da profissão metamorfoseado
pelo pensamento pós-moderno[2]
(Abreu, 2016).
Nesse
sentido, para Santos (2010) a dificuldade em relacionar teoria-prática se
localiza na deficiência em relacionar conhecimento teórico acumulado na
formação profissional e em processos formativos amplos com as requisições do
trabalho profissional, ou ainda a não obtenção de conteúdos na formação
superior, haja vista a precarização da formação profissional, como visto ao
longo deste tópico. Continuando, a autora estabelece que a problemática está em fazer as mediações entre o conhecimento sobre a
realidade e os fundamentos do Serviço Social com a intervenção profissional
qualificada. Somando-se aos desafios objetivos dos espaços de trabalho e a
subjetividade da ação profissional.
Por
fim, Guerra (2012) complementa afirmando a necessidade de investir em
estratégias e táticas socioeducativas de organização e mobilização de sujeitos
sociais para que se organizem coletivamente na superação de sua razão
instrumental e na construção da razão emancipatória. Portanto, devemos
permanecer compenetrados nas mudanças conjunturais no campo internacional no
que concernem as readequações sugeridas no âmbito econômico e social e suas
reverberações no Brasil a fim de, ao observarmos essas movimentações,
construirmos novas sínteses que contribuam com a problemática das mudanças na
formação profissional de assistentes sociais que deve seguir um perfil crítico
em vista de atender as demandas, cada vez mais complexas, que emergem na
realidade cotidiana de trabalho.
3
Reflexões sobre as
categorias analíticas abordadas a partir da construção do estado da arte
Buscando-se amadurecer o
tema pesquisado, realizamos o estado da arte[3]
das produções científicas que debatem temas próximos ao nosso em vista de identificar
as principais discussões e apontamentos. Nesse sentido, realizamos, primeiramente,
o levantamento das produções científicas, no campo do Serviço Social, na
plataforma online do catálogo de teses e dissertações da Capes. O intuito dessa etapa é identificar as pesquisas
já realizadas que discutiram formação profissional e a dimensão técnico-operativa
em âmbito nacional, traduzindo-as em dados quantitativos que expressem
parcialmente a realidade atual em constante mudança.
Nesse primeiro momento
de apreensão das principais discussões sobre as temáticas, optamos por não
considerar teses e dissertações que versassem sobre a dimensão
técnico-operativa cujo foco se debruçasse sobre o exercício profissional ou
ainda sobre instrumentos e técnicas do trabalho do assistente social. Isso,
pois, mesmo considerando a importância dessas pesquisas, o artigo ora
apresentado se propõe a discorrer sobre a temática da formação profissional com
foco para o ensino da dimensão em questão.
A partir dessa premissa,
adotou-se o recorte temporal de 2013 a 2019, sendo o primeiro ano o de inserção
desses trabalhos na plataforma e o último ano de realização do estado da arte.
O protocolo de pesquisa, elaborado no dia 05 de novembro de 2019, que norteou a
metodologia dessa etapa, estabeleceu os critérios de inclusão e exclusão dos
trabalhos e os descritores utilizados: área de avaliação (Serviço Social), área
de conhecimento (Serviço Social, Serviço Social Aplicado e Fundamentos de
Serviço Social) grande área de conhecimento (Ciências Sociais Aplicadas), tipos
de documentos (Teses e Dissertações) assim como as palavras-chave utilizadas no
levantamento das produções (Formação
profissional e Serviço Social; Dimensão técnico-operativa & Serviço Social).
Os critérios de inclusão
estabelecidos foram: Similaridade temática com o objetivo da pesquisa; Idioma
Português; Inclusão do termo “teoria-prática”, “formação ou formação
profissional” e “dimensão técnico-operativa” palavras-chave informadas. Os
critérios de exclusão foram: ausência de similaridade temática; recorte
temporal; arquivos repetidos; todos os trabalhos que não são da área de
conhecimento: Serviço Social e Fundamentos de Serviço Social. Todos os
critérios descritos seguem a lista publicizada pela Capes, a qual estabelece os programas de pós-graduação da área de Serviço Social e
respectivas IES divididas por região.
Estabelecido
o protocolo de pesquisa e seus critérios, sobre o descritor Dimensão
técnico-operativa & Serviço Social, foram encontrados mais de 2181
trabalhos totais, com a aplicação dos critérios o número foi reduzido para 12,
sendo 10 dissertações de mestrado e 02 teses de doutorado. Nenhum desses
trabalhos foi desenvolvido em programas de pós-graduação na região Norte do
país. Os trabalhos variam dos anos de 2015 a 2019.
Das
teses e dissertações apontadas pelo banco de dados não foram identificadas
produção em programas de pós-graduação na região Norte. A maior concentração
desses trabalhos está em programas do Sudeste e do Sul do país e em maior
expressividade em produções acadêmicas dissertativas. As produções exploram,
para além da categoria da dimensão técnico-operativa e seus elementos, sua
relação com a formação profissional, com a dimensão investigativa, o ensino da
instrumentalidade, fundamentos do Serviço Social e outros.
Ressaltamos,
de antemão, o vasto campo de mediações a serem exploradas de ambas as categorias
de análise, haja vista a complexidade do real e suas determinações e mediações.
Ademais, aponta-se, a partir do recorte feito para este trabalho, sinalizado
anteriormente, a ainda exígua produção acadêmica, em nível de dissertações e de
teses de doutoramento, sobre, especificamente, a dimensão em questão e seus
elementos constitutivos que vem a corroborar com a afirmação de Guerra (2012) e
os demais autores que trabalhamos na primeira parte desse trabalho.
Não
explorar a temática desta dimensão a partir de uma visão crítica deixa um
flanco aberto às investidas, cada vez mais intensas por parte de correntes
endógenas ao Serviço Social, de perspectivas teóricas neoconservadoras que
mistificam o sentido desta e a alinharam às necessidades de adequação das exigências
do capital quanto a operação das políticas sociais onde
atuam assistentes sociais.
Entretanto,
observamos a expressiva quantidade de produções que se propuseram a estabelecer
uma ponte de interlocução desta dimensão com o exercício profissional, nos mais
diversos espaços sócio-ocupacionais. Ainda que não tenham sido considerados
estes trabalhos na pesquisa para construção do estado da arte, inferimos que
tais produções, desenvolvidas nos mais distintos programas de pós-graduação,
contribuem para o enriquecimento da compreensão desta dimensão e suas
interlocuções com o trabalho profissional, os desafios do mundo do trabalho
frente a precarização dos espaços institucionais
empregadores de assistentes sociais, bem como o uso dos instrumentais e técnicas
de trabalho.
Quanto ao descritor Formação profissional e Serviço Social, identificamos um universo de 18 trabalhos,
a partir da aplicação do protocolo, dos quais 11 são dissertações de mestrado e
sete são teses de doutorado. Nessa categoria já foram identificados cinco
trabalhos na região Norte. Duas são da UFAM, ambas são do ano de 2017 e são
dissertações de mestrado:
|
UFAM 2017 Dissertação |
LIMA, NAIARA GASPAR DE HOLANDA. Formação
profissional em debate: um estudo dos projetos pedagógicos do curso de
serviço social em Manaus a partir das novas diretrizes curriculares de 1996.
21/06/2017. 137 f. |
|
UFAM 2017 Dissertação |
LIMA, ETYANNE UHLMANN DE. O
ensino teórico-prático em serviço social na cidade de Manaus: a formação
profissional em questão' 01/06/2017. 114 f. |
Fonte: Banco de Teses e
Dissertações CAPES. Elaboração da autora (2020).
As demais produções
encontram-se no Programa de Pós-graduação da Universidade Federal do Maranhão
(UFMA). Dessas, duas são teses de doutoramento de 2013 e 2014 e uma é dissertação
de mestrado do ano de 2019:
|
UFMA 2013 Tese |
BRANDAO, SELMA MARIA SILVA DE OLIVEIRA. Pesquisa na formação profissional em Serviço Social no Brasil em
tempos de contrarreforma da educação superior: expressões particulares no
Maranhão. 24/07/2013. 210 f. |
|
UFMA 2014 Tese |
CRISTIANA COSTA LIMA. A
formação profissional em Serviço Social nos países amazônicos da América
latina sob o neoliberalismo: tendências no movimento de expansão e
privatização do ensino superior no Brasil e na Colômbia. 24/04/2014. 268
f. |
|
UFMA 2019 Dissertação |
SOUZA,
CAMILA CRISTINA DE CASTRO. A
formação profissional em serviço social e questão ético-política no contexto
da expansão do ensino superior no Maranhão.'
11/06/2019. 177 f. |
Fonte:
Banco de Teses e Dissertações CAPES. Elaboração da
autora (2020).
Sobre
a categoria Formação profissional e Serviço Social, bem como na categoria anteriormente
dissertada, observa-se que há uma tímida produção em âmbito nacional. Todavia,
notou-se uma produção mais significativa sobre esta temática em programas de
pós-graduação localizados no Norte do país, destacando a Universidade Federal
do Maranhão com um trabalho dissertativo e duas teses de doutoramento que trabalham
a categoria. Como exposto nas tabelas acima, observamos que as produções científicas
estabeleceram interlocuções com a discussão das questões éticas, com a dimensão
da pesquisa, aprofundando-se na construção dos projetos políticos pedagógicos,
destaque para a produção da pesquisadora Cristina Lima que produziu uma tese
sobre a formação profissional em Serviço Social nos países amazônicos da
América Latina sob o contexto neoliberal, entre outras temáticas abordadas por
esse eixo.
O esforço metodológico empregado para a construção do estado da arte, parte
do processo de aproximação com ambas as categorias de
análise e a sua realidade na produção científica do Serviço Social, revelou a
premência de fomentar o debate acadêmico que reflita e aponte para o
desenvolvimento de pesquisas visando o fortalecimento destas, considerando a
importância de ambas no enfrentamento aos desafios contemporâneos que se
apresentam na sociedade brasileira e no campo da profissão e em virtude também
das disputas pela direção hegemônica e da orientação prática do trabalho. Estima-se,
ademais, a necessidade de ampliação das produções acadêmicas sobre ambas a
temática em programas de pós-graduação localizados no norte do país com o fito
de expressar a realidade deste vasto território em suas particularidades e
similaridades com as demais.
O movimento de fomento das pesquisas, norteadas pela perspectiva crítica,
que se propõem a elaborar, a partir de distintas mediações, os estudos sobre
formação profissional e dimensão técnico-operativa contribuíram para o
fortalecimento da perspectiva teórico-metodológica, ético-política e
técnico-operativa expressa pelas Diretrizes Curriculares da ABEPSS (1996). Bem
como poderá, ainda, oferecer análises sobre o perfil de profissionais que estão
sendo formados nas distintas modalidades de ensino, qualidade
da formação acadêmica ofertadas nas faculdades das instituições públicas e
privadas, na modalidade presencial e à distância, entre outros resultados que
corroboraram, desta forma, na defesa e fortalecimento do Projeto Ético-Político
do Serviço Social.
4
Considerações finais
Considerando o exposto em nosso estado da arte e em vista dos
apontamentos dos autores de notoriedade no campo de pesquisa sobre as temáticas
desse trabalho, podemos observar e constatar a tímida produção acadêmica, em
âmbito nacional, das categorias que aqui abordamos. Para além
disso, chama-nos atenção a incipiente produção acadêmica sobre formação
profissional em PPG da região Norte, em especial, relacionados à dimensão
técnico-operativa nesses programas. Sobre esta dimensão, destacamos a premência do fomento
ao debate desta com os seus elementos constitutivos, por
exemplo a categoria cotidiano e sua apreensão na formação profissional
em nível de graduação ou ainda possibilidades de inferências no trabalho do
assistente social. Estas são interlocuções ainda pouco exploradas pelas
pesquisas, mas sinalizadas pelos autores de referência na discussão da
temática.
A importância de fortalecimento de pesquisas sobre as temáticas volta-se,
também, para a instrumentalização da categoria profissional, contribuindo para
o enfrentamento do avanço do conservadorismo, das correntes pós-modernas que
fragmentam a realidade e focalizam as respostas profissionais, bem como para
responder às demandas institucionais entre outras necessidades que emanam da
categoria dos/das assistentes sociais e sua inserção social.
Podemos concluir, preliminarmente, que os dados nos revelam a
inevitabilidade em fomentar e aprofundar estes debates. Outrossim,
reafirmamos a urgência em desenvolver pesquisas e produções científicas sobre
essas categorias na particularidade do contexto amazônico, pois, como já
colocado, sua complexa contraditoriedade em virtude
das acintosas investidas do capital na região, expõe a necessidade de ser mais
bem
compreendida pelo Serviço Social, eis o desafio a ser enfrentado.
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NETTO, J. P. Crise do socialismo e
ofensiva neoliberal. 5. ed. São Paulo: Cortez,
2012.
(Coleção questões da nossa época, v. 44).
NETTO, J. P. Ditadura e Serviço
Social: uma análise do Serviço Social no Brasil pós-64. 16. ed. São Paulo: Cortez, 2011a.
NETTO, J. P. Capitalismo
monopolista e Serviço Social. 8. ed. São Paulo:
Cortez, 2011b.
NETTO, J. P. Introdução ao método da teoria
social. In: SERVIÇO Social: direitos e competências profissionais.
Brasília (DF): CFESS; ABEPSS, 2009.
SANTOS, C. M. dos. Na prática a teoria é outra? Mitos e dilemas na relação teoria-prática e instrumentos e técnicas.
Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010.
SANTOS, C. M. Dos
instrumentos e técnicas: mitos e dilemas na formação profissional do
assistente social no Brasil. 2006. Tese
(doutorado em Serviço Social)-Programa de Pós-Graduação em Serviço Social, Universidade
Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2006.
SANTOS; BACKX; GUERRA. A dimensão técnico-operativa
no Serviço Social: desafios contemporâneos. 3. ed.
São Paulo: Cortez, 2017.
YAZBEK, M. C. A. Fundamentos históricos e
teórico-metodológicos do serviço social. In: SERVIÇO Social: direitos sociais e competências profissionais.
Brasília (DF): CFESS; ABEPSS, 2009.
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Jheniffer FIGUEIREDO Trabalhou na concepção e delineamento ou
análise e interpretação dos dados.
Assistente
Social. Mestra em Serviço Social pelo Programa de Pós-Graduação em Serviço
Social da Universidade Federal do Pará.
Reinaldo Nobre PONTES
Trabalhou na revisão crítica.
Assistente
Social, doutor em Sociologia, mestre em Serviço Social, professor Associado 2 da Universidade Federal do Pará atuando na Faculdade de
Serviço Social e no Programa de Pós-Graduação em Serviço Social. Atualmente é
Professor Visitante (CAPES) no Instituto Superior Miguel Torga em
Coimbra-Portugal.
Karina Camille
Marques CEZAR Trabalhou na redação do artigo.
Assistente
Social. Mestra em Serviço Social pelo Programa de Pós-Graduação em Serviço
Social da Universidade Federal do Pará.
Olga Myrla Tabaranã SILVA Trabalhou na redação do artigo.
Doutora
em Serviço Social pelo Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da Universidade
Federal do Pará.
Assistente
Social da FUNPAPA e SESMA – Belém (PA).
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