A exploração da mulher negra sob a Teoria
do Valor-Trabalho
The exploitation of black
women under The Theory of Work-Value
Lorraine
Marie Farias de ARAUJO *
https://orcid.org/0000-0001-5315-5979
Resumo: Este artigo visa elucidar a
exploração da mulher negra sob a teoria do valor-trabalho. Para tanto,
analisa-se o romance Eu, Tituba: bruxa
negra de Salem, escrito por Maryse Condé.
Recorre-se ao método marxiano como marco teórico. Constata-se que a sociedade
burguesa ergueu-se por meio do estupro sistemático e coletivo das mulheres
escravizadas para a reprodução da força de trabalho, extração de mais-valor e
acumulação de capital. Tal fato reverbera na tentativa hodierna de rebaixamento
da humanidade da mulher negra (ou racializada), implicando piores condições de
trabalho e maior exposição à violência patriarcal devido à desumanização
racista.
Palavras-chave: Mulher
negra. Exploração. Racismo. Desumanização. Teoria do valor-trabalho.
Abstract: This article explains
the exploitation of black women under the labour theory of value. It analyses
the novel Eu, Tituba: bruxa negra de Salem,
by
Maryse Condé, employing the Marxian method as a theoretical framework. It contests
that, bourgeois society arose through the systematic and collective rape of
enslaved women for the reproduction of the workforce, extraction of surplus
value, and capital accumulation. This reverberates in today’s attempts to
downgrade the humanity of black (or racialised) women, resulting in worse
working conditions and greater exposure to patriarchal violence due to racist
dehumanisation.
Keywords: Black woman. Exploitation.
Racism. Dehumanisation. Labour Theory of Value.
Submetido em: 28/8/2022. Revisto em: 31/1/2023.
Aceito em: 1º/4/2023.
Introdução
Canta,
poeta, a liberdade − canta.
Que
fora o mundo sem fanal tão grato...
Anjo baixado da celeste altura,
Que espanca as trevas deste mundo ingrato. Oh! sim, poeta, liberdade, e glória,
Toma por timbre, e viverás na história.
Maria Firmina
dos Reis, Cantos à Beira-Mar, São Luís do Maranhão, 1871.
E |
ste artigo visa elucidar a exploração da mulher
negra sob a teoria do valor-trabalho. Recorre-se ao método marxiano como marco
teórico. Considera-se haver uma relação dialética entre
classe, raça e gênero a incidir sobre a vida das mulheres negras (ou racializadas) (DAVIS, 2016). Não há competição ou
hierarquia entre tais complexos, pois os mecanismos opressores como racismo e
patriarcado são utilizados pelo sistema do capital para aumentar a exploração
do trabalho e a extração de mais-valor de determinados segmentos da classe
trabalhadora, visando acumular capital incessantemente (MARX, 2017).
Partindo de um feminismo classista, pautado por
interesses das mulheres trabalhadoras, considera-se que raça e gênero não podem
ser tratados sem atentar para a sua intrínseca relação com a classe social. Eis
um exemplo do início da pandemia, em 2020: a primeira pessoa a morrer no Brasil
devido à Covid-19 foi uma mulher negra,
[...] empregada
doméstica, que trabalhava desde os 13 anos de idade: a companheira Cleonice
Gonçalves foi a primeira vítima do coronavírus no Estado do Rio. Moradora de
Miguel Pereira, centro-sul fluminense, enfrentava mais de 120 quilômetros para
chegar ao seu local de trabalho, no Leblon, Zona Sul do Rio, onde morava
durante a semana, com seus empregadores, que testaram positivo para a covid-19,
antes de Cleonice ser infectada (CASA DA MULHER TRABALHADORA, 2021, não paginado).
A condição de mulher trabalhadora denuncia uma
cisão radical entre as próprias mulheres, pois existem burguesas exploradoras e
trabalhadoras exploradas, com interesses irreconciliáveis entre si devido a seu
antagonismo de classe (ENGELS, 1984). Desta feita, critica-se o feminismo
liberal, pois este desconsidera a exploração capitalista sobre as mulheres trabalhadoras,
sobretudo as racializadas. Estas compõem massivamente
as estatísticas de feminicídio, violência doméstica e estupro: 62% das vítimas
de feminicídio são negras; em caso de mortes violentas intencionais, tais
mulheres representam 70,7% (ANUÁRIO
BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA, 2022). “A chance, no Brasil, de uma mulher negra ser estuprada é 11,3% maior do que uma
mulher branca” (GUIMARÃES, 2022, não paginado). Além disso, as mulheres negras
(ou racializadas) possuem piores empregos e menores
rendimentos:
Segundo o boletim especial 8 de Março – Mulheres no mercado de trabalho brasileiro, as
trabalhadoras negras representavam 83% das mulheres que deixaram o contingente
feminino total no terceiro trimestre de 2021 em comparação com 2019, antes do
início da pandemia de coronavírus. A redução entre as negras foi de 925 mil
mulheres no período [...]. As trabalhadoras negras não pagaram a conta pela
crise sanitária apenas perdendo suas vagas no mercado de trabalho. O mesmo levantamento
aponta que as elas perderam renda, ocupando o nível mais baixo da pirâmide
salarial do país. O estudo revelou que em 2021 as mulheres negras receberam em
média apenas 55% da hora trabalhada de um homem branco (ILHA, 2022, não paginado).
A exploração da mulher negra tem raízes profundas
e vem desde as mulheres quilombolas que resistiram junto à sua comunidade
contra a exploração escravista que proporcionou a riqueza europeia durante a
acumulação primitiva do capital concomitantemente à colonização (MARX, 2017), e
segue até hoje, tendo como pano do fundo a mesma desgraça capitalista de
séculos atrás. A transformação de pessoas em mercadorias, realizada na
escravidão, em que o corpo escravizado era vendido inteiramente ao senhor de
escravos (precursor do capitalista), jogou sobre os corpos dessas mulheres a
misoginia patriarcal, aliada ao racismo estrutural (ALMEIDA, 2018). Isso
acarretou uma profunda desumanização sobre as mulheres racializadas.
Tal marcha é denunciada e exemplificada no romance Eu, Tituba: bruxa negra de Salem, escrito por Maryse Condé.
Maryse Condé sintetiza em Tituba o
drama das mulheres negras, remontando à colonização e ao estupro sistemático e
coletivo, sob a ótica duma personagem negra e escravizada. Eu,
Tituba: bruxa negra de Salem versa sobre a história de
Tituba, mulher escravizada proveniente de Barbados e levada ao Tribunal
de Salem (EUA) no século XVII. Tal tribunal exercia um julgamento inquisitório; a acusação de bruxaria levou a personagem a ser julgada
e presa.
Ao longo do romance,
recorrentemente, Tituba e outras personagens racializadas são citadas
como figuras do demônio. A transformação dum ser humano na própria figura do
mal (FANON, 2008) implica a imposição
das mais variadas formas de punição sobre ele. A atribuição de figura maligna levou Betsey,
criança cuidada por Tituba, a encenar junto a outras
meninas que estariam possuídas pelo demônio para incriminá-la e denunciá-la.
Tituba conhece a natureza ativamente, consegue extrair das plantas a cura para
seus males, utilizando-a conforme seus interesses,
porém sem agredi-la, ao contrário dos colonizadores burgueses que deterioram o mundo desde o período da moderna
colonização[1] e exercem a produção
destrutiva[2] sobre a
natureza até os tempos
hodiernos.
Tal qual a
natureza, a vida das mulheres negras também é destruída no dia a dia, o
estupro sistemático fez e faz parte do cotidiano dessas mulheres, em que
sociedades inteiras foram forjadas
sob a violência sexual. O início da narrativa de Tituba
mostra os detalhes sórdidos do que é viver num mundo feito para violentar e
matar. “Abena, minha mãe, foi violentada por um
marinheiro inglês no convés do Christ the King,
num dia 16, quando o navio zarpava para
Barbados. Dessa agressão nasci. Desse ato de agressão e desprezo” (CONDÉ, 2020, p. 25). Cristo Rei era o nome
do navio em que a mãe de Tituba foi estuprada. A autora critica o cristianismo, visto que a função social da religião cristã,
no processo de colonização, é desumanizar pessoas negras e indígenas para
explorá-las. No caso das mulheres racializadas, as formas de subjugação patriarcais
escancaram o horror de ser desumanizada através do estupro. A violência sexual
imposta às mulheres negras é utilizada para o controle sobre seus corpos, com o
acréscimo da desumanização. Tais mulheres são encaradas como animais irracionais.
Além do estupro, as mulheres
negras são obrigadas a manter a gestação e a
parir um filho fruto duma violência. Ao nascer Tituba,
o primeiro sentimento de sua mãe é somente de mais tristeza por saber que mais
uma menina veio ao mundo para padecer o mesmo que ela. “Minha mãe chorava, porque eu não era um menino. Parecia que o
destino das mulheres era ainda mais doloroso
que o dos homens” (CONDÉ, 2020, p.
28). A dor e a tristeza das mulheres negras que sofreram a violência do capital
sob os mecanismos da colonização, racismo e patriarcado
tornam-se revolta e luta árdua contra os exploradores de seu trabalho e de seu
corpo. Ao longo da obra, em diversos momentos a revolta prevalece, demonstrando
que mesmo diante da mais perversa
brutalização empreendida a uma determinada parcela de seres humanos, ainda assim há ódio e esperança para lutar.
[...] Darnell estava parado
em pé, a menos de um metro de onde eu estava. A camisa dele estava no chão e a calça estava aberta, revelando a
brancura de suas roupas íntimas. A mão esquerda procurava algo bem na altura de
seu sexo. Minha mãe berrou, virando a
cabeça na minha direção: − O facão! Me dá o facão! Eu obedeci tão rápido quanto
pude, segurando a enorme lâmina com minhas mãos frágeis. Minha mãe bateu duas vezes. Lentamente, a camisa de
linho branco se tornou escarlate. Enforcaram minha mãe [...]. Ela havia
cometido um crime sem perdão. Tinha golpeado um branco. Ainda que não
o tivesse matado (CONDÉ, 2020, p. 30
e 31).
Tituba descreve a brutalidade da vida de uma escravizada: seu
corpo era propriedade do senhor Darnell e este
poderia estuprá-la a seu bel-prazer. O esperado seria que a mulher se resignasse e aceitasse tal destino
funesto, mas em diversas situações de desumanização
é preferível a morte à vida desumanizada. Abena
preferiu golpear seu agressor e correr o risco de ser morta, do que sobreviver
sendo morta diariamente pela violência.
O estupro é recorrente na vida das mulheres escravizadas, e esta
desgraça se reflete até hoje na vida das
mulheres negras que, em sua maioria, continuam presas à exploração sob a forma
de assalariamento, como também são as maiores vítimas de violência sexual. O corpo da mulher negra é tomado como posse
e propriedade, como se estivesse sempre à disposição para a violência
perpetrada pelo homem burguês e branco. O resultado do crime sem perdão de esfaquear um senhor de
escravos estuprador é a morte da mulher violentada sistematicamente. As
crianças escravizadas presenciavam, desde a mais
tenra idade, todo o processo de desumanização sobre seus pares. Tituba desde
criança foi obrigada a conviver com o horror da escravidão.
Todos os escravizados foram
convidados para a sua execução. Quando, de nuca quebrada, ela entregou sua alma, um canto de revolta e ira se ergueu de todos os peitos
que os capatazes fizeram calar com grandes golpes de chicote. Eu, refugiada na
saia de uma mulher, senti
endurecer-se em mim, como lava, um sentimento que não me abandonaria nunca mais, um misto de terror e luto. Enforcaram
minha mãe (CONDÉ, 2020, p. 31).
A execução de Abena foi pública
para servir de exemplo aos demais escravizados que tentassem de alguma
forma se rebelar contra a ordem estabelecida. Tal ordem conclama ao estupro das mulheres negras como
ferramenta de expansão dos negócios. O senhor teria o direito de estuprar a
negra para que esta reproduzisse mais escravizados e, portanto, mais trabalho vivo pudesse ser incorporado à produção
de riquezas. Além de estuprar as mulheres negras para produzir novos escravizados e explorá-los, as filhas dessas
mulheres também estavam fadadas a padecer o mesmo fim: aceitar o estupro ou
morrer por se rebelar. Esta é a lógica que
o sistema do capital impõe às mulheres negras: o mais-valor (MARX, 2017) extraído de cada escravizado durante
o processo de colonização é perpassado pelo estupro sistemático e coletivo de mulheres negras.
A desumanização serve aqui para justificar a violência sobre tais
mulheres. Além da escravização de seu
trabalho e corpo, também há a demonização de sua religião e cultura. Os rituais em que Tituba
se utiliza de ervas naturais para promover a cura a si mesma e às demais pessoas ao seu redor são vistos como algo
demoníaco, assim, todo o mal que essas mulheres sofressem seria apenas a consequência de servir a forças
malignas. A culpabilização das vítimas através da desumanização destas dá a
tônica do sofrimento das mulheres negras, que são tratadas como figuras animalescas
pelas pessoas brancas. Estas tinham medo das
bruxas, que utilizavam ervas para fazer remédios e possuíam sobre
a cabeça cabelos de moita. Ao contrário do homem burguês e branco, este
sim explorador e colonizador de terras e corpos,
a mulher negra é majoritariamente vítima da exploração colonizadora capitalista,
embora tente apenas defender-se das
desgraças impostas à sua vida. A vítima da exploração é metamorfoseada em algoz
ao se revoltar contra a violência sofrida.
Tituba também denuncia a larga contradição entre as próprias
mulheres, o que leva ao antagonismo entre classes sociais como essencial para
se compreender como os mecanismos de opressão patriarcais incidirão sobre a
mulher. Não há sororidade possível
com a mulher burguesa, já que ela se utiliza de todos os métodos criados pelo homem burguês e branco para explorar e
subjugar pessoas. Durante a passagem de Tituba pela casa da senhora Susanna, aquela é obrigada a
aprender preces cristãs e é menosprezada cotidianamente pela senhora,
que possui nojo das pessoas negras. Tituba fora
designada para os cuidados domésticos, enquanto a burguesa preferia preparar a alimentação por ter nojo da
manipulação dos alimentos realizada por uma mulher negra.
Susanna é viúva de um fazendeiro de cana-de-açúcar que enriqueceu
sob a escravização de pessoas. A mulher burguesa
é tão inimiga das mulheres trabalhadoras e racializadas quanto o homem burguês. “O que me
deixava mais estupefata e revoltada não era tanto as
palavras que diziam, mas a maneira como as diziam. Parecia que eu não estava
lá, em pé, na entrada da sala. Falavam de mim e ao mesmo tempo me ignoravam.
Elas me riscaram do mapa dos humanos.
Eu era a ausência. Um invisível” (CONDÉ, 2020,
p. 51). Faz-se necessário especificar a particularidade do sofrimento da mulher
negra, porquanto para além de encarar um mundo
burguês, racista e patriarcal, ainda é necessário enfrentar as mulheres
burguesas exploradoras. O ataque vem de todos os lados.
As acusações de bruxaria sobre as mulheres negras foram utilizadas
pela classe burguesa para queimar e/ou enforcar mulheres em público, com o
intuito de eliminar o mal presente
nestas. O cristianismo, como arma da colonização burguesa
(CÉSAIRE, 2006), foi eficaz para exterminar
pessoas ao longo dos séculos. Assim, quando uma negra (ou negro) não exercia
tal religião era prontamente posta
como alguém influenciado pelo demônio. A religião cristã foi a peça ideológica utilizada
pelo burguês para tentar incutir conformismo e resignação aos escravizados, e continua sendo utilizada hoje no
assalariamento.
Nos tribunais de julgamento de escravizados, a acusação de
bruxaria era utilizada como um pretexto para impor a violência pública como ameaça à revolta dos
explorados. “No tribunal, a palavra do escravizado ou mesmo de um negro livre não contava. Não importava o quanto
gritássemos e clamássemos que eu
ignorava quem era Satanás, ninguém prestaria atenção” (CONDÉ, 2020, p. 56). A desumanização serve para
aliviar a consciência do burguês explorador que considera estar fazendo um favor
ao eliminar da face da terra a figura do mal que ele mesmo criou para garantir
a acumulação de riquezas.
Em certo ponto da trama, Susanna vende Tituba
e seu companheiro John Indien para um pastor que irá à América. Tituba é
retirada de seu lar em Barbados, mesmo na condição de escravizada, para ser
explorada na América por Samuel Parris, homem
horripilante que obrigou os seus
novos escravizados a serem batizados e a contraírem o matrimônio no
cristianismo. Este é o prelúdio do que viria a ser o maior sofrimento da vida de Tituba. Longe de sua terra
natal, sem conhecer o lugar em que viveria, teve de aprender a lidar com novas ervas locais para fazer seus
processos de cura e, ainda, de converter-se ao cristianismo.
Tituba é embarcada para a América no navio Blessing, que significa Bênção. O cristianismo é uma obsessão
do burguês colonizador, que considera uma
bênção explorar pessoas até a morte para enriquecer. Esta é a bênção que levou
o sistema do capital a se reproduzir
incessantemente até o seu estabelecimento no modo de produção capitalista. A bênção para o
capitalista é extrair e
acumular mais-valor (MARX, 2017).
Samuel Parris, um homem abençoado,
considerava a cor da pele de seus escravizados
uma prova da danação que eles supostamente representavam. Todos os dias,
obrigava sua esposa, suas filhas e os escravizados a se prostrarem para a
realização de preces cristãs e a entoação das palavras “[...] pecado, mal, Maligno, Satanás, demônio” (CONDÉ, 2020, p. 73) como mantras aos seus
subordinados, obrigando-os a
confessar seus pecados.
Tituba questiona “− Por que tenho que me confessar?”. Para ela, não há sentido nessa prática, pois sua
cultura não é dicotômica (entre o bem e o mal)
e os seres humanos são falhos
e podem ter atitudes acertadas ou não. Isso significa que ela não consegue compreender uma vida de autopunição
contínua baseada na concepção de pecado, simplesmente porque isso é uma prospecção
cristã. O pecado é criado tão somente
para incriminar pecadores; o maior pecado que Tituba
poderia cometer é apenas existir como
uma negra que questiona. Levou um tapa na cara desferido pelo sacrossanto
senhor e foi punida como reza a
tradição cristã.
A questão da sexualidade também é posta em evidência ao longo do
romance. Tituba, apesar do processo de desumanização que sofre, consegue estabelecer
relações com parceiros a quem está
realmente ligada afetivamente e ter na sexualidade um momento de relaxamento e prazer. Para a mulher
branca, a sexualidade é tida como uma “[...] herança de Satanás [...]” (CONDÉ, 2020, p.
74); essas são as palavras de Elizabeth, esposa de Samuel Parris,
ao se referir ao ato sexual.
O cristianismo é castrador dos desejos das mulheres de formas
diferentes: a mulher racializada, por não carregar consigo o pudor cristão, tem
uma sexualidade livre e é punida pelos homens burgueses e brancos que a
estupram sistematicamente. Já as brancas e cristãs são castradas de seu desejo
sexual para servir ao matrimônio e consideram
o prazer um pecado. A mulher negra é desumanizada
por expressar desejos sexuais e tida como vulgar. É a velha dicotomia da mulher
feita para o casamento e da outra nascida para o sexo.
Uma passagem chama atenção no diálogo entre Tituba e Elizabeth:
esta condena a primeira por sonhar
demais. Tituba costumava contar histórias para as crianças que as faziam percorrer distintos lugares da
imaginação; foi então repreendida pela senhora Parris, pois o sonho evoca a possibilidade de
mudança. Tituba sonhava com a liberdade, em voltar para a sua terra, em sair dos desmandos de Samuel Parris, em não ter de realizar
preces cristãs, em poder viver
como uma mulher livre de explorações. Mas o sistema do capital não permitia que
uma mulher racializada pudesse concretizar tais
planos. Mesmo com a revolta cotidiana, Tituba ainda
passará por uma série de desgraças até o fim de sua vida. Sua condição de mulher negra não lhe dá outra opção no
século em que vive. A escravidão de seu corpo significa o enriquecimento do
burguês, por isso, a liberdade de Tituba é inviável.
Ela representa as diversas
mulheres escravizadas e lutadoras que se rebelaram contra o
sistema do capital.
Tais mulheres são rememoradas no livro Mulheres Negras e Marxismo, em que lutadoras negras como Dandara, Aqualtune e Luiza Mahin são
citadas por seu legado revolucionário como exemplos na luta contra a escravidão
capitalista. Dandara e Aqualtune foram grandes lutadoras e estrategistas da luta
no Quilombo dos Palmares, em Alagoas;
Luisa Mahin se destacou
como líder na Revolta dos Malês, na Bahia. São mulheres que enfrentaram a luta
contra a escravidão, estabelecendo através dos mocambos e quilombos novas
formas de relações sociais que tentam subverter a lógica destrutiva do capital
(PARKS; ASSIS; CACAU, 2021).
Tituba remonta à história de mulheres de luta a exemplo de Dandara,
Luisa Mahin, Aqualtune, Anastácia,
Teresa de Benguela, Zeferina, Maria Felipa de Oliveira, Adelina Charuteira,
Mariana Crioula, Esperança Garcia, Maria Firmina dos Reis, Eva Maria de
Bonsucesso, Tereza do Quariterê, Maria Aranha, Tia Simoa, Zacimba Gaba, Na Agotimé, entre outras mulheres
negras que se rebelaram contra a escravidão, na tentativa de subverter a ordem
social burguesa imposta às colônias. Essas mulheres foram líderes dos quilombos
e instigaram a revolta entre seus pares; algumas delas, como Maria Firmina dos
Reis, chegaram a escrever poemas e romances célebres sobre a época da
escravidão, como a obra Úrsula[3].
Tituba é o retrato pormenorizado de mulheres negras escravizadas
que sofreram a mais brutal violência,
mas nunca se resignaram e sempre buscaram subverter a ordem com a finalidade de
eliminar a exploração. Sofrimento, raiva e ódio eram os sentimentos que
instigavam a revolta nas pessoas
escravizadas. Não bastasse o sofrimento de Tituba ao
ver sua mãe morrer enforcada, como se
estivesse num filme de terror, ela revive tais lembranças dolorosas
ao presenciar a execução duma mulher
escravizada.
Numa tarde, voltando de
Long Wharf, fomos testemunhas de um espetáculo, cuja terrível impressão nunca mais se dissipou de mim. Estávamos em
Front Street quando vimos muitos negros, na praça situada entre a prisão, o
Tribunal e a Igreja. Haveria uma execução.
A multidão se apertava então aos pés do palanque elevado, sobre o qual
estava a forca. Ao redor dela se agitavam homens sinistros, com chapéus de abas largas. Quando nos aproximamos,
percebemos que uma mulher, uma velha, estava em pé, com a corda ao redor do seu
pescoço. Bruscamente, um dos homens empurrou o pedaço de madeira sobre o qual
os pés dela descansavam. Seu corpo se arqueou. Ouvimos um grito horrível e sua
cabeça caiu para o lado [...]. Eu mesma urrei e caí de joelhos no meio da
multidão excitada, quase alegre [...]. Foi como se eu tivesse sido obrigada a reviver a execução da minha mãe. Não,
não era apenas uma velha que
balançava ali. Era Abena, na flor da idade e na beleza das formas! Sim, foi ela, e eu tinha novamente sete anos. E a
vida recomeçou depois daquele momento! [...]
Eu urrava, e quanto mais eu urrava, mais tinha desejo de urrar. De urrar meu
sofrimento, minha revolta, minha raiva impotente. Que mundo era aquele que
tinha feito de mim uma escravizada, uma órfã, uma pária? Que mundo era aquele
que me separava dos meus? Que me obrigava a viver entre pessoas que não falavam
minha língua, que não compartilhavam a minha religião, num país feio, nada
agradável? (CONDÉ, 2020, p. 82 e 83).
Este é o mundo burguês. Um mundo invadido por homens burgueses e
brancos para saquear, assassinar,
expropriar e explorar. Este mundo estava em plena formação no período da acumulação primitiva do capital (MARX,
2017), em que Tituba relata sua horrenda história.
Perdeu a mãe aos sete anos por golpear de faca um branco estuprador. É posta cotidianamente sob a violência
capitalista que se utilizava da tríade mencionada − prisão, tribunal e igreja − como
pilares de repressão e punição dos escravizados e imputação ideológica do cristianismo
para impor o pecado e matar os pecadores.
O sofrimento de Tituba é o sofrimento de sua mãe, da mulher morta, bem
como de todo o povo escravizado que
tinha sua vida ceifada pelos desgraçados homens burgueses. Não sabia Tituba que
passaria pela terceira vez pela mesma provação, sendo ela própria posta no
banco dos réus como uma bruxa.
Pode-se apreender perfeitamente a função social de designar uma mulher escravizada como bruxa. Servia como
palanque de punição aos revoltosos. O horror produzido pelas execuções públicas
é a imposição do medo e da violência aos explorados.
Ao se mudar para a cidade de Salem, onde se localiza o Tribunal mencionado
no título do livro, Tituba também vai
parar no banco dos réus, pela acusação de bruxaria. As crianças de que ela
cuidava foram responsáveis por encenar estarem enfeitiçadas pelo demônio e
forjaram possessões do diabo para incriminar sua mãe preta. Tal é a
hipocrisia burguesa e branca: na primeira oportunidade, a família Parris enviou Tituba para ser julgada em Salem. Não há consideração familiar
com a negra que cuida de seus filhos.
Mesmo com diversas mediações que diferenciam a condição de escravizada
do assalariamento capitalista, a desumanização racista ainda se inscreve
hodiernamente, por exemplo,
no caso do menino Miguel, que foi assassinado pela patroa de sua mãe em
Recife (PE) em junho de 2020. Mirtes Renata, mulher negra e trabalhadora doméstica, foi obrigada a passear com o cachorro
da patroa, e deixou seu filho sob os
cuidados desta, Sari Corte Real. De repente a mãe vê
seu filho caído no chão e morto. A branca deixou o menino cair do prédio, pois o colocou sozinho no elevador
e ainda acionou a cobertura para que o menino chegasse ao topo do
edifício.
A desumanização da pessoa racializada não ficou no passado desgraçado e escravocrata;
o assassinato de Miguel foi forjado desde a escravidão capitalista, em
consonância com a acumulação primitiva do capital (MARX, 2017) e é um reflexo
do racismo estrutural (ALMEIDA, 2018). Tituba também perdeu seu filho; ao se
perceber grávida, abortou como uma forma de resistência, para que o fruto de seu corpo não sofresse o mesmo
mal que ela sofrera. A maternidade da mulher negra é aniquilada, pois ela deve cuidar dos filhos da branca, e
assim seus filhos estão sempre em constante risco.
Devido à mentira das crianças brancas, Tituba foi mandada
a Salem. Antes de ir ao Tribunal de Salem, Samuel Parris
e sua corja cristã, como aves de rapina invadiram o quarto de Tituba para obrigá-la a confessar o enfeitiçamento sobre
as crianças. Mais uma vez o estupro aparece como punição à suposta bruxaria. Os
homens de fé, com seus capuzes
pretos, amarraram Tituba em sua cama e iniciaram a
sessão de tortura para que confessasse
algo que não fez. Como a pessoa racializada é
considerada a própria figura do mal
na Terra (FANON, 2008), estes homens poderiam acusá-la indevidamente e também estuprá-la, pois
seu corpo era propriedade do senhor. “Um dos homens
subiu em mim como se eu fosse um cavalo e começou a bater na minha cara
com seus punhos, duros como pedras. Um outro ergueu a minha saia e enfiou um pedaço de pau com a ponta bem talhada
na parte mais sensível do meu corpo
enquanto ria” (CONDÉ, 2020, p. 138).
Este é o homem burguês e branco na sua mais plena barbaridade; estes são os verdadeiros selvagens que destinaram à
mulher negra o estupro sistemático como forma de reprodução da força de
trabalho e também como punição. Tituba revive o horror
de forma constante; a vida torna-se um fardo difícil de carregar. Nesse
ínterim, nossa personagem foi presa até o dia do julgamento.
Durante o Tribunal
de Salem, Tituba passou
por um minucioso interrogatório em que
foi acusada de ter pacto com o diabo e ter enfeitiçado as crianças. Para
se defender, em seu depoimento
remeteu a culpa a outras pessoas e disse estar possuída por visões que
ordenaram que cumprisse com tal feito, mesmo não tendo realizado nenhum ato de
bruxaria contra as crianças. Tituba não foi morta dessa vez. Ela foi mantida
acorrentada no celeiro do diácono da cidade, sendo depois transferida para a
prisão de Salem. Cristianismo e punição andam
juntos para destruir a vida
das pessoas escravizadas.
Em 1693, um ano após estar acorrentada e tendo de realizar
trabalhos forçados para a sua própria manutenção na prisão, houve um perdão geral aos acusados de bruxaria, devido à
proporção do caso. As crianças acusaram mais e mais pessoas de terem pacto com
o diabo, e não havia como manter toda aquela gente presa. Após o perdão geral
pactuado com Londres, diversos presos foram libertados, mas Tituba não tinha aonde
ir, nem como se manter.
O resultado da prisão de Tituba foi uma dívida pelo tempo de estadia na prisão, paga após ser vendida a um novo senhor. Ela foi
comprada por um judeu viúvo, Benjamin,
a fim de cuidar dos filhos dele.
A morada com o novo senhor dura
pouco tempo, pois houve um incêndio na casa desse homem e os filhos dele
morreram. O judeu decide ir embora de Salem em direção a Rhode Island, também nos EUA, e enviou Tituba de volta para
Barbados, sua cidade natal. Ao retornar para a sua
terra de origem,
numa viagem repleta
de humilhações, Tituba
percebe que o lugar em que viveu está tomado por sequestradores.
Minha ilha não me
celebrava! Chovia, e os telhados molhados de Bridgetown se aglomeravam em torno da silhueta da catedral. Nas ruas, corria uma água barrenta na qual pisoteavam animais e pessoas. Sem
dúvida um navio negreiro acabara de lançar
âncora, pois, debaixo do toldo de palha de um mercado, ingleses, homens e mulheres, examinavam os dentes, a língua e
o sexo dos boçais, que tremiam de humilhação
[...]. Que cidade feia a minha! Pequena.
Mesquinha. Um posto colonial sem envergadura,
com todo o fedor do lucro
e do sofrimento. (CONDÉ, 2020, p. 203 e 204).
O fato de Tituba ter voltado a sua terra
não significa que alcançou a liberdade, pois
esta é legada apenas aos proprietários privados, os donos dos meios de
produção, a burguesia em ascensão.
Para os explorados, restava a humilhação de ter seus corpos averiguados para
serem vendidos como mercadorias. A generalização do mundo das mercadorias
estava em curso e tinha como o
principal produto os corpos de mulheres e homens negros. Não havia como Tituba ser livre num mundo feito para destruí-la.
Nossa personagem retorna à sua cabana, onde vivia isolada antes do
processo de escravização. Ao chegar lá, Tituba se
dedica a reconhecer o lugar onde habitava, tentando extrair da natureza a cura
para as moléstias do corpo e da
mente. Por isso, quando os escravizados ficavam doentes procuravam-na como uma
curadora.
Eu estava lá quando os
escravizados me trouxeram um menino que o chicote do capataz deixou para
morrer. Ele tinha recebido duzentas e cinquenta chicotadas nas pernas, nádegas e costas, e seu corpo já
estava enfraquecido, pois tinha passado um tempo
na prisão − por ser um insolente, um reincidente, um negro cabeça-dura que não conseguiram fazer melhorar. Disseram
que ele não resistiria. Os escravizados então
o levaram para a vala cavada num campo de erva-de-guiné, quando se deram conta de
que ele ainda gemia. Então decidiram trazê-lo a mim (CONDÉ, 2020, p. 227).
A bruxa, na verdade, é a mulher que consegue manipular plantas a
favor de si mesma e de sua comunidade.
Tituba salva a vida do revolucionário Iphigene com
seu conhecimento medicinal e ele
persiste no processo de organização da luta dos escravizados. É evidente, neste excerto do romance, o papel das
prisões elucidado por Angela Davis (2018). Combater os revoltosos ao sistema do capital é o objetivo primeiro do cárcere;
deve-se lutar para extingui-lo através da destruição do capital. Iphigene organizava a luta e por isso foi preso, espancado,
torturado e quase morto. Ao voltar à vida, continuou sua trajetória e organizou
uma revolta com negras e negros
escravizados de várias fazendas. Já que não possuíam armas de fogo,
decidiram usar o próprio fogo para incendiar as casas dos senhores.
A revolta é o alimento constante do escravizado, que possui uma
vida de aflição incessante. Tituba e Iphigene lutavam
porque sabiam que essa era a única solução para viver dignamente e se livrarem
das correntes da exploração. Eles tinham consciência de que somente a luta coletiva poderia transformar a
realidade em que se achavam imersos, bem como sabiam que a exploração do trabalho dos racializados era o que proporcionava a riqueza dos
burgueses em todas as partes do
mundo. “Eu sabia que, cada vez mais, os navios negreiros aportavam em suas costas e que ela se preparava
para dominar o mundo graças ao nosso suor. Eu sabia que os
indígenas tinham sido completamente dizimados do próprio mapa, reduzidos a
errar sobre as terras que uma vez
eram suas” (CONDÉ, 2020, p. 240).
Pela última vez, Tituba se vê diante da morte. A rebelião organizada com Iphigene foi descoberta pelos senhores e logo as tropas policiais
inglesas estavam a postos
para eliminá-los.
Os fazendeiros decidiram dar
um exemplo, porque em três anos foi a segunda grande rebelião. Eles conseguiram o apoio total das tropas inglesas que vieram defender
a ilha dos ataques dos vizinhos, e nada foi deixado ao acaso.
Sistematicamente, as plantações foram
revistadas e os escravizados, que inspiravam dúvida, postos debaixo, de alguma
mafumeira. Depois, baionetas na bunda, empurraram toda essa gente para uma vasta clareira onde dezenas de
forcas tinham sido erguidas [...]. Cercado por
seus pares, usando um tapa-olho, Errin percorreu a cena de execuções. Ele veio até mim e disse com desprezo: − Muito bem,
bruxa! Você que a deveria ter conhecido em Salem, vai conhecê-la aqui! E vai
encontrar suas irmãs que partiram antes de você.
Tenha um bom sabá! [...] Eu fui a última a ser conduzida a forca, pois merecia um tratamento especial. A punição da qual
eu tinha “escapado” em Salem era agora apropriada.
(CONDÉ, 2020, p. 241 e 242).
Tituba foi enforcada. Teve o mesmo destino que sua mãe Abena e tantas outras mulheres revoltosas que lutaram pelo
fim da exploração. Mesmo tendo conseguido voltar à sua terra de origem, permaneceu como uma escravizada, porque a escravidão
nos moldes do capital mercantil é mundializada. Uma pessoa racializada
representava a figura do demônio em qualquer
continente que estivesse. O racismo estrutural (ALMEIDA, 2018) é o mecanismo
utilizado no processo de colonização capitalista para realizar o genocídio do
povo racializado. Como lembra
Tituba em sua narrativa, os indígenas também
foram dizimados em nome da acumulação de riquezas. Toda a desgraça imposta às pessoas racializadas é resultado das atrocidades cometidas pela
burguesia no período de acumulação primitiva do capital
para extrair e acumular mais-valor (MARX, 2017).
Considerações finais
A obra de arte revela a
aparência e a essência a priori, configurando-se como em-si e para-si
(LUKÁCS, 1966). O romance de Condé (2020) evidencia o processo colonizatório; o estupro sistemático e coletivo sobre as mulheres negras; a imposição do
cristianismo e a demonização das expressões culturais, religiosas e estéticas das pessoas racializadas; a dicotomia entre a mulher escravizada e a
mulher burguesa; a aniquilação da
maternidade da mulher negra; a mundialização da condição de racializada
e escravizada. Tituba também é sinônimo de resistência. Ao longo da obra
desvela-se a revolta e a luta que os povos racializados empreendem para se manter vivos, desde as pequenas
revoltas cotidianas à organização de revoltas coletivas
consubstanciadas nos quilombos e mocambos.
A tentativa de rebaixamento da humanidade da
mulher racializada e explorada hoje deve ser
denunciada como um processo histórico-social de conformação da sociedade
burguesa. Esta foi fundada sobre o estupro das mulheres
escravizadas para a reprodução da força de trabalho, portanto, o mais-valor (MARX, 2017) acumulado pelos capitalistas no processo de colonização foi empreendido sobre
o estupro sistemático e coletivo das mulheres negras (DAVIS,
2016). Tal processo acarreta a
violência sobre estas mulheres e o aumento da exploração capitalista sobre sua
força de trabalho.
Somente a superação do sistema do capital eliminará os processos
exploratórios e opressores sobre a vida dessas mulheres. A luta limitada ao
interior da ordem burguesa passa por uma cooptação terrível
que esvazia, invisibiliza e embranquece a luta das mulheres racializadas
como um movimento social e coletivo em plena consonância com a classe
trabalhadora. Cumpre avançar na luta das mulheres negras na linha de frente
contra o capital e pela emancipação humana.
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Acesso em: 16 ago. 2022.
CASA DA MULHER TRABALHADORA. Relembrar para não esquecer: Primeira
vítima da Covid-19 no Brasil foi uma empregada doméstica. CAMTRA COVID-19, Notícias, Rio de Janeiro,
26 fev. 2021. Disponível em: https://camtra.org.br/relembrar-para-nao-esquecer-primeira-vitima-da-covid-19-no-brasil-foi-uma-empregada-domestica/.
Acesso em: 16 ago. 2022.
CÉSAIRE, A. Discurso sobre el colonialismo. Madrid: Ediciones Akal, 2006.
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Estado. 9. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1984.
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Além do Capital: rumo a uma teoria da transição. 1. ed. São Paulo:
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REIS, M. F. Úrsula. Porto Alegre: Editora Figura de Linguagem,
2018.
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Lorraine Marie Farias
de ARAÚJO
Assistente Social.
Mestra em Serviço Social da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Especialista
em Saúde e Ambiente pela Universidade Estadual de Alagoas (UNEAL). Graduada em
Serviço Social pela (Ufal) - Unidade Acadêmica Palmeira dos Índios. Bolsista
pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).
Membra do Grupo de Pesquisa sobre Reprodução Social (Ufal). Doutoranda pelo Programa
de Pós-Graduação em Serviço Social pela Ufal.
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* Assistente Social. Mestra em Serviço Social. Doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em Serviço
Social da Universidade Federal de Alagoas. (Ufal, Maceió, Brasil). Av. Lourival Melo Mota, s/n, Tabuleiro do Martins, Maceió (AL),
CEP.: 57072-900. Pesquisadora
pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). E-mail: lorraine.araujo@fsso.ufal.br.
© A(s) Autora(s)/O(s) Autor(es). 2023. Acesso Aberto esta obra está licenciada sob os termos da Licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional (https://creativecommons.org/licenses/by/4.0/deed.pt_BR), que permite copiar e redistribuir o material em qualquer suporte ou formato, bem como adaptar, transformar e criar a partir deste material para qualquer fim, mesmo que comercial. O licenciante não pode revogar estes direitos desde que você respeite os termos da licença.
[1] Sobre o processo
colonizador, consultar Césaire (2006).