Gênero, sexualidade e infância: produção acadêmica
em debate
Gender, sexuality,
and childhood: academic production in debate
Cristiane Bonfim FERNANDEZ *
http://orcid.org/0000-0003-1474-8987
Eunice Emanuele Soares MARTINS **
https://orcid.org/0000-0003-3483-7979
Resumo: Analisa como os temas gênero e sexualidade de
criança e adolescente foram discutidos/concebidos na produção científica dos
periódicos da área do Serviço Social entre 2011 e 2020. Realizou-se um
levantamento dos artigos no Portal de Periódicos da Capes com base nos
descritores gênero, sexualidade, criança, adolescente e infância, tendo sido mapeados
54 artigos em língua portuguesa e, dentre esses, selecionados 10 para análise. As produções estudadas
centram-se, principalmente, nas regiões Sudeste e Sul, em periódicos qualis B1 e B2 cujos autores estão vinculados,
sobretudo, a instituições acadêmicas universitárias. A maioria dos artigos registra uma crítica ao
viés estritamente biológico de sexualidade infantil e de gênero, uma vez que seus
autores compreendem essa
questão como construção histórico-cultural. Conclui-se que ainda são poucas as produções
sobre a temática, observando-se, entretanto, um aumento expressivo de 2019 para
2020.
Palavras-chave: Gênero. Sexualidade. Criança. Adolescente. Produção
acadêmica.
Abstract: This
article analyses how the themes of the gender and sexuality of children and
adolescents were discussed/conceived in the scientific output of periodicals in the area of Social Work between 2011 and 2020. A survey
of articles on the Portal de Periódicos da Capes was
carried out based on the descriptors, gender, sexuality, children, adolescents and childhood, 54 articles in Portuguese were
mapped, and from these 10 were selected for analysis. The studied works were
mainly centred in the Southeast and South regions, from the journal Qualis, editions B1 and B2, whose authors are
primarily linked to university academic institutions. Most demonstrate a
criticism of the strictly biological bias of child sexuality and gender, as
their authors understand this issue as a historical-cultural construction. It
concludes that there are still little output on the
subject, but that there has, nevertheless, been a significant increase from
2019 to 2020.
Keywords: Gender.
Sexuality. Child. Adolescent. Academic output.
Submetido em: 31/8/2022. Revisto em: 18/12/2022. Aceito em: 20/2/2023.
Introdução
A |
sexualidade
humana é fundamental para o desenvolvimento da sociedade. Todavia, quando se
trata de sexualidade infantil, nem todos se sentem à vontade para falar sobre o
assunto. Para uns é ainda um tabu[1],
um assunto proibido; para outros, limita-se a questões biológicas, anatômicas. As
diferentes formas de compreender e vivenciar a sexualidade é questão que se
torna mais difícil e polêmica quando o foco são crianças e adolescentes. Nos
debates sobre essa questão, é preciso considerar o surgimento de ‘revoluções
sexuais’ no cenário contemporâneo, as quais mudaram os valores da sociedade e
geraram tensões entre concepções conservadoras e progressistas, havendo uma
disputa pela ‘melhor forma’ de compreender a sexualidade, incluindo a dos infantes
– aqueles que geralmente não têm voz.
A revolução
sexual está associada a liberações dos limites impostos pelas convenções
sociais por instituições educacionais, religiosas e políticas, ou seja, com seu
advento, refutam-se e questionam-se a regulação dos corpos e as normas que determinam
a vida sexual. Se, no passado, relacionar-se sexualmente fora do casamento era
vergonhoso e condenável, a partir da revolução sexual esse entendimento foi
relativizado. Para alguns, o adultério é justificável, uma vez que as pessoas são
livres e devem viver sem amarras sexuais; para outros, entretanto, ele é
condenável. Segundo Reich (1968, p. 38), “[...] a ideologia do recato
convencional é a pedra fundamental da instituição matrimonial autoritária;
contradiz o reconhecimento da satisfação sexual e pressupõe uma atitude sexual
negativa”. Esse entendimento expressa a disputa de éticas sexuais distintas.
Relativamente às expressões sexuais, há discursos conservadores que, na defesa
de valores tradicionais e no entendimento de que nem todo ‘amor’ é válido, sinalizam
a necessidade de imposição de limites à sexualidade. Há, porém, discursos progressistas
de livre expressão sexual, que se distanciam de padrões sociais e buscam a
superação do que seja tradicionalmente considerado normal ou anormal no campo da
sexualidade. Nesse cenário discursivo díspar, estabelecer consensos sobre licitudes e
proibições quanto a expressões de sexualidade não é algo simples, já que isso envolve
diferentes racionalidades e interesses em disputas perpassadas pelas dimensões
ética, cultural, jurídica e política.
Subjacente aos conceitos de sexualidade, existe uma ética que estabelece
os parâmetros do certo e do errado, do lícito e do ilícito. Nos âmbitos
jurídico e político, as legislações expressam a concepção do Estado sobre direitos
e proteção das expressões da sexualidade legalmente aceitas e condena as violações
dos direitos sexuais de crianças e adolescentes – os crimes sexuais. Os valores
culturais também permeiam essa discussão, afetando diretamente a educação sexual e as
políticas públicas voltadas à sexualidade – geralmente pais e professores são os
principais responsáveis pela educação sexual. Com relação aos genitores, Sanderson
(2005) pontua: “Se os pais não têm acesso às informações sobre o
desenvolvimento sexual normal ou se ficam constrangidos em discutir o assunto,
eles são incapazes de julgar o que constitui o desenvolvimento sexual típico ou
atípico da criança” (SANDERSON, 2005, p. 28).
Considerando-se
esse cenário e a presente abordagem sobre gênero e sexualidade infantil, faz-se
necessário explicitar quem se enquadra como criança e como adolescente no
Brasil. Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA (BRASIL, 1990), é
considerada como criança a
pessoa entre 0 e 11 anos de idade, e, como adolescente, a pessoa entre 12 e 18
anos incompletos. Trata-se de um recorte cronológico que baliza, no Brasil, as políticas
públicas para o atendimento desse público. Há, ainda, a acepção da Organização
Mundial de Saúde (OMS), que estabelece como adolescente a pessoa entre 10 e 19
anos de idade. Percebe-se, nesses conceitos, uma diferença na faixa etária que
define o referido público, uma vez que, para a OMS, a adolescência inicia-se
mais cedo e estende-se até os 19 anos de idade. É importante também destacar
que, além da dimensão cronológica, existem a biológica, a psicológica e a cultural
– que não são excludentes – para a compreensão da infância e da adolescência.
Estudiosos expressam
entendimentos distintos sobre criança. Schuch, Ribeiro e Fonseca (2013) usam os
termos plurais ‘infâncias’ e ‘crianças’ e destacam que não se trata de
ferramentas neutras de cuidado. Jimenez, Assis e Neves (2015) ressaltam que a
noção de infância e de adolescência é “[...] uma construção social e cultural
que pode variar grandemente no tempo histórico ou entre as culturas” (JIMENEZ;
ASSIS; NEVES, 2015, p. 1093). A Convenção Internacional dos Direitos da Criança
e do Adolescente (CIDCA) define criança
como a pessoa entre 0 e 18 anos incompletos, havendo, por parte de países
signatários da referida Convenção, um reconhecimento de marcos normativos
internacionais como parâmetro ou paradigma para a garantia dos direitos de
crianças e adolescentes, incluindo o direito a
uma sexualidade saudável.
Neste sentido, refletir sobre sexualidade infantil é fundamental para toda a sociedade brasileira contemporânea, pois,
como afirma Nogueira Neto (2012, p. 19), “[...] a livre expressão dessa
sexualidade (humana) deve ser reconhecida e garantida como um direito
fundamental, indisponível, de todos os cidadãos e cidadãs e consequentemente de
todas as crianças e de adolescentes, ‘na
medida de sua maturidade’”.
Assim, de um
lado, é preciso garantir a livre expressão da sexualidade; e, de outro, proibir
as práticas que violam os direitos sexuais da infância, o que nos remete à
compreensão da violência sexual, que, para Sanderson (2005), é sócio-histórica
e permeada por assimetrias/ desigualdades de idade, poder e autoridade entre
abusador e abusado, envolvendo relações carnais com ou sem penetração. Embora
não haja uma única concepção de violência sexual, há características comuns que
contribuem para o seu reconhecimento e a tipificação de crimes sexuais, sem o
que não seria possível enfrentá-la. No cenário brasileiro, é importante
destacar dados sobre essa realidade, ressaltando que a subnotificação dos casos
de violência sexual é alta.
Pesquisas
realizadas pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública apontam que o estupro de
meninas de 13 anos – estupro de vulnerável – cresceu, registrando-se 53,80% em
2019; 57,90% em 2020; e 58,80% em 2021. Quanto ao número de denúncias, houve um
expressivo aumento de 4,1% entre 2019 e 2020; enquanto entre 2020 e 2021 as
denúncias caíram para 0,9% (ANUÁRIO BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA, 2022). Ao
se considerar o quadro geral de violência contra crianças e adolescentes, o
percentual de denúncias caiu. Segundo o Secretário Nacional dos Direitos da
Criança e do Adolescente, “[...] pelo Disque 100, o percentual de denúncias de
violência contra jovens e crianças diminuiu 10% de 2019 para 2020, mas a
maioria desses casos de violência ocorrem dentro do ambiente familiar, o que
foi agravado pela pandemia de Covid-19” (PANDEMIA..., 2022).
Diante do
exposto, justifica-se a relevância da temática gênero, sexualidade e infância
para o Serviço Social, área cujos profissionais atuam diretamente na defesa do
direito da infância, constituindo-se o norteador de sua atuação o ECA, que, em
seu artigo 5º, postula que “[...] nenhuma criança ou adolescente será objeto de
qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade
e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos
seus direitos fundamentais” (BRASIL, 1990, não paginado). Para uma ação
profissional especializada na área da violência sexual, faz-se, assim, mister o
conhecimento sobre sexualidade infantil e gênero. Acerca de gênero, este também
é uma categoria que se constitui objeto de estudo do Serviço Social, sobretudo,
nas últimas décadas. Alves (2018) aponta que os sentidos atribuídos a gênero no
campo do Serviço Social são variáveis.
Há no Serviço Social uma
compreensão geral de que gênero trata das relações de poder na vida social,
relações essas que atribuem posições assimétricas ao masculino e ao feminino.
Desse modo, as desigualdades de gênero constituem-se como um dos focos do
trabalho do assistente social e de suas preocupações de pesquisa (ALVES, 2018,
p. 2).
A autora
também informa que, além dessa compreensão geral, outras perspectivas surgiram,
como o marxismo e a interseccionalidade. Em sua relação com a infância, gênero
é uma discussão mais recente, eivada de polêmicas, sobretudo quando se
considera o debate social já referido entre pensamento conservador e
progressista.
Frente às
questões apresentadas, dialoga-se com alguns autores a partir de pontos e
contrapontos das produções acadêmicas na área do Serviço Social. Nessa
perspectiva, o texto responde a seguinte pergunta norteadora: De que forma são
contemplados, na produção acadêmica da área do Serviço Social, os temas gênero
e sexualidade de criança e adolescente? Para responder a esse questionamento,
buscaram-se dados no Portal de Periódicos da Capes usando-se, nessa busca, os
descritores criança, adolescente,
infância, gênero e sexualidade a fim de se proceder à seleção dos
artigos.
Os critérios
adotados para essa triagem foram: artigos publicados entre 2011 a 2020, em língua portuguesa, e título com um ou mais dos descritores
supracitados. Identificaram-se, ao todo, 54 artigos sobre gênero e sexualidade de
crianças e adolescentes. Todavia, para fins de análise, foram selecionados,
dentre esses 54, artigos cujo título ou cujas palavras-chave contemplassem os
termos criança e adolescente (ou
infância), gênero e sexualidade, totalizando-se, ao final, 10 produções
selecionadas. Dessa forma, foi possível garantir a intersecção entre os termos
que se constituem focos da presente reflexão.
O texto contempla
três tópicos: o primeiro aborda a caracterização dos periódicos de Serviço Social;
o segundo discute as concepções de sexualidade e de gênero voltadas para a
infância na produção científica do Serviço Social; o terceiro, com as considerações
finais, apresenta uma síntese dos achados da pesquisa. Dito isso, convidamos o
leitor a refletir conosco sobre a instigante e polêmica relação entre gênero,
sexualidade e infância.
Tabela 1: Periódicos do Serviço Social, período
2011-2020, com temas gênero, sexualidade e infância
Periódicos |
2011 |
2012 |
2013 |
2014 |
2015 |
2016 |
2017 |
2018 |
2019 |
2020 |
nº |
Ciência & Saúde Coletiva |
3 |
- |
1 |
- |
- |
1 |
- |
- |
- |
- |
5 |
Pensar a Prática |
- |
1 |
- |
- |
- |
1 |
- |
- |
- |
1 |
3 |
Revista de Pesquisa: Cuidado é Fundamental |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
1 |
1 |
1 |
- |
3 |
Revista Tempos e Espaços em Educação |
- |
- |
- |
2 |
- |
- |
- |
- |
- |
1 |
3 |
Caderno de Saúde Pública |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
2 |
2 |
Caderno de Pesquisa |
- |
- |
2 |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
2 |
Cadernos Pagu |
1 |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
1 |
2 |
Estudos Feministas |
2 |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
2 |
Psicologia & Sociedade |
- |
- |
- |
1 |
- |
- |
- |
- |
1 |
- |
2 |
Psicologia: Reflexão e Crítica |
- |
1 |
1 |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
2 |
Revista Brasileira em Promoção da Saúde |
- |
- |
- |
- |
1 |
- |
1 |
- |
- |
- |
2 |
Revista Brasileira de Educação |
- |
1 |
1 |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
2 |
Revista Eletrônica de Educação |
- |
- |
- |
- |
1 |
1 |
- |
- |
- |
- |
2 |
Saúde & Transformação Social |
- |
1 |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
1 |
2 |
Acta Geográfica |
- |
- |
1 |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
1 |
Estudos Históricos |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
1 |
1 |
Educação PUC-RS |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
1 |
- |
- |
- |
1 |
Educação |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
1 |
- |
- |
1 |
Educar em Revista |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
1 |
1 |
Linhas Críticas |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
1 |
- |
- |
- |
1 |
Mediações – Revista de Ciências Sociais |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
1 |
- |
- |
1 |
O Social em Questão |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
1 |
1 |
Psico |
- |
1 |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
1 |
Psicologia em Estudo |
- |
1 |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
1 |
Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos |
- |
- |
- |
- |
- |
1 |
- |
- |
- |
- |
1 |
Revista de Terapia Ocupacional |
- |
- |
- |
- |
1 |
- |
- |
- |
- |
- |
1 |
Revista de Políticas Públicas |
1 |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
1 |
Revista E-Curriculum |
- |
- |
- |
- |
1 |
- |
- |
- |
- |
- |
1 |
Revista Gaúcha de Enfermagem |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
1 |
- |
- |
1 |
Revista Paulista de Pediatria |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
1 |
1 |
Revista Nupem |
1 |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
1 |
Ser Social |
- |
- |
- |
1 |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
1 |
Sexualidad, Salud y Sociedad |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
- |
1 |
- |
1 |
Temas Em Psicologia |
- |
- |
- |
- |
1 |
- |
- |
- |
- |
- |
1 |
Total |
8 |
6 |
6 |
4 |
5 |
4 |
4 |
4 |
3 |
10 |
54 |
Fonte: Elaborada pelas
autoras durante a pesquisa (2022).
1 Caracterização dos Periódicos do Serviço
Social
A produção
sobre gênero, sexualidade e infância, entre 2011 e 2020, é verificada em 35 periódicos
da área do Serviço Social, de forma bem diluída. O periódico Ciência &
Saúde Pública traz o maior número de publicações, totalizando 5 artigos ao longo
de 7 anos. A média de produção nacional é de quase 6 artigos por ano, sendo
registrado, de 2019 a 2020, um aumento expressivo no quantitativo de publicações,
que passaram de 3 para 10 (Tabela 1).
Os artigos dos
periódicos foram classificados por área de conhecimento. A maior parte (44,44%)
concentra-se na área de Ciências Humanas, particularmente na subárea de Psicologia
e de Educação. Em ordem decrescente, por concentração, registram-se as seguintes
áreas: Ciência da Saúde, (38,88%), nas subáreas de Educação Física, Medicina, Saúde
Coletiva e Enfermagem; área interdisciplinar (9,25%); Ciências Sociais aplicadas
(5,55%), com a subárea do Serviço Social; e Ciências Sociais (1,8%), em que se
insere a sociologia (Tabela 2).
Tabela 2: Artigos
por região / área do conhecimento
Região |
Interdisciplinar |
Ciências da Saúde |
Ciências Sociais Aplicadas |
Ciências Humanas |
Ciências Sociais |
Total |
Norte |
0 |
1 |
0 |
1 |
0 |
2 |
Sul |
1 |
2 |
2 |
8 |
1 |
14 |
Sudeste |
3 |
11 |
1 |
7 |
0 |
22 |
Centro-Oeste |
1 |
1 |
0 |
3 |
0 |
5 |
Nordeste |
0 |
4 |
0 |
4 |
0 |
8 |
Internacional |
0 |
2 |
0 |
1 |
0 |
3 |
Total |
5 |
21 |
3 |
24 |
1 |
54 |
Fonte: Elaborada pelas autoras durante a pesquisa
(2022).
Destaca-se a
concentração de produções sobre gênero,
sexualidade e infância no Sudeste brasileiro (40,74%), seguindo-se o Sul
(25,92%), o Nordeste (14,81%), o Centro-oeste (9,25%) e o Norte (3,70%). É
perceptível certo equilíbrio entre a produção das Ciências da Saúde e das Ciências
Humanas, predominando, entretanto, no Sudeste, as publicações na área de
Ciências da Saúde (52,38% do conjunto de artigos em comparação com as demais
regiões). Ao observar as publicações nas Ciências Humanas, percebe-se que a
distribuição é equilibrada entre o Sul (33,3%) e o Sudeste (29,2%) do Brasil,
seguindo-se um decréscimo de produção na área interdisciplinar, nas Ciências Sociais
aplicadas e nas Ciências Sociais (Tabela 3). Há 3 produções cujo lócus
de estudo está fora do Brasil.
Tabela 3: Periódicos
por áreas de conhecimento e qualis
______________________________________________________________________________________________
Qualis |
Interdisciplinar |
Ciências
da Saúde |
Ciências
Sociais Aplicadas |
Ciências
Humanas |
Ciências Sociais |
Total |
A1 |
- |
7 |
- |
2 |
- |
9 |
A2 |
4 |
- |
2 |
5 |
- |
11 |
B1 |
- |
4 |
1 |
6 |
- |
11 |
B2 |
1 |
10 |
- |
11 |
1 |
23 |
Total |
5 |
21 |
3 |
24 |
1 |
54 |
______________________________________________________________________________________________
Fonte: Elaborada
pelas autoras durante a pesquisa (2022).
Observa-se,
ainda, o predomínio dessas produções em periódicos B2 para o Serviço Social, representando
42,6%, que somados ao percentual de 20,37% do estrato B1 totalizam 62,97%.
Quando
verificados os estratos maiores (A1 e A2), nota-se um equilíbrio entre as áreas
Ciências da Saúde e Ciências Humanas, cada uma com 35% da produção, seguindo-se
a área interdisciplinar (20%) e as Ciências Sociais aplicadas (10%). Ciências Humanas
é a única área com publicação em todos os estratos (A1, A2, B1, B2); e Ciência
Social tem a menor produção: apenas uma (estrato B2).
A metodologia
adotada implicou a seleção de 10 artigos cujos títulos e/ou resumos
apresentaram a interseção dos termos infância, gênero e sexualidade. Segue-se sua
distribuição segundo autor, título, ano, periódico, delineamento do estudo e
sínteses do achado (Quadro 1).
Quadro 1: Distribuição
de artigos no período de 2011 a 2020
AUTOR |
TÍTULO |
ANO |
PERIÓDICO |
QUALIS
PARA O SS |
DELINEAMENTO
DO ESTUDO |
SÍNTESE |
Cláudia Maria Ribeiro |
Crianças, gênero e sexualidade: realidade e fantasia possibilitando problematizações |
2011 |
Estudo Feminista |
A2 |
Pesquisa qualitativa |
O adulto pode tanto exercer
um olhar violento sobre a criança como encharcá-la da temática sexualidade e
gênero |
Márcia Buss-Simão |
Relações sociais de gênero na perspectiva de crianças pequenas na
creche |
2013 |
Cadernos
de Pesquisa (online) |
B1 |
Pesquisa etnográfica. Sujeitos da pesquisa: crianças de 2 a 3 anos. Local da pesquisa: Instituição
de Educação Infantil |
As indicações das próprias
crianças apontam a categoria gênero como central e constitutiva das relações;
as fronteiras do gênero mostram que as separações não são fixas, nem dadas a
priori. |
Magda Sarat; Míria Izabel Campos |
Gênero, sexualidade e infância: (con)formando
meninas |
2014 |
Revistas
Tempos e Espaços em Educação |
B2 |
Pesquisa qualitativa. Sujeitos da pesquisa: professoras da Educação Infantil |
Ressalta uma educação que
busca uma feminilidade tida como legítima e uma forma considerada “normal” de
sexualidade. A educação das professoras
na infância foi direcionada pela distinção de gêneros. |
Virginia Georg Schindhelm; Dayse Martins Hora |
Sexualidade, gênero e aprendizagens narrativas no currículo escolar da
infância |
2015 |
Revista E-curriculum |
B2 |
Pesquisa qualitativa com observação
participante. Sujeitos da pesquisa: educadores
da Educação Infantil |
As situações na escola têm motivado
o confronto e embaralhamento nos adultos acerca dos temas gênero e sexualidade
porque foram aprendidos de forma informal. |
Aline Veras Morais Brilhante et al. |
O “macho nordestino” em formação: sexualidade e relações de gênero
entre adolescentes |
2015 |
Revista Brasileira
em Promoção da Saúde |
B1 |
Pesquisa qualitativa – entrevista
com adolescentes numa escola |
Os adolescentes, em seus
discursos, expressam os tabus que cercam a sexualidade, assim como os padrões
regionais estereotipados |
Rosana Juliet Silva Monteiro et al. |
“Pensando como um menino é mais fácil”: construções sobre as relações
de gênero no discurso de meninas adolescentes |
2015 |
Revista de
Terapia ocupacional |
B2 |
Pesquisa exploratória e
descritiva. Sujeitos da pesquisa –
adolescentes mulheres |
Os dados apontaram a
coexistência de concepções tradicionais marcadas pela opressão e pela submissão
da mulher ao homem, com perspectivas de empoderamento da mulher no cotidiano. |
Rebeca Nunes Guedes de Oliveira et al. |
Limites e possibilidades de um jogo online para a construção de conhecimento de adolescentes sobre a sexualidade |
2016 |
Ciência
& Saúde Coletiva |
A1 |
Pesquisa qualitativa Caráter descritivo /exploratório. Sujeitos da pesquisa – adolescentes |
Os resultados sinalizaram a
potencialidade do jogo online para reconstrução do conhecimento no campo
sexual e reprodutivo e para problematização da realidade a partir da
perspectiva de gênero. |
Lívia de Rezende Cardoso; Daniela Lima do Nascimento |
Você brinca de boneca, mas é menino: sujeitos, gêneros e sexualidades em brincadeiras infantis |
2017 |
Educação |
B1 |
Pesquisa Etnográfica Sujeitos da Pesquisa – crianças de 5 anos Local da pesquisa – escola
de Educação Infantil |
Tanto a equipe escolar como
os alunos carregam consigo concepções de masculino e feminino bem definidas;
há uma intensa vigilância da sexualidade das crianças de forma a estimular a
heterossexualidade como norma a ser seguida. |
Vanessa Leite |
“Em defesa das crianças e da família”: refletindo sobre discursos
acionados por atores religiosos “conservadores” em controvérsias públicas envolvendo
gênero e sexualidade |
2019 |
Revista Sexualidad, Salud y Sociedad |
B1 |
Pesquisa qualitativa |
Há uma mudança da política
sexual brasileira num cenário de controvérsias de fortalecimento do
conservadorismo, num confronto de moralidades em relação ao gênero e sexualidade. |
Cristiane da Silva Cabral; Elaine Reis Brandão |
Gravidez na adolescência, iniciação sexual e gênero: perspectivas em
disputa |
2020 |
Cadernos
de Saúde Pública |
A1 |
Pesquisa qualitativa-documental |
Destaca a discussão em torno
de iniciativas de adiamento da iniciação sexual, inspirado pelo movimento Eu
escolhi esperar e a campanha “adolescência primeiro, gravidez depois” |
Fonte: Periódicos diversos. Elaborada pelas autoras durante a pesquisa (2022).
Com base no
quadro 1, é possível perceber que predominam publicações no estrato B1 (40%),
seguido do B2 (30%), do A1 (20%) e do A2 (10%). Quanto ao delineamento da
investigação, todas figuram como pesquisa qualitativa. Com relação aos sujeitos
da pesquisa, 50% dos estudos realizaram entrevistas com crianças ou adolescentes;
20% com educadores/professores da educação infantil; 20% são pesquisas
documentais e 10% contêm dados gerados por meio da análise de filmes. Os artigos
foram publicados em diferentes periódicos científicos. A síntese dos achados da
pesquisa sobre gênero, sexualidade e infância será abordada no tópico a seguir.
2 Discussão das concepções de sexualidade e
gênero em periódicos da área do Serviço Social
A sexualidade, ao longo da história, sobretudo do
ocidente, é compreendida de distintas formas, prevalecendo ora perspectivas libertadoras,
ora repressivas, ora progressistas, ora conservadoras.
Percebe-se nas produções, de forma direta ou indireta, o debate entre
pensamentos conservadores e progressistas e, consequentemente, um conflito
quanto a preservar ou mudar valores associados à sexualidade. Essa discussão
permeia as produções sobre gênero e sexualidade de crianças e adolescentes,
considerando distintas formas de compreensão do desenvolvimento humano.
Segundo Carvalho et al. (2012), a sexualidade
faz parte da constituição humana, no entanto, “[...] é apenas bem-vinda no
momento da vida em que a genitália se apresenta biologicamente desenvolvida
para exercer a prática sexual” (CARVALHO et al., 2012, p. 70). Nesse sentido,
há uma normatização quanto ao tempo da sexualidade, e, em se tratando da
sexualidade infantojuvenil, a questão é complexa.
Foucault (1988) ressalta a existência de múltiplas
sexualidades, associando-as ao dispositivo de poder: a “[...] sexualidade
aparece mais como um ponto de passagem particularmente denso pelas relações de
poder; entre homens e mulheres; jovens e velhos, entre pais e filhos; educadores
e alunos [...]” (FOUCAULT, 1988, p. 99). Para o autor, o sexo é foco de uma disputa
política que envolve a disciplina do corpo e a regulação das populações: a
disciplina imposta adestra, impedindo os movimentos de liberação sexual; a
regulação exerce um controle da natalidade.
Quanto aos discursos acerca de sexualidade infantil
e de gênero nas produções da área de Serviço Social, verificamos, em nossa pesquisa,
que os estudos sobre a temática foram realizados sobretudo em instituições
públicas de educação (70%), como escolas, universidades e creches. Os sujeitos
das pesquisas são crianças pequenas, adolescentes e professores, que, associando
as categorias sexualidade, gênero e infância, expressaram suas interpretações e
suas práticas educativas. Os artigos foram agrupados em
quatro categorias, de acordo com as ênfases identificadas: 1. Criança,
professores da educação infantil e sexualidade; 2. adolescentes, sexualidade e
gênero; 3. Discursos públicos, sexualidade e gênero. Tais categorias serão
analisadas a seguir.
3 Criança, professores da educação infantil e
sexualidade
O artigo Relações sociais de gênero na perspectiva
de crianças pequenas na creche (BUSS-SIMÃO, 2013) é fruto de pesquisa realizada
com crianças entre 2 e 3 anos de idade, em uma instituição de educação infantil
situada em zona urbana. Há uma problematização das fronteiras entre os gêneros,
que não são fixas, nem dadas a priori, mas trabalhadas nas práticas
culturais. As crianças se definem como pertencentes a um determinado gênero no
âmbito familiar e institucional, e suas concepções são constantemente
atualizadas nas expectativas dos adultos, embora possam, em algum momento, subvertê-las.
Padrões culturais e familiares vão moldando o comportamento das crianças, e as
experiências vividas com os pares geralmente reforçam a identidade que está
sendo construída no universo masculino ou feminino infantil. Evidenciam-se, dessa
forma, um discurso de identificação de feminino e masculino como um dado
natural biológico e, também, a compreensão das autoras sobre gênero como
construção social. Suscita-se, assim, para o futuro, uma riqueza de nuanças e
contradições permeando o processo de construção de gênero.
O artigo intitulado Gênero, sexualidade e infância:
(Con)formando meninas (SARAT; CAMPOS, 2014) tem
como sujeitos de pesquisa professoras da educação infantil. Há uma crítica das
autoras ao padrão de sexualidade imposto pelo corpo biológico e à ideia da
heterossexualidade como natural, normal e universal. As professoras reproduzem
a educação recebida (lógica social) como filhas, isto é, nos moldes em que
foram educadas; e, ao versar o assunto sobre sexualidade, fazem-se presentes
medos, constrangimentos e vergonha.
Os discursos presentes no texto reforçam, mais uma
vez, a tensão entre pensamento conservador e progressista. De um lado, uma
visão amplamente difundida da essência feminina – mulher meiga, educada e sensível;
de outro, aprendizados diferenciados da feminilidade exigida como legítima. No que se refere à sexualidade, Sarat
e Campos (2014) explicam: “Evidenciamos a negação da temática da sexualidade na
fala das professoras, e a ausência de diálogos e de esclarecimentos em casa” (SARAT;
CAMPOS, 2014, p. 52). Em síntese, as relações históricas de gênero e de
sexualidade (con)formadas pela educação e pelos
cuidados podem, no futuro, ser compreendidas de outra maneira e vividas de
forma diferente.
O
estudo Sexualidade, Gênero e Aprendizagens Narrativas no Currículo Escolar
da Infância (SCHINDHELM; HORA, 2015)
expõe a experiência de educadoras em creches públicas. Problematiza-se o papel
do educador infantil na construção de gênero e de sexualidade das crianças, ao
mesmo tempo em que se critica/questiona a maneira como educadores
reproduzem o modus operandi aprendido sobre gênero e sexualidade,
havendo, por parte destes, uma expectativa acerca do comportamento adequado
para meninos e meninas. Todos seguem a prescrição sobre sexualidade nos
conteúdos curriculares.
Em relação aos discursos, predomina o olhar de um
passado tradicional – a escola não pode falar sobre sexualidade e faz calar
crianças e professores. As expressões de sexualidade na escola apontam regras,
padrões, discursos e práticas que as regulam, estando os educadores inseridos
nesse conjunto de regras e de tradições. Ressalta-se, todavia, que as
marcas do tempo atual são a instabilidade e a transitoriedade dos discursos
sobre gênero e sexualidade.
Para
Schindhelm e Hora (2015, p. 162), “[...] os educadores não conseguem
romper ou rompem pouco com o que foi passado de mãe para filha, ou seja, o modo
como aprenderam a pensar sobre gênero e sexualidade”. Estão em xeque duas
cosmovisões, pois a ‘prescrição autoritária’ de currículo nas narrativas do
educador, impondo comportamentos certos/errados, normal/anormal, configura-se
como defesa de valores e tradições conservadoras questionados pelas autoras, que
suscitam uma reflexão sobre gênero e sexualidade para que se desmistifiquem os
(pre)conceitos sexuais experienciados na função
docente. Provoca-se assim, no futuro próximo, a busca de novas concepções na
vivência sobre gênero e sexualidade.
A pesquisa Você
brinca de boneca, mas é menino: sujeitos, gêneros e sexualidades em brincadeiras
infantis (CARDOSO; NASCIMENTO, 2017) analisa como as relações de
gênero são estabelecidas em atividades lúdicas de um currículo. Ao considerar as
falas da diretora e das professoras, e ao observar as crianças, a pesquisa constata
que a escola nem discute, nem desmistifica o uso generificado de gênero. As
crianças da creche distinguem claramente as condutas masculinas e femininas, e
a escola reforça bem essa percepção ao exercer forte vigilância da sexualidade
das crianças. As diferenças entre meninos e meninas são percebidas nas roupas,
nos brinquedos, nos acessórios e no material escolar. Há uma forte crítica das
autoras à forma como a escola lida com alunos e alunas: “[...] constatou-se o
quanto as crianças são objeto de ações regulatórias que partem, inicialmente,
de seus familiares e, depois, da equipe escolar” (CARDOSO; NASCIMENTO, 2017, p.
256).
Percebemos, no texto, a disputa presente na
sociedade, havendo tanto discursos de relações de gênero em bases firmadas na heterossexualidade
como norma a ser seguida, em que professores reproduzem os padrões sociais
estabelecidos pela sociedade ao longo do tempo; quanto diferentes práticas
discursivas regulatórias (colocadas em xeque pelas autoras do estudo) que podam
os sujeitos e dificultam a quebra das barreiras de gênero.
Além
dos estudos sobre crianças e professores da educação infantil, é importante considerar
a percepção de adolescentes sobre sexualidade e gênero. Três artigos contemplam este público e serão
apresentados a seguir.
4 Adolescentes. sexualidade e gênero
O artigo O “macho nordestino” em formação:
sexualidade e relações de gênero entre adolescentes (BRILHANTE et al.,
2015) traz uma análise crítica acerca dos pensamentos de adolescentes sobre sexualidade
e gênero que expressam tabus e reprodução da educação recebida. Eles vivenciam a sexualidade a partir de
valores pessoais/familiares inseridos em um contexto marcado pelas pressões do
grupo e exigências de comportamentos conforme os estereótipos femininos e masculinos.
Os discursos apontam para um modelo conservador de mulher submissa e de
afirmação da masculinidade para os meninos – ‘o macho nordestino’.
Os
adolescentes, por um lado, evidenciam uma tolerância quanto às identidades sexuais,
mas, por outro, demonstram uma não aceitação da homossexualidade, observando-se,
assim, a existência de convergências e divergências em relação à sexualidade.
Muitas vezes existe um conflito com a educação recebida dos pais, havendo casos
em que não esclarecem suas dúvidas com o pai e situações em que a mãe tem forte
impacto sobre sua vida sexual. Para eles, os papéis masculino e feminino seguem
os tradicionais atributos de cada gênero: os rapazes devem ser fortes e capazes,
e as garotas passivas, dependentes e sensíveis. Quanto à homossexualidade,
expressam questionamentos sobre ela, o que é explicado por Brilhante et al.
(2015, p. 477): “Embora a percepção da homossexualidade tenha aumentado
gradualmente, as percepções negativas ainda predominam. O discurso dominante a associa
ao pecado, crime, perversão, doença, anormalidade”.
O fenômeno da sexualidade, com base nas relações de
gênero, ultrapassa as questões biológicas e epidemiológicas, refere-se a
fenômeno sociocultural e está sujeito a valores e ideologias dominantes na
sociedade. No entanto, a sociedade é heterogênea, e, consequentemente, as
expressões de sexualidade oriundas de movimentos sociais, políticos ou
religiosos são plurais. O campo religioso não é homogêneo e expressa tensões
quando se discute homoafetividade, mas predomina, geralmente, o entendimento negativo
quanto à homossexualidade.
Nesse cenário, é necessário pontuar que termos como
gay e homofobia precisam ser bem definidos e compreendidos em seus respectivos
contextos sócio-históricos. Nesse sentido, Moura (2017), quanto ao uso da
palavra gay, explica: “Ao ouvirmos um homem ou uma mulher se definir como gay,
é importante compreender se esta pessoa está falando de sentimentos, desejos ou
prática de relações sexuais com uma pessoa do mesmo sexo” (MOURA, 2017, p. 105).
Com relação ao termo homofobia, Lionço
e Diniz (2008) esclarecem ser uma “[...] prática de discriminação baseada na
suposição da normalidade da heterossexualidade e dos estereótipos de gênero” (LIONÇO;
DINIZ, 2008, p. 310). Com base nesse conceito, entende-se homofobia como um
posicionamento negativo, com atitudes discriminatórias relativas aos
homossexuais. Comumente, entretanto, o termo homofobia carrega um sentido mais intenso:
medo de homossexuais, ódio por eles, aversão a eles. Em resposta a esses
cenários, recentemente no Brasil, a homofobia foi equiparada ao crime de
racismo pelo Supremo Tribunal Federal. “[...] a homofobia e a transfobia enquadram-se no artigo 20
da Lei 7.716/1989, que criminaliza o racismo” (COELHO, 2019, p. 1).
O artigo ‘Pensando como um menino é mais fácil:
construções sobre as relações de gênero no discurso de meninas adolescentes’
(MONTEIRO et al., 2015) aborda concepções de sexualidade e de relações
de gênero no discurso de meninas adolescentes de uma escola pública e seus
possíveis impactos no desempenho ocupacional, trazendo uma crítica às situações
de opressão vivenciadas no cotidiano das relações entre homens e mulheres.
Destaca-se, nesse estudo, a visão das adolescentes sobre o impacto da sociedade
no que é ser menino ou menina e do gênero na inserção no mundo do trabalho –
profissões consideradas femininas e masculinas e de organização do lar (cuidados
domésticos).
A pesquisa também informa que, para as adolescentes,
“[...] a família atribui maior liberdade ao menino na vivência da sexualidade,
mas geralmente controla e não aceita esse comportamento quando alude às meninas”
(MONTEIRO et al., p. 211, 2015). Essa diferenciação é predominante na sociedade
em que meninas são mais protegidas pela família, havendo um controle maior no
estabelecimento de suas relações afetivas e sexuais. Em conclusão, as autoras
referem a existência múltipla de “[...] diferentes concepções e a emergência de
percepções que entendem as relações de gênero numa perspectiva mais problematizadora
e promotora do empoderamento das mulheres na assunção de papéis assumidos na
família e na sociedade” (MONTEIRO et al., 2015, p. 214).
O estudo Limites e possibilidades de um jogo
online para a construção de conhecimento de adolescentes sobre a sexualidade
(OLIVEIRA et al., 2016) contempla uma abordagem sobre sexualidade e
gênero a partir do uso de jogo online voltado para o conhecimento em saúde de
adolescentes no campo afetivo-sexual e reprodutivo. Trata-se de uma estratégia
inovadora que despertou nos adolescentes o interesse e a ‘liberdade’ para, de
forma online, anônima e atraente, conversar sobre um tema complexo tanto
com seus pares quanto com os profissionais da escola.
O uso do jogo contribuiu para “[...] o
favorecimento da abordagem sobre sexualidade com adolescentes de forma lúdica e
interativa” (OLIVEIRA et al., 2016, p. 2384). Percebe-se, assim, que os
adolescentes expressam claramente seu desejo por autonomia e emitem livremente
seu posicionamento crítico. O jogo constitui-se uma estratégia lúdica para
orientação sexual dos jovens e um compartilhamento de experiências mútuas: “[...]
é na convivência com os pares que os adolescentes compartilham conhecimentos e
experiências que envolvem a sexualidade” (OLIVEIRA et al., 2016, p. 2388).
A tendência para o futuro é o estímulo ao uso de
jogos como espaço para os jovens falarem sobre sexualidade, tendo como garantia
o anonimato, em uma perspectiva da promoção da equidade de gênero e da superação
de tabus. Em síntese, trata-se de um dispositivo pedagógico.
5 Discursos públicos, sexualidade e gênero
O artigo Gravidez na adolescência, iniciação
sexual e gênero: perspectivas em disputa (CABRAL; BRANDÃO, 2020) empreende
uma crítica à proposta de uma Política Nacional de Prevenção ao Risco da
Atividade Sexual Precoce, anunciada pelo Ministério da Mulher, da Família e dos
Direitos Humanos (MMFDH). Trata-se de política pública de abstinência (ou
adiamento da vida sexual) para o enfrentamento da gravidez na adolescência,
oriunda da campanha nacional ‘Adolescência Primeiro, Gravidez Depois’, de
sensibilização de adolescentes sobre os efeitos indesejáveis da ‘gravidez
precoce’.
As autoras sinalizam os equívocos de uma política
de associação de causalidade direta entre vida sexual e gravidez precoce em
adolescentes, ressaltando que a escolha pela abstinência sexual é de foro
íntimo e independe de credo religioso. Destacam, assim, não só a importância da
elaboração de políticas públicas alinhada à premissa de laicidade do Estado,
mas também o direcionamento do exercício da sexualidade na adolescência
conectado ao “[...] fortalecimento da escolarização, da autonomia pessoal e da
capacidade de reflexão dos adolescentes sobre suas escolhas afetivas e/ou sexuais”
(CABRAL; BRANDÃO, 2020, p. 3). O Estado brasileiro, hoje, estabelece, como
limite para o início da vida sexual de uma pessoa, a idade mínima de 14 anos. Qualquer
relação sexual com menor de 14 anos é considerada, por lei, estupro de
vulnerável. Em suma, para o futuro, o
Estado deve ofertar alternativas para que adolescentes construam projetos que
contemplem outras dimensões importantes da vida, não apenas a sexualidade.
O artigo Em defesa das crianças e da família:
Refletindo sobre discursos acionados por atores religiosos “conservadores” em controvérsias
públicas envolvendo gênero e sexualidade (LEITE, 2019) traz uma crítica aos
discursos religiosos conservadores sobre sexualidade e gênero, destacando a disputa
de moralidades sexuais distintas nas estruturas do Estado, a transnacionalidade
de uma ofensiva conservadora, a equidade de gênero, o casamento de pessoas do
mesmo sexo, a ideologia de gênero e a relação entre religião e política
(Estado).
Como nos lembra Dulci (2018), Igreja e Estado são esferas
sociais autônomas, todavia não significa que religião esteja fora da esfera
pública, já que esta encontra-se eivada por posturas religiosas. “Se a entrada
da religião na vida pública é um problema, então parece que estamos pressupondo
que a religião estava fora da vida pública, e nos perguntamos como entra, e, se
entra de modo justo e razoável” (BUTLER, [200-?], p. 69, tradução nossa). Noutras palavras, é preciso questionar a secularização
da política.
No tocante a questões de gênero e de sexualidade, existe,
segundo Leite (2019), uma ofensiva conservadora ligada, principalmente, a
bancadas religiosas. Este debate entre pensamento conservador e progressista
pode ser verificado na legislação brasileira, uma vez que, ao se analisar a
Constituição Federal de 1988, verifica-se, no artigo 226, a presença do legado
conservador do casamento como entidade familiar. Por outro lado, a CF contempla
também a família monoparental e a união estável, sendo o Supremo Tribunal Federal,
o “[...] responsável pela equiparação da união estável entre pessoas do mesmo
sexo (homossexuais) às uniões entre pessoas de sexos diferentes
(heterossexuais), trazendo assim nova interpretação ao texto constitucional [...]”
(FERNANDEZ, 2021, p. 153), o que explicita o conflito de perspectivas
ético-políticas quanto à moralidade sexual.
A grande controvérsia que expressa a disputa de
éticas sexuais distintas refere-se, notadamente, segundo Leite (2019), ao projeto
Escola sem Homofobia (ESH), elaborado a partir de articulação do MEC com o movimento
LGBTI e organizações da sociedade civil. Para a autora, criou-se um ‘pânico
moral’ em torno do projeto sob a alegação de que o Estado estaria financiando o
desvirtuamento das crianças. O primeiro adversário do projeto foi o então
deputado Jair Bolsonaro, que, unindo-se a outros parlamentares, como Magno Malta,
Anthony Garotinho e João Campos (presidente da Frente Parlamentar Evangélica), liderou
um ataque frontal ao ESH, sobretudo à diversidade sexual e à igualdade de
gênero. Colocou-se, assim, em xeque a questão dos direitos sexuais – observa-se
que outrora não se falava em exercício da sexualidade como direito.
Percebe-se, dessa forma, uma controvérsia de
discursos sobre sexualidade entre a ética cristã conservadora – heteronormativa
– e a ética baseada na diversidade de sexo e de gênero, ou seja, há um “[...] confronto
entre uma moralidade baseada na família, na reprodução e na heterossexualidade
e uma nova moralidade baseada no consentimento e no ideário dos direitos
sexuais” (LEITE, 2019, p. 136). Nota-se que, desde o início deste debate em
2011, os argumentos pró ou contra o chamado ‘kit gay[2]’ não
cessaram. Ao contrário, intensificaram-se, sendo travadas grandes batalhas
quando se discute a educação sexual de crianças e adolescentes e, também, as
condições de consentimento ou não para expressar livremente sua sexualidade, a
qual é orientada principalmente pelas famílias. O Estado, por meio de suas
legislações, define os limites do exercício da sexualidade do adulto
direcionada a esse público. Em um Estado democrático de direito, em que convivem
as forças conservadoras e progressistas apontadas, faz-se necessário garantir,
no presente e no futuro, o pluralismo conceitual e prático no debate sobre
sexualidade, respeitando-se a dignidade da pessoa humana e os valores culturais
da sociedade, pois a “[...] sexualidade e as expressões de gênero de crianças e
dos adolescentes assumem um papel central no confronto de racionalidades,
moralidade e na política, bem como na expressão de projetos da sociedade” (LEITE,
2019, p. 138).
O artigo Crianças, gênero e sexualidade:
realidade e fantasia possibilitando problematizações (RIBEIRO, 2011) traz,
a partir da análise de filmes, um debate sobre como crianças vivem as
descobertas da sexualidade e das relações de gênero. A trama dos filmes estabelece
relações entre crianças e adultos pautadas em proibições, tabus, estereótipos
de gêneros, negação da sexualidade e singularidade das crianças.
Nesse cenário, o adulto pode ou desenvolver olhares
violentos sobre a sexualidade diante das expressões infantis, ou então dialogar
com a criança sobre sexualidade e gênero, dando-lhe voz. Também são problematizados
os desejos masculinos considerando as fases de criança, de adolescente e de
adulto. Em suma, os filmes trazem personagens crianças vivenciando diferentemente
as descobertas da sexualidade e das relações de gênero, expondo não só discursos
controles, mas também possibilidades de descobrir (e de refletir sobre) outras
formas e novas percepções de sexualidade, construídas e reconstruídas
socialmente.
Considerações Finais
A interseção entre sexualidade, gênero e infância é
complexa devido às múltiplas faces envolvidas e aos diferentes significados
assumidos historicamente por essas categorias. A partir do século XX, mudanças
profundas afetaram o olhar da sociedade ocidental sobre a sexualidade, pois os
padrões hegemônicos dos papéis de gênero masculino e feminino passaram a ser
questionados/modificados. Um dos impactos desse novo cenário refere-se ao
entendimento da sexualidade não limitada ao viés físico/biológico, entrando em
cena a perspectiva sociocultural das relações de gênero e de sexo construídas
historicamente, afetando assim a percepção do gênero e da sexualidade de
crianças, adolescentes, jovens e adultos. Na produção científica sobre a temática,
as discussões nos permitem apontar alguns resultados.
Primeiro, as produções sobre gênero, sexualidade e
infância no período analisado (2011-2020) expressam importantes reflexões para
a sociedade. Encontram-se centradas na região sudoeste, em estratos A2 e B1, na
área de ciências da saúde, diluídas em 35 periódicos da área do Serviço Social.
Como já mencionado, houve um aumento expressivo do quantitativo de produções no
primeiro ano da pandemia – 2020 – em relação aos anos anteriores, não sendo
possível, porém, inferir conteúdo relacionado aos impactos da pandemia, pois na
presente pesquisa não trabalhamos com o universo das produções, mas, sim, com
uma amostra.
Segundo, todos os sujeitos dos estudos analisados–
crianças, adolescentes, professores, monitores,
diretores – expressam, em seus discursos
e/ou em suas práticas voltadas para sexualidade e relações de gênero, um viés
conservador: a criança pequena – entre 2 e 5 anos de idade - distingue condutas
de menino e de menina; os adolescentes vivenciam os papéis masculinos e
femininos atribuídos aos gêneros, mas não sem questionamentos; monitores e
professoras de creche ou de escola pública reproduzem a educação sexual
familiar recebida, têm dificuldade em lidar com
situações que ultrapassam as barreiras do gênero e reprimem
comportamentos infantis que fogem ao padrão
da heterossexualidade.
Terceiro, a discussão sobre educação sexual nas creches
ou nas escolas públicas pesquisadas ainda é restrita, o que pode estar associado
à ideia de que a educação sexual é responsabilidade apenas da família. Os
estudos realizados suscitaram, no entanto, um certo interesse sobre a temática
por parte dos atores das instituições pesquisadas, inclusive de educadores que
não se sentem preparados para lidar com a sexualidade infantil.
Quarto, todos os autores que se debruçaram sobre a
temática por meio das produções acadêmicas desenvolveram críticas aos padrões convencionais
de sexualidade, questionando as limitações impostas pelo modelo binário –
masculino e feminino –, a heterossexualidade como norma, o uso generificado do
sexo, os tabus, a reprodução das concepções tradicionais de gênero e as
expressões limitadas da sexualidade infantil. Ou seja, predominou nas produções
uma forte crítica ao conservadorismo.
Conclui-se
que os estudos sob análise, que não podem ser generalizados, apontam instituições
com visão e práticas conservadoras relacionadas aos papéis consagrados de
gênero e sexualidade, o que não exclui práticas ‘subversivas’ ao padrão convencional.
Além disso, as produções sinalizam um
questionamento acerca das certezas, dos preconceitos, dos tabus e dos conceitos
sexuais consolidados, ao mesmo tempo que defendem uma perspectiva de promoção
de equidade de gênero, uma livre expressão sexual, possibilidades de outras formas
de vivenciar as relações de gênero e a sexualidade socialmente construída, sem
determinação biológica e sem amarras de padrões sociais, culturais e
religiosos. Viver essa perspectiva seria, nas palavras de Reich (1968),
libertar-se do “encouraçamento” que reprime, eliminar as ideias em torno do que
é considerado normal e anormal em crianças e permitir a livre expressão.
O cenário exposto sinaliza uma disputa entre vieses
conservadores e progressistas a respeito da compreensão da sexualidade infantil
e das relações de gênero, cujas fronteiras muitas vezes são tênues. É preciso,
portanto, dar continuidade ao debate, argumentando e contra-argumentando
segundo as convicções do indivíduo ou do coletivo a fim de garantir a todos o
direito de ser ouvido e de falar em um espaço democrático.
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Cristiane
Bonfim FERNANDEZ Trabalhou na concepção e delineamento ou análise e interpretação de
dados, redação do artigo, revisão crítica e na aprovação da versão a ser
publicada.
Professora do
Departamento de Serviço Social da UFAM desde 1992. Mestre em Sociologia pela Universidade
Federal do Ceará (1998) Desenvolve atividades de pesquisa e extensão na área da
infância, juventude, ação afirmativa, violência sexual e sexualidade infantil.
Eunice Emanuele
Soares MARTINS Trabalhou na concepção e delineamento ou análise e interpretação de
dados, redação do artigo, revisão crítica e na aprovação da versão a ser
publicada
Bacharel em
Serviço Social pela Universidade Federal do Amazonas; Graduanda em Psicologia
pela Instituição Centro Universitário do Norte – Ser Educacional em Manaus.
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* Assistente Social. Doutora em Política Social pela Universidade de Brasília
(Unb). Professora do Departamento de Serviço Social e
do Programa de Pós-Graduação em Serviço Social e Sustentabilidade da Universidade
Federal do Amazonas. (UFAM, Manaus, Brasil). Av. Rodrigo Otávio, nº 6.200, Coroado 1,
Campus Universitário Senador Arthur Virgílio Filho, Manaus (AM), CEP.:
69080-000. E-mail: cristiane@ufam.edu.br.
** Assistente
Social. Graduanda em Psicologia
pela Instituição Centro Universitário do Norte – Ser Educacional. (UniNorte, Manaus, Brasil). Av. Leonardo Malcher, nº 715, Centro, Manaus (AM), CEP.: 69020-010. E-mail: eunice.emanuele@gmail.com.
© A(s) Autora(s)/O(s) Autor(es). 2022 Acesso Aberto Esta obra está licenciada sob os termos da Licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional (https://creativecommons.org/licenses/by/4.0/deed.pt_BR), que permite copiar e redistribuir o material em qualquer suporte ou formato, bem como adaptar, transformar e criar a partir deste material para qualquer fim, mesmo que comercial. O licenciante não pode revogar estes direitos desde que você respeite os termos da licença.
[1]
A sociedade constrói padrões sociais segundo os preceitos da moral, da religião
e da cultura em determinados contextos e, quando infringidos, são considerados ‘tabu’.
Distintos significados são atribuídos à palavra tabu. O Dicionário Online de
Português ressalta alguns: Ação, objeto, pessoa e/ou lugar proibidos por uma lei ou cultura.
Proibição que leva alguém a não fazer alguma coisa por medo de castigo divino
ou sobrenatural. Proibição religiosa ou controle social que restringe o uso de
uma linguagem, de um gesto, comportamento: tabus sexuais (TABU..., ©2009-2023).
[2] De
acordo com Euzébio et al. (2022), o ‘kit gay’, como ficou conhecido, é
um material voltado para os profissionais que trabalham com a educação, isto é,
professores, gestores, assim como os alunos. Ele é composto por materiais como
as cartas de apresentação, vídeos, cadernos, boletins e cartazes desenvolvidos
com o objetivo de oferecer instrumentos para os docentes trabalharem a LGBTQIAP+,
assim como a diversidade sexual e de gênero.