Lélia
Gonzalez e Sueli Carneiro, duas rosas negras semeando a primavera
Lélia Gonzalez and Sueli Carneiro, two
black roses sowing spring
Renata
GONÇALVES*
https://orcid.org/0000-0002-2470-9095
Ana Paula Pires LOURENÇO**
https://orcid.org/0000-0002-0887-0209
Resumo: O artigo aborda a contribuição de duas intelectuais
negras brasileiras: Lélia Gonzalez e Sueli Carneiro. Duas rosas negras fundamentais
na construção do movimento negro nos anos 1970 e nas discussões feministas
pautadas pelas mulheres negras. Muitos conceitos hoje apresentados como
novidade foram elaborados por estas estudiosas e militantes, que nos fornecem
elementos teórico-políticos para compreender e superar a intrínseca e atual
relação entre capitalismo, patriarcado e racismo.
Palavras-chave: Lélia Gonzalez. Sueli Carneiro. Movimento
Negro. Feminismo. Mulheres Negras. Serviço Social.
Abstract: The article addresses the contribution of two black Brazilian
intellectuals: Lélia Gonzalez and Sueli Carneiro. Two fundamental black roses
in the construction of the black movement in the 1970s and in feminist
discussions guided by black women. Many concepts presented today as a novelty
were developed by these scholars and activists, who provide us with
theoretical-political elements to understand and overcome the intrinsic and
current relationship between capitalism, patriarchy
and racism.
Keywords: Lélia Gonzalez. Sueli Carneiro. Black
Movement. Feminism. Black Women. Social Work.
Submetido em: 2/11/2022. Aceito em: 4/4/2023.
Introdução
O |
debate acerca das relações
étnico-raciais vem ganhando corpo no Serviço Social brasileiro, sobretudo a
partir dos anos de 1990: das calorosas discussões sobre a revisão do currículo
mínimo para a profissão à entrada massiva de jovens negras(os) nas
universidades, passando pelo crescimento de campanhas, manifestos, ações do
conjunto CFESS/CRESS, fóruns de debates, seminários etc. Nos últimos anos, cresceu
também a produção de conhecimento na área, como publicações de dossiês em
periódicos acadêmicos e de coletâneas consolidando um corpo teórico e político sobre
a temática. Ao lado (e como resultado) destas mudanças, ocorreu a alteração do
próprio perfil das(os) assistentes sociais no Brasil. Na penúltima pesquisa nacional,
no que tange ao pertencimento étnico-racial, 72,14%
se autodeclaravam brancas(os); agora, dados mais recentes revelam que mais da
metade das(os) profissionais se autodeclaram negras(os), isto é, como
pretas(os) e pardas(os). Foram “[...] 22.255 registros, o que representa 50,34%
das/os participantes” (CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL, 2022, p. 30).
Estas
transformações não foram capazes de eliminar a persistência de uma lacuna no que
concerne à contribuição teórico-política de importantes intelectuais negras,
dentro e fora do Serviço Social. Conhecemos muito pouco a respeito de quem são
e sabemos menos ainda de seus estudos que poderiam nos ajudar a compreender o
impacto do racismo em nosso espaço profissional e na nossa vida cotidiana. Embora
a produção teórica deste segmento seja farta, o letrado ambiente da intelligensia brasileira insiste em
ignorá-la. Este apagamento escamoteia personagens, lutas e resistências fundamentais nos
levantes e insurreições Brasil afora. Neste particular, “[...] as mulheres
negras estão ausentes como protagonistas de processos históricos e como
intelectuais, cujas formulações teóricas são bastante relevantes para a
compreensão da estrutura de dominação e exploração na sociedade brasileira, do
período colonial aos dias atuais” (GONÇALVES, 2021, p. 75).
A este respeito, bell
hooks enfatizou que esta é
a lógica do “[...] patriarcado capitalista com supremacia branca [...]” (1995,
p. 468), em que a cultura age para impossibilitar que as mulheres, especialmente
as negras, atuem enquanto intelectuais que exercitam de forma criativa suas
mentes. A simbiose explosiva entre capitalismo, racismo e violência patriarcal
incutiu “[...] na consciência de todos a ideia de que as negras eram só corpo
sem mente” (hooks, 1995, p. 469). O desdobramento desta simbiose se faz sentir também
nas salas de aula. A autora escreve que,
em exercícios feitos com suas estudantes instigadas a citarem escritores negros,
sem especificar o gênero, invariavelmente os nomes que surgiam eram todos de
homens, havendo uma grande dificuldade de citarem intelectuais negras. Era
necessário muito estímulo para que conseguissem se lembrarem de algumas
escritoras, mesmo de famosas como Alice Walker, Toni Morrison e Angela Davis (hooks,
1995).
O presente artigo visa romper
algumas das barreiras de invisibilidade das intelectuais negras brasileiras, ao
apresentar a criatividade teórica e política de duas autoras pouco conhecidas no
Serviço Social: Lélia González e Sueli Carneiro. Duas rosas negras que brotaram da luta
contra a violência racial e patriarcal no interior da dinâmica das classes
sociais.
2 No deserto,
duas rosas: experiências individuais, trajetórias comuns
Nascidas
no interior da classe trabalhadora, a condição de pobreza marcou profundamente
as infâncias de Lélia Gonzalez e de Sueli Carneiro. No dia primeiro do mês de fevereiro de 1935, em uma grande
família de dezoito filhos, nascia na capital mineira, Belo Horizonte, Lélia de
Almeida, a décima-sétima filha do senhor Accacio, um ferroviário negro, e da
dona Urcinda, uma empregada doméstica de ascendência indígena.
Enquanto
a menina Lélia teve de migrar com sua família para a cidade do Rio de Janeiro
em 1942, aos oito anos de idade; a menina Aparecida
Sueli Carneiro, nasceria oito anos depois, no dia 24 de junho de 1950 na Vila
Bonilha, região da Lapa, na capital do estado de São Paulo, a primogênita
dentre os sete filhos do senhor Horário, um ferroviário negro semianalfabeto, e
da dona Eva, uma costureira negra. A família de Lélia precisou se deslocar com os familiares da
capital mineira para a carioca com o objetivo de saírem da extrema pobreza e se
juntarem ao irmão mais velho, que se tornara jogador de futebol do Clube de
Regatas Flamengo. A de Sueli permaneceu no subúrbio da cidade de São Paulo.
A condição de mulheres negras foi
sentida muito cedo pelas duas. Lélia cresceu em um ambiente sobre o qual ela
escreveria mais tarde, ao enfatizar que a sociedade naturaliza que meninas
negras sejam empregadas domésticas desde a infância: “Quando criança, eu fui
babá de filhinho de madame, você sabe que criança negra começa a trabalhar
muito cedo” (GONZALEZ, 1986, p. 8). Sueli, por sua vez, cresceu vendo a
exploração e a submissão de corpos femininos negros e tinha dentro da sua casa
o exemplo de sua própria mãe, pois o pai não permitia que sua esposa
trabalhasse fora de casa e, portanto, dona Eva teve de abandonar a costura para
servir ao marido e ao lar, assumindo integralmente sozinha os afazeres
domésticos. O exemplo machista que teve com o pai e os conselhos que recebeu da
mãe despertaram em Sueli percepções que a acompanham até hoje, além do assunto
ser objeto constante de suas análises. Talvez tenham sido as primeiras
experiências da infância (uma mescla de racismo, violência patriarcal atrelado
às condições de classe trabalhadora) a implsusionarem o interesse de nossas
rosas de ébano a escreverem sobre a condição das mulheres negras brasileiras.
O choque que a dominação patriarcal
despertou em Sueli a fez perceber a necessidade de estudar para ter uma
profissão e não depender de marido algum. O mesmo ocorreu com relação ao
racismo que levou a aprender a se defender como menina. Logo que passou a frequentar a escola, como
criança negra, ganhou o estígma de briguenta: “Sempre fui uma menina peralta,
valente e briguenta. Tinha, para os padrões convencionais, um comportamento de
menino.” (BORGES, 2009, p. 25). Com este perfil destacava-se na escola para
proteger a si e a seus irmãos.
Tive a responsabilidade de defender
meus irmãos, de cuidar deles. Se um irmão chegasse em casa chorando porque
alguém tinha batido, não tinha dúvidas: ia lá, vingava e batia. Esse era o
perfil da menina que eu era: pouco afeita a brincar de boneca e desempenhar funções
designadas para ‘garotas’ e a me comportar como elas (BORGES, 2009, p. 25).
Sueli teve a oportunidade, ainda na
infância, de ser alfabetizada por Eva, que tinha muito apreço pela leitura (SANTANA,
2021). Lélia, ao contrário, pertencia a uma família em que a leitura não fazia
parte do cotidiano. Seus irmãos e suas irmãs foram à escola até o segundo ano
do ensino fundamental. A
maioria das(os) filhas(os) de trabalhadoras(es) negras(os) não podia frequentar
a escola, tendo de vender sua força de trabalho desde a tenra idade. Lélia,
porém, se beneficiou da ascensão social do irmão jogador de futebol e teve a
possibilidade de estudar em um dos melhores colégios cariocas (RATTS; RIOS,
2010). Já a paulistana foi estudar em um
colégio no largo da Lapa, na capital paulista. As duas perceberam o quanto a
escola era um lugar de crianças brancas. Foi na escola que Sueli teve o
primeiro contato explícito com o racismo. Apesar de ser boa aluna, a escola não
era o local que a atraía. A este respeito, Bianca Santana escreveu que: “Sueli
frequentava a escola, tirava boas notas, mas as relações que importavam a ela
não estavam ali. Pelo contrário, sentia-se permanentemente convocada a provar
sua capacidade” (SANTANA, 2021, p. 47).
O racismo
também marcou a vida escolar de Lélia Gonzalez. Ela percebeu o quanto o discurso
pedagógico brasileiro foi responsável por sua lavagem cerebral, pois à medida
que aprofundava seus conhecimentos, segundo a autora, mais rejeitava sua
condição de pessoa negra. Mais tarde, já na faculdade, como ressalta, ela “[...]
já era uma pessoa de cuca, já perfeitamente embranquecida” (GONZALEZ, 2018, p.
82). Tornou-se a “[...] pretinha legal, muito inteligente, [que] os professores
gostavam” (GONZALEZ, 2018, p. 82). Para ser aceita, “[...] usava peruca,
esticava o cabelo, gostava de andar como uma lady” (GONZALEZ, 2018, p. 82).
Sueli
Carneiro, após a conclusão do ensino regular, ingressou em 1971 no curso de
Filosofia da Universidade de São Paulo, ano em que também prestou concurso
público para auxiliar de escritório na Secretaria da Fazenda. Formou-se em 1980
e prosseguiu para o mestrado na mesma área. A oportunidade que teve de entrar
em contato com filósofos africanos, desconhecidos pelo povo negro e ocultados
no ambiente acadêmico, a levou a refletir sobre a estrutura racista da academia
e a elitização dos intelectuais brancos, majoritamente homens, que também não
privilegia estudos advindos de pessoas negras[1].
Lélia Gonzalez tem em seu currículo inicial duas
graduações: formou-se “[...] em História e Geografia em 1958, e em Filosofia em
1962, na antiga Universidade do Estado da Guanabara (UEG), atual Universidade
do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)” (BARRETO, 2018, p. 15). Além disso, cursou
o mestrado em
Comunicação Social e fez o doutorado em Antropologia Política (LOURENÇO;
GONÇALVES, 2020). A autora também se
voltou para os estudos da Psicanálise lacaniana, que a ajudaram a compreender a
neurose do racismo à brasileira. Com essa formação e podendo também contar
com sua fluência em inglês, espanhol e francês, Lélia lecionou na Faculdade de
Filosofia, Ciência e Letras da Universidade Gama Filho, no Rio de Janeiro; e
foi professora de Cultura Brasileira na Pontifícia Universidade Católica do Rio
de Janeiro.
Cada uma delas teve a vida amorosa
marcada pela tensão racial. Na festa de aniversário de um grande amigo, em 1971, Sueli
conheceu Maurice Jacoel. Hesitou em aceitar o convite para uma dança e foi
direta: “Não gosto de branco”; ao que o persistente rapaz respondeu que também
não gostava (SANTANA, 2021). Após uma, duas, três danças, para a surpresa de
Sueli, o rapaz começou a falar sobre cultura negra e, em especial, sobre o
candomblé. Começaram a namorar. Porém, “[...] todo o lirismo e encantamento que
acometem os casais em início de idílio foram abalados pela repercussão negativa
que o relacionamento causou na família” (BORGES, 2009, p. 41). Aquela escolha
representava um tabu na família de Sueli. A casa veio abaixo. Houve uma furiosa
decepção coletiva: a mãe dela entrou em pânico; o pai a repreendeu de forma
estrondosa; os irmãos seguiram o mesmo descontentamento. Apesar de se sentir
culpada, Sueli decidiu reagir e defender sua liberdade e autonomia. Sua família
havia extrapolado todas as fronteiras possíveis e ela não podia permitir que
decidissem em seu lugar sobre com quem se casaria. Com relação à família judia
de Maurice, a situação não foi menos difícil.
[Os pais]
evocaram todos os argumentos raciais e religiosos de que dispunham para
convencer o filho de que o casamento jamais daria certo. Como eles acreditavam
firmemente que era uma instituição para o resto da vida, sugeriram que, em vez
de casar no papel, os jovens morassem juntos, assim já
iam vendo se era isso mesmo que queriam (SANTANA, 2021, p. 72).
Com Lélia
Gonzalez, o racismo foi ainda mais trágico. Antes de
enegrecer, como a maioria das mulheres negras do século XX no Brasil, Lélia passou
por um profundo processo de embranquecimento[2]:
alisava os cabelos, usava peruca etc. Sem compreender a estrutura racista da
formação social brasileira, fazia de tudo para ser aceita no seio da classe
média branca. Todavia, este procedimento “[...] não foi suficiente para que
Lélia Gonzalez fosse tratada como parte do seleto grupo da branquidade. Todo o esforço que fez
para adotar a estética da brancura não a protegeu da dor do racismo”
(GONÇALVES, 2020, p. 225). A própria Lélia descreve seu casamento como a
representação da polarização das relações raciais no Brasil:
Mas
quando chegou a hora de me casar, eu fui me casar com um cara
branco. Pronto, daí aquilo que estava reprimido, todo um processo de
internalização de um discurso da ‘democracia racial’ veio à tona, e foi um
contato direto com uma realidade muito dura. A família de meu marido achava que
nosso regime matrimonial era, como eu chamo, de ‘concubinagem’, porque mulher
negra não se casa legalmente com homem branco; é uma mistura de concubinato com
sacanagem, em última instância. Quando eles descobriram que estávamos
legalmente casados, aí veio um pau violento em cima de mim; claro que eu me
transformei numa ‘prostituta’, numa ‘negra suja’ e coisas desse nível...
(GONZALEZ, 2021, p. 286-287).
Enquanto
a família de Maurice percebeu que a relação do filho com Sueli era
irreversível, passando a tratar bem a futura nora; a família de Luiz Carlos
jamais aceitou o casamento tornando a relação insuportável ao ponto dele suicidar-se. Uma tragédia que marcou para
sempre a vida de Lélia Gonzalez, que começou a trilhar o caminho de volta às
suas origens procurando enegrecer, o que “[...] significou uma profunda mudança
pessoal, estética, teórica e política” (GONÇALVES, 2020, p. 226). Como a
própria Gonzalez observou:
A partir
daí, fui transar o meu povo mesmo, ou seja, fui transar candomblé, macumba,
essas coisas que eu achava que eram primitivas. Manifestações culturais que eu,
afinal de contas, com uma formação em Filosofia, transando uma forma cultural
ocidental tão sofisticada, claro que não podia olhar como coisas importantes.
Mas, enfim, voltei às origens, busquei as minhas raízes (GONZALEZ, 2018, p.
83).
A autora resolveu adotar o nome do marido
tornando-se, então, Lélia Gonzalez, como homenagem a Luiz (RATTS; RIOS, 2010). Deste episódio doloroso, surgiu seu interesse pela
Psicanálise. Inicialmente, ela procurou a análise para lidar com as questões
que haviam ficado nubladas quanto ao segundo homem com quem se relacionou, um
homem negro de pele clara que não se reconhecia como tal; pelo contrário,
buscava negar as origens que o ligassem com a cultura e o estereótipo negro. Lélia, submersa nessa situação, não entendia
como o marido anterior, que era branco, a incentivou tanto no estudo das
questões raciais e no próprio reconhecimento dela como mulher negra, e o atual
não a apoiava e, além disso, se afastava de quaisquer manifestações da cultura
negra (RATTS; RIOS, 2010).
Aos poucos, o que era apenas uma busca de compreensão pessoal, se transformou
em interesse de estudos sobre a psicanálise.
Lélia percebeu que esta área de
conhecimento era a oportunidade não apenas de se conhecer mais e se reconhecer
em sua negritude, tendo sua atenção chamada para os mecanismos de racialização,
mas também de compreender que estava diante da chave de entendimento da própria
neurose da sociedade racista. Seu envolvimento com organizações políticas se
consolidou a partir daquele momento, final dos anos de 1960. Algo que não foi
ignorado pelos setores de segurança do regime militar.
Lélia passou
a ser observada pelo Departamento de Ordem e Política Social e informações
sobre ela aparecem pela primeira vez nos fichários do órgão em 1972, quando foi
solicitada a averiguação sobre seu possível envolvimento no ‘recrutamento de adeptos
à doutrina marxista’, na Universidade Gama Filho, onde lecionava Filosofia
(GONÇALVES, 2021, p. 79).
O
envolvimento político de Sueli Carneiro ocorreu por outras vias. Seu casamento
com Maurice foi marcado por simbolismos, era praticamente um ato de rebeldia
contra o racismo. O apartamento em que foram morar no centro de São Paulo,
acolhia muita gente, inclusive quem precisava se esconder dos militares (SANTANA,
2021). Hospedaram um casal de amigos que vivia na clandestinidade desde 1969.
Como Sueli e Maurice não faziam parte de organização política alguma, “[...] abrigar
o casal em situação temerária era um modo de colaborar com a resistência”
(SANTANA, 2021, p. 77). O que também não passou despercebido pelo Departamento de Ordem e
Política Social.
As
trajetórias individuais de Lélia Gonzalez e de Sueli Carneiro pareciam seguir
os mesmos rumos, mas por caminhos distintos. As encruzilhadas do racismo, da violência
patriarcal e da exploração capitalista de classe as colocaram num mesmo
universo de lutas no final dos anos de 1970, quando nas escadarias do Teatro
Municipal de São Paulo era anunciado o surgimento do Movimento Negro Unificado.
3 Nossas duas rosas
e suas militâncias negras e feministas
No final dos anos de 1960, Lélia
Gonzalez já estava consciente de que devia trilhar o caminho de saída do embranquecimento
pelo qual passara. A tentativa de embranquecer não deu conta de protegê-la. As dores
que sofreu enquanto mulher negra foram sentidas profundamente e passaram a ser
objeto de intervenções políticas e de estudos (GONÇALVES, 2020).
Eram tempos de Ditadura Militar e,
logo, de enorme retrocesso da democracia no país, quando, já no final dos anos 1970,
houve uma grande comoção em
São Paulo, após o assassinato de um trabalhador negro que, “[...] acusado de
roubar frutas em uma feira, foi preso no Distrito Policial de Guaianazes e
recebeu tanta tortura que morreu” (SANTANA, 2021, p. 95). Este e outros tantos episódios
de violência, levaram um grupo de pessoas, que até então estavam fazendo
discussões isoladas quanto à questão racial, a organizar uma manifestação contra
aquele e inúmeros outros crimes oriundos do racismo. Em 18 junho de 1978, esse
grupo, somado a aproximadamente 2 mil pessoas, se reuniu nas escadarias do
Teatro Municipal de São Paulo, onde Sueli e Lélia estiveram presentes. O ato
foi um marco de surgimento do Movimento Negro Unificado (MNU) e marcou “[...] uma
virada de paradigmas no movimento negro brasileiro, uma inflexão poderosa na
discussão de raça e classe” (SANTANA, 2021, p. 96). Após a formação do MNU,
Lélia Gonzalez
[...]
assumiu o cargo de diretora executiva na primeira eleição da Assembleia
Nacional do Movimento Negro Unificado, ainda em 1978. Dali em diante, trabalhou
na articulação e, em especial, na formação política dos ativistas, por meio de
palestras, cursos, reuniões e produções de textos, que eram divulgados em
diferentes espaços e, sobretudo, na imprensa negra, em particular no jornal do
MNU (RATTS; RIOS, 2010, p. 84).
A autora também teve aproximação com
o Movimento Negro do Rio de Janeiro, da Bahia e de São Paulo. Gonzalez foi uma
das responsáveis também por reivindicar a data de 20 de novembro como
comemoração da liberdade marcada por lutas do povo negro (GONÇALVES, 2020).
Sueli
Carneiro, diferentemente de Lélia Gonzalez, nunca foi militante orgânica do
Movimento Negro Unificado. No entanto, esse foi um importante ponto de
convergência entre as duas estudiosas. Além da trajetória de Sueli ser
fortemente marcada por estar presente no primeiro ato, o Movimento foi muito
importante para os caminhos teóricos que ela seguiu, além da expansão da
compreensão política da autora.
Para
Gonzalez, o MNU teve significativa importância, sobretudo em um momento em que
ela se entendia cada vez mais como mulher negra e passava a teorizar em seus
escritos as questões a esse respeito em uma sociedade racista, patriarcal e
classista. Sueli Carneiro, quanto a ela, “[...] já era suficientemente
feminista para perceber o sexismo que pairava por ali. Percepções e incômodos
que ainda não estavam formulados” (SANTANA, 2021, p. 99). O incômodo desta
intelectual ia de encontro às percepções que Lélia vinha formulando acerca da
questão da mulher negra. Apesar de compor, de compactuar uma
agenda comum e de se fortalecer junto ao Movimento Negro, Lélia não demorou a
perceber e a se incomodar com os aspectos machistas presentes em sua estrutura.
Desta percepção, decorre a “[...] formação
de núcleos femininos contemporâneos com fins políticos [que] ocorreu no
interior do Movimento Negro no final dos anos 1970” (RATTS; RIOS, 2010, p. 95).
As pautas sobre as mulheres eram urgentes, pois começam a perceber que as
mulheres negras estavam contraditoriamente excluídas dentro do próprio
movimento que deveria acolhê-las. Além disso, sentiam outro incômodo: as
esposas dos militantes eram, em sua maioria, mulheres brancas. O olhar deles
para as necessidades reais das negras eram praticamente inexistentes e “[...] embora
as mulheres negras fossem companheiras e colaboradoras de luta, a mulher branca
tinha forte presença no imaginário masculino negro” (RATTS; RIOS, 2010, p. 95).
Lélia Gonzalez, compreendendo as
implicações desse cenário patriarcal, participou das primeiras reuniões das
mulheres negras cariocas entre 1973 e 1974. A partir daí, começou a redigir
textos e a realizar palestras sobre as pautas que ali eram tratadas (RATTS;
RIOS, 2010). Na década de 1980, surgiram outros coletivos autônomos, que
pensavam questões particulares relativas à existência negra feminina, e sentiam
cada vez mais a necessidade de autonomia enquanto coletivo de mulheres negras,
pois o movimento negro continuava a reproduzir práticas e discursos sexistas.
Todavia, percebiam também que precisavam se descolar do movimento feminista,
que não se atentava para a questão racial, reproduzindo e/ou naturalizando
práticas racistas. A nova onda do feminismo no Brasil impulsionou novas
discussões que abrangeram as vivências e os direitos das mulheres, mas não
acolheu as mulheres negras e tampouco considerou suas pautas mais específicas
(CARNEIRO, 2019).
A militância de Sueli Carneiro
também desabrochou neste campo que envolve as questões da mulher negra. É considerada
“[...] um patrimônio histórico, cultural e político que desbravou matas e
caminhos para a propagação do pensamento feminista negro e a luta por marcos
civilizatórios e humanitários” (RIBEIRO, 2019, p. 5). Lélia Gonzalez, por sua
vez, é apresentada “[...] como uma intelectual ousada, de risada solta, de
forte presença no Movimento Feminista, no Movimento Negro, no Movimento de
Mulheres Negras” (GONÇALVES, 2020, p. 225). A presença marcante de ambas no cenário
político brasileiro deu a elas um papel de destaque na luta pela redemocratização
do país, nos debates sobre racismo, nas discussões sobre mulheres negras e nos
posteriores espaços de gestão voltados para as políticas públicas.
4 Duas rosas negras semeando a Primavera
Nos últimos anos de Ditadura Militar,
aos poucos foi se consolidando uma abertura política e, neste processo, os
setores e entidades progressistas começaram a formular propostas
governamentais. Embora uma parte das feministas defendesse que o movimento não
deveria se envolver com o governo para preservar sua autonomia, outra parte
caminhava na contramão deste princípio e apresentaram suas reivindicações a André
Franco Montoro, candidato ao governo do estado de São Paulo. Eleito governador,
Montoro nomeou em 12 de setembro de 1983 o Conselho Estadual da Condição Feminina
de São Paulo, o primeiro do país (SANTANA, 2021).
Criado sem a participação das
mulheres negras, o Conselho causou uma revolta pública de importantes expoentes
deste segmento, como a radialista negra Marta Arruda. Esta, “[...] muito ouvida
à época, fez uma campanha na imprensa. Não diretamente contra o governo, mas
convocando mulheres negras à insurgência” (SANTANA, 2021, p. 127). O barulho foi tanto que se tornou impossível
ignorá-lo. Mulheres negras que, até então não estavam acompanhando a discussão
em torno da criação do Conselho, se viram intimadas pela radialista. Solicitaram
uma audiência com o Conselho e receberam a explicação de que não havia
discriminação no órgão estadual: “[...] a ausência de mulheres negras era fruto
da falta de organização delas próprias” (SANTANA, 2021, p. 128). Após esta
reunião, Sueli Carneiro e outras militantes fundaram o Coletivo de Mulheres
Negras, em 6 de outubro de 1983, esvaziando o argumento de que não eram
organizadas. Reivindicaram uma representação imediata no Conselho. A tensão
racial estava instalada no órgão governamental.
Em sua biografia, Thereza Santos
(2008), a primeira a representar as mulheres negras no Conselho, descreveu o
quanto foi difícil lidar com os boicotes e constrangimentos impostos pelas conselheiras
brancas, que não disfarçavam a discriminação e o racismo.
Em uma reunião
começaram a discutir a questão de controle de natalidade, me inscrevi para
falar e uma conselheira da diretoria falou baixo para a conselheira a seu lado:
‘vamos encerrar esta questão porque já vem a outra com problema de mulher
negra’. Respondi: ‘Meu nome não é outra, é Thereza Santos, e vou levantar, sim,
o problema da mulher negra nesta questão. Porque quando vocês falam em controle
de natalidade é sempre a partir dos pobres e nós somos a maioria deles; se
vocês não sabem, temos inúmeras mulheres negras com sequelas dos controles
desenvolvidos por esta sociedade voltados para os pobres, ou seja, nós’. Falei
sobre a realidade de úteros que ficaram secos, de mulheres que tiveram a saúde
destruída e deixei em claro que se não era um problema delas, era nosso. E que
não ia admitir qualquer proposta que não fosse levada à discussão para grupos
de mulheres negras (SANTOS, 2008, p. 91).
Uma grande conquista para as
mulheres negras naquele período foi o volume, batalhado por Thereza Santos e escrito
por Sueli Carneiro, Mulher
negra: política governamental e a mulher, que compôs a coleção Década da Mulher (1975-1985), organizada
pela editora Nobel e o Conselho. Foi “[...] o primeiro estudo no país a
desagregar os indicadores sociais de gênero, raça e classe, isto é, botar no
papel os números das desigualdades entre mulheres brancas e negras no Brasil”
(SANTANA, 2021, p. 131). O livro,
publicado em 1985, demonstrava a “[...] necessidade de um viés racial em
qualquer política que viesse a ser proposta, além da estruturação de políticas
específicas para as mulheres negras. A política feminista começava a ser enegrecida”
(SANTANA, 2021, p. 133).
Sueli Carneiro foi eleita
conselheira em 1986 e criou a Comissão para Assuntos da Mulher Negra,
engrecendo cada vez mais o órgão e as pautas discutidas por profissionais
negras para atuarem em diversas áreas, como: “[...] sáude da mulher,
planejamento familiar, educação, trabalho, violência, creche” (SANTANA, 2021,
p. 133).
No mesmo ano da criação do Conselho
em São Paulo, Lélia Gonzalez criou no Rio de Janeiro o Nzinga[3] Coletivo
de Mulheres Negras, do qual foi coordenadora. A escolha do nome derivava da “[...]
preocupação
de resgatar um passado histórico recalcado por uma ‘história’ que só fala dos
nossos opressores. A famosa rainha Jinga (Nzinga) teve um papel da maior
importância na luta contra o opressor português em Angola” (GONZALEZ, 2020, p. 108). À época tanto o movimento feminista como o
movimento negro percebiam a necessidade de se aproximarem das camadas mais
precarizadas da sociedade. Porém, a tarefa não era tão simples assim. A
experiência do Nzinga, no entanto,
[...] alcançou
algo singular: de um lado, formou-se um agrupamento político de mulheres de
diferentes posições sociais (moradoras do morro e de bairros de classe média,
trabalhadoras manuais com baixa escolaridade e mulheres com formação
universitária); de outro, reuniram-se experiências diversas de formação
associativa (mulheres oriundas do movimento feminista, do movimento negro e dos
movimentos de bairro e de favelas etc.) (RATTS; RIOS, 2010, p. 98).
Gonzalez
cultivou uma intensa relação com o movimento feminista, de onde recolheu as
reflexões sobre as desigualdades entre homens e mulheres, e avançou
introduzindo as análises sobre as determinações de classe, raça e sexo. A força
política e intelectual de Lélia a transformou em algo muito maior que seus dois
movimentos de origem: o negro e o feminista (RATTS; RIOS, 2010). A este respeito, Luiza Bairros escreveu:
Quando
a maioria das militantes do MNU ainda não tinha uma elaboração mais aprofundada
sobre a mulher negra, era Lélia que servia como nosso porta-voz contra o
sexismo que ameaçava subordinar a participação de mulheres no interior do MNU e
o racismo que impedia nossa inserção plena no movimento de mulheres. Mas
através de muitas e longas conversas e dos textos dela, aprendemos como
incorporar um certo modo de ser feminista às nossas vidas e à nossa militância,
articulamos nossos próprios interesses e criamos condições para valorizar a
ação política das mulheres negras (BAIRROS, 2018, p. 426-427).
Embora
filha de Oxum[4]
et pour cause, Lélia Gonzalez se
movia como o vento de Iansã e num “[...]
movimento circular, ativismo político e formulações teóricas
se apresentavam como uma espiral rodopiando constantemente” (GONÇALVES, 2020,
p. 226).
Chegou ao movimento feminista trazendo na bagagem leituras de Simone de
Beauvoir, de Heleieth Saffioti e de tantas outras. Conheceu o feminismo negro
estadunidense antes de qualquer modismo. Essas matrizes feministas certamente
contribuíram para o desenvolvimento de suas análises sobre o lugar da mulher
negra na sociedade brasileira.
Vem
daí sua inserção no conselho editorial do jornal feminista Mulherio, produção feminista sediada na Fundação Carlos Chagas em
São Paulo, que veiculava reflexões sobre a desigualdade entre homens e
mulheres. A contribuição de Lélia ao jornal consistiu, sobretudo, em
problematizar “[...] a questão da mulher negra como categoria específica na
luta contra as desigualdades sociais entre os sexos, tema que ela conseguia
estender a todos os outros debates feministas” (RATTS; RIOS, 2010, p. 103).
Gonzalez foi
uma das indicadas pelas mulheres negras do Rio de Janeiro a particpar do Conselho
Nacional dos Direitos da Mulher, criado em 1985. Era o momento de fazer
diferente de São Paulo e a produção intelectual e o engajamento político de
Gonzalez garantiram a ela um lugar neste espaço com poder deliberativo. Com mandado
de quatro anos, de 1985 a 1989, abordou temas como “[...] trabalho, educação,
sexualidade, mulher negra e violência” (RATTS; RIOS, 2010, p. 107).
Lélia
Gonzalez e Sueli Carneiro tiveram, portanto, participação ativa – como até hoje
esta última tem – em diversos espaços e organizações políticas negras e
feministas. Porém, apesar de todo o esforço para
se juntar às feministas, o protagonismo negro não tinha espaço: “A agenda do feminismo
desconsiderava a luta antirracista, mais que isso, as relações raciais eram o
abismo que separava as mulheres brancas das mulheres negras” (GONÇALVES, 2018,
p. 15). Consolidava-se doravante a ideia, com forte participação de nossas duas
rosas negras, de uma organização autônoma das mulheres, materializada no I
Encontro Nacional de Mulheres Negras[5],
onde, finalmente, estas saíram da
invisibilidade.
5 À guisa de
conclusão: Lélias e Suelis anunciando a Primavera
A trajetória militante de ambas as
autoras foi se construindo em lugares distintos (na família, no movimento
negro, no feminismo, na academia etc.). Cada uma viu a necessidade de autonomia
das mulheres negras: Lélia fundou o Nzinga; Sueli criou o Coletivo de Mulheres
Negras; as duas participaram da construção do Encontro Nacional de Mulheres
Negras. Num movimento circular, militância dava lugar à reflexão teórica ao
mesmo tempo em que a produção de conhecimento respaldava a prática política de
nossas duas rosas negras. E foram tantas as contribuições teóricas das duas autoras
negras, que é impossível sistematizá-las no curto espaço deste artigo.
Cabe apenas assinalar que as andanças
de Gonzalez a conduziram: 1) a cunhar a categoria político-cultural de amefricanidade, uma criatividade do povo oprimido para
lutar contra a escravização, o extermínio, a exploração e a opressão; 2) a ressignificar o lugar social da mãe preta, responsável
por introduzir no país o pretuguês,
uma marca da cultura africana no Brasil; e 3) a propor um feminismo afro-latino-americano, isto é, um feminismo que considere a dor comum a
milhões de mulheres não-brancas que vivem na América Latina e que, dada sua
posição social, articulada à discriminação racial e sexual, são as que sofrem
mais brutalmente os efeitos da exploração capitalista (GONZALEZ, 2018; 2020).
Este lugar da mulher
negra é marcado pela intensificação da atividade laboral. Antes de ir para o
emprego doméstico, tem de deixar prontas as tarefas de casa, que passam por
buscar água na bica, preparar a alimentação para os filhos e companheiro,
lavar, passar etc. e dirigir-se à casa da patroa para cuidar dos filhos desta,
sem que possa cuidar dos seus (ADRIANO; LOURENÇO, 2021, p. 296).
Carneiro, embora mantivesse os pés
bem fincados em São Paulo, onde fundou o Geledés[6] –
Instituto da Mulher Negra, não cessou de dialogar com o restante do Brasil e com o mundo (LOURENÇO; GONÇALVES, 2020). A filósofa nos forneceu: 1) as críticas fundamentais ao epistemicídio, isto é, um conjunto de práticas
que negam as formas de existência de pessoas negras, que expropriam e reduzem
este contingente populacional a sujeitos desprovidos de conhecimentos e saberes
(CARNEIRO, 2005); 2) as formulações sobre o matriarcado da miséria, quando racismo,
violência patriarcal e capitalismo produzem
[...]
sobre as mulheres negras uma espécie de asfixia social, com desdobramentos
negativos sobre todas as dimensões da vida, que se manifestam em sequelas
emocionais com danos à saúde mental e rebaixamento da autoestima; em uma
expectativa de vida menor, em cinco anos, em relação à das mulheres brancas; em
um menor índice de casamentos; e sobretudo no confinamento nas ocupações de
menor prestígio e remuneração (CARNEIRO, 2011, p. 127-128).
E devemos
também a Sueli: 3) as proposições para enegrecer o feminismo para que as demandas daquele
movimento hegemônico abrangessem também as mulheres negras, com um cotidiano
marcado pela precarização dos meios de vida (CARNEIRO, 2003).
Os
estudos de ambas as autoras sobre o passado de escravizadas e sobre a
continuidade histórica dos estereótipos acerca das mulheres negras fornecem
subsídios à nossa área de formação e de intervenção profissional não apenas
para compreendermos as amarras que unem racismo, violência patriarcal e
exploração capitalista de classe, mas sobretudo colocam para nós, as novas
Lélias e Suelis, a tarefa de superá-las e, portanto, de semear a Primavera.
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Renata GONÇALVES Trabalhou na
concepção, delineamento, análise dos dados, redação, adequação para a aprovação
da versão a ser publicada.
Graduação em Serviço Social pelo Institut
Cardjin – Bélgica (1992). Mestrado em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo (1999). Estágio doutoral pela École de Hautes Études en
Sciences Sociales – Paris (2003). Doutora em Ciências Sociais pela
Universidade Estadual de Campinas (2005). Vice-coordenadora do Programa de
Pós-Graduação em Serviço Social e Políticas Sociais pela Universidade Federal
de São
Paulo. Coordenadora do Núcleo de Estudos de Estudos Afro-Brasileiros
(NEAB) e do Projeto Intelectuais Negras Brasileiras da Unifesp.
Ana Paula Pires LOURENÇO Trabalhou na revisão crítica do artigo, redação, adequação
para a aprovação da versão a ser publicada.
Graduação em Serviço Social pela Universidade
Federal de São Paulo (2020). Mestranda, desde 2021, do Programa de
Pós-Graduação em Serviço Social e Políticas Sociais pela Universidade Federal
de São
Paulo, campus Baixada Santista.
Integra o Núcleo de Estudos Reflexos de Palmares (sob a coordenação
dos(as) docentes Renata Gonçalves e Deivison Faustino) e é pesquisadora do
Projeto Intelectuais Negras Brasileiras da Unifesp.
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* Assistente Social. Doutora em Ciências
Sociais pela Unicamp. Professora do Curso de Graduação em Serviço Social e do
Programa de Pós-Graduação em Serviço Social e Políticas Sociais da Universidade
Federal de São Paulo (UNIFESP, Baixada Santista, Brasil). Instituto Saúde e
Sociedade, Rua Silva Jardim, 136, Bairro Vila Mathias, Santos, São Paulo, CEP:
11015-020. E-mail: renata.goncalves25@unifesp.br.
** Assistente Social. Mestranda em Serviço
Social e Políticas Sociais pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP, Baixada
Santista, Brasil). Instituto Saúde e Sociedade, Rua Silva Jardim, 136, Bairro
Vila Mathias, Santos, São Paulo, CEP: 11015-020. Bolsista do Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). E-mail: applourenco@unifesp.br.
© A(s) Autora(s)/O(s) Autor(es). 2023 Acesso Aberto Esta obra está licenciada sob os termos da Licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional (https://creativecommons.org/licenses/by/4.0/deed.pt_BR), que permite copiar e redistribuir o material em qualquer suporte ou formato, bem como adaptar, transformar e criar a partir deste material para qualquer fim, mesmo que comercial. O licenciante não pode revogar estes direitos desde que você respeite os termos da licença.
[1] Esta percepção a conduziu a defender uma tese de doutorado
sobre o epistemicídio, intitulada A construção do outro como não-ser como fundamento do ser. Ver Carneiro (2005).
[2] Com Sueli Carneiro ocorreu o mesmo. Em sua
biografia encontram-se passagens importantes a este respeito, como, por
exemplo, o fato de ter o próprio salário e assim aliviar os problemas financeiros
da família e também poder, pela primeira vez, comprar
uma peruca e abandonar as tranças da infância e as torturas do pente de ferro,
dando “[...] um basta nos alisamentos” (SANTANA, 2021, p. 65).
[3] O nome do grupo era uma referência ao nome da rainha
africana que lutou contra o poder colonial em Angola.
[4] A autora, inúmeras vezes, se apresentou e
foi apresentada como filha de Oxum. Dentre as muitas referências, consultar
especialmente Felippe (2003, p. 9).
[5] Ocorrido na cidade de Valença (RJ), entre
os dias 1º e 4 de dezembro de 1988. Ver Gonçalves (2018).
[6] Na cultura iorubá, Geledés se refere a uma sociedade secreta feminina de caráter
religioso.