Lutas
das mulheres negras pela sobrevivência e formação antirracista[1]
Black women’s struggles for
survival an anti-racist training
Flávia Clemente da SILVA*
Universidade Federal de Pernambuco, Departamento de
Serviço Social, Recife, PE, Brasil.
e-mail: flavia.clemente@ufpe.br
https://orcid.org/0000-0002-3455-2183
Tatiane Michele Melo de LIMA
Universidade Federal de Pernambuco, Departamento de
Serviço Social, Recife, PE, Brasil.
e-mail: tatiane.mlima@ufpe.br
https://orcid.org/0000-0002-0135-2740
Renata Pereira da Silva UCHÔA
Universidade Federal de Pernambuco, Departamento de Serviço
Social, Recife, PE, Brasil.
e-mail: renata.psuchoa@ufpe.br
https://orcid.org/0000-0003-4121-1181
Luanna Cássia de MELO
Universidade Federal de Pernambuco, Departamento de
Serviço Social, Recife, PE, Brasil.
e-mail: luanna.cassia@ufpe.br
https://orcid.org/0000-0002-2959-7096
Resumo:
O artigo tem como objetivo apresentar as estratégias de sobrevivência e
resistência política de mulheres negras, integrantes
de duas hortas agroecológicas nas cidades de Olinda e Recife e sua importância
para a formação antirracista. A pesquisa teve como embasamento teórico-metodológico o feminismo negro interseccional e
decolonial. Realizamos observação participante e entrevistas com as mulheres,
tendo como eixo fundamental a educação popular. Os resultados indicam que o
racismo é um determinante social significativo que dificulta as lutas pela
sobrevivência. No Brasil, o racismo estrutura as relações sociais, com as
mulheres negras precisando identificar formas de superação da realidade
opressora, tornando ações coletivas e politicamente engajadas como espaços de
fortalecimento e formação contra as opressões de raça, gênero e classe social.
Palavras-Chave:
Mulheres negras. Racismo. Violência sociorracial.
Formação antirracista.
Abstract: The article aims to present
the survival and political resistance strategies of black women, members of two
agroecological gardens in the metropolitan region of the cities of Olinda and
Recife and their importance for anti-racist training. The research had
intersectional and decolonial black feminism as its theoretical-methodological
basis. We carried out participant observation and interviews with women, with
popular education as the fundamental axis. The results indicate that racism is
a significant social determinant that complicates struggles for survival. In
Brazil, racism structures social relations, with black women needing to
identify ways of overcoming the oppressive reality, turning collective and
politically engaged actions into spaces for strengthening and training against
oppression based on race, gender and social class.
Keywords: Black women. Racism.
Socioracial violence. Anti-racist training.
Submetido em: 31/10/2023. Revisto em: 29/6/2024. Aceito em: 12/7/2024.
A |
s pesquisas acadêmicas realizadas por
feministas, sobretudo as feministas negras, que interseccionam as opressões de
raça, classe social e gênero, são um desafio. Isso em virtude de o racismo,
sexismo e aversão à origem social e racial dessas pesquisadoras provocarem
desconfiança sobre suas intelectualidades, uma vez que são corpos
historicamente ausentes das instituições universitárias, moldadas a partir das
referências do colonizador europeu, que busca anular a humanidade dessas
existências.
Mas, a despeito de tantos processos
desafiadores, a escrita acadêmica dessas mulheres se configura como uma
imprescindível estratégia de visibilidade e adensamento teórico de questões que
afetam as vidas das mulheres em toda a sua diversidade, e sendo também um
importante registro da conexão de saberes entre essas intelectuais e as demais
sujeitas das pesquisas, no caso deste trabalho, as mulheres que compõem as
hortas Dandara[2] e Palha de Arroz[3], que se configuram em
coautoras da pesquisa. Diante de uma sociedade estruturada
sob uma matriz colonial, esta pesquisa tem relevância científica por
visibilizar a luta de mulheres negras, parcela significativa da sociedade
brasileira, cujas problemáticas têm importância dentro e fora da academia. O
estudo tem o potencial de desvelar a violência sociorracial
que as atinge e as estratégias por elas desenvolvidas para sobreviver dentro do
sistema capitalista que retroalimenta as violências.
O objetivo do artigo é apresentar as
estratégias de sobrevivência e resistência política de mulheres negras,
integrantes de duas hortas agroecológicas localizadas na Região Metropolitana
do Recife e sua importância para a formação antirracista. Metodologicamente,
realizamos observação participante, rodas de diálogos e onze entrevistas
narrativas e semiestruturadas com as mulheres das hortas[4]
entre nos meses de julho e agosto de 2022. O processo de conquista da
autonomia e as formas de lutas para garantia da sobrevivência foram analisados
através do feminismo negro interseccional e decolonial, perspectivas embasadas
nas premissas da educação popular.
Os resultados da pesquisa indicam que o
racismo se manifesta de diferentes formas e integra o cotidiano das mulheres
desde a infância, exigindo delas a elaboração de estratégias de sobrevivência.
A violência sociorracial faz parte dessas vivências,
mas as formas de resistência também.
O artigo se desenvolveu dialogando com a
crítica feminista negra interseccional e decolonial para análise da violência sociorracial e do racismo que atinge as mulheres negras.
Por fim, abordaremos os ensinamentos e saberes que elas compartilham para o
adensamento da formação antirracista.
Crítica feminista negra
interseccional e decolonial e a formação antirracista
A realização de análises que tragam o
racismo contra mulheres negras para o centro do debate no Brasil é feita pelas
lentes críticas do feminismo negro interseccional e decolonial. Decorrente das
lutas sociais das mulheres negras, considerando serem elas, vítimas
interseccionadas pelas opressões de raça, classe e gênero, a desmistificação da
democracia racial é uma ação contínua, haja vista que:
O racismo, enquanto pseudociência, busca legitimar a
produção de privilégios simbólicos e materiais para a supremacia branca que o
engendrou. São esses privilégios que determinam a permanência e a reprodução do
racismo enquanto instrumento de dominação, exploração e, mais
contemporaneamente, de exclusão social em detrimento de toda evidência
científica que invalida qualquer sustentação para o conceito de raça.
(Carneiro, 2023, p. 19).
A supremacia racial branca e seus
privilégios, por muito tempo, mistificaram a hierarquia racial existente e
persistente nas relações sociais. A modernidade/colonialidade
embasa esse entendimento. De acordo com Maldonado-Torres (2018), ao referendar
o iluminismo europeu como único período importante para explicar a civilização
ocidental moderna, desconsideram-se todas as civilizações que o antecederam e
com ele coexistiram.
A colonização empreendida pelos países
europeus se estrutura através do racismo, que tem como importante estratégia a
destituição da humanidade dos colonizados por meio da violência:
O racismo é um princípio constitutivo que organiza, a
partir de dentro, todas as relações de dominação da modernidade, desde a
divisão internacional do trabalho até as hierarquias epistêmicas, sexuais, de
gênero, religiosas, pedagógicas, médicas, junto com as identidades e
subjetividades, de tal maneira que divide tudo entre as formas e os seres
superiores (civilizados, hiper-humanizados, etc.,
acima da linha do humano) e outras formas e seres inferiores (selvagens,
bárbaros, desumanizados, etc., abaixo da linha do humano) (Grosfoguel,
2018, p. 67).
A racionalidade que se impõe com o
racismo, enquanto estruturadora das relações sociais, é a da dominação, que
hierarquiza racialmente as pessoas, fomentando desigualdades e opressões. Nesse
âmbito, a decolonialidade possibilita-nos uma melhor compreensão do fenômeno:
Na perspectiva decolonial, o racismo organiza as
relações de dominação da modernidade, mantendo a existência de cada hierarquia
de dominação sem reduzir umas às outras, porém ao mesmo tempo sem poder
entender uma sem as outras. O princípio de complexidade é o seguinte: não se
pode reduzir como epifenômeno uma hierarquia de dominação à outra que a
determine em ‘última instância’, porém tampouco se pode entender uma hierarquia
de dominação sem as outras (Grosfoguel, 2018, p. 67).
O entendimento da importância da
inexistência de hierarquia de opressões é discutido pelo feminismo negro interssecional e decolonial, fomentado pelas mulheres
negras organizadas na luta por seus direitos de existir. A interseccionalidade
de raça, classe social e gênero, categorias com a mesma importância, explica a
complexidade de problemáticas que as mulheres negras experienciam em seus
cotidianos.
A interseccionalidade investiga como as relações
interseccionais de poder influenciam as relações sociais em sociedades marcadas
pela diversidade, bem como as experiências individuais na vida cotidiana. Como
ferramenta analítica, a interseccionalidade considera que as categorias de
raça, classe, gênero, orientação sexual, nacionalidade, capacidade, etnia e
faixa etária – entre outras – são inter-relacionadas e moldam-se mutuamente. A
interseccionalidade é uma forma de entender e explicar a complexidade do mundo,
das pessoas e das experiências humanas (Collins; Bilge,
2020, p. 16).
Essas experiências são vivenciadas de
formas diferentes pelos grupos oprimidos, com as mulheres negras possuindo
conhecimentos ancestrais que garantem sua sobrevivência, ainda que vivam na
condição de miséria e pobreza à qual historicamente foram relegadas. Essa é uma
expertise que ensina e transforma condições extremas de sobrevivência,
por meio de ações coletivas e de apoios mútuos.
O feminismo negro interseccional e
decolonial fornece conhecimentos que informam as diferentes maneiras com que o
racismo e a violência sociorracial se expressam no
cotidiano das mulheres negras das hortas Dandara e Palha de Arroz, na Região
Metropolitana de Recife, com as quais dialogamos, na condição de coautoras
durante a realização da pesquisa.
Violência sociorracial e mulheres negras
A violência se constitui como uma
ferramenta política e pública socialmente constituída para determinar as formas
de acesso, permanência, localização, identificação e pertença social. Desde a
colonização, é importante afirmar que a violência “[...] é socialmente
construída de maneira especificamente racializada e generificada [...]” (Collins, 2019, p. 336),
determinando-se historicamente a partir das opressões, principalmente sobre as
mulheres negras. A violência se constitui primariamente como um retorno contínuo
e multifacetado à condição colonial, que vai desde o plano político até o plano
econômico-administrativo da sociedade, materializando-se num projeto de
separação, segregação social e reconhecimento enquanto ser, registrando a
passagem do mau encontro colonial (Jesus, 2022).
A materialidade da violência pode ser
constatada através da diferença posta sobre a clausura da racialidade,
importante falar que o racismo não se trata da falta de informação sobre o outro, como propaga o senso comum no
país, mas se caracteriza por ser uma projeção da branquitude acerca das
informações indesejáveis sobre o outro, que impactam diretamente nas relações e
estruturas sociais. Cabe ressaltar que esse movimento racista perpetuado na
sociedade brasileira interfere significativamente na vida das mulheres negras,
que são condicionadas, excluídas e obrigadas a ocuparem a base da pirâmide
social, retratando, assim, a exploração de seus corpos, de sua força de
trabalho e da sua condição de mulher e de existência enquanto ser humano e
sujeito de direitos (Kilomba, 2019; hooks[5], 2018).
Não por acaso a violência tem sido uma
das estratégias do Estado para lidar com o contingente de pessoas negras no
período pós-abolição. No âmago do processo do desenvolvimento capitalista no
Brasil, está um projeto de branqueamento da população, que repõe o lugar das
pessoas negras na divisão das classes sociais, se quer as reconhecendo como classes laboriosas, mas, sim, como classes perigosas (Gonçalves, 2018).
Contemporaneamente os efeitos do entrecruzamento do racismo e do capitalismo
também se expressam em um Estado violento por comissão ou por omissão, que mata
através da violência policial[6] nas periferias das cidades
ou deixa morrer ao atender à lógica neoliberal em detrimento das necessidades
sociais das pessoas.
Tal contexto foi ainda mais intensificado
diante da crise sanitária e humanitária decorrente da pandemia de COVID-19. É
válido registrar que foi nesse cenário que se deu a nossa entrada no campo da
pesquisa, um momento de grande impacto nas vidas das mulheres que compõem as
hortas Dandara e Palha de Arroz, e da volta gradual às atividades da horta,
resguardando-se todas as estratégias de segurança sanitária. Esse encontro nos
propiciou conhecer as estratégias de sobrevivência das mulheres, que já vivenciavam
vulnerabilidades sociais, mas dessa vez em um momento de intensificação da
violação dos direitos humanos.
Acrescenta-se a essas violações de
direitos a violência de gênero. As mulheres são historicamente silenciadas,
oprimidas e convivem cotidianamente com o atravessamento das violências,
sobretudo de gênero, socialmente naturalizada numa sociedade machista e de
matriz colonial. A violência de gênero é um marcador importante e se consolida
como um aspecto que condiciona e modela a existência e as possibilidades de
vida, trabalho e renda das mulheres, principalmente dentro de seus lares e com
seus companheiros, inclusive quando tratamos da mulher negra. Observemos um dos
trechos das entrevistas realizadas com as integrantes das hortas Dandara e
Palha de Arroz: “Eu sempre fui dona de casa, que ele nunca deixou
eu trabalhar, nunca deixou eu ir pra rua. Eu não sei como foi que eu
consegui encontrar essa horta aqui. [...] Ele era ciumento que só. É, muito
ciumento” (Camomila, 2022, informação oral). Nessa
fala, a entrevistada deixa explícita a forma com a qual o controle decorrente
do machismo e do patriarcado se materializa no seu cotidiano e no das demais
mulheres que experienciam a violência a partir da intersecção da raça e do gênero.
Outro elemento importante que marca as
vidas dessas mulheres negras é a violência que aniquila as possibilidades de
uma sobrevivência digna, de usufruto de direitos humanos à habitação, ao
território e também à cidade, ou seja, trata-se da
impossibilidade de ter ou acessar uma moradia digna, o não reconhecimento
enquanto ser humano, enquanto cidadã, possuidora de direitos sociais como posto
legalmente na Constituição Federal de 1988 (Brasil, 1988) a todos os
brasileiros. Como retrato de tal realidade, temos o depoimento de uma das
mulheres negras entrevistadas:
Eu vejo Peixinhos
como um bairro que... Muito necessitado, né? Principalmente o lugar que eu
moro, né? O lugar que eu moro que é perto da beira do rio, né, que desde que eu
vim morar aí, né, desde que eu criei meus 6 filho aí
que eu venho levando essa cheia. Que essa cheia num é
essa que deu agora, né? Como eu já falei, não é de agora. Essa cheia... Faz
muito tempo que eu tô
levando essa cheia. É de resguardo dentro d'água, é... Grávida tanto tá como tá de resguardo, né? Graças a Deus, eu nunca tive
nenhuma doença, né? Como tem aquela doença do rato, né? Que as pessoas têm
dentro d'água, né? Minha casa teve uma vez que até caiu, ela caiu, né?
(Hortelã, 2022, informação oral).
A vivência de Hortelã
nos apresenta historicamente a indiferença e a inércia do Estado, perante as
desigualdades e o aprofundamento das expressões da questão social,
principalmente quando tratamos de habitação, dos processos de urbanização social.
As mulheres negras têm escrito sua história a partir da resistência e do marco
da sobrevivência contra as péssimas condições de habitação, que incluem
problemas quanto à sua estrutura e ao acesso de serviços básicos e essenciais à
sobrevivência, tais como: saneamento básico, a água potável e coleta de lixo,
elementos que colocam em risco a vida, a segurança, a saúde e o bem-estar
dessas mulheres e ceifam juntamente a sua humanidade.
Essa realidade nos reafirma que a questão
social se estrutura a partir da racialidade, da exclusão das pessoas negras dos
grandes centros urbanos, reafirmando para nós a segregação socioespacial e
evidenciando que a população negra experiencia a cidade e as formas de
violência de maneira totalmente desigual em relação às formas com que a
branquitude os acessa. Uma realidade marcada pelo racismo ambiental, fenômeno
complexo que envolve a intersecção do racismo estrutural com as questões
ambientais no processo de reprodução das relações sociais e da garantia de
direitos humanos (Pacheco, 2008).
Peixinhos é um bairro que sofre com
constantes alagamentos. Durante o processo da pesquisa, testemunhamos os
efeitos nefastos de uma calamidade pública, ocorrida entre os meses de maio e
junho de 2022, em Recife e Região Metropolitana, que atingiu o bairro de
Peixinhos de forma desastrosa, destruindo casas e vitimando o esposo de uma das
entrevistadas. Ela e a filha perderam tudo, conforme relato: “Só minha menina
que mora perto de mim que molhou tudo, acabou tudo na casa dela. Ela tem dois menino pequeno, aí molhou as coisas dos menino, levou.
Assim, a estante dela quebrou, o sofá e a cama dos menino”
(Camomila, 2022, informação oral).
As mulheres negras, em sua maioria, são
as provedoras dos lares, responsáveis pelo sustento dos filhos e pelo cuidado
com a casa, que não são trabalhos reconhecidos e remunerados socialmente. Com a
limitação de acesso ao mundo do trabalho e o racismo perpetuado pelas
instituições e na sociedade, as mulheres das hortas Dandara e Palha de Arroz
seguem na luta pela sobrevivência.
Trabalho com
reciclagem e trabalho também na feirinha do troca que
tem aqui em Peixinhos, não sei se você já ouviu falar. Aqui. Que é aqui mesmo
no Nascedouro, aqui na frente, né? Dia de domingo, né? Que na rua eu trabalho,
na rua com a carroça catando reciclagem, né? Então as pessoas
na rua me dá muita doação. Me dá roupa, me dá sapato, boneca, me dá a
doação, né? Aí eu vou, escolho o que serve pra mim,
pros meus filhos, pra minha casa e o restante eu levo pra troca pra ganhar um
trocadinho, né? Pra ajudar dentro de casa (Hortelã,
2022, informação oral).
Essa vivência de violação é resultado
também de um sistema capitalista opressor, racista e sexista, que consolida o
desafio diário de manter-se vivo, expondo os indivíduos a uma série de
dificuldades financeiras e limitações substanciais para sua existência. A
realidade das mulheres das hortas Dandara e Palha de Arroz é atravessada por
todas essas atribulações, mas sobretudo pela fome, que é uma das problemáticas
que concretizaram a necessidade de hortas agroecológicas populares na
comunidade de Peixinhos, no contexto da pandemia de COVID-19.
O
que observamos no contexto das mulheres das hortas investigadas é que esse
direito fundamental não é acessado. O que se tem são as políticas de violência
e de repressão do Estado.
É perigoso demais.
Agora mesmo, quando eu saio daqui, eu passo pelo beco
e o beco é onde é o tráfico. Onde é o tráfico. E eu passo pelo meio, eu e
Maiara. A gente passa, né? É... Foi quando? Foi terça-feira que a gente saiu daqui, oxe, a polícia tava lá. Os menino correndo, a
polícia tudo atrás dos menino. Aí eu fico com medo sabe do quê? De uma bala,
né? Um bala, né? É. Mas nunca mudou. Peixinhos, pra mim, nunca mudou. Tá piorando
mais ainda mais. É mais... Eu acho que é mais os jovem,
eu penso nos jovem, sabe? Nos jovem que eu vi no...
Como eu já falei, né? Se acabando nas droga. Tem outras coisa…
(Hortelã, 2022, informação oral).
Com
o aumento do preço dos produtos que integram a cesta básica (Departamento
Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos, 2023), a alimentação,
que é um dos principais fatores que garantem a integralidade humana, juntamente
com o acesso a outros tipos de direito, torna-se algo desligado da realidade
das pessoas negras:
[...] porque esse
salário não dá pra muita coisa não. Quando compro um
feijão, aí falta a carne e carne a gente não tá
comendo mais mesmo, tá na base do ovo. Aí pronto e por aí vai. Fruta, legumes
raramente. Ainda dá pra comprar às vezes, né? E às
vezes também não dá. Então a carestia tá muito grande.
[...] Na minha mesa mesmo, que eu gostaria de ter todo dia um pãozinho, que as vez meu dinheiro não dá para comprar, não tem. Uma
carninha pra fazer uma sopa, uma carninha com osso que às vez
não tem, que nem eu já falei, nós depende muito de ovo. Apesar que ovo é um bom
alimento, né? Mas também enjoa. Aí é esses alimentos que eu gostaria de ter.
Uma vez um queijinho o dinheiro não dá pra comprar...
É uma manteiguinha melhorzinha, mas a gente vai comendo o que tem, mas o que eu
gostaria mesmo era isso uma carninha, mais verdura, mais fruta e mais alimento
saudável pra gente se sentir melhor (Erva Doce, 2022, informação oral).
Segundo
a Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional
(Rede Penssan), em 2020 e 2022, foram observadas as
diferenças entre os lares chefiados por homens e os lares chefiados por
mulheres. Nas casas em que a mulher é a pessoa de referência, a fome passou de
11,2% para 19,3% (Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança
Alimentar, c2022). Não se pode elucidar as questões de desemprego, pobreza e
fome sem as articular aos marcadores de raça e, sobretudo, gênero. Lélia Gonzalez
vai afirmar que “[...] tratar, por exemplo, da divisão sexual do trabalho sem
articulá-la com seu correspondente em nível racial é recair numa espécie de
racionalismo universal abstrato, típico de um discurso masculinizado e branco” (Gonzalez, 2020, p. 129).
Quando observamos o marcador de gênero,
entendemos a desigualdade social e econômica que acomete, principalmente, as
famílias de mulheres, que na sua grande maioria é preta e periférica. Nas
cidades de Recife e Olinda, em que as hortas são cultivadas por mulheres, elas
continuam a viver em condições precárias e desumanas, uma vez que estão sob as
consequências de um contexto no qual é impedido o direito a um desenvolvimento
humano, político e social a considerável parcela da população. Essa desigualdade de classes está estruturada na raça
e no gênero, de tal modo que se explora, segrega, desumaniza e marginaliza
parte significativa das pessoas, perpetuando, assim, econômica e socialmente, a
reprodução de relações sociais opressoras e desiguais (Carneiro, 2023; Collins,
2019). Por isso, a importância de uma análise sob uma perspectiva
interseccional e decolonial, para compreender tais dimensões.
Esse processo histórico e contemporâneo
traduz a preservação da branquitude, que “[...] expulsa, reprime, esconde
aquilo que é intolerável para ser suportado e recordado pelo coletivo [...]”
(Bento, 2022, p. 25), sob a estratégia de se beneficiar, de colocar como
prioridade a democracia, a meritocracia, o branqueamento da população desde a
sua formação política, social e cultural, atuando, dessa forma, para garantir a
preservação da história e da memória brancas, reafirmando nacionalmente o mito
da democracia racial (Carneiro, 2023).
Essa configuração nos apresenta
primariamente o caráter racista e sexista do Estado, que materializa suas
ações/intervenções de modo a reproduzir a invisibilidade e o apagamento dessa
população na sociedade brasileira, demarcando politicamente os interesses de um
Estado que reproduz valores coloniais, que se coaduna com a violência e com a
manutenção da pobreza, da fome e da desigualdade, principalmente nas
periferias, consolidando grandes cidades invisíveis, nas quais a violência e a
violação sistemática de direitos humanos é naturalizada, em favor da
branquitude, demarcada também pelo poder político do patriarcado (Calvino,
2017; Kilomba, 2019; Saffioti,
2004).
Diante do nosso contexto histórico de
escravidão e violência, apenas em 2023 se institui em Pernambuco, um dos
primeiros estados acometidos pela colonização, o Estatuto da Igualdade Racial,
através da Lei Nº 18.202/2023 (Pernambuco, 2023) que se visa garantir à
população negra a efetivação da igualdade de oportunidades, a defesa de
direitos individuais, coletivos e difusos e o combate à discriminação e demais
formas de intolerância racial. Em seu no artigo 4º, incisos I e II, o referido
estatuto contempla a promoção da igualdade racial através de políticas públicas
com perspectiva:
I - reparatória e compensatória
para os descendentes das vítimas da escravidão, do racismo e das demais
práticas institucionais e sociais históricas que contribuíram para as profundas
desigualdades raciais e as persistentes práticas de discriminação racial na
sociedade pernambucana, inclusive em face dos povos de terreiros de religiões
afro-brasileiras;
II - inclusiva, nas esferas
pública e privada, assegurando a representação equilibrada dos diversos
segmentos étnico-raciais componentes da sociedade pernambucana, solidificando a
democracia e a participação de todos (Pernambuco, 2023).
É uma iniciativa tardia, porém
importante. O aporte legal é necessário, mas é preciso monitoramento de sua
aplicação, pois, sem investimentos em recursos humanos e financeiros, não
haverá efetividade e não se possibilitará a instituição de práticas
antirracistas. Os aprendizados das mulheres negras ensinam e, a partir dos
conhecimentos advindos da educação popular, podemos conhecer os saberes
partilhados pelas mulheres das hortas Dandara e Palha de Arroz.
Ensinamentos das
mulheres negras sobre o antirracismo
O conhecimento científico e a
racionalidade oriunda da modernidade/colonialidade
europeia organizam as instituições de ensino superior no Brasil, que se
encontram enraizadas no racismo e em autores brancos e brancas do norte global. Carvalho (2018) destaca que as universidades no
Brasil nascem sob os auspícios dos invasores colonizadores, que nesse processo
silenciam a diversidade de epistemologias advindas dos diferentes povos,
impondo a produção de saberes eurocentrados nas
instituições de ensino, inclusive no ensino superior. O autor citado destaca a
importância de a academia se empenhar na luta antirracista, descolonizando os
currículos e saberes:
Ao enfatizar a centralidade da instituição
universitária nas lutas antirracistas e descolonizadoras, enfatizo também o
nosso papel como docentes e afirmo que a luta descolonizadora deve ser travada
por nós no interior do nosso espaço acadêmico. No auge da luta pelas cotas
formulei o seguinte lema: a luta antirracista dos acadêmicos deve começar na
academia [...]. Acredito que já é hora de criar um novo:
a luta descolonizadora dos acadêmicos deve começar na academia colonizada. Não
se trata mais de utilizar o espaço acadêmico apenas como um local protegido,
separado e com liberdade de expressão para propor mudanças na sociedade – como
se a sociedade estivesse do lado de fora dos campi, e estes funcionassem
como um território livre dos problemas investigados pelos acadêmicos.
Descolonizar, nesse contexto, significa intervir na constituição desse espaço
universitário em todos os níveis: no corpo discente, no corpo docente, no
formato institucional, no modo de convívio e na sua conformação epistêmica
geral (cursos, disciplinas, ementas, teorias, pedagogias,
etc. (Carvalho, 2018, p. 91).
Concordamos com o posicionamento do autor
supracitado e, nesse sentido, temos, desde o início de nossas atividades
acadêmicas, trabalhado na desconstrução de negros e negras enquanto objeto de
estudos, identificando-os como intelectuais, agentes de suas próprias histórias
e fomentadores de conhecimentos importantes. As mulheres negras organizadas em
coletivos e redes antirracistas, anticapitalistas e antissexistas têm sido
nossas aliadas nessa trajetória; são sujeitas sociais, coautoras de nossas
formações que, por meio de suas lutas, fornecem subsídios para a continuidade
da formação antirracista. Nós, pesquisadoras e estudantes negras, somos
atravessadas por esses saberes e nos reconhecemos
nesses aprendizados.
Nesse âmbito, orientadas pelo feminismo negro
interseccional e decolonial e pela educação popular, interagimos com as
mulheres das hortas Dandara e Palha de Arroz. Nessa interação, tivemos a
oportunidade de conhecer os desafios dessas mulheres para sobreviverem,
diariamente sob os ditames do racismo que se manifestam nos cotidianos dessas
mulheres conforme elas nos relatam:
Eu gosto muito de negro, né? É minha cor. Eu gosto da
minha cor, agora eu fico chocada assim, às vezes, às vezes, num
é toda vez... Mas quando a gente sai, a gente... Tem
gente branca que parece que tem nojo da gente. Já passou por... Já passei por
isso várias vez. Assim, né? De a gente passar e a
mulher segurar a bolsa, segurar a bolsa e também da
gente se sentar no ônibus, né? E uma pessoa mais branca assim sair, ir pra outra cadeira. Outra cadeira, né? Né? Passa, né? A gente
olhando direitinho, né? A gente dá pra sacar, né? Dá pra ver, né? Como se diz, dá pra
ver. Mas eu num sei, mas eu num
ligo. Eu num ligo. As vez eu
digo... “A senhora tá pensando que isso... Minha cor é
pegar no da senhora, é? Mai menino!”. Aí eu digo coisa. (Arruda, 2022,
informação oral).
Não... Na verdade, eu tô agora... Trabalhei um mês na casa de uma senhora
ali, que ontem eu fui até fazer faxina lá, sabe? Mas eu sinto que ela tem um
pouquinho de preconceito pro... Pro lado da minha cor.
Mas só que essa pessoa que me... Me indicou a ela e que me indicou também já
disse, já tinha dito a mim, cabia eu ir né? Mas se eu tô precisando, eu tive que ir. Disse que ela era um
pouco preconceituosa. E de fato ela é, porque às vezes eu faço todinho bem feitinho... E quem me conhece sabe do meu serviço, que
uma colega minha mesmo do Alto da Bondade diz que aonde chega fala de mim tudo
de bom o meu serviço. Aí ela às vezes vê que tá tudo
limpo, aí chega lá diz que tá catingando a casa, faz eu lavar banheiro de novo…
(Cidreira, 2022, informação oral).
Trabalhos no âmbito doméstico, como as
funções de babá, faxineira, diarista, em geral são recorrentes entre as
mulheres negras entrevistadas. Geralmente essas experiências combinam vínculos
frágeis de trabalho com manifestações de racismo, como podemos perceber na fala
a seguir:
E nessa casa de Dona Maria eu fui muito
maltratada por ela, assim, por eu ser negra. Que ela disse que não gostava de
negro. Aí, ela pegava sempre botava o dinheiro no lugar e chegou uma época que
ela disse que eu tava
roubando. Eu disse a ela se por um acaso se eu tivesse
roubando eu não entregava o dinheiro a ela, porque eu nunca vi o ladrão roubar
e entregar. Que quando eu encontrava eu entregava a ela. Ela pegou e embrulhou
uns 50 reais perto da janelinha, assim, ela se fez de esquecida, né? Aí eu peguei e entreguei ela. Eu digo: “Olha aqui, Dona Maria, o
dinheiro da senhora”. Ela: “É, eu nem sabia que eu tinha...” Eu digo: “Não, foi
a senhora mesmo que botou ali. Agora eu sei que a senhora tá
fazendo um teste!”. Aí depois disse: “Mas foi você mesmo que tava querendo me roubar”. Mas eu
chorei nesse dia, viu? (Manjericão, 2022, informação oral).
Apesar das marcas do racismo acompanharem
as histórias dessas mulheres, não as impedem de resistir. Elas também ensinam
sobre resistência, na medida que informam e demonstram que a sobrevivência é
desafiadora:
E a minha vida foi muito difícil. A minha vida... Eu,
graças a Deus, fui muito guerreira, batalhadora, viu? Criei meus
filho na carroça, [palavra inaudível], muito mesmo. Fui a mãe e o pai
dos meus filho que eu não tinha marido porque ele me
deixou, né? Então eu tive que ser. Me virar como podia. Mãe e pai, né? Mas eu num dei meu filho não. De jeito nenhum. Nem minha filha. De
jeito nenhum. Eu fui mãe e pai, entendeu? (Arruda, 2022, informação oral).
Ser uma mulher negra é ser uma mulher
livre. Livre! Não importa a cor, não importa o cabelo, é ela entrar em qualquer
canto e ser discriminada, né? Muitas vezes, a gente é discriminada pelo cabelo,
pela cor, e negro tem liberdade de entrar onde quiser, de ser o que quiser. Ser
uma juíza, ser uma presidente... Uma presidente negra, imagina? (Sálvea, 2022, informação oral).
O reconhecimento da existência do racismo
é importante para essas mulheres, que persistem para não sucumbir às mazelas do
sistema opressor racista. As mulheres negras experienciam o trabalho precoce, a
fome e o racismo. No entanto, mesmo em condições socioeconômicas desfavoráveis,
conseguem encontrar estratégias de sobrevivência.
As mulheres negras das hortas Dandara e
Palha de Arroz, através de suas experiências de vida com o racismo, questionam
os saberes acadêmicos eurocentrados, endossando os
questionamentos que demonstram a persistência do racismo institucional como
gerador de dificuldades na implementação da formação antirracista.
Conclusão
As hortas Dandara e Palha de Arroz se
constituem como solos férteis para o aquilombamento
de mulheres negras periféricas e outras mulheres não negras que partilham
daquele espaço. Essas mulheres periféricas compartilham experiências coletivas
marcadas pela escassez de recursos sociais e por violações dos seus direitos,
mas dividem também as estratégias de sobrevivência e resistência política. O
ato de aquilombar nos ensina que a caminhada em coletividade nos fortalece
diante dos efeitos do entrecruzamento das estruturas exploradoras/opressoras
que são o capitalismo, o racismo e o patriarcado.
As falas dessas mulheres, coautoras desta
pesquisa, ajudam-nos a desmontar o mito da democracia racial e desvelam como as
conexões entre raça, classe e gênero dificultam as suas vidas e o cotidiano de
suas comunidades. Também revelam os processos de aquilombamento
que envolvem a cooperação entre elas, o apoio material e o suporte subjetivo
mútuo, através do ato de se juntarem para mexer na terra e tentar produzir o
próprio alimento como forma de tentar driblar a insegurança alimentar. Ao mesmo
tempo que seus corpos se movimentam pela horta, também expandem seus processos
de consciência, através das rodas de conversa, sempre regadas a partilha do
lanche orgânico.
Da nossa parte, como observadoras
participantes, conhecer as histórias de vida dessas mulheres tão atravessadas
por inúmeras violências e vê-las de pé e frequentando a horta assiduamente nos
provoca a nos mantermos também de pé, exercendo nossa intelectualidade e
colocando-a a serviço dessas nossas irmãs, para que seus ensinamentos possam
ser sistematizados. Ao agirmos em favor da articulação das mulheres negras como
sujeitas coletivas, desenvolvendo lutas antirracistas e atuando como agentes
formadoras, além de afirmarmos que suas vidas importam, que suas questões
importam, apontamos que, a despeito de todas essas violências, elas e nós
resistimos.
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Flávia Clemente da SILVA Trabalhou na concepção e delineamento e também
na análise e interpretação dos dados.
Professora
adjunta do departamento de Serviço Social, atuando na graduação e no Programa
de Pós-Graduação em Serviço Social. Pós-Doutorado no CIES/ISCTE/Lisboa (2023).
Doutorado em Serviço Social (2019). Mestrado em Serviço Social (2008) e
Especialista em Saúde Pública pela FIOCRUZ (1999). Pesquisadora com as seguintes
áreas de interesse: Relações Étnico-raciais, gênero e direitos humanos.
Integrante do Grupo de Pesquisa sobre poder, cultura e práticas coletivas
(GEPCOL) e dos Coletivos Filhas do Vento e Acadêmicas Negras.
Tatiane Michele Melo de LIMA Trabalhou na concepção e delineamento e na análise e interpretação dos
dados.
Professora adjunta do curso de Serviço
Social da UFPE. Graduada em Serviço Social pela Universidade Federal de
Pernambuco. (UFPE, Recife, Brasil). Mestre e doutora em Serviço Social da
Universidade Federal de Pernambuco (UFPE, Recife, Brasil). Atuou como
Assistente Social na Defesa civil do Recife entre 2008 e 2017 e na Secretaria
da Mulher do Recife de 2017 à 2019. Compõe os
seguintes grupos de pesquisa: Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Poder, Cultura
e Práticas Coletivas - GEPCOL e Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Gênero,
Ciências e Culturas (HYPATIA), exercendo pesquisas sobre os direitos sexuais e
reprodutivos, violência obstétrica, gênero e raça.
Renata
Pereira da Silva UCHÔA Trabalhou na redação do artigo e na sua revisão crítica.
Assistente
Social. Especialista em Educação Inclusiva pelo Instituto Federal do Sul de
Minas (IF Sul de Minas, Minas Gerais, Brasil). Pós-Graduanda em Enfrentamento
as Violências Contra Crianças e Adolescentes pela Universidade de Brasília
(UNB, Brasília, Brasil). Mestranda em Direitos Humanos pela Universidade
Federal de Pernambuco (UFPE, Recife, Brasil). Integrante
do Grupo de Pesquisa Educação, Inclusão Social e Direitos Humanos (GPEISDH).
(UFPE/CNPq). Coordenadora de Projetos
Sociais na OSC Giral. (OSC Giral,
Glória do Goitá-PE, Brasil).
Luanna Cássia de MELO Trabalhou na
redação do artigo e na sua revisão crítica.
Graduada em Serviço Social Universidade
Federal de Pernambuco. (UFPE,
Recife, Brasil). Graduanda em Letras Português Espanhol Universidade
Federal Rural de Pernambuco.
(UFRPE, Recife, Brasil).
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[1] A pesquisa recebeu
financiamento da Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de
Pernambuco (Facepe), através do Edital nº 11/2021 -
Contribuição da Ciência e Tecnologia para Redução da Pobreza Extrema em
Pernambuco. Número do parecer aprovado pelo Comitê de Ética: 5.474.566 e CAEE:
58170122.2.0000.5208.
* © A(s)
Autora(s)/O(s) Autor(es). 2024 Acesso Aberto Esta obra está licenciada sob os
termos da Licença Creative Commons Atribuição 4.0
Internacional (https://creativecommons.org/licenses/by/4.0/deed.pt_BR), que permite
copiar e redistribuir o material em qualquer suporte ou formato, bem como
adaptar, transformar e criar a partir deste material para qualquer fim, mesmo
que comercial. O licenciante não pode
revogar estes direitos desde que você respeite os termos da licença.
[2] A horta Dandara é resultado da articulação de mulheres
negras periféricas no enfrentamento da fome e da pobreza através da
agroecologia. A horta é resultado da ocupação urbana em um prédio público
abandonado, antigo matadouro, conhecido atualmente como Nascedouro de
Peixinhos, localizado no município de Olinda (PE), sob gestão da Secretaria de
Cultura do Recife (PE).
[3] A horta Palha de Arroz também é resultado da articulação
de mulheres negras periféricas em prol do enfrentamento da fome e da pobreza na
ocupação de um espaço público urbano que havia se tornado um lixão, no bairro
de Campo Grande, na cidade de Recife.
[4] Informamos
que, nos trechos das entrevistas transcritos no decorrer do artigo, as mulheres
receberam codinomes como forma de garantir a preservação de suas identidades,
conforme exigências do Comitê de Ética que aprovou a pesquisa. No tocante ao
tamanho da amostra, registramos que, por se tratar de uma pesquisa
qualitativa, coadunamo-nos com Minayo e Deslandes (1994), quando afirmam que “[...] a pesquisa
qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se preocupa nas
ciências sociais, com um nível de realidade, ou seja, ela trabalha com o
universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o
que corresponde a um espaço mais profundo das relações” (Minayo;
Deslandes, 1994, p. 21). Sendo assim, a amostra de 11
mulheres foi orientada, considerando a necessidade de obtermos informações aprofundadas sobre a realidade
das entrevistadas.
[5]
Informamos que a
escrita do sobrenome em minúscula da autora diz respeito ao seu posicionamento
político.
[6]
“Entre os mortos pela
polícia em Pernambuco em 2020, 97,3% eram pessoas negras [...]. No ano
anterior, o total de pessoas mortas pela polícia em Pernambuco foi de 74, e
93,1% eram negras” (Ramos et al., 2021, p. 23).