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O mundo ainda é jovem: conversa sobre o futuro próximo
com Maria Serena Palieri
The world is still young: a conversation about the near future with Maria Serena Palieri
José Dantas de SOUSA JUNIOR
https://orcid.org/0000-0003-2918-1004
Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Humanidades.
Departamento de Ciências Sociais Aplicadas. Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais
e-mail: yjunior2013@yahoo.com.br
RESENHA/ BOOK REVIEW | Domênico de Masi. O mundo ainda é jovem: conversas sobre o futuro próximo com Maria Serena Palieri. 1. ed. São Paulo: Vestígio, 2019. 282p. |
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Neste diálogo entre Masi & Palieri podemos tirar várias lições, a começar pelo autor de que temos em nossa vida duas realidades distintas, que correspondem à duas certezas irrefutáveis, no qual uma primeira que o mundo no qual vivemos certamente não é o melhor dos mundos, mas este é melhor dos mundos até hoje. Além desta, uma outra de que a obra criativa da humanidade está apenas iniciando sua caminhada, e nesta primeira vez na história, cabe a nós interrompê-la ou então dar-lhe continuidade. Podemos identificar logo de início a ideia de otimismo, mas também uma série de alertas dadas por Masi. Então trata-se de um otimismo da razão. Assim, o texto que possui uma instigante leitura é dividido em dez partes e no final uma advertência sobre os riscos do neofascismo, da existência de novas ameaças referentes a uma perigosa extrema-direita e dos autoritarismos espalhados pelo mundo.
O primeiro capítulo denominado como Desorientação e Projeto, traz uma análise sobre a desorientação do nosso tempo presente. Para este sociólogo, a desorientação é parente da complexidade, em virtude de estarmos alternando em todos os campos da nossa existência, fases de segurança tranquilizadora com fases inquietantes de desorientação. Sendo que não é suficiente apenas entender, os mecanismos e os sistemas, mas sim construir um modelo típico ideal que nos ajude a prever, interpretar e nos comportar nesta realidade. Pois para De Masi, é a ausência deste tipo de modelo que nos leva para desorientação.
De Masi identifica uma desorientação dos indivíduos diante do avanço da tecnologia. Para este sociólogo o homem fica inserido dentro de um paradoxo, no qual de um lado ocorre a ampliação de recursos de conhecimentos oferecidos pela tecnologia, e de outro a insegurança sobre os próximos estágios do progresso tecnológico, o que nos deixa desconfiados de como será o futuro do nosso mundo. Analisa que vivemos diante de eternos desafios e questiona quem dever elaborar um novo modelo de vida que seja capaz de levar o progresso mais sensato para todos nós.
No capítulo seguinte, intitulado de Longevidade e Velhice, traz uma análise sobre o avanço da expectativa de vida das pessoas junto com os desafios impostos no mundo, este para ele é melhor do que em outras épocas. O capítulo posterior analisa o tema Androginia e Gêneros que trata sobre uma série de desafios e desigualdades que necessitam serem superadas no futuro, mas vemos na quarta parte do livro, algo essencial e crucial em sua análise, porque parte dos conflitos e desorientações do nosso período pós-industrial. Há muito tempo De Masi já identificava que estávamos passando de uma sociedade industrial para uma sociedade do conhecimento. Nesta passagem seriam promovidos dois aspectos que hoje são de extrema importância para as pessoas e para as empresas, que são a flexibilidade e as adaptações às mudanças.
Em seguida aborda Digitais e Analógicos no qual defende que temos agora uma sociedade dividida em uma dicotomia que caminha para a extinção natural de uma de suas partes. Isso porque visão do autor a geração analógica pela ordem natural do tempo dará lugar a uma nova forma de sociedade, cujos seus membros serão todos inseridos em uma era digital. Temos aí um ponto de questionamento do autor, de como podemos projetar esse futuro digital. Nesta De Masi não vê isso como uma análise catastrófica, já que pelo seu otimismo pode haver nesse novo tempo alguns benefícios para o mundo, caso sejam discutidos e planejados.
Em seguida o autor trabalha sobre a sua principal temática, relativa ao Trabalho e ao Ócio. Neste o seu trabalho já é conhecido há mais tempo. Destaca não apenas as mudanças nas relações de trabalho, mas também analisa como a criatividade em um futuro próximo será essencial no mundo em que vivemos. Em sequência, o capítulo denominado Medo e Coragem, relata as angústias atuais e da necessidade do debate acerca de realidade e percepção, pois que para a autor pensamos que a novidade consiste na percepção, mas na realidade é o contrário. Para resolvermos a angústia da sociedade atual, temos que entender a diferença entre a realidade real e a realidade percebida,
Lembrando que De Masi ao longo de seus trabalhos sempre criticou o que ele denomina de culto ao trabalho. Isto algo premeditado e instalado na cultura ocidental moderna. Este identifica isto como a visão do trabalho como uma virtude intrínseca, sendo assim um bem e um fim em si mesmo. Para de Masi o trabalho deve ser visto não desta forma e sim como um meio de se produzir os bens e serviços necessários de se obter um determinado patamar e de igual distribuição na sociedade. Os verdadeiros fins da produção econômica então devem ser o consumo e o lazer, em vez de serem o trabalho e a produção. Então para esse sociólogo, o trabalho deveria ser forma de satisfação e realização pessoal.
De Masi identifica que o avanço da tecnologia pode ajudar a humanidade a se liberte do trabalho e aproveitar mais o tempo livre, o que denomina de economia do ócio. Assim o ócio criativo viria a partir de uma redução drástica na jornada de trabalho. Porém mesmo com essas novas tecnologias, continuamos trabalhando como operários de uma fábrica do modelo de séculos atrás. Isso com horário regulado para chegar, para sair, para comer e com metas a serem atingidas impostas pela empresa. Tudo dentro de um regime burocrático, algo parecido com a jaula de ferro descrita por Max Weber.
No capítulo seguinte De Masi trata sobre Engajamento e Egoísmo. Continua a sua jornada sociológica em Classe e Indivíduos, no qual o autor leva à tona conceitos marxistas dentro de uma nova sociedade pós-industrial, no qual as fábricas já não são mais os motores da economia. Nos dois últimos capítulos podemos ver o otimismo do autor em Inteligência e Sentimentos e Felicidade e Leveza. Nesse último capítulo trata de uma longa jornada sobre a felicidade na compreensão humana e que passa por diferentes sociedades. Nestes dois últimos capítulos percebemos várias questões filosóficas inseridas em sua análise sobre o mundo atual e as suas perspectivas para o futuro.
Domenico De Masi deixa enormes contribuições para o mundo social, tais como o conceito de Ócio Criativo, visto neste texto, na ideia que defende a noção que o tempo livre não é algo necessariamente negativo, porque pode estimular durante esse a criatividade pessoal. Também teve uma enorme influência na criação do Movimento 5 Estrelas, partido da Itália, no qual procurava colocar cidadãos comuns no poder em lugar dos tradicionais partidos políticos. Buscava assim uma democracia direta e via as redes sociais como uma ferramenta para essa mudança. A mídia digital sempre foi algo de debate deste sociólogo nos seus trabalhos e na necessidade desta na construção de um futuro melhor.
Podemos identificar pela leitura do livro que apesar de todos os problemas existentes na sociedade atual, existe por parte do autor um otimismo da razão, no qual somos capazes de enfrentar os desafios a serem superados pela sociedade humana em vários aspectos e campos. O autor traz um enorme referencial teórico e um conjunto de ideias que podem e devem ser utilizadas por todos nós, como forma de reflexão e também de tomadas de atitudes.
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José Dantas de SOUSA JUNIOR
Doutor em Ciências Sociais pela UFRN Possui Mestrado em Sociologia pela Universidade Federal da Paraíba, Bacharelado em Ciências Sociais pela Universidade federal de Campina Grande e Bacharelado em Administração pela Universidade Estadual da Paraíba Pesquisador nas áreas de pós-modernidade, consumo, violência e religiosidades.
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Editoras responsáveis
Ana Targina Ferraz – Editora-chefe
Submetido em: 12/12/2023. Aceito em: 17/4/2024.
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Argum., Vitória, v. 17, p. 1-4, e-43231, 2025. ISSN 2176-9575