Pesquisa-ação, produção de
conhecimento e Serviço Social
Action
Research, knowledge production, and Social Work
Geisa BORDENAVE
https://orcid.org/0000-0001-8607-9685
Universidade
do Estado do Rio de Janeiro, Faculdade de Serviço Social, Departamento de
Política Social,
Rio de
Janeiro, RJ, Brasil
e-mail: geisabordenave@gmail.com
Rafael Soares GONÇALVES
https://orcid.org/0000-0001-8887-8931
Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro, Departamento de
Serviço Social, Curso de Serviço Social,
Rio de
Janeiro, RJ, Brasil
e-mail: rafaelsgoncalves@yahoo.com.br
Resumo: O presente artigo busca
refletir sobre a metodologia de pesquisa-ação e produção de conhecimento no
âmbito do Serviço Social. As reflexões teóricas e metodológicas desenvolvidas
no artigo são fruto de análises desenvolvidas pelos autores, tanto em pesquisas
envolvendo a temática, quanto em reflexões teórico-práticas desenvolvidas, a
partir de campo de pesquisa vinculado ao Laboratório de Estudos Urbanos e
Socioambientais (LEUS), do Departamento de Serviço Social da PUC-Rio. Desta
forma, o objetivo central do artigo é refletir sobre a metodologia da
pesquisa-ação, as possibilidades de produção de conhecimento a partir dela, e
suas conexões com o Serviço Social, considerando sua dimensão investigativa e
interventiva e o projeto ético-político.
Palavras-chave: Pesquisa-ação.
Produção de conhecimento. Projeto ético-político. Dimensão investigativa do
Serviço Social.
Abstract:
This article
reflects on Action Research methodology and knowledge production in the field
of Social Work. The theoretical and methodological reflections developed here
are the result of analyses developed by the authors, both in research involving
the subject and in theoretical-practical reflections developed from research
linked to the Urban and Socio-environmental Studies Laboratory (LEUS) of the
Social Work Department at PUC-Rio. The main aim is to reflect on Action
Research methodology, the possibility of producing knowledge from it, and its
connections with Social Work, considering its investigative and interventional
dimension and the ethical-political project.
Keywords: Action Research. Knowledge production.
Ethical-political project. The investigative dimension of Social Work.
INTRODUÇÃO
O |
presente artigo pretende refletir sobre a
metodologia da pesquisa-ação, as possibilidades de produção de conhecimento a
partir dela, e suas conexões com o Serviço Social, considerando sua dimensão
investigativa e interventiva e o projeto ético-político. Partiremos de
reflexões teóricas e metodológicas, que se originam de experiências de projetos
de pesquisa realizados pelo Laboratório de Estudos Urbanos e Socioambientais
(LEUS), grupo de pesquisa do Departamento de Serviço Social da PUC-Rio[1], principalmente o campo de
pesquisa da Chácara do Catumbi.
Os projetos conduzidos pelo LEUS
trazem uma reflexão sobre espaços periféricos, sobretudo favelas, e com ênfase
em seus aspectos históricos. No presente artigo, interessa-nos refletir sobre a
metodologia de pesquisa-ação e produção de conhecimento no âmbito do Serviço
Social, considerando como principal campo de pesquisa o projeto que envolveu o caso de reconhecimento da propriedade
coletiva da Chácara do Catumbi.
A partir de
uma pesquisa internacional sobre comuns fundiários urbanos, financiada pela
Agence Française de Developpement (AFD), o LEUS conduziu um estudo de caso
sobre o processso de usucapião urbana coletiva da mencionada Chácara do
Catumbi, localizada no bairro homônimo aos pés do Morro da Mineira. O processo
de usucapião foi proposto com o patrocínio da Fundação Centro de Defesa dos
Direitos Humanos Bento Rubião, mas foi posteriormente assumido pela Pastoral de
Favelas, já nos termos finais da ação, por conta de dificuldades financeiras da
mencionada fundação.
Ao tomar
conhecimento de que a Pastoral de Favelas decidiu participar, junto com um
grupo de arquitetos, de um edital para projetos de Assistência Técnica de
Habitação de Interesse Social (ATHIS), possibilitado com base na Lei Federal nº
11.888/2008, com recursos provenientes do Conselho de Arquitetura e Urbanismo
do Estado do Rio de Janeiro (CAU-RJ), o LEUS se propôs a coordenar a equipe
social do projeto, que não contava com recursos financeiros no escopo do
mencionado projeto ATHIS. O objetivo desse projeto era realizar a pesquisa
preliminar para a constituição do condomínio especial, cuja convenção deveria
ser registrada após o registro de sentença declaratória da usucapião coletiva
especial urbana. Essa equipe foi composta por uma assistente social, que cursou
seu mestrado no LEUS e que também era bolsista de apoio técnico pela FAPERJ à
época, o próprio coordenador do LEUS e de uma bolsista de iniciação científica.
O projeto ATHIS foi conduzido durante o ano de 2019 e era prevista a busca de
outros recursos para dar andamento à redação final da convenção do condomínio
especial com seu devido registro. No entanto, a chegada da pandemia de Covid-19
em fevereiro de 2020 impossibilitou o andamento do projeto, prejudicando seus
desdobramentos.
Esse trabalho
de pesquisa-ação, realizado na Chácara do Catumbi, tornou-se o campo de estudo
de uma outra pesquisa mais ampla no âmbito do projeto Copolis – co-produção
social da cidade e ciência cidadã: uma perspectiva comparada sobre classe
trabalhadora e bairros precários na França e no Brasil[i], onde foram analisados
campos de pesquisa em ambos os países, sendo a Chácara do Catumbi o caso eleito
para se constituir como o campo de pesquisa do projeto na cidade do Rio de
Janeiro.[2]
Nesse contexto, pretendemos trazer reflexões mais
específicas, a partir das formas de atuação do LEUS nesse projeto. Na primeira
seção, trataremos da conceituação da metodologia de pesquisa-ação, com ênfase
para o aspecto participativo e suas implicações para o processo de pesquisa e
intervenção. Na segunda seção serão trazidas reflexões sobre a metodologia de
pesquisa-ação, associada à noção de “ciência engajada”, ou seja, a perspectiva
de pesquisa com compromisso e transformação social. Na terceira e última seção
refletiremos sobre a dimensão da produção de conhecimento através da
pesquisa-ação, considerando o campo de conhecimento do Serviço Social,
profissão historicamente marcada pelas dimensões da intervenção e da pesquisa.
Aspectos metodológicos e
éticos da pesquisa-ação
A definição da
metodologia de pesquisa-ação, de acordo com Tripp (2005), não é simples
de ser realizada, considerando que foi desenvolvida sob diferentes formas,
visando também diferentes aplicações. O termo pesquisa-ação foi cunhado
inicialmente por Lewin, na década de 1940, e após isto passa a ser um termo
acionado para fazer referência a alguns processos diferentes entre si, são
eles: pesquisa-diagnóstico, pesquisa participante, pesquisa empírica e pesquisa
experimental (Tripp, 2005).
A pesquisa-ação,
em sua origem, está associada a uma necessidade de pesquisadores do campo das
Ciências Sociais e das Ciências Sociais Aplicadas, principalmente, de criar uma
metodologia adequada para contextos sociais, onde o pesquisador e o campo de
pesquisa estabelecem relações próximas, não havendo possibilidade de uma
clássica separação entre pesquisador e objeto (Barbier, 2004). Cabe destacar que esta suposta separação
entre sujeito e objeto rende historicamente no campo das Ciências
Sociais e Humanas muitas análises e questionamentos, e a tendência predominante
na contemporaneidade é de afastamento deste modelo científico-natural de
objetividade, e de compreensão de que há uma identidade parcial entre o
sujeito e o objeto do conhecimento enquanto seres sociais, assim, “[...] o
observador é, de uma maneira ou outra, parte da, ou implicado pela realidade
social que ele estuda, não havendo portanto esta distância, esta separação que
caracteriza a relação de objetividade do cientista natural com o mundo ‘exterior’”
(Löwy, 1994, p. 194).
Conforme
resumido por Tripp (2005), foi a partir dos estudos de Deshler
e Ewart (1995), que foram identificadas as seis
principais formas de aplicação da pesquisa-ação, desenvolvidas entre as décadas
de 1940 e 1990[3]. Cabe, no entanto,
retornar a uma tentativa de definição de pesquisa-ação, considerando suas
diversas possibilidades de aplicação como mencionado anteriormente, mas
concentrando o olhar sobre as possibilidades no campo da produção de
conhecimento). A pesquisa-ação se materializa quando houver realmente uma ação
por parte das pessoas ou grupos implicados no problema sob observação. Essa
ação é, assim, problematizada através da elaboração de uma pesquisa (Thiollent, 1986). Para Souza (1997,
p. 67), nesse contexto, a pesquisa-ação se manifesta pelos seguintes aspectos: “a
ação transformadora, a produção de conhecimentos e a prática da participação”.
Conforme analisa Tripp
(2005), o processo da pesquisa-ação possui alguns pressupostos. O primeiro é de
que a pesquisa-ação é iniciada com um reconhecimento, ou seja, uma análise
situacional que ocorre no momento do planejamento da pesquisa. O segundo
corresponde à natureza iterativa da pesquisa-ação, que seria sua “[...] característica
isolada mais distintiva” (Tripp, 2005, p. 453). O terceiro diz respeito à
prática reflexiva como elemento que deve permear todo o ciclo da pesquisa-ação.
O quarto pressuposto se refere à tendência a ser participativa. Sobre este
aspecto, Tripp (2005) enfatiza que, desde seu surgimento, a pesquisa-ação é
pensada como um método participativo, sabendo que existem diversas visões
acerca do significado de participação.
Há diversas pesquisas
que se dedicam a compreender como se dá o processo da pesquisa-ação, como se
houvesse a possibilidade de o elemento da participação não estar presente neste
processo, mas outros estudos a entendem como estritamente necessário, como um “[...]
processo coletivo de consequências políticas [...]” (Tripp, 2005, p. 454), e é
nesta percepção que estamos interessados. Ou seja,
estamos considerando como a metodologia de pesquisa-ação é capaz de produzir
conhecimento com base na prática/intervenção, visando à transformação social,
compreendida, no contexto do presente trabalho, a partir da ação política que
pode resultar em transformação da ordem social, conforme ressalta Fals Borda (2015). Neste sentido, trata-se de
uma lógica política: pesquisa-ação socialmente crítica / pesquisa-ação
emancipatória. O que denominamos aqui como um possível processo de
transformação social se relaciona, a partir da concepção de Marx (2001), com as
contradições e lutas de classes que surgem, a partir da base material da
sociedade capitalista. Neste sentido, a ideia de transformação social se
conecta com os princípios do projeto ético-político do Serviço Social,
materializado no Código de Ética de 1993, que prevê a vinculação da categoria a
um “[...] processo de construção de uma nova ordem societária, sem dominação,
exploração de classe, etnia e gênero” (Conselho
Federal de Serviço Social, 1993, p. 24).
Por sua vez, Thiollent (1986) define que a pesquisa-ação
[...] é um tipo de
pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada em estreita
associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e no qual os
pesquisadores e os participantes representativos da situação ou do problema
estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo (Thiollent, 1986, p. 50).
Compreende-se, assim,
que a questão da participação é um dos elementos centrais para pensar e
conceituar a pesquisa-ação. A partir desta perspectiva, a pesquisa-ação
consistiria em uma metodologia de pesquisa social que busca a resolução de um
problema coletivo e “[...] no qual os pesquisadores e os participantes
representativos da situação da realidade a ser investigada estão envolvidos de
modo cooperativo e participativo” (Thiollent, 1986,
p. 14). Ainda sobre o debate da participação, Adelina Baldissera afirma que a
pesquisa-ação supõe uma co-implicação no trabalho dos
pesquisadores e das pessoas envolvidas no projeto, socializando experiências e
conhecimentos teóricos e metodológicos da pesquisa, constituindo uma forma de
democratização do saber, “[...] visto que os setores populares vão adquirindo
domínio e compreensão dos processos e fenômenos sociais nos quais estão
inseridos, e da significação dos problemas que enfrentam” (Baldissera, 2001, p.
8).
A
questão da participação como elemento central traz implicações para refletirmos
também sobre um item destacado na literatura produzida a respeito desta
metodologia: a ética no processo de pesquisa-ação. Tripp
(2005) enfatiza que “[...] embora a
pesquisa-ação tenda a ser pragmática, ela se distingue claramente da prática e,
embora seja pesquisa, também se distingue claramente da pesquisa científica
tradicional [...]” (Tripp, 2005, p. 447), sobretudo
porque a pesquisa-ação ao mesmo tempo em que altera o que está sendo pesquisado
“[...] é limitada pelo contexto e pela ética da prática” (Tripp, 2005, p. 447).
Os
limites éticos envolvem algumas questões: a não imposição da visão do
pesquisador, que no caso da pesquisa-ação está comprometido com a
intervenção/transformação, se configura como um dos elementos centrais. Assim, destaca-se a necessidade de reflexão sobre a
dimensão pedagógica da práxis, que é uma dimensão dialógica, nos termos de
Paulo Freire (2011): a perspectiva da transformação social, do ponto de vista
ético e político, precisa estar fundada no reconhecimento dos sujeitos
políticos e na valorização do seu protagonismo. A dimensão dialógica nos leva a
refletir sobre a relação entre ação-reflexão. Para Freire (2011, p. 47) “[...]
não há palavra verdadeira que não seja práxis [...]”, e, seguindo esta mesma
perspectiva, “[...] o diálogo é este encontro dos homens, mediatizados pelo
mundo, para pronunciá-lo, não se esgotando, portanto, na relação eu-tu”
(Freire, 2011, p. 47).
Duas questões nos
parecem importantes de sublinhar em relação à prática do LEUS e, mais
especificamente, à atividade realizada na Chácara do Catumbi. Em primeiro
lugar, a escolha privilegiada de espaços periféricos pelas pesquisas do LEUS,
que podem ser inclusive os próprios locais de moradia ou de atuação militante
dos alunos, suscita um novo debate acadêmico sobre tais temáticas. Nesse
contexto, é importante salientar a importância da pesquisa-ação em conduzir um
debate profícuo com as novas configurações da academia brasileira, sobretudo
após a implementação das políticas de ação afirmativa. Para Fals
Borda (1988), a potencialidade de toda pesquisa participante “[...] está
precisamente no seu deslocamento proposital das universidades para o campo
concreto da realidade” (Fals Borda, 1988, p. 60).
Para o autor colombiano, este tipo de pesquisa modifica basicamente a estrutura
acadêmica clássica, na medida em que reduz as diferenças entre objeto e sujeito
de estudo.
A inserção privilegiada
dos alunos no campo enriquece a pesquisa e demanda obviamente precauções
metodológicas diante da proximidade do pesquisador com seu campo de pesquisa,
embora não estejamos partindo da compreensão de uma separação dicotômica entre sujeito
e objeto de pesquisa. Embora acreditemos no excepcional caráter político
de pesquisas que sejam realizadas pelos próprios moradores, não defendemos
tampouco que eles devam abordar necessariamente seus locais de moradia. De um
lado, entendemos que trabalhar temas alheios à sua experiência direta é também
importante e, de outro lado, é preciso ter cuidado para não enclausurar
moradores em temas de pesquisa restritos aos seus locais de moradia e a
realidade na qual estão diretamente inseridos. Moradores podem e devem
trabalhar outros bairros periféricos, onde não moram, e mesmo questões
envolvendo outros temas urbanos. Isso, certamente, enriqueceria o debate sobre
nossas cidades.
Uma segunda reflexão,
mais relacionada com o projeto da Chácara do Catumbi, diz respeito às
fronteiras de nossa atuação profissional e como pesquisador. Por vezes, durante
a realização do projeto ATHIS, a equipe social tinha vontade de intervir, mas o
cuidado com a escuta dos moradores e o esforço do pesquisador de apreender a
realidade, nos levavam, em certos momentos, a um certo silenciamento observador
do campo de pesquisa. No entanto, em algumas situações do projeto, nossos
interlocutores esperavam nossa intervenção. Essa dialética de saber o momento
de intervir e o momento de silenciar não é simples e requer uma atenção
constante no exercício da pesquisa-ação.
Sobre essa questão, Fals Borda sublinha que na pesquisa-ação o pesquisador
experimenta ser sujeito e objeto de sua própria pesquisa. No entanto, para o
autor, é necessário enfatizar um ou outro papel no decorrer do processo em uma
sequência de ritmos no tempo e no espaço, que incluem aproximar-se ou
afastar-se da ação e/ou reflexão. Nesse sentido, ele identifica um elemento
importante para que o pesquisador não se perca nesse processo: “[...] o seu
compromisso com a população envolvida na ação e sua inserção pessoal nas
atividades de ação e pesquisa” (Fals Borda, 2015, p. 263). Esse tipo de questionamento se manifesta mais
abertamente em profissões, que se caracterizam pela intervenção na realidade,
como é o caso do Serviço Social. Assim, a tensão que envolve saber quando
falar/intervir e quando ouvir/observar, permeia todo o processo e se relaciona
com as dimensões pedagógica e ético-política de uma profissão eminentemente
interventiva e que se propõe a fortalecer o protagonismo da população envolvida
(Bordenave, 2023). Trata-se, assim, como veremos a
seguir, de intervir na realidade sem impor posições pré-estabelecidas e em
permanente diálogo com os saberes locais.
Pesquisa-ação como
método para uma “ciência engajada”?
A metodologia de
pesquisa-ação suscita algumas reflexões relevantes sobre o que se pode
compreender como uma ciência engajada, partindo do pressuposto de que estamos
considerando a visão de uma pesquisa-ação que tem como centro a participação,
sendo considerada, portanto, nos termos de Tripp (2005, p. 458), como “socialmente
crítica”. A fim de avançar na análise proposta, retomamos a perspectiva de Fals Borda, que aponta a noção de um rompimento da
dicotomia sujeito-objeto como uma das premissas básicas da pesquisa-ação
envolvendo os pesquisadores engajados. Fals Borda
(2008) propõe, desta forma, a partir da Investigación
Acción Participativa (IAP), uma relação
sujeito-sujeito, que pressupõe “[...] uma
completa integração e participação dos que sofrem a experiência da pesquisa” (Fals Borda, 2008, p.
59), enfatizando as potencialidades de produção de um “[...] novo conhecimento
sólido” (Fals Borda, 1986, p. 59). Como mencionamos,
em muitas das pesquisas realizadas pelo LEUS, essa relação sujeito-sujeito é
ainda mais complexa, já que a figura do sujeito/pesquisador se mescla por vezes
com a do sujeito da ação e da pesquisa.
A
metodologia IAP se consolida a partir da década de 1970, tendo como marco o
Simpósio Internacional de Cartagena, realizado em 1977, que impulsiona a
expansão da metodologia tanto na Colômbia quanto em outros países, sobretudo
latino-americanos, nomeando assim a perspectiva de pesquisa-ação realizada por investigadores
comprometidos com a participação social, tal como analisado por Fals Borda (2014). Cabe destacar que a metodologia recebeu
diferentes denominações ao longo de seu processo de formulação, tais como: telética, investigação-militante, compromisso-ação,
estudo-ação / investigação-ação, e por fim, IAP (Cichoski,
2021). Apesar das distinções que podem ser identificadas nestes diferentes
momentos/nomenclaturas, o cerne da metodologia está em um compromisso político
com relação à pesquisa social, e, portanto, uma noção de ciência/pesquisa
engajada que sofre modificações e aprimoramentos ao longo das décadas que
seguem.
Cichoski (2021)
elabora uma síntese dos elementos de construção da IAP, a partir da obra de Fals Borda, onde destaca as principais contribuições da
metodologia, desde a década de 1970 até a contemporaneidade, são algumas delas:
· “Consciência política e social” (Cichoski,
2021, p. 62) no que se refere à necessidade de conhecer e trabalhar visando à
transformação social;
· Aprendizado a partir da “[...] experiência popular, por meio
da práxis” (Cichoski, 2021, p. 62);
· Compromisso com as bases populares, valorizando seus modos
de vida, saberes e culturas;
· Inserção social como caminho de ação;
· “Devolução sistêmica” (Cichoski,
2021, p. 62), partindo do pressuposto de que os sujeitos envolvidos são parte
do processo;
· Comunicação adequada, “[...] respeitando os sujeitos como
donos do conhecimento que se está construindo” (Cichoski,
2021, p. 62).
A autora
enfatiza ainda algumas prerrogativas que perpassam a metodologia da
pesquisa-ação, mais especificamente da IAP, proposta por Fals
Borda, considerando a relação sujeito-sujeito como o cerne do método, e que se
conectam com a perspectiva de uma investigação militante como modo de trabalho,
um movimento permanente de ação-reflexão, e a busca contínua por uma ciência
que seja útil e popular. Assim, a postura do pesquisador que faz uso do método
proposto deveria ser antidogmática e doutrinária, assim como comprometida com a
busca por relações horizontais e respeitosas (Cichoski,
2021). Na perspectiva de uma ciência engajada, Fals
Borda destaca a necessidade de o intelectual assumir não apenas o compromisso
de pensar, falar e escrever de forma crítica, mas de incidir a pesquisa no
debate político.
Nesse
sentido, compreendemos ser importante repensar as fronteiras dos fundamentos da
universidade brasileira, dividida em pesquisa, ensino e extensão, ou ao menos
analisar tais fronteiras de forma mais porosa. A inserção da universidade na
sociedade não se dá somente por projetos de extensão, assim como tais projetos
também dialogam com a pesquisa e incidem no ensino, ou seja, o engajamento
social da universidade deve questionar incessantemente nossos interesses de
pesquisa e nossos currículos. Da mesma forma,
entendemos que as formas de difusão de conhecimento devem ser mais acessíveis
de forma a incidir no debate público. A restituição da pesquisa nos locais onde
trabalhamos deve ser uma prioridade e não pode se limitar aos instrumentos
tradicionais, como artigos ou livros, mas também deve utilizar outros canais,
como, por exemplo, as redes sociais, exposições e ou os diferentes formatos
audiovisuais.
O
projeto específico da Chácara do Catumbi se constituiu como uma assessoria
técnica, que procurou realizar um diagnóstico socioeconômico da população dessa
localidade, assim como uma descrição arquitetônica das construções existentes.
O projeto aplicou dinâmicas distintas para trabalhar as práticas locais de
gestão comunitária da área, com o intuito de obter subsídios para a elaboração
da convenção do condomínio especial. Apesar do esforço, os resultados nem
sempre foram exitosos (Gonçalves; Vale, 2021). O uso de grupos de WhatsApp,
como forma de comunicação com os moradores do local, se mostrou um canal
importante de diálogo, assim como um espaço rico de observações. A pandemia
impediu justamente o esforço de restituição dos resultados da pesquisa, assim
como limitou infelizmente os possíveis desdobramentos da experiência no local.
Produção de conhecimento
a partir da Pesquisa-ação: conjugando as dimensões interventiva e investigativa
do Serviço Social
A gênese
do Serviço Social no Brasil como profissão institucionalizada, na década de
1930, está associada à Igreja Católica, e uma perspectiva
conservadora/filantrópica. A categoria profissional surge, neste momento, a
partir da necessidade de o Estado oferecer respostas para as expressões da
questão social, sendo o Serviço Social a categoria profissional chamada a atuar
junto ao Estado para atenuar tais sequelas (Iamamoto;
Carvalho, 1993).
O processo de
profissionalização da categoria, a partir dos anos 1940, buscou no
estrutural-funcionalismo estadunidense a base teórica e técnica para atuar.
Observa-se a construção de uma base teórico-prática para afastar a profissão da
perspectiva caritativa dos seus primeiros anos, mas sem um escopo crítico da
realidade contrastada pela profissão. No entanto, a partir dos anos 1970, há a
emergência paulatina de uma posição mais crítica, de base marxista. Esse
movimento de Reconceituação questionou o conservadorismo da profissão,
constituindo o denominado projeto ético-político profissional. Tal projeto
modifica as bases teóricas e a autoimagem da profissão (Yazbek; Iamamoto, 2019). Assim, os valores da categoria
profissional passam a ser norteados por um compromisso com os interesses da
classe trabalhadora, ampliação da democracia e pela busca por uma ordem social
livre de opressões e exploração (Conselho
Federal de Serviço Social, 1993). É possível afirmar que o projeto profissional, que é
também por conta de seus valores, um projeto societário, apresenta “[...]
uma imagem ideal da profissão, os valores que a legitimam, sua função social e
seus objetivos, conhecimentos teóricos, saberes interventivos, normas e
práticas” (Netto,
1999, p. 98).
O Serviço Social
brasileiro, portanto, a partir da ruptura com o conservadorismo e consolidação
do projeto ético-político, tem produzido reflexões sobre as diferentes
dimensões que de forma indissociável compõem o fazer profissional –
ético-política, técnico-operativa e teórico-metodológica (Guerra, 2009). Na
esteira desta análise, a noção de que teoria e prática são também
indissociáveis deve ser considerada: “[...] investigação
e intervenção, pesquisa e ação, ciência e técnica não devem ser encaradas como
dimensões separadas” (Sousa, 2008, p. 122). Assim, avançando na perspectiva de
uma ciência engajada e militante, o Serviço Social brasileiro, ao longo de sua
história, vem se configurando como campo profissional e de conhecimento que
considera a dimensão investigativa – de pesquisa – como necessariamente
imbrincada com a dimensão interventiva – da prática.
[...] a investigação e a intervenção elementos que, embora
de naturezas distintas, compreendem a dialética do modo de ser da profissão
[...]. Do mesmo modo, afirmam-se a atitude investigativa e a pesquisa como
parte constitutiva do exercício do assistente social, vislumbram-se os
requisitos para o desenvolvimento da pesquisa científica, e, finalmente, o
papel da investigação da realidade na formulação do projeto de intervenção e da
intervenção propriamente dita (Guerra, 2019, p.
2).
Nesse
contexto, Thiollent (1986) indica que o Serviço
social constitui um excelente campo de aplicação e de possível desenvolvimento
da pesquisa-ação, já que tal metodologia “[...] pode permitir um melhor
equacionamento dos problemas de aproximação à realidade social, de inserção dos
pesquisadores e profissionais e de suas formas de intervenção” (Thiollent, 1986, p. 82). A fim de refletir sobre a produção
de conhecimento a partir da pesquisa-ação, cabem algumas considerações sobre a
relação dialética entre teoria e prática, considerando a junção entre estas
duas esferas no campo da pesquisa social que se utiliza da pesquisa-ação. A
relação dialética entre teoria e a prática “[...] se dá pela retro-alimentação contínua entre
reflexões críticas e ações transformadoras” (Jaumont;
Varella, 2016, p. 432).
No que
se refere à produção de conhecimento, o que se afirma,
então, é que a dimensão teórico-reflexiva possui o potencial de ampliar a
efetividade das ações e das lutas, contribuindo para a compreensão da realidade
e para a elaboração conceitual e teórica.
Nesse sentido, é mais que uma articulação entre referidas
dimensões, é, na realidade, uma constituição recíproca entre a dimensão do
conhecer e a do fazer e transformar, ou seja, são momentos que se constroem de
maneira mútua e recíproca, conformando uma unidade em sua diversidade (Jaumont; Varella, 2016, p. 432).
No campo
de conhecimento do Serviço Social, portanto, alinhados a uma perspectiva de
transformação social, se enfatiza que “[...] a necessidade de atuarmos sobre a
realidade é o que nos conduz ao conhecimento [...]” (Guerra, 2019, p. 4), sendo
ainda necessário conhecer para intervir. A origem do Serviço Social nos remete
a práticas conservadoras de atuação nos espaços periféricos, seja na
participação em remoções de favelas ou na imposição de programas de
desenvolvimento de comunidades (Gomes, 2015). Se a visão crítica atual
questiona tais práticas e suscita uma reflexão mais qualificada sobre a atuação
profissional nas políticas habitacionais, é importante que seja constantemente
atualizada diante das novas configurações das expressões da questão social.
O
próprio conceito de participação/processo participativo, que é central quando
pensamos a metodologia de pesquisa-ação, também é caro ao campo do Serviço
Social crítico e comprometido com a transformação social, compreendendo-o como
instrumento de fortalecimento da democracia, para a ampliação de direitos e
para o protagonismo dos sujeitos, entendidos como sujeitos de direitos (Diniz,
2012). Assim, compreende-se que nos
processos em que a participação dos sujeitos é central, há a colaboração para a
organização política das classes populares e a possibilidade de
criação/consolidação de espaços de poder e fortalecimento do senso crítico
(Conselho Federal de Serviço Social, 2016).
Entendemos
que, nessa direção, a pesquisa-ação pode contribuir na reflexão crítica sobre a
atuação profissional, e com um processo de produção de conhecimento que leve em
consideração a potencialidade dos múltiplos saberes envolvidos.
Considerações Finais
A pesquisa-ação demanda uma quebra de assimetria, tanto no âmbito
conceitual quanto no prático. Fals Borda (2020)
nomeia esse processo de “[...] compromisso existencial [...]” (Fals Borba, 2020, p. 194), que pressupõe uma ruptura, que
leve a “[...] transformações pessoais, culturais e epistemológicas” (Fals Borda, 2020, p. 195). Assim, conforme analisamos nesse
artigo, a metodologia de pesquisa-ação se mostra capaz de produzir conhecimento
com base na prática/intervenção, visando à transformação social. No caso do
projeto da Chácara do Catumbi, cabe destacar que a aplicação da metodologia de
pesquisa-ação possibilitou que a atuação do LEUS ultrapassasse a perspectiva
pontual do trabalho social desenvolvido – limitado pela temporalidade de um
projeto ATHIS — e pudesse se constituir como um campo de pesquisa. É, nesta
medida, um exemplo empírico de um campo que se conjuga na dimensão interventiva
e investigativa do Serviço Social.
Trata-se, desta forma de uma dimensão dialógica, que, caso tenha a
participação como centro, reconhece o protagonismo dos sujeitos envolvidos na
pesquisa, o que nos leva a refletir sobre a relação entre ação/reflexão. Essa
dimensão de ciência comprometida nos traz para o horizonte da incidência da
produção de conhecimento, como mecanismo de transformação da realidade social,
além de uma produção de conhecimento mais qualificada diante das complexidades
da vida social.
Como qualquer profissão eminentemente interventiva, o Serviço Social
precisa lidar com os desafios de intervir, questionando e, portanto, refletindo
sistematicamente sobre sua atuação. Não se trata aqui de
sublinhar uma visão messiânica ou ingênua da profissão e de suas
possibilidades transformadoras, a partir da intervenção/investigação. Afinal, o
horizonte de transformação da realidade social não se constitui a partir de
meras ações individuais, sendo necessário, além de pensar a dinâmica de
transformação de forma coletiva, confrontá-la com os limites e as
possibilidades postas na realidade social (Iamamoto,
2000). Assim, a pesquisa-ação se mostra
uma possibilidade de metodologia que se conecta ao projeto ético-político
profissional do Serviço Social, conjugando as dimensões interventivas e
investigativas, e colaborando para uma não dicotomização de teoria e prática.
Os desafios metodológicos postos pela aplicação de uma pesquisa-ação, que
pressupõe engajamento social, perpassam a relação sujeito da ação e sujeito da
pesquisa. De um lado, a figura do pesquisador comprometido com a transformação
social, não pode se confundir com um pesquisador que impõe sua visão de mundo
aos interlocutores de pesquisa. De outro, o pesquisador que é muitas vezes
também sujeito implicado no seu campo de pesquisa necessita de estratégias
metodológicas, que possibilitem uma análise do campo de ação e de pesquisa de
forma a conjugar os papeis de sujeito ativo de determinada realidade específica
e de pesquisador. Nesse sentido, a ação afirmativa nas universidades não
somente democratiza o acesso ao ensino superior, mas vem suscitando questionamentos
sobre a própria atuação da universidade na sociedade, de forma que ela seja
menos excludente e elitista e mais comprometida com as demandas sociais.
Por fim, ao produzir conhecimentos em diálogo com a práxis, a
pesquisa-ação qualifica a atuação crítica do pesquisador e profissional de
Serviço Social – e possivelmente de outras categorias profissionais no âmbito
das Ciências Sociais Aplicadas. A pesquisa-ação, desta forma, pode contribuir
para o fortalecimento de uma atuação, tanto no campo da intervenção quanto da
pesquisa, comprometida com o horizonte das transformações sociais e, portanto,
alinhada com os princípios ético-políticos da categoria, qualificando o debate
e a prática no que diz respeito à defesa de um outro projeto societário.
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[1] O LEUS foi fundado em 2009 e, desde então, vem realizando projetos de
pesquisa e extensão, promovendo cursos e atuando na formação de alunos de
graduação e pós-graduação. O grupo, embora vinculado ao departamento de Serviço
Social, prioriza uma atuação pluridisciplinar com ênfase em pesquisas
históricas urbanas.
Ainda que
a PUC-Rio seja considerada uma universidade de elite, ela possui uma importante
política de inserção de estudantes periféricos, a partir de um vasto programa
de bolsas. Sabemos que esse projeto, assim como todo o projeto de ação
afirmativa do ensino superior brasileiro, ainda está em construção e merece uma
constante mobilização política para sua consolidação e aprofundamento. O
Departamento de Serviço Social foi pioneiro desse projeto na PUC-Rio, e vem
desde os anos de 1990 formando lideranças, militantes e moradores em geral de
áreas periféricas, que trouxeram uma profunda renovação nos debates acadêmicos,
assim como souberam utilizar das ferramentas do ensino superior para aprofundar
sua atuação política (Salvador; Gonçalves, 2022).
[2]
Acerca do debate sobre esse projeto, ver Gonçalves e Bordenave
(2023).
[3] “No
final da década de 1940 e início da década de 1950, utilizava-se em
administração (Collier) desenvolvimento comunitário (Lewin, 1946), mudança
organizacional (Lippitt, Watson; Westley,
1958) e ensino (Corey, 1949, 1953). Na década de 1970, incorpora-se (com
finalidades de) mudança política, conscientização e outorga de poder
[empowerment] (Freire, 1972, 1982), pouco depois, em desenvolvimento nacional
na agricultura (Fals-Borda, 1985, 1991) e, mais
recentemente, em negócios bancários, saúde e geração de tecnologia, via Banco
Mundial e outros” (Tripp, 2005, p. 445).
[i] O
projeto citado possui financiamento do Fundo de Amparo à Pesquisa do Estado de
São Paulo (FAPESP), no Brasil (Processo nº 2019/13365-3), e da Agence Française
de Recherche (ANR) na França. Ambos os autores participaram como pesquisadores
no projeto, sendo que a primeira autora atuou como bolsista de pós-doutorado
FAPESP durante o período de 01/11/2021 a 31/10/2022 (Processo nº 2021/11528-2). Os campos de pesquisa na cidade de São Paulo foram
ocupações na área central e nas periferias da cidade.
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Geisa
BORDENAVE Trabalhou na
concepção e delineamento do artigo, redação e aprovação da versão a ser
publicada.
Graduação em Serviço Social (UFRJ). Doutorado e Mestrado em
Ciências Sociais (UERJ). Pós-doutorado em Serviço Social (PUC-Rio) e em
Arquitetura e Urbanismo (USP e PUC-Rio). Professora adjunta do Departamento de
Política Social da FSS/UERJ.
Rafael
Soares GONÇALVES Trabalhou
na redação do artigo, revisão crítica e aprovação da versão a ser publicada.
Graduação em Direito (UFRJ).
Doutorado e Mestrado em História pela Université de Paris VII e
pós-doutorado em Antropologia pela EHESS. Professor associado do Departamento
de Serviço Social da PUC-Rio. Cientista do Nosso Estado pela FAPERJ e
pesquisador do
CNPq.
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Editoras:
Ana
Targina Rodrigues Ferraz – Editora-chefe
Maria
Lúcia Teixeira Garcia – Editora de Seção
Submetido
em: 29/5/2024. Aceito em: 20/08/2024.
Este é um artigo publicado em acesso
aberto (Open Access) sob a licença Creative Commons Attribution, que permite
uso, distribuição e reprodução em qualquer meio, sem restrições desde que o
trabalho original seja corretamente citado. |