Crise, forças produtivas e questão
ambiental: desenvolvimento e dependência na Bolívia contemporânea
Crisis,
productive forces, and environmental issue: development and dependence
in contemporary Bolivia
Cláudia Maria Costa GOMES
https://orcid.org/0000-0002-9366-3107
Universidade
Federal da Paraíba. Centro de
Ciências Humanas, Letras e Artes,
Departamento
de Serviço Social, Curso de Serviço Social. João Pessoa, PB, Brasil
e-mail: claudia.gomes@academico.ufpb.br
Nivalter Aires dos SANTOS
https://orcid.org/0000-0002-5947-5903
Universidade Estadual da Paraíba, Curso
de Serviço Social,
Programa de Pós-graduação em Serviço
Social, Campina Grande, PB, Brasil
e-mail: aires.nivalter@gmail.com
Janaina Freire dos SANTOS
https://orcid.org/0000-0003-2037-7411
Autarquia Educacional de Serra
Talhada, Departamento de História,
Licenciatura em História, Serra
Talhada, PE, Brasil
e-mail: janainasantos1983@hotmail.com
Resumo:
Objetivamos propor subsídios para debater a crise atual, a partir de uma
crítica às contradições do capitalismo na Bolívia. Nossa investigação usa a
crítica da economia política como método, buscando articular crise do capital,
expropriações e questão ambiental. Tomamos a Bolívia como objeto de reflexão
entendendo que a estratégia neoextrativista desse país não escapa às formas
predatórias de exploração e expropriação. Entretanto, pela dinâmica própria da
luta de classes, os rumos políticos são acidentados, e os ataques, pela
urgência do capital, precisam ser aprofundados. Daí podemos entender a
tendência que assume a acumulação na periferia do capitalismo, apesar da particularidade
de cada país, a exemplo dos golpes de Estado voltando à cena, com formas
distintas, como no caso boliviano, mas sempre alicerçadas na percepção da
democracia como um obstáculo aos interesses do capital.
Palavras-chave: Crise. Forças produtivas. Questão ambiental. Dependência. Bolívia.
Abstract: This article debates the current crisis based on a critical
interpretation of the contradictions of capitalism in Bolivia. The
investigation methodology is based on the critique of political economy, and
seeks to highlight the crisis of capital, expropriations, and the environmental
issue. Bolivia was selected as the object of our reflection because its neo-extractivist strategy can not
escape predatory forms of exploitation and expropriation. Due to the dynamics
of the class struggle, the political road is uneven and, given the urgency of
capital, the attacks to counter this predation need to be deepened. As such, we
gain an understanding that the tendencies of capital accumulation on the
periphery of capitalism have different forms, this despite the particularities
of each country, such as coups d'état returning to the scene, as in the
Bolivian case, but it is always based on the perception of democracy as an
obstacle to capital.
Keywords: Crisis. Productive forces. Environmental issues. Dependence. Bolivia.
1 Introdução
A |
crise que se arrasta na América Latina em
geral, e particularmente na Bolívia, com tendência a permanecer por longo
prazo, possui um sentido histórico mais profundo, pois expressa, no limite, as
condições históricas do capitalismo dependente diante da crise estrutural do
capital no século XXI. Há irremediavelmente na crise um fundo político no
âmbito da luta de classes, que acelera todos os processos contraditórios nos
marcos do imperialismo sob a fração dominante do capital internacional, fazendo
avançar as linhas de força mais reacionárias no interior da ordem
democrático-burguesa do subcontinente na conjuntura atual.
O modelo de
desenvolvimento ao qual os países dependentes são submetidos é delineado pelos
limites impostos pelo mercado mundial. Nesse contexto, o processo de acumulação
de capital na América Latina, caracterizado pela dependência estrutural em
relação ao mercado global, impõe uma realidade socioambiental em que os
processos de expropriação e de destruição ambiental se convertem em formas
violentas de exploração da força de trabalho e de apropriação da natureza.
Nesse
sentido, nas condições históricas da atual crise, o capital expressa seu
caráter devastador na produção da riqueza, ao expropriar não só o trabalhador
das condições dos meios de vida, mas também destruir a natureza como
ecossistema vital do planeta (Alves, 2020). Há, portanto, uma crise que se
apresenta com um caráter contraditório, particularmente na periferia, onde o
processo de acumulação é voltado à produção da riqueza às custas do pauperismo
das classes trabalhadoras e subalternas.
O artigo
objetiva propor subsídios para o debate da crise atual, a partir de uma
interpretação crítica quanto às contradições do desenvolvimento do capitalismo
latino-americano, tomando como referência a particularidade da formação
econômico-social boliviana. Diante do esforço de síntese, almejamos demonstrar
que o processo expansivo de reprimarização das economias nos últimos anos
favoreceu a inserção dos países periféricos no mercado mundial, com a alta do
preço das commodities, insinuando uma
mudança de contexto socioeconômico após décadas de estagnação, queda das taxas
de lucro e desnacionalização do aparato produtivo na região – resultado da
ofensiva neoliberal.
Para tanto,
propomos uma reflexão que adota a crítica da economia política como método
(Santos, 2022), buscando destacar a articulação entre a crise do capital, as
expropriações e a questão ambiental, pela análise da dialética do
desenvolvimento das forças produtivas. Ademais, tomamos a Bolívia como objeto
de análise para refletir sobre a realidade socioambiental contemporânea, na
qual se desdobram os processos de expropriação e os dilemas em torno dos
recursos naturais daquele país.
2 Crise do capital: dialética entre forças produtivas,
expropriações e questão ambiental
No plano do
debate econômico e político, o tema da crise é objeto de tergiversação tanto
entre os teóricos quanto entre as organizações políticas e seus dirigentes,
que, desde a segunda metade do século XX, buscam novas formulações para os
decrépitos problemas da ordem do capital. Em resposta, é preciso retomar o
sentido da crítica da economia política, cujo fundamento subjaz à análise das
crises, intrinsecamente marcada pelo caráter contraditório da acumulação
capitalista e as barreiras ao desenvolvimento das forças produtivas que não
garantem per se o progresso
civilizatório da humanidade.
Em vista
disso, Marx (2017) continua sendo referência fundamental para o entendimento do
atual estágio das forças produtivas, porque explica a sua contradição com as
relações de produção no capitalismo. Entre as indicações apontadas quanto a
essa contradição, encontram-se o crescimento da composição orgânica do capital,
a formação de contingente relativamente excedente de força de trabalho e a
queda tendencial da taxa de lucro, movimentos que intensificam a exploração da
força de trabalho e o grau de controle sobre a natureza (Gomes, 2020).
Concordamos
com Marx, quando esclarece que:
[...] o modo de produção
capitalista encontra no desenvolvimento das forças produtivas uma barreira que
não tem nenhuma relação com a produção da riqueza como tal – essa barreira
peculiar atesta a estreiteza e o caráter meramente histórico e transitório do
modo de produção capitalista; atesta que este não é um modo de produção
absoluto para a produção da riqueza, mas que, ao contrário, tendo atingido
certo estágio, ele entra em conflito com o desenvolvimento ulterior dessa
riqueza (Marx, 2017, p. 282).
Desse modo,
a categoria forças produtivas é, por assim dizer, tão potente analiticamente
que representa a própria “[...] expressão material e intelectual do grau de
dominação sobre a natureza alcançada por esta; de sua capacidade adquirida para
forçar a natureza a satisfazer suas necessidades” (Boisgontier,
1971, p. 254). Nesse sentido, não se reduz apenas ao caráter de produtividade
dos conjuntos técnicos no processo de trabalho, pois alcança o fundamento
último da atividade teórico-prática do homem, na satisfação de suas
necessidades no campo dos valores de uso, o que se confronta com a
materialização do controle da natureza pela sociedade capitalista, definida
estritamente por sua capacidade de produzir mais-valor – contradição que
revela, portanto, o próprio grau de desenvolvimento do progresso civilizatório
da humanidade.
Esse
processo torna-se mais tensionado nos períodos de crise, ao apontar os limites
históricos da acumulação de capital, em termos de desenvolvimento social e
crescimento econômico. A despeito dos avanços técnicos e das mudanças
tecnológicas dos últimos anos, o campo da exploração tem se intensificado e
alargado em todo o mundo, através da redução dos salários reais, da destruição
dos direitos e garantias sociais, dos ataques às conquistas democráticas, e da
criminalização da luta dos trabalhadores no último século (Gomes, 2022).
Diante
disso, não é difícil constatar que, apesar das forças produtivas serem um
produto do trabalho para a produção material, é o modo de produção que
determina seu caráter social e impulsiona ou afeta o seu desenvolvimento, não
sendo, portanto, “[...] garantia de que o aumento das possibilidades materiais
da sociedade [...] redunde em uma melhoria das condições de vida da população
como um todo” (Montoro, 2020, p. 63).
Portanto,
no centro nevrálgico da crise contemporânea, encontram-se a acumulação de
capital e a crescente contradição entre as forças produtivas e as relações de
produção, que maximizaram a lei do valor à escala mundial e alcançaram uma
magnitude ainda maior que à época de Marx, inaugurando uma etapa superior com a
formação monopólica de capital, o imperialismo, no qual há um predomínio do
capital portador de juros para responder à queda tendencial da taxa de lucro.
Em termos históricos, durante cem
anos, o desenvolvimento capitalista provocou uma nova configuração do capital
(o capital financeiro oligopolista) que se desdobra em um novo terreno (a
economia mundial), cujo resultado é uma crescente tensão sobre as forças
produtivas. É o imperialismo, no âmbito do qual as crises têm um status diferente, mais grave, que
identificamos com a expressão ‘fuga para frente’, a fim de apontar as
crescentes necessidades de destruição para a busca da acumulação capitalista
(destruição, que inclui as guerras ou a superexploração dos recursos naturais,
mas que está especialmente concentrado na desvalorização da força de trabalho)
(Montoro, 2020, p. 74).
Pois bem, a
configuração da crise aberta desde os anos 70 do século XX é determinante na
formação de uma recomposição no interior do bloco histórico ao nível mundial,
em que a hegemonia é do capital financeiro sobre as demais frações do capital,
resultado das dificuldades de valorização desde meados dos anos 1970. Desse
modo, diante da crise do capital, deu-se o processo de desregulamentação
financeira, cujo impulso e estímulo culminaram em um movimento internacional de
expansão desenfreada do capital portador de juros, especialmente na sua forma
de capital fictício (Nakatani; Marques, 2020).
Diante do
aprofundamento da crise, o capital se depara com sua barreira histórica: não produzir mais-valor suficiente (Chesnais; Serfati, 2003). A resposta do capital à crise foi a
tentativa de reconstruir as bases do seu processo de acumulação, especialmente
através de: a) reestruturação produtiva; b) reformas estruturais nos mercados
de trabalho; c) aumento da parcela do valor produzido pelo capitalismo
periférico visando à apropriação/acumulação nos países centrais; d) expansão
dos mercados; e, por fim, e) mudança da lógica de apropriação/acumulação do
capital, a partir do capital fictício (Carcanholo,
2018).
Quanto a
esse último aspecto, a forma com que tomou o capital fictício[1]
na nossa época é uma manifestação do capital portador de juros. Algumas formas
de rendimento que aparecem como decorrentes de capital portador de juros
provêm, na verdade, de capital fictício – promessa de apropriação de uma fração
de valor ainda não produzida. Ou seja, alguns títulos, inicialmente
reconhecidos como capital legítimo, transformam-se em ilusório ou fictício
através do processo de capitalização. Isso significa que esses títulos, dentro
de certos limites, têm correspondência real, mas o volume de capital fictício
cresce ou diminui por razões independentes do seu fundamento real. Dessa
maneira, uma parcela dele pode ter existência puramente ilusória do ponto de
vista da totalidade, ainda que tenha existência real e movimento próprio. Esse
capital fictício torna-se especulativo quando ultrapassa em volume os limites
suportados pela reprodução do capital industrial (Carcanholo; Nakatani, 1999; Carcanholo, 2009; Carcanholo,
2018).
A existência do capital fictício,
de maneira similar à do capital monetário ao qual está acoplado, impõe um
resultado social dramático: não apenas aprofunda as expropriações e intensifica
as maneiras de subalternização dos trabalhadores, como também impele a
comprometer o futuro da integralidade da vida social, transformando-a em mera
condição para a reprodução do capital (Fontes, 2010, p. 38).
Devemos
tomar a análise da crise atual, que se abre após a crise financeira global de
2008, a partir de uma perspectiva que supere seus aspectos conjunturais, pois o
cenário de crise coloca em evidência os limites do desenvolvimento das forças
produtivas para a concretização de mudanças sociais (demográficas, de recursos
naturais e oferta de matérias-primas e tecnológicas) que impulsionem
necessidades sociais mais profundas e urgentes para o conjunto da população
mundial. Partindo dessas premissas, nosso entendimento é de que a atual
recessão e a crise política do tempo presente intensificam ainda mais as
complexas contradições da acumulação capitalista nessa etapa de seu
desenvolvimento histórico, que desde os anos 70 do século XX se apresentam como
“[...] crise de civilização do capital (crise ecológica ou colapso ambiental;
crise de sociabilidade e crise cultural)” (Alves, 2020, p. 10).
Na
realidade, a essência da acumulação capitalista se mostra mais vívida nessas
épocas de crise. É nesse sentido que as expropriações contemporâneas colocam em
risco a existência humana, seja através da expropriação de bens coletivos, seja
por meio de ataques à biodiversidade, aos povos e técnicas de produção
tradicionais. Desse modo, o capital portador de juros e o capital fictício
colocam na ordem do dia o aprofundamento da extração de mais-valor, desprovido
de qualquer preocupação com a vida e a morte de trabalhadores ou mesmo do
planeta. Ou seja, ainda que as formas de remuneração do capital industrial, do
capital portador de juros e do capital fictício sejam diferenciadas, sua
atuação é similar: “[...] impor a ferro e fogo a subordinação geral do conjunto
da população, reduzindo e aplastrando todas as
resistências à pura mercantilização de todas as relações sociais” (Fontes,
2010, p. 39).
Além disso,
de maneira complementar – na esteira de Marx (2013) ao dizer que “[...] a
produção capitalista só desenvolve a técnica e a combinação de processos de
produção social à medida em que solapa os mananciais de toda a riqueza: a terra
e o trabalhador [...]” (Marx, 2013, p. 574) –, destacamos como desdobramento a
preocupação com a chamada questão ambiental, no âmbito “[...] das condições de
reprodução social de certas classes, de certos povos e, até mesmo, de certos
países” (Chesnais; Serfati, 2003, p. 39).
Para
entender o fundamento da questão ambiental, é necessário retomar os fundamentos
sociais do modo capitalista de produção e de dominação social, tendo claro que
a crise ecológica é, antes de tudo, uma crise capitalista. Por isso, é preciso
enfrentar essa reflexão sendo fiel ao espírito crítico de Marx, buscando
perceber os traços predatórios e parasitários desse modo de produção, desde sua
origem, ainda que as consequências ambientais tenham tido um tempo de gestação
e maturação mais longo, aparecendo com importância decisiva na última quadra
histórica (Chesnais; Serfati, 2003).
A relação
com os recursos naturais e com a biosfera não pode ser encontrada por fora dos
fundamentos das relações de propriedade e de dominação. Precisamente, em nossa
época, o capital financeiro mundializado prescinde de uma feroz busca pelo
lucro e pela renovação da dominação social, simultaneamente. O resultado, além
das expropriações, é uma crise ecológica, que corresponde a uma ameaça às
condições de vida e de reprodução social de classes e povos dominados
(Chesnais; Serfati, 2003). Contudo, as formas concretas
da crise do capital – econômica e ambiental – têm particularidades em cada
nação e região, derivadas da posição competitiva das suas burguesias e do
caráter histórico do imperialismo, que representa um fator constitutivo das
estruturas socioeconômicas dos países periféricos.
A conjunção
desses mecanismos integra, de forma subordinada, as economias latino-americanas
à economia mundial. Um dos aspectos agudos dessa contradição refere-se ao forte
controle hegemônico que exerce o capital internacional sobre as burguesias
internas, fator que, assimilado pelo aparato estatal, produz uma espécie de
amálgama de interesses de diversas ordens entre as frações das classes
dominantes, com destaque para três condicionantes histórico-estruturais da
dependência:
(i) o fato empírico recorrente de
perda nos termos de troca, ou seja, a redução dos preços dos produtos
exportados pelas economias dependentes geralmente produtos primários e/ou com
baixo valor agregado em face dos preços dos produtos industriais e/ou com maior
valor agregado importados dos países centrais, em um verdadeiro processo de
transferência de valores; (ii) a remessa de
excedentes dos países dependentes para os avançados, sob a forma de juros,
lucros, amortizações, dividendos e royalties,
pela simples razão de os primeiros importarem capital dos últimos; (iii) a instabilidade dos mercados financeiros
internacionais, geralmente implicando altas taxas de juros para o fornecimento
de crédito aos países dependentes e colocando os países dependentes periféricos
à mercê do ciclo de liquidez internacional (Carcanholo,
2008, p. 254-255).
Nesse
sentido, não é concebível dissociar as destruições ambientais das expropriações
e da violência contra as condições de vida das classes trabalhadoras e
subalternas que vivem sob o signo do capitalismo dependente. Diante disso, é
fundamental investigar os nexos entre a exploração econômica, as expropriações,
a crise ambiental e a dominação política que condicionam a relação entre as
diferentes formações econômico-sociais que compõem o sistema capitalista
mundial. Dessa maneira, buscamos, a seguir, a contradição gerada pela dinâmica
capitalista, através do interesse das classes dominantes, no âmbito da formação
econômico-social boliviana nesse período recente.
3 A Bolívia e a realidade socioambiental contemporânea
As
incertezas acerca do futuro do suprimento energético, do consumo que se acelera
e do aprofundamento da crise ecológica que ameaça a humanidade como uma “[...]
catástrofe ambiental planetária em curso com raízes no sistema econômico
capitalista [...]” (Foster, 2012, p. 87) evidenciaram os limites para a
expansão das cadeias produtivas ante a crise e a manutenção dos padrões das
matrizes energéticas mundiais, com base na dependência dos combustíveis
fósseis. Estes, por serem fonte significativa de emissão de poluentes, também
proporcionam suscetibilidades econômicas e geopolíticas, posto que ensejam
conflitos que remontam ao final do século XIX e alcançam a atualidade. Para
Igor Fuser e Rafael Abrão (2020), a conflituosidade
que cerca o uso de combustíveis fósseis está na base da economia política de
energia, que, pautada na percepção da escassez (dado que as fontes são
sabidamente finitas), torna inevitável a associação dessa matriz energética ao
conflito, gerado pela “[...] intensa competição à medida que esses recursos não
suprem a crescente demanda mundial” (Fuser; Abrão,
2020, p. 48).
Desse modo,
a conjuntura internacional alterou a posição relativa de diversos países da
América Latina em decorrência de serem locais decisivos, áreas privilegiadas
pela disponibilidade de recursos naturais e minerais, que suscitam as
possibilidades de sua exploração através das grandes multinacionais. Assim
sendo, “[...] dando continuidade ao processo de ocupação e predação sobre o
território latino-americano, que iniciou no século XIV, o grande capital
financeiro tem se voltado agora com novas estratégias imperialistas sobre o
subcontinente” (Santos, 2019, p. 205). É possível mesmo se falar em uma nova
reconfiguração espacial da América Latina, que se faz por meio da divisão
do subcontinente a partir das “[...] zonas estratégicas (que são áreas que
suscitam, por algum motivo, interesse) a partir da lógica do capital e suas
necessidades atuais” (Santos, 2019, p. 206).
Países com
alto grau de biodiversidade e com grande riqueza natural mineral se apresentam
como espaços importantes de serem observados pelo capital internacional. É o
caso da Bolívia, por exemplo, que, além de reunir essas características, ainda
“[...] possui a maior população indígena em termos proporcionais da América
Latina [...]” (Aranda, 2004, p. 72), que, em recorrentes momentos da história
nacional, foi e é ator político marcante. Esse país, a partir de 2006, passou
por um processo de refundação do Estado, segundo os termos atribuídos,
sobretudo, pelas próprias forças políticas ligadas ao Movimento ao Socialismo –
Instrumento Político para a Soberania do Povo (MAS–IPSP), a saber, as
organizações camponesas e os movimentos indígenas. Foi através da força desse
corte social que, em 2005, Evo Morales foi eleito como o primeiro presidente
indígena da Bolívia, tendo permanecido no poder (por meio de reeleição) até
2019 – quando foi vítima de um golpe militar que o obrigou, junto ao seu vice
Álvaro Garcia Linera, a renunciar.
Desse modo,
entre 2006 e 2019, ocorreram mudanças importantes na Bolívia em todas as áreas,
incluindo a estratégia de desenvolvimento, que se tornou neoextrativista,
com foco nas exportações minerais ou de derivados da mineração e da exploração
do solo. É central demarcar que esse país e outros do subcontinente merecem
atenção, pois, além de possuírem fontes fornecedoras de recursos chamados estratégicos,
ainda passaram nas últimas décadas por reformulações das suas políticas
econômicas, com o Estado e seus governos cumprindo papel decisivo na elaboração
e efetivação de projetos nacionais neodesenvolvimentistas,
ainda que centrados na extração e na utilização estratégica dos recursos
naturais nacionais com um discurso pautado na ideia de financiamento de
políticas sociais inclusivas e impulsionadoras de outros setores econômicos.
Todavia,
embora a ascensão de Evo Morales tenha produzido uma abertura para pensar a
questão indígena na América Latina, dado que se indicava existir um novo
horizonte de rompimento das “[...] barreiras de um Estado colonial, racista e
patriarcal em favor do movimento indígena autorrepresentado
[...]” (Bruce, 2020, p. 364), o bloco no poder e seu projeto neodesenvolvimentista estabelece, segundo Aldo Durán Gil
(2008), uma continuidade de favorecimento do capital internacional. Por um
lado, há um processo de cambio,
lastreado na defesa de uma política econômica, tendo o Estado como controlador
dos recursos naturais para fazer da sua exploração a alavanca do
desenvolvimento do país. Mas, ao mesmo tempo, existem as “[...] fissuras em sua
base popular, principalmente após a reeleição em 2009 de Morales [...]”
(Santos, 2017, p. 63), que já demonstravam os profundos limites desse modelo,
com impacto direto sobre as formas de vida e organização dos povos originários.
Muito
embora a pretensão fosse, a partir do modelo nacional produtivo, transformar
esse país numa potência mineira, mediante um grande salto industrial
assentado no extrativismo, a Bolívia (e outros países que seguiram a mesma
lógica – como Equador e Venezuela), segundo Aguiar e Carvalho (2014, p. 29),
“[...] parecem não ter se libertado do modelo clássico extrativista que, há
mais de 500 anos, nos delega a uma devastação social e ambiental e nos submete
a uma dependência econômica como países exportadores de matérias-primas”.
Assim,
tomando por base a compreensão da dinâmica capitalista internacional de
necessidade de novas fontes de energia, diretamente ligada ao acirramento do
avanço e da degradação sobre certas áreas ambientais, que se soma à exploração
em países periféricos, é possível apontar a existência de um novo imperialismo
ecológico[2],
readequado ao conjunto dos interesses daqueles que disputam a hegemonia do
capitalismo mundial. Alguns estudiosos, segundo Bilbao (2013), colocam esse
processo no mesmo patamar de importância de períodos de transição como o da
mudança da sociedade agrária para a industrial, ou seja, uma grande
transformação.
Entre os
países que figuram com diferenciada posição enquanto área de interesse mundial
diante das mudanças energéticas que se apresentam, estão aqueles que
disponibilizam matérias-primas fundamentais para a produção tecnológica de
mobilidade elétrica. No mundo, os maiores depósitos de minerais para a
fabricação de baterias localizam-se na América do Sul, nos salares
andinos, compondo uma região conhecida como Triângulo do Lítio, abarcando
Chile, Argentina e Bolívia (Calvo, 2019).
Considerado
o ouro branco que sustentará o novo modelo energético mundial, o lítio da
Bolívia (que guarda a maior reserva do mundo desse metal em depósito evaporítico), encontra-se no Salar de Uyuni,
um deserto de sal de 12 mil quilômetros quadrados (Evans, 2008), localizado no
sul boliviano, no distrito de Potosí. Por conta da “[...] crescente demanda
mundial do recurso para a fabricação de pilhas e baterias de celular, de notebooks e de veículos elétricos”
(Rodrigues; Padula, 2017, p. 198), as empresas chinesas[3]
figuram entre as principais interessadas nas jazidas bolivianas. Em maio de
2023, as multinacionais chinesas CATL, BRUNP e CMOC (CBC), juntamente à estatal
Yacimientos de Litio Boliviano (YLB), anunciaram que
“[...] firmaram acordo para a construção de duas usinas de produção nas salinas
bolivianas de Uyuni e Coipasa,
usando a tecnologia EDL (extração direta de lítio), que estarão prontas em
2025” (Pelcastre, 2023, não paginado). Enquanto um
legítimo recurso estratégico, segundo conceituação de Fornillo (2018), o grande interesse pelo lítio demarca-o
como crucial tanto para o funcionamento do modo de produção capitalista quanto
para a manutenção da hegemonia regional e mundial.
Entretanto,
por ser o extrativismo um fundamento marcante da formação econômico-social
boliviana, além de atrair interesses externos, esse modelo produtivo tem,
historicamente, colocado o país em estado de instabilidade política interna,
suscitada pela disputa e controle dos recursos minerais e/ou energéticos. A lógica
neoextrativista[4], que
dá sustentação a diversos programas sociais bolivianos, não se isenta das
clássicas formas predatórias, motivo pelo qual, diante da crise dos rendimentos
com a exploração do gás, o avanço sobre áreas ambientais protegidas, por
exemplo, mostra-se sempre como barreira a ser superada (Adital,
2015).
A questão
colocada é que em 90% das áreas protegidas da Bolívia se encontra população
indígena (Comegna, 2006, p. 148) e a Constituição do
Estado Plurinacional desse país, além de reconhecer a autonomia desses sujeitos
sociais, estabelece os recursos naturais, como hidrocarbonetos e minerais,
enquanto bem do povo boliviano. Mas, ao observar-se os impactos da ampliação
das fronteiras extrativistas[5]
do país sobre áreas protegidas, evidenciam-se os reais contornos da exploração
sem limites dos recursos naturais e a “[...] oposição entre o meio ambiente e
as demandas da sociedade tecnológica” (Comegna, 2006,
p. 146). Estaria posto para a Bolívia a “[...] tragédia da exploração privada
dos comuns” (Foster; Magdoff, 2011, p. 70)?
●
O avanço
sobre as áreas de proteção ambiental bolivianas precisa ser lido no bojo dos
processos de flexibilização das legislações ambientais nos países periféricos,
fruto das pressões do grande capital em crise. Também são as evidências dos
limites e das contradições que permeiam a existência de um Estado Plurinacional
(nascido das reivindicações históricas dos movimentos indígenas e campesinos)
que manteve e legitima os grandes latifúndios e a lógica de acumulação de um
sistema de exploração extrativista da natureza nacional.
Ao mesmo
tempo, enquanto “[...] los gobiernos
considerados como progresistas [...] criminalizan la protesta popular en contra de las actividades extractivistas, con el único fin
de garantizarlas [...]” (Acosta, 2011, p. 107-108),
os acordos econômicos firmados entre países centrais e periféricos, como os que
envolvem projetos pela busca de uma nova matriz energética, aprofundam o que
José Seoane (2012) denomina como um processo de dependência e de retorno da
colonização e da mercantilização do ecossistema. Essa ofensiva extrativista,
segundo expressão de Seoane (2012), dá-se de modo a assolar os modos de ser e
existir dos povos indígenas e campesinos, a exemplo das comunidades indígenas
da Zona do Salar, população que, vivendo hoje da agricultura e da mineração
artesanal na região, muito em breve experimentará o peso de estar na rota das
empresas em sua corrida pelo lítio.
Em direção
à ideia de uma matriz menos poluente que atenda aos anseios dos países
centrais, a conta do processo se reedita sendo descontada nas costas da América
Latina, sob os custos da espoliação, saque dos recursos naturais, repressão e
genocídio dos povos originários, em uma combinação de destruição da vida e da
biodiversidade local (Janetsky et al., 2024), para fatiar regiões como a do Salar. Nesse sentido,
o processo de disputa pelos recursos bolivianos e a contraditória estratégia neodesenvolvimentista parecem confirmar que as disputas em
meio à atual crise de hegemonia mundial perpassam esse país do subcontinente,
colocando em jogo as populações indígenas, seu patrimônio e sua base de
acumulação.
Com isso,
em meio à instabilidade como marca da história política da nação boliviana,
percebemos o avanço das linhas de força reacionárias no interior da ordem
democrático-burguesa nesse país através da crise que levou ao Golpe de 2019 que
derrubou Evo Morales e a mais recente tentativa de golpe em junho de 2024
contra o presidente Luis Arce (também do MAS). Por
outro lado, há os povos andinos com seus extensos territórios, sua
biodiversidade e depósitos minerais, bem como seus conhecimentos tradicionais,
postos em xeque ante os atuais conflitos de interesses, com isso, fomenta-se a
atualização do significado histórico das rebeliões indígenas.
4 Considerações finais
A dialética
entre desenvolvimento e dependência nas formações econômico-sociais da América
Latina – especialmente a boliviana, sobre a qual nos debruçamos – nestas
primeiras décadas do século XXI, expressa a dimensão contraditória entre a
acumulação de capital e as barreiras ao desenvolvimento das forças produtivas.
O processo de produção, numa lógica neoextrativista,
ao tempo que favorece a inserção desses países dependentes no mercado mundial,
fá-lo em detrimento dos recursos ambientais. Com isso, a busca pelo desenvolvimento
não só não garante o progresso
civilizatório da humanidade como compromete seu futuro.
A crise do
capital, que toma múltiplas formas – crise financeira, crise democrática, crise
ambiental etc. –, evidencia os limites desse modo de produção, ao tempo em que
aprofunda os processos de superexploração da força de trabalho e as
expropriações, resultando em ataques sistemáticos aos principais componentes
das forças produtivas – a força de trabalho e a natureza. Isso significa, em
última instância, uma ameaça às condições de produção e reprodução da vida
social, especialmente das classes e povos subalternos.
A
estratégia neodesenvolvimentista/neoextrativista
da Bolívia não escapa às formas predatórias de exploração e expropriação,
avançando como um trator sobre áreas ambientalmente protegidas. Com isso, os
governos, mesmo os progressistas, em nome dessa estratégia, não titubeiam, ao
criminalizarem movimentos sociais para assegurar o fluxo de recursos da
periferia em direção ao centro, em troca de recursos para financiar seus
programas sociais. Contudo, pela própria dinâmica da luta de classes, os rumos
políticos são acidentados, e esses ataques – diante da fome do capital –
precisam ser aprofundados. Daí podemos entender, por exemplo, golpes de Estado
voltando à cena política boliviana. Ou seja, a questão democrática aparece como
obstáculo aos interesses do capital em crise. Contudo, esse país tem a maior
população indígena da América Latina, que não deve ficar impassível diante da
urgência do capital pelos recursos bolivianos.
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Cláudia Maria Costa GOMES Trabalhou na concepção, delineamento, análise e interpretação dos
dados. Na redação, revisão crítica e aprovação da versão a ser publicada.
Doutora
pelo Programa de Pós-graduação em Serviço Social da Universidade Federal de
Pernambuco. Professora Associada do Departamento de Serviço Social da
Universidade Federal da Paraíba. Bolsista de Produtividade em Pesquisa do
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – Nível 2.
O presente trabalho foi realizado
com apoio financeiro do CNPq.
Nivalter Aires dos SANTOS Trabalhou na concepção, delineamento, análise e interpretação dos
dados. Na redação, revisão crítica e aprovação da versão a ser publicada.
Doutor pelo
Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte. Pesquisador de Pós-doutorado no Programa de Pós-graduação em
Serviço Social da Universidade Estadual da Paraíba. O presente trabalho foi
realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior – Brasil (CAPES) – Código de Financiamento 001.
Janaina Freire dos SANTOS Trabalhou na concepção, delineamento, análise e interpretação dos
dados. Na redação do artigo.
Doutora
pelo Programa de Pós-graduação em Ciências Social da Universidade Federal de
Campina Grande. Professora da Autarquia Educacional de Serra Talhada.
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Editoras responsáveis
Ana Targina Ferraz – Editora-chefe
Camilla dos Santos Nogueira – Editora Temática
Submetido em: 19/8/2024. Aceito em:
18/9/2024.
Este é um artigo publicado em acesso
aberto (Open Access) sob a licença Creative Commons Attribution, que permite
uso, distribuição e reprodução em qualquer meio, sem restrições desde que o
trabalho original seja corretamente citado. |
[1] Marx (2017) não define capital fictício,
como é característico de seu método, mas apresenta suas formas, deixando claro
que esse tipo, fictício, de capital não guarda relação com a produção de
mercadorias, apagando qualquer rastro de conexão com o processo real de
valorização do capital, tendo, com isso, um movimento próprio.
[2] Embora tenha prescindido de uma análise
que tomasse o capitalismo como fator preponderante no processo de degradação
ambiental, imperialismo ecológico se refere ao termo cunhado por Alfred
Crosby (2002) para descrever como a natureza foi atingida por processos de
expansão colonial. Contudo, no início dos anos 2000, o termo foi utilizado em
uma chave crítica marxista, a partir dos textos de John Bellamy Foster e Brett
Clark (2004).
[3] Além da China, empresas da Coreia do Sul
e do Japão também lideram a produção de baterias. Embora a China sozinha seja
responsável por mais de 40% da produção mundial de baterias de lítio, em se
tratando de veículos elétricos, que dependem dessas baterias, o maior produtor
é a empresa estadunidense Tesla, tendo fabricado, em 2021, 936 mil unidades
(Watanabe, 2023, p. 17).
[4] Para Gudynas
(2009), esse modelo se diferencia do extrativismo clássico, entre outros
aspectos, pela atuação mais ativa do Estado, que entra como agente
compensador, que promove o capitalismo nacional, ao passo que mitiga
impactos sociais a partir do uso de recursos dessa base de acumulação em
políticas sociais de combate à pobreza, numa verdadeira busca por legitimação
do extrativismo.
[5] Em abril de 2013, o Governo Morales
editou o Decreto Supremo 2366 anunciando a flexibilização sobre 11 das 22 áreas
protegidas, com vistas à exploração.