Chamada Dossiê CADECS - Cidades e naturezas: perspectivas sobre o mundo urbano contemporâneo

24-10-2023
Dossiê: Cidades e naturezas: perspectivas sobre o mundo urbano contemporâneo
  • Flávio Leonel Abreu da Silveira (UFPA)
  • Ana Luiza Carvalho da Rocha (UFRGS)

             A proposta deste número da Revista CADECS é a de promover um debate de caráter interdisciplinar sobre as problemáticas socioambientais e ecossistêmicas das/nas cidades no contexto latino-americano na contemporaneidade. Neste sentido, as reflexões em torno das cidades, considerando os complexos imbricamentos de elementos vários na sua conformação socioespacial e simbólica, envolvendo laços e dilemas coexistenciais entre os diversos entes vivos e não-vivos, revela-se não apenas necessária como urgente para o entendimento da cidade enquanto fenômeno vinculado ao anthropos. Daí a necessidade de reflexões que mobilizem arcabouços teórico-metodológicos que permitam a compreensão de tais complexidades inerentes ao fenômeno urbano, neste caso, de suas nuances, conflitos e congraçamentos mais-que-humanos, considerando-se as interações entre a mesmidade (o intra-humano/a intra-específico) e o diverso de si (a outridade/o inter-específico) no meio urbano multiespécies. Portanto, a proposta volta-se a certa ecologia urbana que indica a configuração de paisagens coexistenciais em processo como expressões do mundo urbano, de um imaginário urbano onde somos/estamos com os Outros.

            A discussão abre-se ao diálogo e apresenta-se conforme as ponderações de profissionais de diferentes campos do conhecimento em conversa com a Antropologia, especialmente sobre as dinâmicas urbanas possíveis e as formas de gestão de seus processos em termos simbólico-práticos, e por isso articuladores de natureza(s) e cultura(s) para a/na conformação do mundo urbano multiespécies. O debate em questão evoca a necessidade de cotejarmos imagens, redes de relações, processos interacionais e formais da/na cidade que, por certo, a constituem, mas que também as ultrapassam. Daí as complexidades na gestão do vivo/dos processos ecológicos no mundo urbano quando se pensa em seus trânsitos/permanências/emergências/proliferações; as (des)continuidades entre rural e urbano nas dinâmicas ecossistêmicas e a produção de espaços híbridos; as possibilidades coexistenciais entre humanos, animais e/ou vegetais (domésticos, silvestres, asselvados) na urbe; a relevância de áreas verdes públicas, da arborização urbana e de quintais domiciliares para a (co)existência/conservação da biodiversidade urbana; a presença de Unidades de Conservação Urbanas para a permanência/mobilidade/repovoamento de espécies na/da cidade; o parcelamento do solo e a destruição dos territórios coexistenciais e ecossistemas urbanos; a presença e conservação dos mananciais hídricos nas cidades (os projetos infra-estruturais de saneamento básico, o debate sobre Comitês de Bacias Hidrográficas) quando se pensa numa antropologia das águas urbanas, entre outros temas.

            O número em questão permite ao nosso ver o entendimento das vicissitudes mais-que-humanas na (co)produção de nichos (com)partilhados e a emergência (agentiva, dinâmica) das paisagens citadinas como fenômenos abertos e tensionais com outros mundos, assim como de formas de habitar as cidades que revelam a heterogeneidade sociocultural e multiespécie que elas abarcam. Este número da revista CADECS intenta, desta forma, provocar os/as autores/as a refletirem sobre as possibilidades das dimensões conviviais citadinas/urbanas enquanto espaços praticados mais-que-humanos e habitats co-criativos, no sentido da coprodução de nichos (comuns, negociados, plurais) entre/com diversos entes em relação para a conformação/configuração das paisagens citadinas e, por isso mesmo, tensionais, entre naturezas e culturas no mundo urbano contemporâneo.

A ser publicado no Cadecs - Caderno Eletrônico de Ciências Sociais, volume 12, número 2

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