Organizações não governamentais mobilizando o Direito contra os transgênicos: estratégias, alianças e enquadramentos

Autores

  • Luiza Duarte Bissoli Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)

DOI:

https://doi.org/10.24305/cadecs.v4i2.2016.17343

Resumo

Este artigo é fruto de reflexões produzidas a partir de duas pesquisas já finalizadas. Nele adotamos, principalmente, as abordagens teóricas da mobilização do Direito ao trazer o caso de duas organizações não governamentais (ONGs) — o Instituto de Defesa do Consumidor (IDEC) e a Assessoria e Serviços a Projetos em Agricultura Alternativa (AS-PTA) — na luta contra os transgênicos. Para McCann (1991), a grande contribuição desta agenda foi trazer aspectos de atores não tradicionais do Direito para os estudos envolvendo a busca da sociedade pelo Judiciário. Ambas as associações estudadas possuem significativos recursos de mobilização e certo acesso às arenas estatais. Desde a chegada dos transgênicos no Brasil, pautaram o debate, ainda que diante de grande fechamento institucional à participação e deliberação sobre o tema. Concluímos que houve adoção de estratégias diferenciadas que compuseram essas lutas e que, partindo da perspectiva de Rutch (2004), há demarcação de diferenças entre aliados. Para ele, nem toda aliança se dá entre atores com objetivos específicos e estratégias iguais. A mobilização do Direito se mostrou essencial para repertórios de ação coletiva dessas organizações e seus parceiros, não correspondendo somente ao Direito ligado às cortes, mas também à formação de frames e adoção de estratégias que constroem significados e motivações.

Non-governmental organizations mobilizing the law against genetically modified organism (GMOs): strategies, alliances and frameworks 

This article is the result of two studies already finalized. Our mainly theoretical approach is the mobilization of law by two non-governmental organizations (NGOs) — Instituto de Defesa do Consumidor (IDEC, Brazilian Consumer Protection Agency) and Assessoria e Serviços a Projetos em Agricultura Alternativa (AS-PTA, Consultancy and Services for Projects in Alternative Agriculture) — in the fight against Genetically Modified Organisms (GMOs). According to McCann (1991), the great contribution of this agenda highlighted aspects of non- traditional law actors for studies aimed at learning the social use of the judicial system. Both organizations have significant resource mobilization and access to certain state arenas. Since the arrival of GMOs in Brazil, they guided the debate over this issue even when institutional participation and deliberation on the subject have been restricted. We concluded that there have been different strategies that made up these struggles and, starting from Rutch perspective (2004), there are differences in the way the alliances were established. Per this author, not every alliance occurs between actors with the same objectives and strategies. The mobilization of law proved essential for collective action repertoires of organizations and their partners, not only in court decisions, but also in the formation of frames and the adoption of strategies to build meanings and motivations. 

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

BARBOSA, Frederico da Silveira. 2009. O Controle dos transgênicos agrícolas no Brasil. Dissertação de mestrado em Ciências Sociais na PUCSP.
BISSOLI, Luiza Duarte. 2016. O campo de mobilização do direito contra os transgênicos: repertórios, atores e enquadramentos. Dissertação de Mestrado.
BOTTOMORE, Tom; OUTHWAITE, William. 1996. Dicionário do pensamento social do século XX. Tradução de Álvaro Cabral e Eduardo Francisco Alves. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed.
BURSTEIN, Paul. 1991. Legal mobilization as a social movement tactic: the struggle for equal employment opportunity. American Journal of Sociology, pp. 1201-1225.
HILSON, Chris. 2009. Framing the Local and the Global in the Anti‐nuclear Movement: Law and the Politics of Place. Journal of Law and Society, v. 36, n. 1, pp. 94-109.
JAMES, Clives. 2011. Situación mundial de la comercialización de cultivos biotecnológicos/ MG en 2011. ISAAA, nº 43.
LOSEKANN, Cristiana. Mobilização do direito como repertório de ação coletiva e crítica institucional no campo ambiental brasileiro. Dados, pp. 311-349, 2013.
LOSEKANN, Cristiana; BISSOLI, Luiza Duarte. 2015. O litígio estratégico na luta antitransgênicos no Brasil. Revista de Direitos e Garantias Fundamentais, v. 16, n. 1, pp. 75-108, 2015. ______________. 2017. Direito, Mobilização Social e Mudança Institucional. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 32, n. 94.
MACIEL, Débora Alves; PRATA, Paula da Silva Brito. 2011. Movilización por nuevos derechos y cambio legal: La campaña por la Ley Maria da Penha. Revista Política, v. 49, nº 1, pp. 139-170.
MACIEL, Débora Alves. 2015. Mobilização de direitos no Brasil: grupos e repertórios. Disponível em: http://sociologia.fflch.usp.br/sites/sociologia.fflch.usp.br/files/Mobiliza% C3%A7%C3%A3o%20de%20direitos%20D%C3%A9bora%20A%20Maci el%20_%20LAPS.pdf, Acesso em novembro, 2015.
MCCANN, Michael. 1991. Legal mobilization and social reform movements: Notes on theory and its application. Studies in Law, Politics, and Society, v. 11, pp. 225-254.
McCANN, Michael. 2006. Law and Social Movements: Contemporary Perspectives. Annu. Ver. Law Soc. Sci., v. 2, pp. 17-38.
PINTO, Céli Regina Jardim. As ONGs e a política no Brasil: presença de novos atores. Dados: Revista de Ciências Sociais. Rio de Janeiro, vol. 49, nº 3, pp. 651-670.
POLLETTA, Francesca; HO, M. Kai. 2008. Frames and their consequences. In.: GOODIN, Robert E.; TILLY, Charles. The Oxford handbook of contextual political analysis. Oxford Handbooks Online, pp. 187-209.
PORTILLO, Shannon. 2011. Social Equality and the Mobilization of the Law. Sociology Compass v. 5, nº11, pp. 949-956.
RHOADES, Cecilia C.; RHOADES, Philip W. 1992. Agricultural pesticide abuse in texas: a case study in the mobilization of law. American Journal of Criminal Justice, Vol. XVII, nº1.
RUCHT, Dieter. 2004. Movement allies, adversaries, and third parties. In.: Snow, David A., Sarah A. Soule, and Hanspeter Kriesi, eds. The Blackwell companion to social movements. John Wiley & Sons, pp. 197- 216.
TARROW, Sidney. 2009. O Poder em movimento: movimentos sociais e confrontos políticos. Tradução de Ana Maria Sallum. Petropólis, RJ: Vozes.
VANHALA, Lisa. 2010. Twenty-five years of disability equality? Interpreting disability rights in the Supreme Court of Canada. Common Law World Review, v. 39, nº 1, p. 27-47.
VANHALA, Lisa. 2012. Legal Opportunity Structures and the Paradox of Legal Mobilization by the Environmental Moviment in the Uk. Law & Society Review, Volume 46, nº 3.

Downloads

Publicado

03-09-2017