MEMÓRIA AMBIENTAL E POPULAÇÃO NEGRA EM PORTO ALEGRE: O ATERRO DO BAIRRO PRAIA DE BELAS
DOI:
https://doi.org/10.47456/cadecs.v12i1.45352Resumo
O artigo aborda a memória dos aterros na cidade de Porto Alegre, com destaque para o bairro Praia de Belas. A cidade, situada às margens do rio Guaíba, optou por realizar aterros ao longo de seu desenvolvimento urbano, visando soluções para inundações e saneamento. O bairro Praia de Belas é um dos locais onde esses aterros foram realizados de forma expressiva entre 1950 e 1970, transformando a paisagem urbana e a dinâmica dos moradores locais. Além das áreas residenciais, foram criados parques, prédios administrativos e o Estádio Beira Rio sobre a área aterrada. Antes desse processo, o local era composto por chácaras e sítios, e um dos proprietários da área, Antônio Rodrigues Belas, foi responsável pela abertura de uma estrada importante para a comercialização de escravizados na região, o que evidencia a relação do bairro com o passado escravagista da cidade. Ao longo do texto, reflito sobre a tradição do local como terra de povo negro, emergindo como uma comunidade em uma área difícil de habitar e estigmatizada ao longo da história. O texto foi elaborado a partir de uma perspectiva da antropologia urbana e da memória coletiva, explorando a intersecção entre as experiências históricas da população negra e as paisagens urbanas de Porto Alegre. Com inspiração nos trabalhos de Gilberto Velho sobre sociedades complexas e guiado pela abordagem da etnografia da duração de Cornélia Eckert e Ana Luiza Carvalho da Rocha, o estudo foi desenvolvido durante o período de mestrado em Diversidade Cultural e Inclusão Social na Universidade FEEVALE e de doutoramento em Antropologia Social na UFRGS, e enquanto pesquisadora associada, em diálogo com o Banco de Imagens e Efeitos Visuais (BIEV).
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