A colonialidade nas origens do pensamento racial brasileiro

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DOI:

https://doi.org/10.47456/cadecs.v12i1.45362

Resumo

Nas diversas concepções sobre as relações raciais surgidas ao longo do século XX, percebe-se que há uma forte relação com as movimentações das elites brasileiras e dos movimentos sociais. Ao seu tempo, com suas próprias limitações históricas, algumas concepções se afirmaram e outras abriram uma alternativa de interpretação da realidade brasileira. Não há dúvida de que os trabalhos de Florestan Fernandes e Carlos Hasenbalg abriram uma ruptura epistemológica relevante para as atuais reflexões políticas e educacionais do século XXI. Esse texto pretende debater como a racialização, a ideologia do branqueamento e o mito da
democracia racial, enquanto categorias de análise das relações raciais brasileiras, foram forjadas desde meados do século XIX, a partir do conceito de colonialidade. Ou seja, um conceito que nos mobiliza a pensar a partir de experiências subalternas, aquilo que as elites republicanas e sua intelectualidade tentaram impor, ou seja, um projeto de nação perpetrado por uma geopolítica do conhecimento. Colonialidade é entendida aqui como, um padrão de poder que surge como resultado do colonialismo moderno europeu, porém, não se limita “a uma relação formal de poder entre os povos ou nações, refere-se à forma como o trabalho, o conhecimento, a autoridade e as relações intersubjetivas se articulam entre si através do mercado capitalista mundial e da ideia de raça”. (MALDONADO-TORRES, 2007, p. 131). A colonialidade sobrevive até hoje “nos manuais de aprendizagem, nos critérios para os trabalhos acadêmicos, na cultura, no senso comum, na autoimagem dos povos, nas aspirações dos sujeitos, e em tantos outros aspectos de nossa experiência moderna”. (idem).

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Biografia do Autor

Luiz Fernandes de Oliveira, UFRRJ

Doutor em Educação pela PUC-Rio. Professor do Licenciatura em Educação do Campo da UFRRJ. Membro do Grupo de Pesquisa em Políticas Públicas, Movimentos Sociais e Culturas (GPMC).

Mônica Regina Ferreira Lins, UERJ

Doutora em Políticas Públicas e Formação Humana (PPFH-UERJ), Professora Associada do Instituto de Aplicação Fernando Rodrigues da Silveira – CAp-UERJ e Professora do Programa de Pós-Graduação em Ensino Básico PPGEB/CAp-UERJ. Membro do Grupo de Pesquisa em Políticas Públicas, Movimentos Sociais e Culturas (GPMC).

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Publicado

28-07-2024