Ghost bikes: Iconografia da morte e externalização do luto na cidade de Vitória/ES

Autores

  • Paloma Barcelos Teixeira UFES

DOI:

https://doi.org/10.47456/cadecs.v12i1.47270

Resumo

Considerando as Ghost Bikes como ícones urbanos, pouco estudados no ambiente acadêmico, objetiva-se por meio deste artigo definir as Bicicletas Fantasmas como ferramentas de luto externalizado no espaço público e representar como a popu- lação interage com esse ícone da morte disposto na cidade. Para isso, narramos dois casos em que as ciclistas falecidas foram homenageadas com Bicicletas Fantasmas na cidade de Vitória, capital do Espírito Santo. Do mesmo modo, analisamos o perfil do Coletivo Pedalamente, grupo que participa ativamente da pro- dução das Bicicletas Fantasmas na cidade, buscando compreen- der o movimento cicloativista em Vitória. Observa-se que as Bi- cicletas Fantasmas são capazes de transformar o luto individual em luto coletivo, onde a memória coletiva da cidade é ativada. Além disso, esses monumentos de base transformam o espaço público em um local não oficial de luto, mas, para além, transfor- mam, também, as ruas em espaços de resistência e de luta por melhores condições de pedalar nas cidades. Concluímos que as Bicicletas Fantasmas podem ser compreendidas como a exter- nalização do luto na cidade contemporânea e como suporte aos enlutados, sendo assim, as Bicicletas Fantasmas representam muito mais do que o georeferenciamento do local de um acidente, representando um compromisso contínuo de lutar por melhorias nas infraestruturas cicloviária e pelo direito à cidade.

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Biografia do Autor

Paloma Barcelos Teixeira, UFES

Mestra e doutoranda em Geografia na Universidade Federal do Espírito Santo, com foco na historiografia dos cemitérios de Vitória/ES e em toponímia urbana. Membro associada da Associação Brasileira de Estudos Cemiteriais (ABEC).

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Publicado

21-01-2025