Por que enterrar na várzea?: concepções sobre a morte e o morrer para um povo tradicional camponês que habita à margem do rio Solimões, Amazonas
DOI:
https://doi.org/10.47456/cadecs.v12i1.47371Resumo
Este artigo assume o propósito de apresentar a pers- pectiva do povo tradicional camponês de uma comunidade de várzea do Estado do Amazonas a respeito da morte e do morrer. Os comunitários que vivem à beira do rio Solimões têm o costume de sepultar seus mortos em terreno próximo de suas casas, con- tudo a várzea sofre com o processo de erosão fluvial, quando o movimento de cheia e vazante do rio derruba grandes pedaços de terra, o que leva às águas partes do cemitério comunitário ao longo do ano. Existe a possibilidade de o povo tradicional enterrar seus mortos em terra firme, mas ele prefere que os corpos per- maneçam em terreno de instabilidade, criando estratégias para evitar as quedas das urnas funerárias na água do rio Solimões. Este artigo foi construído sob a égide de uma pesquisa qualitati- va, com abordagem sociológica, por meio de entrevista profunda, como sugere Bourdieu, que é quando podemos ouvir os partici- pantes quantas vezes forem necessárias, mas também traz para a discussão questões filosóficas e, sobretudo, a antropologia da morte. A discussão dos dados é de cunho fenomenológico. Foram aplicados questionários com 6 comunitários, 3 homens e 3 mulheres, algumas das pessoas de maior importância da comu- nidade, contendo perguntas abertas e fechadas, cuja intenção foi investigar as concepções locais sobre a morte e o morrer e por que o povo tradicional tem o costume de sepultar seus mortos em terreno de instabilidade. A Pesquisa de Campo foi realizada entre junho e agosto de 2024. Os resultados dão conta de que o hábito de sepultar na várzea tem a ver com o sistema de crenças local.
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