Caminhar entre covas de decomposição rápida: população em situação de rua e a reprodução da invisibilidade social
DOI:
https://doi.org/10.47456/cadecs.v12i1.47395Resumo
Neste esforço, parto de uma descrição sobre a experiência de caminhar no espaço reservado aos óbitos não comercializáveis de um cemitério para refletir sobre os processos e práticas que constituem este tipo específico de morrer, que é reservado majoritariamente àqueles que experimentam a situação de rua no desenlace das suas existências. Reflito sobre a perpetuação definitiva da invisibilidade social do viver para o morrer neste espaço reservado, bem como o atravessamento desta nas técnicas do governo da vida enquanto um paradigma necropolítico do nosso tempo. Concluo com a ênfase para a centralidade da morte, do morrer e dos mortos para pensar o fenômeno da população em situação de rua no Brasil.
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