CONDOMINIZAÇÃO DO COTIDIANO: A MORALIZAÇÃO DO ESPAÇO DE MORAR NO RESIDENCIAL CAMBOA

Autores/as

  • Maysa Mayara Costa de Oliveira UFNT

DOI:

https://doi.org/10.47456/c8m8n025

Resumen

Este artigo tem como objetivo trazer uma reflexão a respeito das experiências vividas pelos moradores de um Residencial construído pelo Programa de Aceleração do Crescimento-PAC, na capital São Luís. O Residencial Camboa foi inaugurado pelo projeto PAC Rio Anil, em novembro de 2009, e possibilitou obras de revitalização no bairro, símbolo de um projeto que traria “dignidade” para as famílias que viviam em palafitas. Com o tempo, o conjunto virou zona de disputa pelo tráfico de drogas, com frequentes tiroteios, mortes por execução, dando uma conotação pejorativa ao local, sendo apelidado por “Carandiru”, antiga penitenciária de São Paulo. Além disso, as diferenças entre os bairros de origem de seus moradores fizeram com que as fronteiras e o sentimento de pertencimento em relação às suas antigas localidades justificassem os conflitos existentes no Residencial, algo demarcado na fala dos moradores pela “mistura das favelas”. Centrando a atenção na forma das relações sociais nesse novo espaço – fruto de um projeto de governo onde se busca implementar um modelo de moradia (apartamento) e um projeto de reordenação espacial de populações periféricas – este trabalho tem, por fim, o objetivo de analisar de forma etnográfica o que significa esse padrão de condominização para as famílias, em especial as do Residencial Rio Anil Camboa, e como esse padrão de moradia tem sido adotado nos projetos de habitação popular. A partir dessa nova maneira de habitar essas famílias, suas relações vão sendo construídas com o morar, com a casa, com o trabalho, com o dinheiro e com a própria noção de propriedade. Nessa perspectiva, essas relações e experiências são analisadas a partir daquilo que denomino como processo de condominização da vida social dessas populações.

Biografía del autor/a

  • Maysa Mayara Costa de Oliveira, UFNT

    Doutora em Ciências Sociais (UNICAMP). Professora Adjunta na Universidade Federal do Norte do Tocantins (UFNT) .

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Publicado

16-12-2025