Mia Couto e a simbologia de barcos: navegar, mais do que possível, é sonhável

Autores

  • Luara Pinto Minuzzi

Resumo

"Não terá sido a Morte o primeiro Navegador?" é o eloquente questionamento lançado por Bachelard (2002, p. 75), na sua obra A água e os sonhos. Por muito tempo, o mar foi o local privilegiado dos mortos (e da morte), uma vez que o grande oceano era um espaço totalmente desconhecido que despertava muito mais medo do que curiosidade às pessoas. Porém, apesar de elas próprias não se aventurarem nessas águas, lançavam ataúdes, durante as cerimônias fúnebres – dessa forma, era apenas após o falecimento que os homens desbravam esse misterioso sítio. Assim, segundo o filósofo, a simbologia dos barcos ficou inevitavelmente impregnada das exalações e miasmas da morte e, consequentemente, "[...] a função de um simples barqueiro, quando encontra seu lugar numa obra literária, é quase fatalmente tocada pelo simbolismo de Caronte" (Ibidem, p. 80) – ou pelo complexo de Osíris, como prefere Durand (1997), ou ainda pelo de Kwasi Benefo, herói mítico africano que atravessa um rio em busca da alma de suas esposas mortas (FORD, 1999). Portanto, o único caminho para se chegar ao mundo dos mortos, ao avesso do mundo dos vivos, é através das águas, em cima de um flutuante veículo, o que transforma a morte em uma viagem, em algo não tão definitivo: toda viagem pode ter uma ida e uma volta.

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Biografia do Autor

Luara Pinto Minuzzi

Mestre em Teoria da Literatura pela PUCRS e doutorando em Teoria da Literatura pela PUCRS.

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Publicado

31-08-2016

Edição

Seção

GT1 - Africanidades e Brasilidades em Literaturas