O Movimento Barcarena Livre e a contra exposição ‘Imerys na comunidade’ como forma de resistência

Autores

  • Ewerton dos Santos Barros
  • Jaqueline do Nascimento Cruz
  • Marcel Theodoor Hazeu

Resumo

Este trabalho versa sobre a atividade político-acadêmica desenvolvida pelo Movimento Barcarena Livre no contexto da realização de exposição fotográfica pela empresa Imerys, intitulada “Expedição Imerys”, em 2017, sob o discurso de responsabilidade social com as comunidades que vivem em seu entorno.

O trabalho se fundamenta na abordagem crítica da categoria “responsabilidade social” (SAUERBRONN, 2008; MATHIS, 2011) e se pauta nas teorias sobre os Novos Movimentos Sociais e suas estratégias de resistência (CRUZ, 2014; GOHN, 2000), em particular a estratégia de contrainformação (BALDELLI; FUSSER; SILVA, 1982).

A Amazônia Brasileira, historicamente, tem sido espaço de intervenções para acumulação do capital através da implantação de grandes empreendimentos, como projetos de mineração, por exemplo, de interesses econômicos e políticos, por apresentar grande potencial em recursos naturais (FIALHO, 2016). O município de Barcarena, localizado no nordeste do Estado do Pará, se insere neste contexto de acumulação capitalista, principalmente no âmbito das atividades industriais minero-metalúrgicas, o que tem acarretado uma série de efeitos e conflitos socioambientais, culturais e políticos no âmbito da sociabilidade humana dos cidadãos (HAZEU, 2015).

Barcarena é um município amazônico onde foram implantados portos e indústrias, no qual se destaca a empresa Imerys, que trabalha com o beneficiamento do caulim. A sua atuação e impactos socioambientais (CARMO et al., 2016) provocaram várias formas de resistência pelas comunidades atingidas, dentre elas uma identificada como a produção de “contrainformação” o que possibilita “garantir a circulação de informações sobre a situação de classe à margem dos canais controlados pelo poder constituído e também espaços que as contradições da burguesia oferecem no seio destes canais (BALDELLI apud FADUL, 1982, p. 36).

Uma destas experiências de resistência foi protagonizada pelo Movimento Barcarena Livre, movimento formado por lideranças e representantes de comunidades tradicionais e sindicato em Barcarena (CARMO, et al., 2016) o que resultou em uma ação frente à exposição de fotografias ora citada. A Imerys tenta mostrar que atende as regras nacionais e internacionais em relação ao meio ambiente, trabalho e comunidade, e intervém na sociedade para manter uma boa imagem e relação, essencial à venda de seus produtos e diminuição de possíveis protestos, dentro de uma política empresarial chamada de Responsabilidade Social e ambiental. Configuram-se em estratégias empresariais que objetivam garantir sua rentabilidade através de marketing social de elevação da credibilidade social em âmbito internacional (MATHIS; MATHIS, 2011).

O evento Expedição Imerys visava apoiar o desenvolvimento da fotografia e promover a ampliação do conhecimento sobre “A Casa Imerys”, um projeto social da mineradora em Barcarena. As fotos selecionadas mostravam crianças, idosos, homens e mulheres, sorridentes e alegres na Casa Imerys. A “Expedição Imerys” foi exposta em Belém, Nova York e Paris.

Com intuito de contrapor esta iniciativa, o Movimento Barcarena Livre elaborou uma contra exposição, visando contestar os discursos da empresa e socializar informações dos reais efeitos gerados pelo empreendimento. A contra exposição foi composta por um varal de notícias; sistematização de fotografias dos desastres socioambientais; articulação com a imprensa local e internacional e a realização de uma performance teatral. O evento ocorreu em frente ao prédio onde estava a exposição oficial da Imerys para promover a visibilidade dos materiais e estabelecer diálogos com os visitantes. Ainda foi realizada uma caminhada até o porto onde desembarcam diariamente trabalhadores e estudantes que moram em Barcarena.

O Movimento Barcarena Livre, configura-se como um novo movimento social, considerando o uso da contrainformação como estratégia para difundir informações sobre os desastres causados pela empresa e sobre grupos sociais invisibilizados.

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Publicado

04-06-2018