Juventudes e lazer: Discutindo direitos sociais em tempos de distanciamento social

Autores

  • Isabelle Marques Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ)
  • Gabriella Araujo Cerveira de Freitas Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ)

Resumo

O presente trabalho visa expor os resultados da pesquisa realizada com jovens sobre o acesso ao lazer durante a pandemia, pela perspectiva de ser um direito social garantido pela Constituição de 1988 a toda população brasileira e pelo Estatuto da Juventude de 2013 aos jovens, mais especificamente. O interesse em olhar para a temática sobre juventudes e lazer, parte da análise de que o lazer pode ser considerado uma das principais dimensões das vivências juvenis na contemporaneidade, sendo fundamental para a elaboração de suas identidades, formação de valores, referências e na sua relação com o espaço público (MARTINS et al, 2014), o que reverbera na compreensão da cidadania e seu papel importante no reconhecimento como sujeito de direitos, para, assim, ampliar uma luta para efetiva obtenção deles.

No contexto pandêmico a rápida transmissão do novo coronavírus (SARS-CoV-2) exigiu a adoção de medidas não farmacológicas, que visavam a redução da velocidade da transmissibilidade do vírus. O distanciamento social, fechamento e restrições de locais públicos/coletivos estavam entre as principais estratégias de prevenção de contágio. Posto que o distanciamento social implicava na mobilidade urbana e na sociabilidade, o objetivo desse estudo foi refletir sobre o impacto dessa mudança de hábito na prática cotidiana do lazer para as juventudes brasileiras. A pesquisa, de abordagem qualitativa, foi realizada no período de abril do ano de 2021 e utilizou para coleta dos dados um formulário estruturado com 10 perguntas. Dentre os 98 jovens que participaram, 81,6% se encontram na faixa-etária entre 19 e 29 anos e 18,4% entre 15 e 18 anos, sendo 63,3% mulheres, 35,7% homens e 1% não-binário. Em sua maioria, os participantes disseram residir na Baixada Fluminense do Rio de Janeiro. Cabe a ressalva que 66,3% dos colaboradores responderam que costumam ter sempre momentos de lazer e 33,7% relataram que somente às vezes efetuam esse tipo de atividade. A principal forma de lazer apontada foi “Sair para passeios em lugares abertos”, onde se enquadram os parques naturais, as praias, os parques de diversão, praças públicas etc. Sendo assim, o distanciamento social impactou diretamente a principal forma de lazer de 51% dos jovens participantes da pesquisa. Considerando o lazer como uma necessidade humana e como dimensão da cultura, a vida monótona dentro de casa forçou o jovem a buscar novas formas de lazer. Os ambientes virtuais se tornaram os mais escolhidos dentro desse cenário, contudo, por ser algo que nem sempre é o que se prefere, os jovens percebem mudanças comportamentais nos seus dias, das quais destacam-se o desânimo, o estresse e o medo.

 Outro resultado evidenciado na pesquisa foi o de descumprimento das medidas restritivas por esse público. Os jovens sentiam falta do contato direto, de estarem perto, de trocarem experiências de modo presencial e não somente através das telas, então, uma maneira que encontraram para tentar diminuir a saudade de amigos, foi justamente encontrando-os pessoalmente. Revela-se, assim, um paradoxo: Ao mesmo tempo que sabiam que não era seguro sair de casa para encontros pessoais, o faziam a fim de se manterem emocionalmente saudáveis. Se arriscavam em nome do lazer e da sociabilidade entre amigos, pois é algo tão imprescindível que não pode ser separado de seu cotidiano. Em razão disso, o aumento no número de jovens infectados e/ou hospitalizados por este vírus, agravaram o cenário e as consequências da conjuntura pandêmica. Trazemos assim, outro ponto importante nesta reflexão: O acolhimento da ideia de Necropolítica. Nesta perspectiva, a condução do controle da pandemia pelo Estado brasileiro revela a postura negacionista ou a minimização da gravidade da doença, o boicote aos protocolos de prevenção, a tentativa de deslegitimar a ciência, o movimento antivacina e o consequente aumento no  número de mortes causadas pela Covid-19 e torna evidente a responsabilidade do poder político por quem morre e como se morre.

Este estudo ratificou também que o acesso ao lazer é atravessado por questões de classe e de território, posto que os participantes residem em localidades do Estado do Rio de Janeiro que são distantes dos grandes centros urbanos e possuem oferta menor ou reduzida de serviços de lazer e cultura, como cinema, teatro, centros culturais e museus. A fala de um jovem entrevistado ratifica a desigualdade de acesso ao lazer por uma questão de classe, pois seu baixo poder aquisitivo inviabiliza este acesso mesmo antes da pandemia, tendo piorado durante o período pandêmico: “Antes da pandemia, eu já não tinha o hábito de sair muito de casa, por não ter tempo, dinheiro e alguns outros empecilhos.” Dessa forma, considerando o avanço do neoliberalismo no governo brasileiro, com o desmonte de políticas públicas, fica evidente que a crise sanitária mundial agravou ainda mais as expressões da questão social, atingindo também a esfera do lazer.

 

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Isabelle Marques , Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ)

Graduanda em Serviço Social na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ).

Gabriella Araujo Cerveira de Freitas, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ)

Graduanda em Serviço Social na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ).

Downloads

Publicado

13-06-2023