A dimensão político-pedagógica do serviço social e o exercício profissional em favelas
Resumo
O serviço social, enquanto categoria profissional comprometida com a defesa dos interesses da classe trabalhadora, vem buscando novas estratégias para intervir na realidade social, sendo convocado a adotar uma postura crítico-reflexiva que converge com os princípios e valores do projeto ético-político da profissão. Portanto, refletir acerca das possíveis práticas pedagógicas, apoiadas nos fundamentos da educação popular, nos permite ampliar o horizonte de atuação e direcionar a prática para o desvelamento das ideologias dominantes que mistificam as relações de poder que sustentam a estrutura econômica.
Através do resgate histórico de atuação do assistente social em territórios periféricos, é possível compreender que sua inserção nestes espaços se dá sob a égide capitalista burguesa e a necessidade de controle e domesticação da classe trabalhadora que ali se encontrava. Neste contexto, a dimensão educativa do serviço social se voltava principalmente para o policiamento e mediação de interesses entre moradores e instituições que almejavam a doutrinação e consenso da classe subalterna (FARAGE e HELFREICH, 2020). Com o processo de renovação das bases conceituais que estruturam seu arcabouço teórico-metodológico, nos cabe refletir se o serviço social passa a redimensionar seu exercício profissional nestes espaços, considerando suas especifidades e direcionando a prática político-pedagógica para somar e revigorar as lutas e sujeitos coletivos emergentes no território.
Para Abreu (2009), a função pedagógica do Serviço social vai além de simples práticas educativas e informacionais, e se caracteriza como elemento organizador de uma cultura “por meio do qual são articulados interesses econômicos, políticos e ideológicos, na formação de um modo de vida” (2009, p. 03). Colabora para a formação da visão de mundo dos sujeitos e possibilita a consolidação de estratégias anti-hegemônicas. A dimensão educativa no exercício profissional deve estar alinhada às principais lutas e reivindicações da classe subalterna, contribuindo com processos de mobilização e organização populares. A autora ainda nos aponta que o maior desafio para o fortalecimento da atuação político-pedagógica do assistente social se materializa nas tendências conservadoras que atravessam cotidiano profissional, consubstanciadas pelo projeto neoliberal de mercantilização das necessidades sociais dos indivíduos (ABREU, 2009, p.14).
A pesquisa tem como problema central o questionamento sobre a prática cotidiana do serviço social em sua atuação pedagógica em espaços socialmente periféricos. O assistente social, enquanto agente multiplicador de conhecimento, desenvolve um papel fundamental na construção da autonomia e identidade de classe da população, através de seu potencial socioeducativo e de sua capacidade de corroborar com os movimentos sociais. Sendo assim, é um estudo que visa contribuir para o debate sobre os fundamentos da educação popular e o papel do serviço social enquanto intelectual inserido em espaços privilegiados de luta e organização popular.
REFERÊNCIAS
ABREU, Marina Maciel et al. Mobilização social e práticas educativas. ABEPSS;
CFESS (Org.). Serviço Social: direitos sociais e competências profissionais. Brasília: CFESS/ABEPSS, UnB, p. 593-608, 2009.
FARAGE, Eblin; HELFREICH, Francine. Serviço social, favela e educação popular. Serviço social, favela e educação popular: diálogos necessários em tempos de crise do capital. Navegando, p. 53, 2020.
IAMAMOTO, Marilda Villela. Marilda; CARVALHO, Raul de. Relações Sociais e Serviço Social no Brasil: esboço de uma interpretação histórico-metodológica. Cortez Editora, 2014.