Grupo de acolhimento trans: práticas (im)possíveis

Autores

  • Taynara Martins Universidade Federal Fluminense (UFF)
  • Gabriella Dominguez Universidade Federal Fluminense (UFF)
  • Gabriela Storto Universidade Federal Fluminense (UFF)
  • Luana da Silveira Universidade Federal Fluminense (UFF)

Resumo

O presente projeto é fruto de uma experiência de estágio em saúde mental desenvolvido na Subsecretaria de Igualdade Racial e Direitos Humanos (SIRDH), localizada no município de Campos dos Goytacazes, interior do Rio de Janeiro. Tendo como foco um trabalho de cuidado, acolhimento e produção de autonomia em conjunto com a população preta e LGBTQIAPNB+, que se divide em dois eixos centrais: da escuta individual e trabalho com grupos. Através das demandas apresentadas pelos usuários, surge o Grupo de Acolhimento Trans (GAT), como uma aposta no processo de produção de  cuidado, autonomia e saúde, de forma transdisciplinar e coletiva. Nesse sentido, compreendendo o compromisso ético-político e social da psicologia enquanto ciência e profissão, o objetivo principal do trabalho é colocar em análise a experiência de estágio e o papel da psicologia frente a essa demanda. Posto que, cotidianamente, a partir das escutas individuais, surgem em cena relatos de negação existencial e afetiva, além de reivindicações por um espaço onde existam outros sujeitos que compreendam, a partir da experiência vivida, os atravessamentos da vivência transvestigênere. Sendo assim, realizam-se encontros quinzenais com os usuários interessados pela proposta, em formato de rodas de conversa, tendo como temática os interesses do grupo. Dessa maneira, os encontros apresentam discussões relacionadas a elementos como trabalho, relações familiares, relações afetivas e as implicações dos atravessamentos dos marcadores de raça, classe, gênero e sexualidade na vida desses sujeitos. A ideia da constituição de grupos de acolhimento é oposta a expectativa do cuidado individual, compreendendo que a partir da lógica neoliberal inserida na sociedade, a individualização das problemáticas sociais se apresenta como ferramenta para manutenção das desigualdades, processos de exclusão e culpabilização do sujeito. Desse modo, entende-se que a produção de saúde precisa ser construída de forma coletiva e atenta as questões históricas, políticas, culturais, sociais e econômicas na produção de vulnerabilidade, em conjunto com práticas desisntitucionalizantes e compromissadas com os deveres ético-político do psicólogo. Sendo assim, o lugar do acolhimento para o acesso a saúde é insubstituível, a aposta no acolhimento em rede traz também o incômodo da impossibilidade. Visto que ao mesmo tempo em que é vestida a roupa de psicólogo, há um corte desse imaginário pelo limite institucional de promoção de cuidado. E a partir desse corte que o grupo forma sua grupalidade, a partir das inúmeras impossibilidades e  impossíveis, formam-se  redes de resistência e abertura de  acesso ao cuidado. Nessa conjuntura, o grupo de acolhimento para pessoas transvestigênere opera se baseando naquilo que é possível dentro das violências, e vulnerabilidades produzidas pelo modelo hegemônico de controle e violência contra corpos que rompem com o paradigma branco cisheteronormativo. Posto isso, o grupo só é um lugar de acolhimento na medida em que entendemos, enquanto estagiárias de psicologia, qual é a psicologia que nos abarca e qual é o papel do psicólogo em grupos em processo de vulnerabilização e estigma. Realizando o movimento de mapeamento, conhecimento e reconhecimento das políticas públicas, da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) e do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), além dos dispositivos que possam integrar no processo de produção de saúde. Questionamos assim, o porquê da psicologia se demonstrar tão isenta aos problemas sociais, ao mesmo tempo em que ocupa um lugar de detentora do saber que irá acolher esses mesmos problemas. Posto que, em relação a iniciativas oferecidas por dispositivos de saúde, enfrentamos a problemática da não adesão ao serviço ofertado. Contudo, tal questão é socialmente construída, projetada. Contando com a realização de todo um arranjo de práticas e modelos para realmente dificultar, ou até mesmo, inviabilizar acessos e possibilidades. Assim, ressaltamos a necessidade de responsabilização do poder estatal com tal questão, posto que o GAT representa uma fundamental aposta de trabalho na produção de saúde, mas tal aposta é realizada a partir de inquietações pessoas e identificação de demandas, não de um projeto de constituição de políticas públicas que visem o cuidado e atenção à saúde para a população trans.

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Biografia do Autor

Taynara Martins , Universidade Federal Fluminense (UFF)

Graduanda em Psicologia pela Universidade Federal Fluminense (UFF).

Gabriella Dominguez , Universidade Federal Fluminense (UFF)

Graduanda em Psicologia pela Universidade Federal Fluminense (UFF).

Gabriela Storto , Universidade Federal Fluminense (UFF)

Graduanda em Psicologia pela Universidade Federal Fluminense (UFF).

Luana da Silveira , Universidade Federal Fluminense (UFF)

Doutora em Psicologia. Professora e Coordenadora do curso de Psicologia da Universidade Federal Fluminense (UFF).

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Publicado

13-06-2023