Serviço social, questão racial e a branquitude no Brasil

Autores

  • Débora Oliveira Ramos

Resumo

No Brasil, a assimetria racial se apresenta como um elemento que perpassa a divisão de classes. A população negra vivencia uma condição de vulnerabilidade que recai sobre sua constituição enquanto indivíduo, ou seja, o(a) negro(a) permanece sendo alvo de opressão independente da condição econômica que possui. Essa opressão se constitui por meio da desigualdade racial construída historicamente no Brasil, que é mantida através do pensamento social e político brasileiro racializado. O legado da dominação do corpo negro no período escravocrata atribuiu e atribui lugares subalternos à população negra, que hoje compõe a classe trabalhadora. Não obstante, a burguesia brasileira também possui cor, e se utiliza desse elemento que a circunscreve para exercer poder sobre aqueles que são destituídos de bens e meios de produção, bem como, sobre aqueles que são não-brancos. Assim, “pode-se dizer que, no Brasil, o branco tem desfrutado do privilégio de ver o negro sem por este último ser visto” (RAMOS, 1995[1957]a: 202). Desse modo, a partir do estudo da branquitude enquanto uma estrutura social, política e cultural que atribuí privilégios a pessoas brancas no Brasil, é possível evidenciar o racismo como um produto material e simbólico desta estrutura, cujo capitalismo é dependente. A burguesia e a classe trabalhadora, por sua vez, consolidam a Questão Social no Brasil, que é fruto da contradição inerente ao capitalismo (BEHRING, 2008). Porém, nota-se que determinantes como a raça, bem como gênero, também compõem a desigualdade social, e nesse sentido necessitam ser apreendidos para serem superados na construção de um outro projeto de sociedade. Sendo, portanto, a Questão Social objeto de análise e intervenção do Serviço Social brasileiro, é necessário compreender em que medida a questão racial está presente nas reflexões, e consequentemente, nas produções da categoria, no que tange a compreensão da realidade brasileira, com as especificidades que possui, por ser uma sociedade com base colonial. Dessa maneira, este estudo tem como objetivo apresentar 1. A branquitude como um determinante estruturante da desigualdade social no Brasil; e 2. O espaço destinado a discussão racial na categoria de Serviço Social. No que tange o segundo objetivo, foram analisados as produções teórico-científicas apresentadas em seis edições dos dois maiores eventos do Serviço Social – ENPESS (Encontro Nacional de Pesquisadores em Serviço Social) e CBAS (Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais). Dos 6.999 trabalhos apresentados em ambos eventos, apenas 122 continham em seus títulos referência ao debate racial. Evidenciou-se com essa constatação que a questão racial ocupa o espaço de subtema, e quando presente nas discussões da categoria, os autores tendem a reduzir a dimensão da raça à um elemento restrito à classe trabalhadora, deixando fora do debate da branquitude enquanto estrutura que circunscreve a classe dominante. O Serviço Social, portanto, inserido neste espaço de contradições e disposto a gerar força contrária ao receituário capitalista, necessita aproximar-se dos determinantes sócio-históricos da realidade em que se insere no Brasil, considerando a raça como um elemento constitutivo da desigualdade social brasileira.

Palavras-chave: Serviço Social; Questão Social; Burguesia; Branquitude.

 

Referências

 

BEHRING, Elaine Rosseti. Política Social : fundamentos e história. Elaine Rossetti Behring, Ivanete Boshetti. 5.ed. São Paulo : Cortez, 2008. (Biblioteca básica de serviço social, v. 2)

 

RAMOS, Alberto Guerreiro, Introdução crítica à sociologia brasileira. Rio de Janeiro: UFRJ, (1995[1957]a).

 

 

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Publicado

08-08-2017