Disciplina, legislação e velocidade
uma análise do ideal de vida filosófica
Resumo
O artigo apresenta uma análise de um tema do perfeccionismo nietzschiano: o ideal de vida filosófica. Começa com uma abordagem dos critérios de identificação dos tipos superiores: as atividades filosóficas, políticas e artísticas, o êxito histórico e as características psicológicas. Argumento em favor da seguinte tese: o critério psicológico tem primazia, sendo necessário e suficiente, mas não elimina a relevância dos demais. Em seguida apresento as condições psicológicas que o filósofo precisa satisfazer para alcançar a excelência: (1) disciplina; (2) criação de valores; (3) especulação e (4) unidade orgânica. O artigo continua com uma avaliação de diferentes tipos psicológicos: o dogmático, que se afasta da excelência porque lhe falta disciplina rigorosa; o erudito, cuja imperfeição consiste em sua incapacidade de cumprir integralmente o primeiro critério e de satisfazer os demais; o cético fraco, que dispõe de disciplina, mas não está à altura das demandas legislativas e especulativas da vida filosófica; o espírito livre, que exibe um compromisso com determinadas virtudes intelectuais, e assim satisfaz as demandas da disciplina; também cumpre as exigências da especulação porque apresenta a hipótese da vontade de poder, mas satisfaz parcialmente o segundo critério, pois formula direcionamentos normativos iniciais, sem realizar a tarefa da criação dos valores, assunto do filósofo do futuro, o representante imaginário do ideal de vida filosófica. Em diversos momentos do texto, sobretudo na conclusão, indico que a articulação dos três critérios não pode ser realizada sem tensões: disso se segue que a excelência da vida filosófica não se confunde com nenhuma “paz interior”. O filósofo estimula um produtivo conflito entre o primeiro critério e os demais. A tensão não resulta em desordem anárquica, mas em “unidade orgânica”: a disciplina não inviabiliza a especulação veloz e a legislação ambiciosa, mas atua oferecendo contrapesos céticos. Concluo o artigo apresentando a vantagem hermenêutica da análise do ideal de vida filosófica: com ela entendemos o intrigante convívio entre ceticismo, ontologia audaciosa e propostas normativas monumentais.
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