A Temporalidade da consciência e o problema da eficácia causal da vontade em Nietzsche
Resumo
Quando Nietzsche, no aforismo 4 de “Os quatro grandes erros” do Crepúsculo dos ídolos, diz que a representação da causa de um fenômeno chega à consciência somente após uma “inversão do tempo”, ele retoma e aprofunda, em um novo contexto, uma tese que já estava presente em suas reflexões de juventude sobre os processos perceptivos. Apesar do aforismo em questão se referir sobretudo à projeção de causas das impressões sensíveis no mundo externo, sua tese de base serve como suporte para uma de suas muitas críticas à assim chamada “moral das intenções”. Neste caso, é a representação consciente da causa interna de uma ação, isto é, a representação do motivo, que deve ser vista como um construto posterior, que é imaginado após a iniciação do ato. Desse modo, Nietzsche se propõe a desconstruir a crença na eficácia causal daquilo que identificamos como nossa vontade. O presente artigo discute essas teses de Nietzsche acerca da temporalidade da consciência intencional no quadro de sua psicologia moral, traçando um paralelo entre suas considerações e alguns resultados recentes da neurociência. O objetivo é compreender em que sentido ainda é possível falar em “liberdade” (como o faz o próprio Nietzsche) após uma crítica tão contundente à crença na causalidade da vontade.
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