Por uma injustiça, dois Platões
Tempo e genealogia em F. Nietzsche e M. Foucault
Resumo
Este artigo pretende explorar as leituras que Friedrich Nietzsche e Michel Foucault, respectivamente, fizeram da filosofia de Platão, na medida em que esta interessa e se articula às temáticas da vida/existência e das relações entre presente e passado (história) no pensamento de cada um dos dois primeiros autores mencionados. Tem-se, em Nietzsche e em Foucault, dois diagnósticos, em certa medida, opostos sobre os efeitos que a filosofia de Platão teria surtido na cultura ocidental. Como compreender esta diferença de interpretações entre autores que entre si estabelecem reconhecida herança e conexão filosófica? Hipótese do trabalho: o gesto de Foucault enquanto genealogista, no momento tardio de seus trabalhos, parece preservar uma relação profunda - a mais profunda ao longo de sua obra - com o modo nietzschiano de fazer filosofia. Isto, na medida em que tal gesto contraria a interpretação de Nietzsche sobre o nascimento – com Platão - da Filosofia. Seguindo a premissa de que a presença de Nietzsche nos trabalhos de Foucault não é apenas nominalmente explícita, mas também (e, sobretudo) oculta, recorreu-se analiticamente - justificando-se o porquê disto - a um texto de juventude do primeiro autor; texto este que o segundo, no mais das vezes, não tomou diretamente como foco proeminente de seus interesses e análises: a Segunda Consideração Extemporânea (1874). À luz deste texto, localizei de forma cotejada importantes modificações ocorridas ao longo do desenvolvimento dos trabalhos de Foucault; modificações estas que seguem uma lógica de aproximação cada vez mais estreita ao pensamento histórico do Nietzsche. Ao culminar nos dois últimos cursos proferidos por Foucault no Collège de France (1983/1984), identifiquei presentes – em partes, propiciado pela função que os Diálogos platônicos exercem nestes cursos - alguns elementos novos que tornam seu pensamento histórico tanto mais afiliado ao de Nietzsche. A questão do presente, tal como elaborada no mencionado texto deste autor - e declarada por Foucault como sendo a tradição por ele seguida - é a pedra de toque à compreensão de como e porque dois diagnósticos distintos e inconciliáveis a respeito de um mesmo objeto não dão prova de inconsistência; mas, ao contrário. A diferença de diagnósticos faz jus aos registros da criação-ação-atividade presentes no texto nietzschiano; assim como também faz jus, arrisco, às elaborações foucaultianas a propósito do dizer-a-verdade arriscadamente em sua relação com o dar prova da própria vida (bios).
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