Nietzsche e os marcos críticos do feminismo
Verdade, emancipação e esclarecimento “da mulher”
DOI:
https://doi.org/10.47456/en.v15i1.41508Palavras-chave:
Nietzsche, Feminismo, Verdade, Emancipação, EsclarecimentoResumo
Objetivamos realizar uma leitura interpretativa da crítica nietzscheana ao feminismo emancipatório, sob a égide do “esclarecimento sobre si...” da mulher, a partir de uma análise imanente dos aforismos 231–239 de Além do bem e do mal. Nossa hipótese é que tal crítica se radicaliza quando dirigida ao feminismo de primeira onda que, de acordo com Nietzsche, erra grosseiramente ao edificar seu ideário segundo as concepções de verdade, emancipação e esclarecimento iluministas. Balizados pelas considerações desenvolvidas pelo filósofo, entendemos que tal adesão feminista aos preceitos iluministas tem por condicionante o acolhimento passivo do modo de ser científico do homem. Assim sendo, na primeira parte do artigo trataremos do tema da verdade e do conhecimento em cotejo ao problema da mulher. Na segunda parte do texto, mostraremos que tal crença na verdade, emancipação e esclarecimento “da mulher”, eventualmente, não só permeia a ideologia feminista de primeira onda, mas a comporta, refletindo certa alheação “de si” da mulher face a um “em si” factível do homem. Em nossa conclusão, traremos à baila as noções de corpo e de natureza feminina que suscitam uma saída teórica para o problema da mulher “em si”. Por sua vez, tal solução é concebida com base no que deveria ser a nova agenda feminista de acordo com o pensador, a saber: a elaboração de si (da mulher) a partir de suas próprias potencialidades estéticas.
Downloads
Referências
ALMEIDA, Patrícia S. Bagot. 2021a. Crítica de Nietzsche ao ideal da igualdade: contribuições à teoria feminista. Dissertação mestrado. Programa de Pós-Graduação em Filosofia da Faculdade de Filosofia da Universidade Federal de Goiás, 2021a.
ALMEIDA, Patrícia S. Bagot. Nietzsche e o controverso: ideal de emancipação feminina. In: Cadernos de Ética e Filosofia Política, v. 39, 2021b, p. 227–238.
ANSELL-PEARSON, Keith. Nietzsche como pensador político — uma introdução. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997.
BEHLER, Diana. Nietzsche view of woman in classical Greece. In: Nietzsche-Studien, Vol. 18, Issue 1, 2010, p. 359–376.
BENHABIB, Seyla; CORNELL, Drucilla (orgs.). Teoría feminista y teoria crítica: Ensayos sobre las sociedades de capitalismo tardío. Valencia: Alfons Magnànim, 1990.
CONNELL, Raewyn; PEARSE, Rebecca. Gênero: uma perspectiva global — compreendendo o gênero — da esfera pessoal à política — no mundo contemporâneo. Tradução Marília Moschkovich. 3ª ed. São Paulo: Versos, 2015.
DELBÓ, Adriana. Sobre o poder das mulheres no aforismo 68 de A Gaia Ciência. In: Cadernos de Ética e Filosofia Política, v. 39, 2021, p. 214–226.
DELBÓ, Adriana. Sobre a utilidade das verdades a respeito das mulheres. In: Modernos e Contemporâneos — International Journal of Philosophy, v. 5, n. 12, 2021 (p. 96–117).
DERRIDA, Jacques. Esporas: os estilos de Nietzsche. Rio de Janeiro: Nau, 2013.
GARCIA, Carla. Breve história do feminismo. São Paulo: Claridade, 2011.
GIACOIA, Oswaldo. “Nietzsche e o feminismo”. Revista Natureza Humana, volume 4, número 1, 2002, p. 9–31.
HAUBERT, Elisa. O conceito de linguagem em Nietzsche na obra “Escritos sobre Retórica”. Ítaca, Rio de Janeiro, v. 32, 2018.
IRIGARAY, Luce. Marine lover of Friedrich Nietzsche. New York: Columbia University Press, 1991.
MACHADO, Roberto. Nietzsche e a verdade. São Paulo: Paz e Terra, 1999.
MARTON, Scarlett. Da realidade ao sonho: Nietzsche e as imagens da mulher. Estudos Nietzsche, Curitiba, v. 1, n. 1, jan./jun., 2010, p. 161–179.
MARTON, Scarlett. Nietzsche e as mulheres: Figuras, imagens e tipos humanos. São Paulo: Autêntica, 2022.
MARTON, Scarlett. Nietzsche e a Revolução Francesa. In: Extravagâncias: ensaios sobre a filosofia de Nietzsche. São Paulo: Sendas e Veredas, 2009.
NYE, Andrea. Teoria feminista e as filosofias do homem. Tradução Nathanael C. Caixeiro. Rio de Janeiro: Record; Rosa dos Tempos, 1995.
NIETZSCHE, Friedrich. Além do Bem e do Mal: prelúdio a uma filosofia do futuro. Trad. Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.
NIETZSCHE, Friedrich. Assim falou Zaratustra: um livro para todos e para ninguém. São Paulo: Companhia das letras, 2011.
NIETZSCHE, Friedrich. Ecce Homo: como cheguei a ser o que sou. Trad. Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.
OPPEL, Frances. ‘Speaking of Immemorial Waters’ Irigaray with Nietzsche. In:¬¬¬ PATTON, Paul. Nietzsche, Feminism and Political Theory. London: Taylor & Francis e-Library, p. 88–110.
PERELMAN, Chaïm. Retóricas. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
SANTOS, Laura Ferreira dos. “Leituras feministas de Nietzsche”. Interacções, n. 2. 2002, pp. 11-41, junho, 2016.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2024 Fernando Machado
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Ao submeter o artigo, resenha ou tradução para a Estudos Nietzsche, o autor cede à revista o direito à primeira publicação do texto, mantendo, contudo, o direito de reutilizar o material publicado, por exemplo, em futuras coletâneas de sua obra.