Como se pensar em uma postura ativa em relação ao ressentimento
DOI:
https://doi.org/10.47456/en.v14i2.41537Palavras-chave:
Nietzsche, Ressentimento, RancorResumo
Este artigo tem como objetivo imaginar a possibilidade de uma resposta ativa para o afeto do ressentimento, tendo como fundo do seu desenvolvimento o pensamento de Friedrich Nietzsche, que é considerado um dos seus principais investigadores. Para tal, o texto começa mostrando como esse afeto acompanha a humanidade desde, ao menos, os gregos na Antiguidade, fazendo um resgate de menções ao tema vindas ainda de Homero e Aristóteles. Logo a seguir, chegamos especificamente a Nietzsche para situar, com o auxílio da
Genealogia da moral, o ressentimento como a dificuldade de digerir ou responder à altura uma agressão sofrida. No passo seguinte, mostramos alguns desenvolvimentos dos estudos sobre o tema, como uma leitura psicanalítica e o desenvolvido pela cientista política Wendy Brown. Brown associa o ressentimento à recente ascensão da extrema-direita, mas veremos como o afeto também aparece em grupos de esquerda. A partir daí, depois de concluirmos que tal afeto é universal, o artigo começa a proposta de se pensar, por meio da transvaloração dos valores, uma postura ativa em relação ao ressentimento. Depois dessa explicação, para exemplificar o caso, o texto chega a Machado de Assis, com a ajuda do crítico Roberto Schwarz, e sua teoria sobre agregados e o favor, para mostrar como Machado foi um dos escritores brasileiros que melhor explorou, mesmo que indiretamente, todo o ressentimento que compunha a sociedade brasileira no século XIX.
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