A mentira nas Pesquisas Nietzsche
Da supremacia do pensamento epistemológico à problematização da função semântica da linguagem
DOI:
https://doi.org/10.47456/g36w5b71Palavras-chave:
Nietzsche, linguagem, mentira poética, metáforaResumo
O artigo discute o problema da mentira nas Pesquisas Nietzsche com foco no ensaio Verdade e mentira no sentido extramoral. Investigamos o estatuto da mentira poética, um discurso fundado em artifícios artísticos (metáforas) que problematizam a função semântica da linguagem. Argumentamos que: i- o estatuto da mentira poética na filosofia de Nietzsche não remete a uma crítica do caráter lógico-especulativo da linguagem, mas tem uma abordagem estética que possibilita uma reflexão sobre a linguagem liberada da função referencial; ii- a mentira poética não se opõe à verdade, mas se apresenta como manifestação de certo ceticismo linguístico; iii- o ceticismo linguístico seria uma das chaves para o entendimento da mentira como linguagem poética fundada na metáfora. Identificamos uma lacuna na forma como as investigações especializadas abordam o tema da mentira na filosofia de Nietzsche, pois versões epistemológicas são priorizadas em detrimento daquelas centradas nas tradições poéticas.
Referências
ANNABELA, Rita. Semântica. In: CEIA, Carlos. e-Dicionário de termos literários, 2018. Disponível em: https://edtl.fcsh.unl.pt/. Acesso em: 5 mar. 2024.
ARISTÓTELES. Poética (edição bilingue). Tradução, introdução e notas Paulo Pinheiro. São Paulo: Editora 34, 2017.
BEHLER, Ernst. Die Sprachtheorie des frühen Nietzsche. In: BORSCHE, Tilman et alli. (Hrsg.). Centauren-Geburten: Wissenschaft, Kunst und Philosophie beim jungen Nietzsche. Berlin: Walter de Gruyter, 1994.
BEHLER, Ernst. Nietzsche’s Study of Greek Retoric. Research in Phenomenology, v. 25, p. 3-26, 1995.
BEN-ZVI, Linda; ANDRÉ, William. Samuel Beckett, Fritz Mauthner e os limites da linguagem. Revista Criação & Crítica, São Paulo, n. 13, p. 172-198, 2014.
BRANDÃO, Jacinto Lima. O narrador-tirano: notas para uma poética da narrativa. Gragoatá, Niterói, n. 28, p. 11-31, 1. sem. 2010.
CAMPIONI, Giuliano. Ceticismo no jovem Nietzsche: das sugestões de Lange ao ensaio Sobre verdade e mentira em sentido extramoral. Cadernos Nietzsche, v. 40, n. 3, p. 11-33, set. 2019.
CASARES, Manuel Barrios. O “giro retórico” de Nietzsche. Cadernos Nietzsche, v. 13, p. 7-36, 2002
CAVALCANTI, Anna Hartmann. Do símbolo à metáfora: reflexões sobre arte e linguagem no primeiro Nietzsche. Artefilosofia, Ouro Preto, n. 1, p. 29-39, 2006.
CESILA, Robson Tadeu. Saturnais: uma época para ler Marcial. Revista PhaoS, n. 5, p. 13-29, 2005.
CRAWFORD, Claudia. The beginnings of Nietzsche's theory of language. Berlin: de Gruyter, 1988.
DANNEBERG, Lutz. Sprachphilosophie in der Literatur. In: STEGER, Hugo; WIEGAND, Herbert Ernst. Handbücher zur Sprach- und Kommunikationswissenschaft. Berlin: Walter de Gruyter, 1996.
ECO, Humberto. Semiótica e filosofia da linguagem. Tradução Maria Rosário Fabrias e José Luiz Fiorin. São Paulo: Ática, 1991.
GARCIA, André Luis Muniz. O teórico e o antiteórico ponto de vista de Nietzsche sobre a ciência: discutindo com a interpretação naturalista. Revista Limiar, [S. l.], v. 4, n. 8, p. 159-203, 2019.
GIACOIA JÚNIOR, Oswaldo. Nietzsche e a modernidade em Habermas. Perspectivas, v. 16, p. 47-65, 1993.
GIOACOIA JÚNIOR, Oswaldo. O conceito de pulsão em Nietzsche. In: MOURA, Arthur Hyppólito de Moutra (Org.). As Pulsões. São Paulo: Editora Escuta: EDUC, 1995.
HABERMAS, Jürgen. O discurso filosófico da modernidade: doze lições. Tradução Luiz Sérgio Repa e Rodnei Nascimento. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
HOFMANNSTHAL, Hugo. Uma carta. Tradução de Márcia Sá Cavalcante Schuback. In: Viso: Cadernos de estética aplicada, v. 4, n. 8, pp. 23-34, jan-jun/2010.
KRISTEVA, Julia. História da Linguagem. Tradução Maria Margarida Barahona. Lisboa: Edições 70, 1969. (Colecção Signos).
LEITER, Brian. O naturalismo de Nietzsche reconsiderado. Cadernos Nietzsche, v. 29, p. 77-126, 2011.
LLINARES, Joan B. Filosofia e linguagem no jovem Nietzsche. Cadernos Nietzsche, v. 36, n. 1, p. 45-81, jan. 2015.
LOPES, Rogério. A ambicionada assimilação do materialismo: Nietzsche e o debate naturalista na filosofia da segunda metade do século XIX. Cadernos Nietzsche, v. 29, p. 309-352, 2011.
LOPES, Rogério. Nietzsche e a exigência de uma filosofia retoricamente consciente. In: LIMA, Helcira Maria Rodrigues; COELHO, Maria Cecília Miranda N. (ed.). Percursos retóricos: entre antigos e contemporâneos. Campinas: Pontes Editores, 2023.
NIETZSCHE, Friedrich. O nascimento da tragédia. Tradução J. Guinsburg. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.
NIETZSCHE, Friedrich. Fragmentos póstumos: 1887-1889: Volume VI. Tradução Marco Antônio Casanova. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2013.
NIETZSCHE, Friedrich. Humano demasiado humano II: um livro para os espíritos livres. Tradução Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2017.
NIETZSCHE, Friedrich. Verdade e mentira no sentido extramoral. Tradução Fernando de Moraes Barros. São Paulo: Hedra, 2008.
OTTO, Detlef. Die Version der Metapher zwischen Musik und Begriff. In: BORSCHE, Tilman et al. (Hrsg.). Centauren-Geburten: Wissenschaft, Kunst und Philosophie beim jungen Nietzsche. Berlin: Walter de Gruyter, 1994.
PLATÃO. A República: ou sobre a justiça, diálogo político. Tradução Anna Lia Amaral de Almeida Prado. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2014. 419p.
SANTOS, Leonel Ribeiro. A vontade de aparência, ou o Kantismo de Nietzsche segundo Hans Vaiginger. O que nos faz pensar, n. 32, dez. 2012.
SCHWERING, Gregor. ,Sprachkrise‘ um 1900? Friedrich Nietzsche und Hugo von Hofmannsthal. Nietzscheforschung, v. 18, n. 1, p. 59-77, 2011. https://doi.org/10.1524/nifo.2011.0005
SILVA, Vagner da. A noção de pulsão no pensamento de Nietzsche. Fundamento, n. 17, p. 1-20, 27 nov. 2020;
SUSUKI, Márcio. O duplo desterro de Fritz Mauthner. In: MAUTHNER, Fritz. O avesso das palavras. Organização e tradução Márcio Susuki. São Paulo: Ed. 34, 2024.
VAIHINGER, Hans. A Filosofia do como se. Sistemas das ficções teóricas, práticas e religiosas da humanidade, na base de um positivismo idealista. Tradução Johannes Kretschmer. Chapecó: Argus, 2011.
VECCHIA, Ricardo Bazilio Dalla. Hans Vaihinger e a teoria da aparência conscientemente intencionada de Nietzsche. Veritas, Porto Alegre, v. 63, n. 1, p. 304-322, 2018.
ZITTEL, Claus. Selbstaufhebungsfiguren bei Nietzsche.Königshausen und Neumann,1995. (Nietzscbe in der Diskussion).
ZITTEL, Claus. Die Aufhebung der Anschauung im Spiel der Metapher. Nietzsches relationale Semantik. Nietzscheforschung, n. 7, 2000.
ZITTEL, Claus. Der dialog als philosophische Form bei Nietzsche. In: NIETZSCHE-STUDIEN. INTERNATIONALES JAHRBUCH FÜR DIE NIETZSCHE-FORSCHUNG, Bd. 45. 2016. (O diálogo como forma filosófica em Nietzsche. Artigo apresentado em evento em Florianópolis-SC e traduzido por Jorge Luiz Viesenteiner). Disponível em: https://xdocz.com.br/doc/traducao-claus-para-apresentacao-283qp01d34o6. Acesso em: 5 mar. 2024.
ZITTEL, Claus. Il Calcolo estetico di Così parlò Zarathustra. Bologna-Italia: Edizioni ETS, 2020.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2025 Maria Raquel Gomes Maia Pires

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Ao submeter o artigo, resenha ou tradução para a Estudos Nietzsche, o autor cede à revista o direito à primeira publicação do texto, mantendo, contudo, o direito de reutilizar o material publicado, por exemplo, em futuras coletâneas de sua obra.



