A abordagem proto-fenomenológica do problema teórico da raça em Nietzsche
DOI:
https://doi.org/10.47456/en.v15i2.47388Palavras-chave:
Nietzsche, Formalismo racial, Cultivo seletivo, Incorporação racial, Corpo , Naturalismo científico, Proto-fenomenologiaResumo
Este artigo tem como objetivo apresentar as reflexões de Nietzsche sobre raça em duas etapas. Ele começa atribuindo a Nietzsche uma espécie de formalismo racial, que é primeiramente caracterizado (em contraste com as teorias raciais baseadas no sangue, que eram muito mais populares em sua época) e depois avaliado (em suas vantagens e deficiências teóricas e normativas). O formalismo racial de Nietzsche permitiu que ele resistisse, por um lado, a uma posição meramente reducionista ou até mesmo eliminativista (posição que era de se esperar devido à sua inclinação cética) e, por outro lado, ao fascínio ideológico das explicações e classificações materialistas, com seus mitos autocomplacentes de pureza racial e coisas do gênero. Ao mesmo tempo, o formalismo de Nietzsche comunica uma indiferença em relação aos povos e tribos – para não mencionar os indivíduos - que constituem o componente material da raça e que é de uma arrogância desconcertante. Essa indiferença encontra sua expressão mais notória em suas referências ocasionais ao cultivo racial como exercícios de cultivo seletivo [Züchtung]. Ao modelar o cultivo de raças com base na domesticação de animais, ele dá a entender que os receptores da forma cultural são meros animais, que seriam anteriormente destituídos de qualquer forma relevante de cultura e educação. Apesar de condenar o nacionalismo mesquinho e a xenofobia que motivavam teorias rivais, ele produz uma teoria alternativa de cultivo racial que é igualmente problemática por razões morais. Depois de discutir o formalismo racial de Nietzsche, o artigo transita para a sua segunda etapa, que aborda a estreita conexão entre raça e cultivo corporal, ou seja, o tópico da incorporação racial. O que está em jogo aqui é o trabalho único de aculturação, que permite que alguns povos e nações adquiram o status de uma raça genuína ao equipar os corpos individuais de seus membros com um conjunto confiável de instintos, aos quais eles podem recorrer pré-refletidamente para suas disposições mais básicas de incorporação. Esse conjunto de instintos e disposições constitui a microestrutura do corpo “invisível”, cuja dinâmica Nietzsche tenta descrever no que o artigo chama de sua abordagem proto-fenomenológica da incorporação racial.
Downloads
Referências
ALCOFF, Linda Martín. Toward a Phenomenology of Racial Embodiment. In BERNASCONI, Robert. (ed.) Race. Oxford: Blackwell, 2001, p. 267–83.
APPIAH, Anthony. The Uncompleted Argument: DuBois and the Illusion of Race. Reimpresso in BERNASCONI, Robert e LOTT Tommy L. (eds.). The Idea of Race. Indianapolis, IN: Hackett, 2000, p. 118–35.
APPIAH, K. Anthony, GUTMANN, Amy. Color Conscious: The Political Morality of Race. Princeton, NJ: Princeton University Press, 1996.
BERNASCONI, Robert. Who Invented the Concept of Race? Kant’s Role in the Enlightenment Construction of Race. In BERNASCONI, Robert. (ed.) Race. Oxford: Blackwell, 2001, p. 11–36.
CANCIK, Hubert. “Mongols, Semites, and the Pure-Bred Greeks”: Nietzsche’s Handling of the Racial Doctrines of his Time. In GOLOMB, J. (ed). Nietzsche and Jewish Culture. London: Routledge, 1997, p. 55–75.
CONWAY, Daniel W. Nietzsche’s Dangerous Game: Philosophy in the Twilight of the Idols. New York: Cambridge University Press, 1997.
CONWAY, Daniel W. Ecce Caesar: Nietzsche’s Imperial Aspirations. In GOLOMB, Jacob e WISTRICH, Robert S. (eds.). Nietzsche, Godfather of Fascism?. Princeton, NJ: Princeton University Press, 2002a, p. 173–95.
CONWAY, Daniel W. “The Great Play and Fight of Forces”: Nietzsche on Race. In WARD, Julie K. e LOTT Tommy L. (eds.). Philosophers on Race: Critical Essays. Oxford: Blackwell, 2002b, p. 167–94.
DUBOIS, W. E. B. Dusk of Dawn: An Essay Toward an Autobiography of a Race Concept. New Brunswick, NJ: Transaction Publishers, 1984.
GROSZ, Elizabeth. Volatile Bodies: Toward a Corporeal Feminism. St. Leonards, New South Wales, Australia: Allen & Unwin, 1994.
HERDER, Johann Gottfried. Ideas on the Philosophy of the History of Humankind. Reimpressão incompleta in BERNASCONI, Robert e LOTT Tommy L. (eds.). The Idea of Race. Indianapolis, IN: Hackett, 2000, p. 23–26.
KANT, Immanuel. On the Use of Teleological Principles of Philosophy. BERNASCONI, Robert (ed.). Race. Oxford: Blackwell, 2001, p. 37–56.
KRELL, David F., BATES, Donald L. The Good European: Nietzsche’s Work Sites in Word and Image. Chicago: University of Chicago Press, 1997.
LAMPERT, Laurence. Nietzsche’s Task: An Interpretation of Beyond Good and Evil. New Haven, CT: Yale University Press, 2001.
MACINTYRE, Ben. Forgotten Fatherland:The Search for Elisabeth Nietzsche. New York: Farrar, Straus, Giroux, 1992.
MOORE, Gregory. Nietzsche, Medicine, and Meteorology. In MOORE, Gregory e BROBJER, Thomas H. (eds.). Nietzsche and Science. Hampshire, England: Ashgate, 2004, p. 71–90.
NIETZSCHE, Friedrich. The Gay Science. Tradução de Walter Kaufmann. New York: Random House/Vintage Books, 1974.
NIETZSCHE, Friedrich. Sämtliche Werke: Kritische Studienausgabe in 15 Bänden. Editado por COLLI , G. e MONTINARI, M.. Berlin: dtv/de Gruyter, 1980.
NIETZSCHE, Friedrich. The Antichrist. In The Portable Nietzsche. Editado e traduzido por Walter Kaufmann. New York: Viking Penguin, 1982a.
NIETZSCHE, Friedrich. Twilight of the Idols. In The Portable Nietzsche. Editado e traduzido por Walter Kaufmann. New York: Viking Penguin, 1982b.
NIETZSCHE, Friedrich. Sämtliche Briefe: Kritische Studienausgabe in 8 Bänden. Editado por COLLI, G. e MONTINARI, M.. Berlin: dtv/de Gruyter, 1986.
NIETZSCHE, Friedrich. Beyond Good and Evil: Prelude to a Philosophy of the Future. Traduzido por Walter Kaufmann. New York: Random House/Vintage Books, 1989a.
NIETZSCHE, Friedrich. On the Genealogy of Morals. Traduzido por Walter Kaufmann e R. J. Hollingdale; Ecce Homo. Traduzido por Walter Kaufmann. New York: Random House/Vintage Books, 1989b.
NIETZSCHE, F. A Gaia Ciência. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.
NIETZSCHE, F. Além do Bem e do Mal – prelúdio a uma filosofia do futuro. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.
NIETZSCHE, F. Genealogia da Moral – Uma polêmica. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.
NIETZSCHE, F. Crepúsculo dos Ídolos. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.
NIETZSCHE, F. O Anticristo. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.
NIETZSCHE, F., Ecce Homo – Como alguém se torna o que é. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
OMI, Michael, e WINANT, Howard. Racial Formation in the United States: From the 1960s to the 1980s. London: Routledge, 1986.
OUTLAW, Lucius T. On Race and Philosophy. New York and London: Routledge, 1996.
SCHACHT, Richard. How to Naturalize Cheerfully: Nietzsche’s Fröhliche Wissenschaft. In Making Sense of Nietzsche. Ed. Urbana: University of Illinois Press, 1995, p. 187–205.
SCHANK, Gerd. “Rasse” und “Züchtung” bei Nietzsche. Berlin: Walter de Gruyter, 2000.
SHAPIRO, Gary. Nietzschean Narratives. Bloomington: Indiana University Press, 1989.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2025 Daniel Conway

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Ao submeter o artigo, resenha ou tradução para a Estudos Nietzsche, o autor cede à revista o direito à primeira publicação do texto, mantendo, contudo, o direito de reutilizar o material publicado, por exemplo, em futuras coletâneas de sua obra.