“Contra Schopenhauer e em favor de Platão”: Nietzsche e a estética do erótico no Crepúsculo dos ídolos
Résumé
Esse artigo objetiva uma interpretação do erótico na obra de Nietzsche Crepúsculo dos ídolos. Para tanto, seguir-se-á uma dupla orientação: em primeiro lugar, é proposta uma discussão sobre o erótico em chave estética, mais precisamente, num contexto em que o embate sugerido entre as visões de Platão e de Schopenhauer sobre a categoria de beleza descortina importante divergência entre interpretações antigas e modernas sobre fenômenos artísticos. Num segundo momento do artigo, pretende-se mostrar que essa perspectiva não é autocentrada, quer dizer, ela não pode ser separada, por exemplo, do esforço de Nietzsche, no Crepúsculo, de traçar as linhas gerais de uma perspectivação da cultura, pois é sua intenção fazer gravitar em torno da representação do erótico sua avaliação sobre elementos indutores ou inibidores de sua concepção de cultura. Quero dizer com isso que não é fortuito (pelo contrário!) o fato de Nietzsche, no Crepúsculo, caracterizar as diversas manifestações da cultura, antes de mais nada, a partir de representações que ora remetem ao belo — no caso das representações que sugerem “elevação da cultura” —, ora ao feio — no caso daquelas que apontam para uma “degeneração da cultura”, como ocorre com o famoso caso em que Nietzsche faz equivaler sua pitoresca caracterização de Sócrates como “erótico” e “feio” àquela (por muitos considerada) “canônica” teoria da decadência, preparada exemplarmente pelo capítulo segundo do Crepúsculo, “O problema de Sócrates”.
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