Relações entre espaço, tempo e causalidade na teoria do conhecimento de Kant e os esboços epistemológicos de Nietzsche

Autores

DOI:

https://doi.org/10.47456/en.v15i1.41811

Palavras-chave:

Conhecimento, Tempo, Espaço, Causalidade, Intelecto

Resumo

Este estudo explora a relação entre as concepções de espaço, tempo e causalidade na filosofia de Immanuel Kant, apresentadas na Crítica da razão pura, e suas reinterpretações por Friedrich Nietzsche, com foco no período entre o início da década de 1870 e a publicação de Humano, demasiado humano (1878), incluindo avaliações de trechos do segundo volume dessa obra. Para Kant, espaço e tempo são formas a priori da sensibilidade, moldando a percepção do sujeito independentemente da experiência. A causalidade, por sua vez, é uma categoria do entendimento, um conceito puro utilizado para ordenar os fenômenos em relações de causa e efeito, seguindo as leis da natureza. Em um primeiro momento, Nietzsche reinterpreta as ideias de Kant à luz da filosofia de Schopenhauer, mas dá lugar a uma compreensão que seguirá, em parte, as tendências naturalistas da época. Essa evolução se manifesta em suas obras e fragmentos póstumos. Em O nascimento da tragédia (1872), influenciado por Schopenhauer, Nietzsche ainda mantém elementos epistemológicos subjugados por uma metafísica da Vontade e seus desdobramentos relativos às suas reflexões sobre a tragédia. Já em Verdade e mentira em sentido extramoral (1873), críticas à linguagem e à verdade abrem caminho para o abandono de uma epistemologia atrelada, em algum grau, a uma metafísica e aos a priori epistemológicos kantianos. Por fim, em Humano, demasiado humano (1878), com posições próprias mais contundentes, uma progressiva descoberta e adesão a certas posições do naturalismo contribui para que o autor do livro trabalhe para rechaçar qualquer resquício de metafísica e dos a priori epistêmicos em suas considerações a respeito do conhecimento.

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Biografia do Autor

Márcio Luiz, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas Gerais – IFSULDEMINAS, Campus Inconfidentes

Licenciado em Geografia (UNIMONTES), bacharel em Geografia (UFMG), especialista em Solos e Meio Ambiente (UFLA), mestre em Ciência Florestal (UFVJM), doutor em Geociências (UNICAMP), bacharel em Filosofia (UNISUL), especialista em Filosofia e Teoria do Direito (PUC) e bacharel em Direito (FDSM). Professor efetivo do magistério superior do IFSULDEMINAS, onde leciona a Disciplina de Direito e Planejamento Urbano. Professor visitante na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Coordenador de Curso de Graduação no IFSULDEMINAS, Campus Inconfidentes. Pesquisador e Coordenador do Grupo de Estudo Geoprocessamento, Meio Ambiente, Direito e Planejamento Urbano. Link do Lattes: http://lattes.cnpq.br/7868660110508688

Ricardo Toledo, Universidade Federal de São João Del-Rei - UFSJ

Professor adjunto de Humanidades/Filosofia da Ciência no Departamento de Tecnologia em Engenharia Civil, Computação, Automação, Telemática e Humanidades (DTECH) da Universidade Federal de São João Del-Rei (UFSJ). Professor permanente do Programa de Pós-graduação em Filosofia (PPGFIL) da UFSJ. É doutor (2014) em Filosofia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, UERJ, com ênfase em Filosofia Moderna e Contemporânea. Realizou o mestrado em Estética e Filosofia da Arte pela Universidade Federal de Ouro Preto, UFOP (2009). É especialista em Ética/Filosofia Contemporânea pela UFSJ (2006). Pela UFSJ também é licenciado (2003) e bacharel (2005). Participou do estágio doutoral (Sanduíche) na Università del Salento, Itália, e no Centro Colli-Montinari de estudos sobre Nietzsche e a cultura europeia. No curso de filosofia da UFSJ, coordena o Grupo de Estudos Nietzsche, Niilismo e Literatura (GEN NiiL).

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Publicado

08-08-2024

Edição

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Artigos