Machado de Assis e a eloquência oitocentista: ascensão e declínio do "império retórico"
Resumo
Este artigo se propõe a refletir acerca da reciclagem e dos deslocamentos referentes ao “império retórico” em dois contos de Machado de Assis. Em termos mais precisos, buscaremos tratar dos vestígios da retórica no terreno das letras do século XIX, considerando aquilo que ficou e aquilo que, sob as lentes românticas, foi inteiramente desprestigiado. Para ilustrar nossa investigação, tomaremos como ponto de partida alguns contos daquele que sutilmente foi um dos grandes críticos do que se convencionou chamar de uma eloquência pedante, porém, que, argutamente, soube trabalhá-la dentro dos seus próprios textos ficcionais e críticos. Para chegar aos contos machadianos, faz-se necessário estabelecer um panorama que nos permita enxergar a questão de maneira mais cristalina, o que nos exigirá traçar um percurso, ainda que breve, pelos estudos de alguns dos eminentes críticos que se inquietaram com semelhante matéria.
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