A CRIAÇÃO DA CENOGRAFIA LITERÁRIA DO DISCURSO O PERU DE NATAL DE MÁRIO DE ANDRADE – UM ELO ENTRE A FAMÍLIA, O PERU E O NATAL

Resumo

Esse artigo examina a cenografia literária, colocando em foco a enunciação em que a voz de um filho e as coordenadas espaço-temporais em um evento discursivo de paternidade, filiação e luto organizam o discurso literário O Peru de Natal de Mário de Andrade. Apoiamo-nos na vertente francesa da Análise do Discurso (AD), em sua perspectiva enunciativo-discursiva, com ênfase na hipótese do discurso literário de Maingueneau (2018) que apreende o literário como uma dimensão linguística do texto. O discurso literário se insere no quadro dos constituintes e assume propriedades relativas às suas condições de emergência, funcionamento e circulação. Nossa hipótese é que a cenografia literária, a sociedade e as tradições configuram a subjetividade de Mário de Andrade e integram as condições sócio-históricas de produção do discurso. Nossos resultados confirmam a cenografia como condição e produto do discurso que envolve um processo paratópico, que legitima esse tipo de discurso. Ademais O Peru de Natal, por seus desdobramentos, se engaja no movimento literário, valida a manifestação de sofrimentos e infortúnios de um filho, que tenta superar o seu luto e o familiar durante um Natal em família. Mário de Andrade, agente do processo criativo, não encontra outra forma de investimento linguístico-literário senão a produção discursiva.