54 a eStétiCa Feminina Como atributo de exCluSão no merCado de trabalho braSileiro
Gestão & Conexões (ManageMent and ConneCtions Journal). Vitória (Es), Vol. 13, n. 2, mai./ago. 2024.
Nesse sentido, a condição de ser negro leva à subalternização perante a branquitude
(Freitas, 2018).
A identidade do negro é uma dialética, pois a “identidade e a diferença, afirmação
e negação caminham juntas” conforme Barbosa (2007, p. 6) em decorrência da falta
de reconhecimento de um grupo social marcado pela marginalização, subserviência e
subentendido como desvalorizado na sociedade. Tal situação leva a dualidade em se
identificar como negro, conforme Munanga (2009, p. 11): “Se o processo de construção
da identidade nasce a partir da tomada de consciência das diferenças entre ‘nós’ e
‘outros’, não creio que o grau dessa consciência seja idêntico entre todos os negros,
considerando que todos vivem em contextos socioculturais diferenciados”. Aponta-
se que a identidade racial vem sendo, aos poucos, incorporada por mais pessoas,
devido ao longo debate do feminismo negro e à ocupação de espaços por negros
onde, antes, dominavam os brancos.
Gomes (2002) discorre que o corpo e sua construção identitária não tem sido
tema nos estudos raciais e na área de Educação; que o corpo e o cabelo, signos
da identidade negra na sociedade, têm sido renegados devido à reprodução de
preconceitos e estereótipos, uma vez que representam os significados da cultura
africana no Brasil. O cabelo é um signo social genérico e amplo, como a cultura, a
classe, a raça, a idade, o sexo, a nacionalidade e o contexto histórico e político. O ato
de “cortar o cabelo, alisá-lo, raspá-lo, mudá-lo pode significar não só uma mudança
de estado dentro de um grupo, mas também a maneira como as pessoas se veem
e são vistas pelo outro” (Gomes, 2002, p. 50). O cabelo é resistência, exclusão e
performance, pois denota “um estilo político, de moda e de vida” (p. 50).
O cabelo é um signo da ideologia no campo verbal e visual (Rodrigues, 2019)
que fecunda a opressão das mulheres negras e o sentimento de inferioridade social,
no entanto, também transparece a resistência dessas mulheres com a autorreflexão,
contestação, autoestima, guarnição política e o engajamento para o empoderamento
social. Mesquita et al. (2020) ressaltam que o preconceito tem tido como foco o tipo de
cabelo. O cabelo das mulheres negras gera predicados pejorativos que negam a beleza
existente, como: cabelo ruim; duro; pixaim; palha de aço; cabelo afro (Brasil, 2020).
Para as mulheres negras brasileiras o estigma da cor e do cabelo delimita o
seu espaço social, prejudicando suas possibilidades de realização, a exemplo das
necessidades e opções de consumo, pois, elas são discriminadas no momento da
compra, mesmo tendo os recursos financeiros para a aquisição, tal qual uma pessoa
branca. O estigma do cabelo (Figueiredo, 2008; Gomes & Duque-Arrozola, 2019;
Mesquita et al., 2020), na última década, tem sido ressignificado pelas mulheres e pelos
grupos de interesse na construção da identidade negra como forma de resistência na
política racial e luta pelos direitos humanos. O cabelo crespo, anteriormente percebido
como signo de inferioridade racial e discriminado nas propagandas, agora é um foco
do mercado de cosméticos afro, mas permanece na sociedade como um estigma
(Figueiredo, 2008; Gomes & Duque-Arrozola, 2019).
No estudo de Cruz (2017), com cerca de 200 pessoas com idade entre 18 e 50
anos de diversas classes sociais, 67% delas relacionaram a perda de uma vaga de
emprego por serem negras e, entre 10 pessoas, 6 falaram que já foram vítimas de