Revista Gestão & Conexões
Management and Connections Journal
Vitória (ES), Vol. 13, n. 2, mai./ago. 2024.
iSSn: 2317-5087
Doi: https://doi.org/10.47456/regec.2317-5087.2024.13.2.42146.50.72
Artigo submetido em: 21.08.2023 Aceito em: 22.02.2024 PublicAdo em: 01.05.2024
A estética feminina como atributo de exclusão no mercado
de trabalho brasileiro
RESUMO
O sexismo e o racismo são as ideologias mais perversas em relação às questões de gênero
e raça na sociedade brasileira. As mulheres, principalmente as negras são discriminadas desde o
nascimento, o que se mantém por toda a sua vida, por causa do seu fenótipo. O objetivo do estudo é
identificar como a estética constitui um empecilho para inserção de mulheres negras no mercado de
trabalho brasileiro. A abordagem teórica foi o paradigma Hasenbalg e Tecnologias de si. Foi realizada
pesquisa descritiva, qualitativa com 22 estudantes negras e brancas. Para a análise das narrativas
foi utilizado o processo da referenciação, sob a perspectiva interacionista-discursiva. Os resultados
demonstram a discriminação na seleção impactando na inserção no mercado de trabalho, por questões
estéticas, a ponto negativar as competências das candidatas.
Palavras-chave: Mercado de trabalho; Racismo; Estética; Mulheres negras; Tecnologias de si.
ABSTRACT
Sexism and racism are the most perverse ideologies in relation to gender and race issues in
Brazilian society. Women, especially black women, are discriminated against from birth, and this
continues throughout their lives because of their phenotype. The aim of the study is to identify how
aesthetics is an obstacle to black women entering the Brazilian job market. The theoretical approach
was the Hasenbalg paradigm and Technologies of Self. A descriptive, qualitative study was carried
out with 22 black and white students. The narratives were analyzed using the process of referencing
from an interactionist-discursive perspective. The results show that discrimination in selection has an
impact on entry into the job market for aesthetic reasons, to the point of negating the candidates’ skills.
Keywords: Labor market; Racism; Aesthetic; Black women; Technology of self.
The female aesthetic as an attribute of exclusion in the Brazilian
labor market
Cláudia Aparecida Avelar Ferreira
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
claudiahgv@gmail.com
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-8802-1716
Simone Costa Nunes
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
sinues@pucminas.br
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-7573-7985
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Cláudia apareCida avelar Ferreira | Simone CoSta nuneS
Gestão & Conees (ManageMent and ConneCtions Journal). Vitória (Es), Vol. 13, n. 2, mai./ago. 2024.
Introdução
Tudo começa com a negação do racismo estrutural na sociedade brasileira
(Miranda, 2021; Salvador, Silva & Santos, 2021; Menezes & Mendes, 2023), que
estigmatiza as pessoas negras devido ao signo racial (Goffman, 2004); ocasiona
segregação socioespacial interseccionada, que marginaliza determinada identidade
social (Morrelli & Blackwell, 2021) como o grupo identitário negro, que desde sua
diáspora tem sido renegado, animalizado, ridicularizado e extirpado de seus direitos
civis equânimes à população branca.
A estética é o aspecto simbólico social do corpo. Douglas (1976, p. 58) evidencia
que os problemas de estética são sujeitos às sanções sociais. Segundo ele, “não
é grave desde que não provoque qualquer embaraço social”, ou seja, tendo como
consequência o desprezo e a perseguição policial, dentre outros. A partir dessa
concepção infere-se que em uma sociedade dita democrática, mas, que buscou
embranquecer a população negra, possuir um marcador social que é visto como
estereótipo negativo é um impedimento para a aceitação social.
O signo racial das mulheres negras se evidencia principalmente na cor da pele, no
cabelo crespo, nos lábios grossos e no nariz achatado, que são proeminentes (Souza,
2014). Quando há sobreposição desses traços, maior é a noção do preconceito de
marca (Nogueira, 2006; Rosa, 2014) e assim sendo um fator determinante na estética
(Lage & DeSouza, 2017; Ribeiro, 2017). Para Segato (2005, p. 3) a “cor é signo e
seu único valor sociológico radica em sua capacidade de significar. Portanto, o seu
sentido depende de uma atribuição, de uma leitura socialmente compartilhada e de
um contexto histórico e geograficamente delimitado”. Isso mostra que a cor somente
tem valor em sociedades racistas.
Dessa forma, a mulher negra padece de relações de poder opressoras, cuja
condição não foi provocada por ela, mas que agem contra ela por causa do seu
fenótipo que está fora da normalidade hegemônica, representada pela mulher branca
(Bento, 1995; Ribeiro, 2008). Essa condição é reforçada por Bento (2022) ao apontar
a irracionalidade das empresas em eliminar uma candidata por causa do cabelo e de
sua roupa. Segundo essa autora, há “preferência por mulheres brancas e a exclusão
de mulheres negras para funções mais qualificadas” (Bento, 2022, p. 107).
Esse tipo de discriminação é encontrado no estudo de Grisci, Deus, Rech,
Rodrigues e Gois (2015) com 265 participantes (134 mulheres versus 131 homens),
em um determinado banco. Tal estudo identificou que a beleza física é vista como
investimento na carreira e, ao mesmo tempo, instrumento de gestão (a beleza é
vista como atributo rentável) e fonte de sofrimento. Isso demonstra que a questão da
estética pode ter consequência impeditiva na inserção ou manutenção ao mercado
de trabalho, identificada como rejeição e impedimento da carreira. Alguns autores
(Carneiro, 1995; Costa, 2009; Conrado & Ribeiro, 2017) enfatizam que o padrão de
beleza tido como referência é a mulher branca, magra, o padrão eurocêntrico.
Paim e Pereira (2011, 2018) ressaltam que a aparência é um quesito essencial
para o secretariado, e denunciam a existência de critérios étnico-raciais na inserção
no mercado de trabalho de Salvador. A condição de beleza que tem como referência
a mulher branca evidencia como o racismo brasileiro é ratificado com base no mito
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da democracia racial em um país onde a maioria da população é negra, conforme o
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2022).
Costa Júnior e Silva (2021) discorrem que no processo de seleção a cargo
administrativo, os concorrentes negros têm menores chances que os brancos e as
mulheres negras são as mais discriminadas nas empresas, ficando atrás dos homens
negros. Em termos de desigualdade salarial, a mulher negra com ensino superior
ganha menos que a mulher branca com ensino médio.
Costanzi e Mesquita (2021) evidenciam que as mulheres negras, nos últimos
anos, estão vencendo barreiras e ocupando espaços de predominância branca, como
no meio acadêmico e nos estudos na área de Administração. As mulheres negras
estão fluindo pelas tramas do poder constituído e consequentemente criam estratégias
e táticas com os novos dispositivos sociais em construção nas organizações. Coelho
Junior e Hein (2021), em estudo com executivas negras, dizem da baixa participação
feminina negra nos espaços de poder, além de argumentarem que a trama gênero e
raça é proeminente e impeditiva, mesmo com os avanços na sociedade contemporânea.
Segundo eles, a igualdade de gênero e raça, no mundo empresarial, está muito longe
de ser alcançada no Brasil. Machado, Miranda, Rezende e Brito (2021) apontam
para a existência de disparidades de representação de mulheres negras no judiciário
brasileiro e para o racismo velado e ostensivo que elas sofrem.
Portanto, as mulheres negras enfrentam desafios na inserção no mercado de
trabalho em decorrência de subjetividades excludentes como sexismo e racismo,
em que gestores se baseiam em estereótipos estéticos, em vez de avaliarem as
habilidades e atitudes. Frente a esse cenário, indaga-se: como as graduandas, negras
e brancas, percebem a questão do perfil estético no mercado de trabalho?
O objetivo do estudo que ora se apresenta foi identificar como a estética constitui
um empecilho para inserção de mulheres negras no mercado de trabalho brasileiro.
Trata-se de uma pesquisa descritiva (Bauer & Gaskell, 2017) e qualitativa (Creswell,
2007). Para análise das narrativas adotou-se o processo da referenciação, sob a
perspectiva interacionista-discursiva (Lopes, 2004, 2017). O estudo baseia-se no
paradigma de Hasenbalg (1979, 1995, 2005), em que o racismo é uma discriminação
competitiva entre brancos e negros, porém o branco leva vantagem em relação aos
não-brancos em posições ocupacionais e em maior renda. Além disso, tem-se a
Tecnologias de si como aporte conceitual de análise sobre a estética negra.
Como contribuição do estudo, é necessário ampliar o debate sobre desigualdades
históricas e estruturais que garantem o privilégio do pacto da branquitude nos
espaços de poder, que perpassa as relações raciais no Brasil. E, discutir até que
ponto a estética das mulheres, principalmente negras, tem mais valor que suas
competências nas organizações. As mulheres negras precisam ser reconhecidas
e não objetivadas para atender a satisfação do outro. Elas precisam satisfazer a si
mesmas e denunciar as opressões nas organizações. Mulheres negras precisam ser
valorizadas pela ancestralidade africana, pela sua natureza e por suas habilidades e
conhecimentos, e promover a igualdade de gênero e raça para que se obtenha um
mundo mais sustentável. Por isso, o ativismo interseccional é o meio para romper
com as tecnologias de poder.
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Este artigo estrutura-se em mais cinco seções, para além desta introdução.
A segunda seção trata da estética da mulher negra e da exclusão no mercado de
trabalho; a terceira, discorre sobre Foucault e as Tecnologias de si; a quarta, aborda
os aspectos metodológicos do estudo; a quinta seção apresenta os resultados e a
discussão; a sexta, compreende as conclusões, seguida das referências utilizadas.
A estética da mulher negra e a exclusão no mercado de trabalho
O culto ao corpo e à beleza constituem comportamentos culturais que foram
amplamente difundidos nas últimas décadas, arraigados nos mecanismos de
regulação social, tendo como o arquétipo ideal o corpo feminino perfeito e belo
de forma continuada. As mulheres que tentam quebrar esse padrão estético são
condenadas pelo olhar do outro, construindo o sentido de feiura e o sentimento de
angústia (Novaes, 2005). Estevão-Rezende, Nascimento e Alves (2018) argumentam
que a indústria da beleza e os meios de comunicação constroem o corpo e a beleza
padrão. Tomaz, Silva, Bezerra, Simões Neto e Rocha (2020) ressaltam que a mídia
é um veículo de manipulação e referência para um corpo perfeito, magro e, a cada
dia, emergem outros meios de manipulação e modulação na sociedade brasileira,
que estabelece padrão de beleza mais atual.
Campos, Ferreira, Seixas, Prado, Carvalho e Kraemer (2015) apontam a
estigmatização do corpo obeso no mercado de trabalho, o que é reforçado por Levrini
e Papa (2016), que falam do descrédito do corpo, principalmente da mulher obesa
no contexto de trabalho. Segundo Campos et al. (2015, p. 95) o corpo magro é o
parâmetro de beleza: “[...] é o parâmetro da vida saudável, possibilitando sua maior
inserção no mundo do trabalho e no mercado sexual, ampliando suas chances de
ascensão social. O corpo gordo é o seu oposto”. E complementam: “[...] as camadas
de estigma se acumulam se a pessoa for negra, pobre, nordestina, gay e gorda.
Esta estigmatização largamente disseminada gera mais e mais problemas e não
aponta para uma solução” (p. 96). Assim, as mulheres negras sofrem as opressões
de atravessamento de raça e classe social, peso corporal acima do perfil normatizado
e orientação sexual, dentre outras. Oliveira-Cruz e Isaia (2022) complementam que
o estabelecimento de padrão de beleza e a hostilidade por causa do tamanho do
corpo, fundamentam a violência estrutural e de gênero desde a infância, na formação
da imagem feminina, e criticam a gordofobia.
A mulher negra encontra-se em situação de desigualdade decorrente da violência
da miscigenação, ocorrida de forma brutal, na maioria das vezes, no Brasil Colônia.
Subjugada pelo homem branco, foi também discriminada pelo seu perfil estético; sua
beleza foi desconsiderada tendo em conta que o padrão de beleza feminina tinha
como referência a mulher branca, magra, o padrão eurocêntrico (Carneiro, 1995;
Costa, 2009; Conrado & Ribeiro, 2017).
Assim sendo, os signos raciais femininos mais discriminados no Brasil são o
cabelo e a cor de pele, que constituem o fenótipo, constituindo-se em estigma. As
mulheres negras sofrem esta violência desde criança, ou seja, a não aceitação de
sua aparência, que representa fator de desigualdade racial (Ferreira & Nunes, 2020).
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Nesse sentido, a condição de ser negro leva à subalternização perante a branquitude
(Freitas, 2018).
A identidade do negro é uma dialética, pois a “identidade e a diferença, afirmação
e negação caminham juntas” conforme Barbosa (2007, p. 6) em decorrência da falta
de reconhecimento de um grupo social marcado pela marginalização, subserviência e
subentendido como desvalorizado na sociedade. Tal situação leva a dualidade em se
identificar como negro, conforme Munanga (2009, p. 11): “Se o processo de construção
da identidade nasce a partir da tomada de consciência das diferenças entre ‘nós’ e
‘outros’, não creio que o grau dessa consciência seja idêntico entre todos os negros,
considerando que todos vivem em contextos socioculturais diferenciados”. Aponta-
se que a identidade racial vem sendo, aos poucos, incorporada por mais pessoas,
devido ao longo debate do feminismo negro e à ocupação de espaços por negros
onde, antes, dominavam os brancos.
Gomes (2002) discorre que o corpo e sua construção identitária não tem sido
tema nos estudos raciais e na área de Educação; que o corpo e o cabelo, signos
da identidade negra na sociedade, têm sido renegados devido à reprodução de
preconceitos e estereótipos, uma vez que representam os significados da cultura
africana no Brasil. O cabelo é um signo social genérico e amplo, como a cultura, a
classe, a raça, a idade, o sexo, a nacionalidade e o contexto histórico e político. O ato
de “cortar o cabelo, alisá-lo, raspá-lo, mudá-lo pode significar não só uma mudança
de estado dentro de um grupo, mas também a maneira como as pessoas se veem
e são vistas pelo outro” (Gomes, 2002, p. 50). O cabelo é resistência, exclusão e
performance, pois denota “um estilo político, de moda e de vida” (p. 50).
O cabelo é um signo da ideologia no campo verbal e visual (Rodrigues, 2019)
que fecunda a opressão das mulheres negras e o sentimento de inferioridade social,
no entanto, também transparece a resistência dessas mulheres com a autorreflexão,
contestação, autoestima, guarnição política e o engajamento para o empoderamento
social. Mesquita et al. (2020) ressaltam que o preconceito tem tido como foco o tipo de
cabelo. O cabelo das mulheres negras gera predicados pejorativos que negam a beleza
existente, como: cabelo ruim; duro; pixaim; palha de aço; cabelo afro (Brasil, 2020).
Para as mulheres negras brasileiras o estigma da cor e do cabelo delimita o
seu espaço social, prejudicando suas possibilidades de realização, a exemplo das
necessidades e opções de consumo, pois, elas são discriminadas no momento da
compra, mesmo tendo os recursos financeiros para a aquisição, tal qual uma pessoa
branca. O estigma do cabelo (Figueiredo, 2008; Gomes & Duque-Arrozola, 2019;
Mesquita et al., 2020), na última década, tem sido ressignificado pelas mulheres e pelos
grupos de interesse na construção da identidade negra como forma de resistência na
política racial e luta pelos direitos humanos. O cabelo crespo, anteriormente percebido
como signo de inferioridade racial e discriminado nas propagandas, agora é um foco
do mercado de cosméticos afro, mas permanece na sociedade como um estigma
(Figueiredo, 2008; Gomes & Duque-Arrozola, 2019).
No estudo de Cruz (2017), com cerca de 200 pessoas com idade entre 18 e 50
anos de diversas classes sociais, 67% delas relacionaram a perda de uma vaga de
emprego por serem negras e, entre 10 pessoas, 6 falaram que já foram vítimas de
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discriminação no contexto do trabalho. Muitas delas não pedem demissão devido à
dificuldade de recolocação e denunciam casos de terem que raspar o cabelo para
conseguir passar por uma entrevista e serem aceitas. Um exemplo é o caso em
que um gerente pediu a uma candidata a emprego para tirar as tranças e alisar o
cabelo para ficar mais bonita. Tal estudo traz, ainda, as questões do adoecimento e
a interferência na qualidade de vida e produtividade dos trabalhadores.
Mediante as opressões estigmatizadas e intersecionadas supracitadas, a
desigualdade social a partir da raça decorre de um processo histórico que perpetua
nos dias de hoje, devido às dinâmicas das relações de poder e ao pacto da branquitude
como soberana a tudo e todos (Bento, 2022).
No período escravocrata, no Brasil, o africano representava o principal elo
produtivo nas diversas esferas da economia, além de ser considerado mercadoria,
denotando ora moeda de troca ora força propulsora do sistema econômico. Mas, com
a abolição da escravidão, ocorrida em 13 de maio de 1888, os negros ficaram sem
condições básicas de sobrevivência, pois não foi previsto nenhum projeto de inserção
no mercado de trabalho e na sociedade para os ex-escravizados (Hasenbalg, 2005).
Eles não tinham, até então, educação formal e qualificações necessárias aos postos
de trabalho, além de existir a concorrência com os imigrantes, o que fortalecia a
desigualdade, gerando exclusão de oportunidades sociais e econômicas, consequente
da ordem social competitiva emergente (Hasenbalg, 2005, Pinto & Ferreira, 2014).
O paradigma de Hasenbalg (1979) demonstra que o problema da desigualdade
racial não é meramente uma condição de classe social, mas ocorre devido à
discriminação racial que favorece a construção de barreiras para a ascensão das
pessoas negras e a sua integração social, impossibilitando a plenitude de seu exercício
como cidadãos (Xavier & Xavier, 2009). Essa situação ocorre devido ao ciclo que
se inicia com a origem social da família e consequentemente na trajetória social das
crianças, espelhando a vida dos seus pais, como se a roda ao girar parasse sempre
no mesmo lugar, independente de quem a movimenta. Por isso, é muito comum, em
famílias negras, a baixa mobilidade interpessoal, pois o jovem não adquire status social
próprio, o que retroalimenta o ciclo da pobreza monetária (Hasenbalg & Silva, 2003).
A questão da desigualdade racial no Brasil pode ser justificada pela geografia
racial, uma vez que, no período de pós-abolição, os ex-escravos e a maioria das
pessoas de cor, resultado da miscigenação, foram absorvidos nas áreas rurais, com
dependência dos senhores, reforçando o setor agrário. Na região sudeste, os negros
identificaram a possibilidade de mobilidade econômica e social decorrente da falta de
trabalhadores brancos em quantidade suficiente para determinados tipos de trabalho
ou por baixa disposição dos brancos para realizar atividades com baixa valorização,
surgindo, assim, uma nova classe social, o que não aconteceu nas outras regiões
do país (Xavier & Xavier, 2009).
Como reflexo das relações raciais estabelecidas, o preconceito e a discriminação
no Brasil são resultantes do escravismo e da sua manutenção após a abolição. De
acordo com Hasenbalg (1979, 1995), o racismo é visto como segmento competitivo,
onde o branco leva vantagem em relação aos negros em posições ocupacionais e em
maior renda. Não há separação entre negros, morenos e brancos, sendo a distinção
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somente entre brancos e não-brancos no sistema capitalista. Hasenbalg (1979) e
Telles (2003) propuseram ações afirmativas no Brasil, para atender aos negros como
meio de mitigar os prejuízos causados à população negra.
Foucault e as tecnologias de poder e de si
O corpo político negro é desqualificado, por isto, Estevão-Rezende et al. (2018, p.
59) discorrem que “biopolítica normatiza corporalidades, gêneros, formas de ser/agir,
padrões de beleza e funciona como mecanismo de inclusão e exclusão na vida social
e, por conseguinte, no mercado de trabalho”. Logo, as estratégias de gestão política
delineiam os corpos pela regulação social e estes corpos se sujeitam à supremacia
branca para não serem eliminados por outros corpos que têm o poder constituído.
Fanon (2008) enfatiza que é impossível negar a epiderme do negro, está no seu
genoma, assim como a escravidão está na sua aparência, por constituir o local onde
ocorrem as violências do biopoder. Por isso, a diáspora africana está entranhada no
corpo que tem marca de uma história de luta desde o tráfico de escravos, de escravidão,
de colonização e de formas de emancipação como os quilombos. A resistência é um
atributo do negro na luta contra ideologias racistas que permanecem por gerações.
No entanto, Foucault (2004) enaltece que a pessoa deve ter autonomia sobre
seu corpo e desarraigar de estereótipos para ser feliz e plena. Para isso, é essencial
a resistência para vencer a exclusão e assumir sua performance. Os estereótipos
negativos imputados as mulheres negras fazem parte dos artifícios do poder, visando
a dominação da pessoa e sua manipulação para que elas garantam o bem-estar dos
seus dominadores, devido à tecnologia do poder.
Foucault (2004) discorre sobre quatro tipos de tecnologias principais e cada uma
delas tem uma matriz de racionalidade prática. As tecnologias estão inter-relacionadas,
mas as duas primeiras são voltadas ao estudo das ciências e da linguística, enquanto
as outras duas estão ligadas à dominação em si, que reifica a subalternização do
sujeito e a si por meio de operações para alçar a felicidade e satisfação.
[...] (1) tecnologias de produção, que permitem produzir, transformar ou
manipular as coisas; (2) tecnologias dos sistemas de signos, que permitem
utilizar signos, sentidos, símbolos ou significação; (3) tecnologias de poder,
que determinam a conduta dos indivíduos e os submetem a certos fins ou
dominação, objetivando o sujeito; (4) tecnologias de si, que permitem aos
indivíduos efetuar, com seus próprios meios ou com a ajuda de outros, um
certo número de operações em seus próprios corpos, almas, pensamentos,
conduta e modo de ser, de modo a transformá-los com o objetivo de alcançar
um certo estado de felicidade, pureza, sabedoria, perfeição ou imortalidade
(Foucault, 2004, p. 323).
Kovaleski e Oliveira (2011) discorrem sobre as tecnologias do eu enfatizando
acerca dos mecanismos de controle e sujeição do Estado e que negava autonomia
às pessoas. Nas décadas de 60, 70 e 80 passou-se a discutir as resistências dessas
pessoas aos mecanismos de controle, proclamando a autonomia dos sujeitos. As
tecnologias do eu ultrapassam o nível da pessoa para um contexto mais amplo de
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formação de movimentos sociais, e sua representação no espaço societal. Por meio da
representação, as pessoas incorporam “Si” como sujeito, indivíduo e identidades. Assim,
as práticas individuais despontam de forma simultânea em direção à performance de
um “controle, um esquadrinhamento, uma fragmentação, como estratégias sociais na
busca da disciplinarização dos corpos” (Kovaleski & Oliveira, 2011, p. 172).
Por isso, ser uma mulher negra significa não somente partilhar uma identidade
social, mas sim um pertencimento cultural, ser performativa com o cabelo crespo,
romper estereótipos e resistir ao preconceito por meio da autoestima e do
empoderamento de outras mulheres e crianças negras (Berth, 2018; Ferreira & Nunes,
2020). Tal imposição à identidade negra pode ser explicada pela manipulação do
conhecimento pela sociedade, que impõe às pessoas como elas devem proceder
para serem aceitas (Foucault, 2004).
Foucault (2004) questiona que as pessoas não devem aceitar de forma ingênua o
conhecimento dentro da cultura preestabelecida porque “A ciência deve ser analisada
como ‘jogos de verdade’ muito específicos, relacionados às técnicas particulares que
os seres humanos utilizam para entenderem a si próprios” (p. 323). A dominação do
conhecimento para Foucault (2004) se refere ao poder do estado que atua no processo
colonizador do conhecimento (técnico, especializado, artesanal), com as seguintes
diretrizes: seleção; padronização; hierarquia; e centralização. Esses aparatos de
poder consciente são exercidos nas práticas cotidianas de funcionários sujeitos. O
corpo persiste no engajamento da construção social em sua funcionalidade (Ferreira,
2017) e não no modelo normalizado do corpo.
A existência pessoal, o corpo, olhado fora do arquétipo biológico, sob o controle
social, é gerido pelo poder constituído e as Tecnologias do si (Foucault, 2004), e
os sujeitos são considerados diversos (Ferreira, 2010) e incorporam dialéticas de
dominação por meio de um habitus específico (Bourdieu, 1991), que se orienta para
normatizar o bom, belo e saudável (Foucault, 1992, 1998). Essa condição antepõe
o órgão, o corpo, que é o centro para regulamentação e para questões políticas
de controle demandadas pela biopolítica e tecnologias de normalização (Foucault,
1992; 1998).
Gomes, Ferreri e Lemos (2018) evidenciam que as afinidades do sujeito diante dos
jogos de produção de verdade, por meio dos discursos da ciência ou das práticas das
instituições e da coerção, foram os pontos mais focados por Foucault, permanecendo
sempre atuais. Por isso, o cuidado de si e de outros são preâmbulos de uma prática
ética e de liberdade, que fomenta resistência ao biopoder, visando romper com as
tecnologias de controle e monitoramento dos corpos.
Metodologia
Trata-se de um estudo descritivo (Bauer & Gaskell, 2017) com abordagem
qualitativa (Creswell, 2007) que possibilita enunciar as questões de gênero e raça,
além de interpretar as narrativas dos sujeitos dando significado sobre a construção
da realidade no contexto em que ocorre.
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Para a coleta de dados foi utilizada a técnica de entrevista por se tratar de
“um processo social, uma interação ou um empreendimento cooperativo, em que as
palavras são o meio principal de troca” (Gaskell, 2002, p. 73). As entrevistas foram
do tipo semiestruturadas por possibilitarem a obtenção do máximo da comunicação
entre as ideias do pesquisador e do respondente (Berg, 2009). O roteiro foi definido
para ser utilizado junto às estudantes, negras e brancas, e composto por 18 questões
que abordam questões referentes a raça, gênero, classe social e carreira.
Para o preparo de cada entrevista presencial, o objetivo foi explicado às
entrevistadas. Cada uma das entrevistas ocorreu de forma individual, tendo sido
previamente agendadas. As entrevistadas permitiram a gravação e, em seguida, foram
realizadas transcrições na íntegra. As transcrições foram cuidadosamente revisadas,
conferindo-se minuciosamente os áudios. Além da fala em si, foram considerados
os comportamentos, as posturas, o ambiente da entrevista, as dificuldades de
entendimento e o estado emocional das entrevistadas. Foi realizado pré-teste do
roteiro com o objetivo de validar o instrumento de investigação. Foram adotados
critérios de qualidade como validade do construto, validade interna e confiabilidade
(Ferreira, 2018) que permitem que outros pesquisadores possam seguir os passos
do estudo proposto.
Participaram 22 estudantes sendo 11 negras e 11 brancas, todas brasileiras
e universitárias de uma instituição privada, localizada em Belo Horizonte, Minas
Gerais, Brasil. Elas eram dos seguintes cursos: Relações Públicas, Psicologia,
Arquitetura, Pedagogia, Engenharia, Direito, Serviço Social, História, Cinema, Relações
Internacionais e Ciências Contábeis. Esses cursos representam carreiras de alto e
baixo prestígio e são típicos redutos femininos, o que é importante para esta pesquisa.
Essas estudantes, com idade média de 22,7 anos (negras) e 23,4 anos (brancas)
frequentavam os cursos em um dos três turnos: diurno, vespertino ou noturno.
Todas as estudantes tinham idade acima de 18 anos e foram selecionadas por
acessibilidade e tipicidade, pois as graduandas precisavam ser negras ou brancas
para atender às necessidades da pesquisa. A quantidade de estudantes foi suficiente
devido à ocorrência de saturação dos dados (Gaskell, 2002), situação que ocorre na
medida em que as entrevistas se desenvolvem e as respostas não sofrem alterações
substanciais.
As estudantes foram abordadas nos diversos espaços do campus da universidade,
tais como lanchonetes, salas de aula e corredores, durante os intervalos das aulas,
quando foi realizado o convite para participarem da pesquisa. O local da entrevista
foi em sala de aula que estava vaga no momento ou outro local que a entrevistada
indicou, como lanchonete ou áreas abertas perto do prédio do seu curso. Em função
da dificuldade de acesso às entrevistadas, foi solicitado às estudantes negras que
indicassem outras mulheres negras. Assim, configurou-se a técnica Bola de Neve
(Nardi, 2018), em que um participante da pesquisa indica outras pessoas em potencial
de sua network. O tempo total de audição dessas entrevistas foi de 684,9 minutos.
Os dados foram coletados no ano de 2019.
Enfatiza-se que a participação em uma entrevista é uma ocasião invasiva que
pode produzir desconforto emocional, em decorrência do sofrimento e de recordações
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reprimidas. O acesso às estudantes negras foi mais difícil, pois, trata-se de um grupo
excluído na sociedade brasileira, que nunca teve voz e no qual o silêncio é comum.
Diante disso, algumas estudantes manifestaram estranhamento pela oportunidade
de ter alguém para escutá-las.
O roteiro de entrevista foi ajustado, visando conseguir o máximo de informação
possível quando a estudante estava mais tímida em responder, não obstante se tenha
buscado manter o roteiro original. Algumas questões exigiram explicações sobre o que
se pretendia indagar, em função do curso do qual as estudantes faziam parte. Durante
as entrevistas, algumas estudantes negras demonstraram choro e frases com risos
superficiais, que não caracterizam ironia, mas consternação. Percebe-se que muitas
delas são empoderadas, têm falas espontâneas e consciência dos atravessamentos
referentes ao sexismo, ao racismo e à classe social.
As entrevistas foram analisadas pelo processo da referenciação, sob a perspectiva
interacionista-discursiva, considerando-se as dimensões pragmáticas, textuais e
linguísticas de produção de sentidos, com empréstimos do dialogismo bakhtiniano e
Círculo (Lopes, 2017, 2004). A construção de sentidos possibilita a argumentação, no
caso do estudo, sobre a discriminação da estética das mulheres negras. A aplicação da
referência em estudos linguísticos é por natureza complexa, sendo que “a referência
é concebida no interior de um modelo de correspondência entre as palavras do
discurso e os objetos do mundo” (Mondada, 2005, p. 11), de forma que os signos se
aproximam da realidade supra linguística.
Essa escolha decorre do fato de o discurso ser construído por meio de recursos
linguísticos preexistentes, possibilitando descrever desde os mais simples dos
fenômenos até as mais diversas formas e como a linguagem é construída (fissura à
tradição da linguagem, constituindo uma via direta para crenças ou acontecimentos
reais, sendo uma reflexão sobre a forma como os fatos acontecem). A análise da
narrativa e/ou fala é uma prática social, que tem o objetivo de interpretar o contexto,
sendo, portanto, sempre contingencial (Gill, 2003).
Os discursos são atividades de enunciação em condições históricas e sociais, que
tornam a interação uma matriz de sentidos, ideologicamente construídos, decorrente
da posição social, histórica e cultural de cada ser humano, em seu contexto/realidade
concreta (Volóchinov & Bakthin, 2017). Para a análise foram seguidos os passos:
seleção de referentes; recortes do corpus em análise; montagem de corpos discursivos
por meio das evidências para produção de sentidos; e fechamento simbólico com a
captura de outros sentidos (Orlandi, 2001).
As questões do roteiro de entrevista tinham tópicos centrais e estes emergiram
em outros tópicos constituindo quatro supertópicos que se referem aos referentes
selecionados que, no caso deste estudo, foi o perfil estético. Para Brown e Yale (1983)
os tópicos remetem ao que se fala, e estes propiciam a assimilação da partilha do
conhecimento e as situações da conversação. Esses tópicos da conversação se
configuram em posição central, que Fávero (2003) reconhece como reflexo da fala sobre
algo se utilizando de referentes implícitos ou inferíveis e, a partir do desenvolvimento
do tópico, insurgem outros novos tópicos.
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O estudo foi submetido à Plataforma Brasil para avaliação e cumprimento
dos procedimentos éticos relacionados à pesquisa. Os participantes foram
resguardados de toda e qualquer forma de publicação digital e/ou impressa,
bem como de exposição oral. Eles são identificados por meio de códigos
formados para letras e números, sendo E (entrevistada), N (negra) e B
(branca): EN1, EN2... EN11; EB1, EB2... EB11.
Resultados e discussão
Os discursos das estudantes demonstram que a discriminação sobre a mulher
negra é fator limitador para a sua inserção no mercado de trabalho em determinados
cargos e empresas por causa da estética racial. As mulheres negras são estigmatizadas
devido ao cabelo e à cor da pele, que passam por desqualificação. Há cargos em que
os homens predominam e, quando mulheres conseguem ocupar tais espaços, elas
seguem o padrão eurocêntrico. A beleza da mulher negra é negada devido ao racismo.
As empresas não aceitam a identidade social das mulheres negras, pois, o idealizado
é o cabelo liso, a cor de pele branca e o perfil corporal magro (se interseccionada
pelo peso corporal, mais intensa é a discriminação).
Alguns exemplos podem ser observados nos discursos das mulheres negras,
a seguir: EN9: “sim, completamente. Porque a experiência que a gente tem aqui... é
isso... por exemplo, você vai no laboratório de vídeo daqui e você vê um padrão só e
só mulheres, tipo... os técnicos são homens, mas as estagiárias são só mulheres e
tipo... um padrãozinho, cabelo liso, branca... magra; EN7: “muito... não sei em outros
lugares, mas onde eu estou sim. É óbvio que sim, gente bonita tem mais oportunidade
que gente feia, gente magra do que gente gorda, gente branca do que gente preta...
nada que não possa ser vencido, mas...”; EN2: “[...] pode influenciar, é o meu exemplo
do tic-tac (tipo de adereço que fixa parte do cabelo) mesmo, eu sempre o tiro [...]”.
Além desses relatos, EN7 acrescenta:
EN7: eu posso dizer de coisas que eu já experimentei, eu tenho 19 anos, tem
um ano que eu estou mais ou menos no mercado de trabalho, e eu enfrentei
barreiras, por que eu sou negra, por que eu uso meu cabelo cacheado, por
que o meu tratamento, a minha percepção... por que eu sou negra, mas
minha pele não é tão escura assim. Para mim é, mas algumas pessoas falam
“não, você não é negra, você é morena.” Então se eu estiver com o cabelo
escovadinho, essas coisas assim, o jeito que as pessoas me percebem
no contexto delas é diferente [...]. Eu já tive uma situação disso, o homem
deliberadamente falou que era por causa da minha aparência, que não queria
que eu fosse estagiária dele. Mulher preta, com este cabelo aqui, nunca...
eu já me conformei que na hora que eu for advogar... que eu for advogar de
fato, eu não vou poder ir ao tribunal [...] como que eu vou com esse cabelo?
Isso aqui é desarrumado.
Os discursos das estudantes brancas complementam os discursos das estudantes
negras, mesmo que aquelas não sofram o racismo. EB9 fala sobre o quanto percebe
que as mulheres negras sofrem e têm força para resistir, seja ao desprezo, seja à
discriminação. As estudantes brancas ressaltam o preconceito devido à identidade
social, entendendo que a aparência vale mais do que a competência na seleção.
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Isso é um consequente das tecnologias de controle e vigilância dos corpos com a
regulação social, como se pode verificar no depoimento de E9:
EB9: “Dificulta muito. Eu acho que no geral as mulheres negras têm uma
força do [...], porque você estar dentro de uma sociedade e ser negra com
o cabelo afro e se empoderar disso já é um tapa na cara de todo mundo na
minha consciência”. [...] A nossa aparência, ela influência desde a sua primeira
infância, [...] você está selecionando as pessoas, é muito cruel, e a gente
está massacrando as pessoas por causa disso, porque a gente tem tipo um
alto índice de cirurgia plástica, anorexia, um tanto de transtorno mental por
causa disso, então acho assim, é hipocrisia a gente falar que numa entrevista
de emprego seria diferente. A aparência move o nosso mundo infelizmente.
Aplicando as tecnologias de Foucault (2004) como as tecnologias de poder, as
organizações públicas e privadas estabelecem normas excludentes (implícitas ou
explícitas) que se reproduzem nos processos de seleção porque a preferência é por
mulheres brancas, magras, de cabelo liso, como identificado nas falas das estudantes
negras (EN7, EN9). Esta conduta leva as mulheres negras a se submeterem os
condicionantes, pois, como elas precisam trabalhar, se sujeitam ao contexto que induz
ao alisamento do cabelo, uso de adereços (EN2) e trajes valorizados pela dominação
branca, levando ao descrédito da identidade social e pessoal das mulheres negras.
As tecnologias de si são percebidas sobre a ditadura da beleza como as cirurgias
plásticas, a anorexia e a tatuagem (EB3, EB9), com o fim de sentir-se perfeita para
si e sob o olhar do outro. Mas, essa mudança de conduta e do modo de ser podem
causar adoecimento devido à opressão. Além disso, levam a uma satisfação ilusória,
de uma perfeição ilusória. Percebe-se uma linha tênue entre as tecnologias de poder
e de si nos discursos das estudantes.
Consequente a essas tecnologias de dominação, as mulheres negras camuflam
seus corpos negando sua identidade social a fim de serem selecionadas e romperem
barreiras. Posteriormente, algumas assumem seu perfil verdadeiro, com o cabelo
crespo e os adereços que gostam, como símbolo de resistência e empoderamento.
“O cabelo é resistência, exclusão e performance, um estilo político, de moda e de
vida” (Gomes, 2002, p. 50), além de ser um signo verbal que transparece as lutas
vivenciadas pelas negras da diáspora africana (Rodrigues, 2019).
A entrevistada EB9 traz sobre a ditadura da beleza no Brasil, que oprime diversas
mulheres levando até ao adoecimento, conforme Novaes (2005), como problemas
mais graves como anorexia e transtornos mentais. Isso reflete a tecnologia de poder
(Foucault, 2004), impondo que os sujeitos devem obedecer a um padrão normativo
e anulando o seu eu. Estevão-Rezende et al. (2018) discorrem sobre a biopolítica
que normatiza as nuances corporais, formas de agir e ser, determinando que corpos
que se apresentam fora da regulação social devem ser excluídos.
A discriminação na seleção ultrapassa o preconceito de gênero, pois inclui
questões, conforme mencionado anteriormente, como o peso corporal (EN7, EN9),
a cor de pele preta e o tipo de cabelo (EN7). Além disso, há estereótipos (EB3) e o
cuidado com a aparência (EB7). Algumas das falas a seguir espelham esses aspectos:
EB10 - “[...] se eu não falar que não, eu estou sendo hipócrita porque quando é
entrevista eu vou toda arrumada. Eu passo maquiagem, arrumo cabelo, se arruma a
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unha, depois que você passa deixa para lá”; EB3 - “[...] quando você vai fazer uma
entrevista, você é muito observado, [...] tenho tatuagem, tenho piercing, e isso as
pessoas reparam. [...] eles estão me julgando não pelo que eu posso fazer, ou posso
acrescentar na equipe, eles estão me julgando, pelos, pelos estereótipos”.
Campos et al. (2015) enfatizam que à medida que as opressões de discriminação
intersecionam a relação sexo/gênero a partir da raça levam à estigmatização
dos sujeitos no mercado de trabalho. Oliveira-Cruz e Isaia (2022) ressaltam que
a discriminação da imagem feminina é consequência da violência estrutural e de
gênero. E, segundo Campos et al. (2015), Tomaz et al. (2022) e Bento (2022), a
heteronormalidade imposta pelo capital segue o padrão da mulher branca, magra,
cabelo liso e bonita, favorecendo aquelas que seguem esse padrão, com mais
oportunidades do que as mulheres negras. Isso dificulta a mobilidade social da mulher
negra (Hasenbalg, 1979, 1995).
Conforme Hasenbalg (1979, p. 51), “o legado da escravidão em todas as
sociedades de plantação escravista foi importante a curto e médio prazos: analfabetismo
maciço, limitada diversificação de habilidades ocupacionais e grande concentração
demográfica à margem do desenvolvimento urbano e industrial”. Tais fatores
caracterizaram a desigualdade racial e a segregação depois do processo abolicionista,
tendo o racismo como meio propulsor para desigualdade social.
Mesmo que a sociedade racista brasileira não aceite o cabelo crespo, é
interessante que as mulheres negras se posicionem e fortaleçam sua identidade,
contribuindo para a desconstrução desse estigma e redução do preconceito (Gomes
& Duque-Arrazola, 2019; Mesquita et al., 2020). A não aceitação do cabelo crespo
favorece o estereótipo que age contra a própria identidade da mulher negra. Essa é
mais uma evidência de que a interseccionalidade de gênero, raça e classe (Crenshaw,
1991) se faz presente no dia a dia da mulher negra. Bonilla-Silva (2014) explica
que as diferenças raciais resultam na forma como a sociedade agrupa as pessoas
em coletividades conforme certas características similares, constituindo em uma
classificação que gera impactos reais na vida das pessoas racializadas.
Nogueira (2006) e Rosa (2014) enfatizam que, no Brasil, predomina o preconceito
de marca, tendo como critérios a preterição de acordo com a posição social e a
relação com o grupo discriminador, o signo racial, a predominância da consciência
discriminatória constante e a ideologia de assimilação e miscigenação. Esses critérios
causam empecilho para a inserção e inclusão das mulheres negras no mercado de
trabalho. Frente a essa questão propõe-se, de acordo com Segnini (2011), o modelo de
recrutamento às cegas para reduzir a exclusão no processo da seleção nas empresas
e assim evitar a discriminação.
A problemática da raça no Brasil constitui uma estratégia capitalista que objetiva
evitar o empoderamento das mulheres negras, explorando-as, oprimindo-as e exaurindo
suas forças, denegrindo sua imagem, força de trabalho e autoestima, dificultando sua
inserção no mercado de trabalho, por não serem selecionadas, além da não inclusão
nas empresas. Esta condição faz com que as mulheres negras permaneçam sendo
escravizadas em silêncio, principalmente se elas estiverem na base da pirâmide, em
total vulnerabilidade social, fazendo-as acreditar na meritocracia. Essa estratégia
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comuna com Hasenbalg (1979), tendo o racismo como método de eliminar o negro
nos processos de competição, além do ciclo de vulnerabilidade em que as pessoas
negras não conseguem mobilidade racial. O silêncio e a aceitação fazem parte da
manipulação biopolítica e tecnologias de normalização, como tecnologia do poder e
tecnologia de si (Foucault, 1992; 1998, 2004).
Berth (2018) enfatiza a necessidade do empoderamento dos negros para que
possam sair da posição subalternizada em casa, no trabalho, na Academia; para
mostrarem seu valor, a começar pela aceitação da sua estética, que é o veículo de
opressão no universo branco, machista e heterossexual; para terem condições de se
engajar em uma luta social interseccional, partindo do eu para o coletivo. Conforme
Maia (2021, p. 120) “a cor da pele, etnia, gênero e quaisquer diferenças não sejam
motivo de exclusão”. Por isso, é necessário resiliência e autoestima para vencer os
obstáculos.
Destaca-se que houve entonações diferenciadas nas falas das estudantes negras.
Essa situação remete a Bakhtin e Volóchinov (1995), para os quais as entonações são
decorrentes da situação social e acentuações apreciativas que constituem o traço da
enunciação. O sentido das entonações reforça as discriminações a que as mulheres
negras estão sujeitas, pois a partir de um simples adereço, seu perfil estético passa
a ter o poder de julgar sua competência, gerando um descontentamento manifesto
através do estado emocional.
Ressalta-se ainda que cor é signo, logo raça é signo, que seu valor sociológico
denota significado e seu sentido depende de um atributo ou leitura social em
determinado e limitado contexto social (Segato, 2005). O sentido é intencionado,
concebido de forma global e não apenas soma de signos: “a ordem semântica se
identifica ao mundo da enunciação e ao universo do discurso” (Benveniste, 1989, p. 66).
A análise linguística desvincula-se do signo como objeto único, no sentido
saussuriano, para abrigar-se no discurso. Os discursos são feitos por meio das
escolhas lexicais, do repertório vocabular, da coerência, do enquadramento tópico,
de conhecimentos partilhados, da interação, dos efeitos de sentido e das atividades
cognitivas (Mondada & Dubois, 2003).
Conclusões
O objetivo do artigo foi identificar como o perfil estético constitui um empecilho
para inserção de mulheres negras no mercado de trabalho. Tal situação reflete no
mercado de trabalho, em que alguns cargos exigem aparência física, o que é um
critério que evidencia a desvantagem das mulheres negras quando comparadas com
as brancas. As mulheres negras vivenciam estereótipos considerados negativos, logo
não são vistas como belas devido ao cabelo, ao uso de adereços como o tic-tac nos
cabelos, à cor escura da pele. Soma-se a isso, o fato de algumas sofrerem gordofobia
por estarem acima do peso padrão. Trata-se, portanto, do padrão eurocêntrico. Por
isso, o racismo é um condicionante que vitimiza as mulheres negras desde seu
nascimento, leva à negação de possibilidades de sair do ciclo de vulnerabilidades
sociais, as quais permanecem até a morte.
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O paradigma de Hasenbalg (1979) demonstra que o problema da desigualdade
racial não é meramente uma condição de classe social, mas ocorre devido à
discriminação racial que favorece à construção de barreiras para a ascensão das
pessoas negras e a sua integração social, impossibilitando a plenitude de seu exercício
como cidadãs.
As estudantes negras e brancas trouxeram suas vivências sobre o sexismo e
o racismo nas empresas e discorreram sobre como a ditadura da beleza impõe um
comportamento estético que negativa principalmente a identidade social da mulher
negra. É necessário discutir o racismo e emancipar por meio de luta antirracista na
tessitura social brasileira. Para o avanço das mulheres negras, o ativismo interseccional
é necessário, pois, pode quebrar estereótipos sexistas e racistas nos espaços públicos.
Ressalta-se que o Estado tem grande parcela de cumplicidade com a situação das
mulheres negras, que estão subrepresentadas nos espaços de poder. Isso, porque
o Estado brasileiro, após a abolição da escravidão, não previu nenhuma forma de
absorção de mão de obra para que os libertos tivessem condições de conseguir
trabalho, principalmente nas cidades, e nem políticas públicas que os capacitariam
para o recomeço.
O Estado é responsável pela regulação social, é ele que dita as regras, logo,
é imprescindível, para fazer frente ao sexismo e racismo institucional, implementar
políticas transversais voltadas à inserção e inclusão no mercado de trabalho e valorizar
a diversidade demográfica e cultural. Mediante esse contexto de desigualdade, o
Estado está fazendo parcerias público-privado como o Programa Pró-equidade de
Gênero e Raça do Governo Federal Brasileiro, sétima edição e abriu inscrição para
as empresas aderirem ao programa até março de 2024. Com isso, as mulheres
brancas e negras poderão vir a ter a possibilidade de ocupar espaços de poder nas
organizações privadas (Ministério das Mulheres, 2023).
As graduandas, negras e brancas percebem a questão do perfil estético no
mercado de trabalho como a negação da identidade pessoal e social durante o
processo da entrevista, a ponto de o cabelo afro ser um dos critérios que mais
eliminam as mulheres negras. Ter ou não a competência fica em segundo plano. Nos
processos de seleção, as mulheres negras percebem que têm que alterar a textura
do cabelo, usando o artifício do alisamento, para atender aos padrões de estética
feminina da empresa. Elas acabam adotando práticas orientadas para uma imagem
e um comportamento próximos ao padrão branco, assim negativando sua raça. Mas,
muitas mulheres estão resistentes com seu cabelo, se sentem empoderadas e mantêm
seu cabelo afro natural.
Para o empoderamento das mulheres negras são imprescindíveis a igualdade
de gênero e atuação do Estado, revendo seus aparatos de poder consciente que
continuam sendo reproduzidos no pragmatismo pelos funcionários. Para futuros
estudos, sugere-se investigar mais sobre as mulheres negras na área de Administração
e nos Estudos Organizacionais e como a identidade social e individual influenciam
nos espaços brancos.
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