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Vera L. Cançado | Cristiana Fernandes de MuyLder | MarCia LúCia andrade dos anjos naVes
Gestão & Conexões (ManageMent and ConneCtions Journal). Vitória (Es), Vol. 13, n. 2, mai./ago. 2024.
Introdução
O tema assédio moral no trabalho é investigado na literatura sob diferentes
abordagens e nomenclaturas desde a década de 1990, com um aumento significativo
nas publicações a partir de 2010 (Baillien et al., 2017; Einarsen et al., 2020; Salin,
2003). Em países de língua francesa, o fenômeno é denominado harcèlement moral
(Hirigoyen, 1998, 2002, 2011); e de língua inglesa mobbing (Leymann, 1990, 1996),
ou bullying (Einarsen et al., 2020; Hoel et al., 2002; Rayner & Hoel, 1997). No Brasil,
o tema ganhou destaque na academia a partir dos anos 2000, sendo esses termos
traduzidos para o português como assédio moral no trabalho (Barreto & Heloani, 2015;
Barreto, 2005; Freitas et al., 2011; Nunes & Tolfo, 2013, 2015; Soboll, 2008b, 2008a).
Neste estudo, foi adotada a abordagem do workplace bullying, com base nas
pesquisas do grupo norueguês coordenado por Ståle Valvatne Einarsen, uma das
principais referências sobre o assunto. Einarsen et al. (2020), após ampla revisão
da literatura e discussão de semelhanças e diferenças entre diversas abordagens e
autores, destacaram alguns elementos chave para a caracterização do assédio moral
no trabalho. Trata-se de processo em escalada, por meio de violência ou atos negativos
repetitivos, contra um ou mais trabalhadores, com duração e frequência semanal ou
diária, durante pelo menos seis meses, de forma a humilhar e estigmatizar a vítima,
com consequências para saúde do assediado, para a empresa e para a sociedade.
Entretanto, comprovar empiricamente a ocorrência do assédio moral no trabalho
pode ser desafiador, devido à natureza delicada, crítica e complexa do assunto, que
envolve aspectos subjetivos e objetivos. Destaca-se ainda a dificuldade de se reunir
informações das várias fontes relevantes envolvidas no fenômeno (Nielsen et al., 2020).
Observam-se também problemas para se comprovar empiricamente a sua ocorrência
(Baillien et al., 2017; Einarsen et al., 2020; Hoel, 2009; Nielsen et al., 2020; Zapf &
Gross, 2010). Pesquisas empíricas quantitativas têm empregado predominantemente
o questionário NAQ-R (Negative Acts Questionaire), em sua versão revisada, que
avalia a percepção objetiva e subjetiva dos respondentes sobre o assédio moral no
trabalho (Einarsen et al., 2009, 2020; Einarsen & Raknes, 1997; Hoprekstad et al.,
2021; Nielsen et al., 2020, 2012).
Essa escala foi validada em diversos estudos, realizados com grandes amostras
de trabalhadores de diferentes organizações em diferentes países como Dinamarca,
Finlândia, Suécia, Lituânia, Reino Unido, Espanha, França, Itália, Noruega, Índia,
Jordânia, Coreia do Sul e Nova Zelândia (Agotnes et al., 2021; Cakirpaloglu et al.,
2017; Einarsen et al., 2009, 2020; Gupta et al., 2017; Hewett et al., 2018; Holten
et al., 2016; Notelaers, Van der Heijden, et al., 2019; Perinelli et al., 2022; Rai &
Agarwal, 2017; Tsuno et al., 2010). No Brasil, também foi aplicada e/ou validada em
vários estudos (Amazarray, 2010; Christ, 2011; Gonçalves et al., 2008; Hagopian &
de Freitas, 2021; Maciel & Gonçalves, 2008; Oliveira et al., 2021; Sales, 2008; Silva
et al., 2017; Sousa et al., 2021).
A maior parte desses estudos internacionais e nacionais foram realizados com
trabalhadores de diversas empresas. Argumenta-se, neste artigo, que uma vez que as
empresas são o locus da ocorrência do assédio moral que é impactado por aspectos
organizacionais e culturais distintos, é importante estabelecer mecanismos para