Revista Gestão & Conexões
Management and Connections Journal
Vitória (ES), Vol. 13, n. 2, mai./ago. 2024.
iSSn: 2317-5087
Doi: https://doi.org/10.47456/regec.2317-5087.2024.13.2.42109.73.92
Artigo submetido em: 08.11.2023 Aceito em: 14.03.2024 PublicAdo em: 01.05.2024
Tornar-se(R) Empreendedor: Processo de Criação e Adaptação
de Negócios Durante a Pandemia
RESUMO
O objetivo do presente estudo foi compreender as tessituras do tornar-se e ser empreendedor
durante a pandemia de Covid-19. Para tanto, sete empreendedores da área de prestação de serviços,
profissionais autônomos e negócios autônomos foram entrevistados quanto a “tornar-se” e “ser
empreendedor” em pandemia. Os relatos das entrevistas foram transcritos e analisados por meio de
análise de conteúdo. Os resultados demonstraram o processo de “tornar-se” e “ser empreendedor” de
forma interligada ao longo do processo de pandemia, permitindo a emersão de uma nova categoria de
análise do processo empreendedor: tornar-se(r) empreendedor. Tornar-se(r) empreendedor apresenta-
se como um recurso adaptativo das pessoas para lidar com as mudanças contextuais advindas
da pandemia, que exige dos profissionais a constante reinvenção do próprio negócio por meio de
estratégias adaptativas que os “tornam” e os fazem “ser” novos empreendedores à medida que os
protocolos sanitários, normas sociais e intervenções econômicas são exercidas ao longo da pandemia.
Palavras-chave: Empreendedorismo; processo; pandemia; trabalho; carreira.
ABSTRACT
The aim of this study was to understand the complexities of becoming an entrepreneur during the
Covid-19 pandemic. To this end, seven entrepreneurs in the area of services, self-employed professionals
and self-employed businesses were interviewed about “becoming” and “being an entrepreneur” during
the pandemic. The interview reports were transcribed and analyzed using content analysis. The results
showed the process of ‘becoming’ and ‘being an entrepreneur’ in an interconnected way throughout
the pandemic process, allowing the emergence of a new category of analysis of the entrepreneurial
process: becoming + being an entrepreneur – tornar-se(r). Becoming + being an entrepreneur – tornar-
se(r) presents itself as an adaptive resource for people to deal with the contextual changes arising from
the pandemic, which requires professionals to constantly reinvent their own business through adaptive
strategies that ‘become’ and make them ‘being’ new entrepreneurs as health protocols, social norms
and economic interventions are exercised throughout the pandemic.
Keywords: Entrepreneurship; process; pandemic; work; career.
(Be)Come Entrepreneur: Process of Creating and Adapting Business
during the Pandemic
Heila Magali da Silva Veiga
Universidade Federal de Uberlândia
heila.veiga@ufu.br
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-7429-8124
Daniela Aparecida de S. M. Ramos
Universidade Federal de Uberlândia
daniela.ramos@ufu.br
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-8558-1291
Adriane Barbosa Gimenez
Universidade Federal de Uberlândia
gimenez.adriane@gmail.com
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-4561-2484
Pedro Afonso Cortez
Universidade Federal de Uberlândia
cor.afonso@gmail.com
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-0107-2033
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Introdução
Segundo a Organização Mundial da Saúde (World Health Organization - WHO,
2022), a pandemia de SARS-COV2/COVID-19 tem mais de 435 milhões de casos
confirmados e quase seis milhões de mortes em todo o mundo. Além de ser uma
questão de saúde pública, a pandemia influencia a economia mundial, todavia, a
magnitude de tais repercussões ainda são desconhecidas (Amankwah-Amoah et
al., 2021; Brem et al., 2020; Winston, 2020). A pandemia de SARS-COV2/COVID-19
teve e continuará a ter implicações profundas nas diversas esferas da vida, como na
economia e no emprego (Constantino & Neumeyer, 2020; Nassif et al., 2020; Sharma
et al., 2020; Souza et al., 2023). As previsões acerca dos impactos do coronavírus, na
esfera econômica, falam em redução do crescimento econômico em decorrência da
redução da oferta de trabalho, maior custo de produção, maior inflação temporária,
redução do consumo e aumento do desemprego, e essa multiplicidade de impactos
demanda a formulação e execução de política de desenvolvimento econômico pós-
pandemia, com foco no longo prazo (Araújo & Brandão, 2021; Costa, 2020; Wren-
Lewis, 2020).
A crise econômica provocada pela pandemia de Covid-19 é a maior desde
a Segunda Guerra, e nesse contexto, os negócios dos mais variados segmentos
devem sofrer perdas catastróficas, sendo esse impacto maior nas pequenas e
médias empresas; especialmente, nos países em desenvolvimento como o Brasil,
os trabalhadores estão expostos a maiores riscos, porque as políticas públicas são
mais escassas (Organização Internacional do Trabalho - OIT, 2020). Dado que 98,5%
dos estabelecimentos no país são pequenas e médias empresas, urge compreender
os impactos da pandemia nessa realidade (Nassif et al., 2020). Nessa conjuntura,
trabalhadores dos países menos desenvolvidos, provavelmente, enfrentarão mais
dificuldades na manutenção e qualidade do emprego. Diante dessa situação de
dificuldade, o empreendedorismo se mostra como uma alternativa para a geração
de renda, mas é preciso compreender melhor esse fenômeno para verificar se, nessa
circunstância, ele surge como identificação de uma oportunidade no mercado ou apenas
como uma necessidade, diante de uma realidade de total ausência de perspectivas
(Abílio, 2019; Antunes, 2018; Guimarães et al., 2022).
Uma das medidas adotadas pelos governos para reduzir o contágio pelo
coronavírus é o distanciamento social, o qual diz respeito a um conjunto de ações
que busca limitar o convívio social de modo a controlar a propagação de doenças
contagiosas (Brasil, 2020). Esse bloqueio na economia de todo o mundo criou uma
situação única, a qual tem obrigado as empresas a responderem à crise tentando
sobreviver a este período (Constantino & Neumeyer, 2020; Guimarães et al., 2022;
Kuckertz et al., 2020; Souza et al., 2023). O isolamento social, imposto como medida
de contenção da pandemia, ameaça a existência de muitas empresas, forçando
empreendedores a lidarem com os efeitos da crise e a adoção de medidas para
garantir o futuro das organizações e a manutenção dos empregos. Esses bloqueios,
adotados como forma de diminuir a propagação da doença, afetaram mais de 2 bilhões
de trabalhadores (OIT, 2020).
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Tratando especificamente da realidade brasileira, no que concerne às diretrizes
do governo federal para o enfrentamento da Covid-19, as críticas às ações do
presidente são incisivas, entre elas, podem ser mencionadas, o negacionismo no
início da pandemia sobre sua gravidade, a não obediência às normas de isolamento
social e a demora na efetivação das medidas de apoio à população desempregada.
De maneira geral, as ações efetivas são consideradas insuficientes e os acertos
escassos (Campos, 2020; Cotrim Junior & Cabral, 2020).
Mediante esse cenário, um dos impactos da pandemia, segundo Coelho-
Lima e Bendassoli (2020) é a informalidade que ganhou força nesse período, tendo
como sustentação o desemprego, a precarização do trabalho e a falta de políticas
públicas de amparo aos trabalhadores, levando-os a exercerem atividades diversas
como pequenos serviços ou mesmo abrindo seu próprio negócio. Já com uma visão
mais comunitária, Sanches e Moraes (2020) relatam que o empreendedorismo com
características voltadas para a esfera da economia social pode permitir às pessoas
marginalizadas uma oportunidade de geração de renda e trabalho a partir de ações
coletivas e comunitárias.
Por outro lado, a pesquisa realizada por Veiga et al. (2020), ao analisar a
intenção empreendedora, identificou que a busca por oportunidades e o foco nesse
objetivo são propulsores para que o profissional possa abrir o seu próprio negócio
valorizando a inovação, o risco e tendo como retornos poder e prestígio. Contribuindo
com esse pensamento, Ramos et al. (2020) apontam em seus estudos o fato de que o
empreendedorismo é visto como uma condição que impulsiona e estimula mudanças
sociais e ambientais, a considerar um ambiente de globalização e alta competitividade.
Diante dessa realidade, a temática do empreendedorismo tem sua relevância
ampliada, porque muitos trabalhadores que já estavam desempregados ou que
perderam seus empregos durante a pandemia, têm na criação de um novo negócio,
a única possibilidade de geração de renda. Assim, o objetivo geral do presente estudo
foi compreender as tessituras do tornar-se e ser empreendedor durante a pandemia
de Covid-19.
O termo empreendedorismo ao longo da história vem sendo descrito de forma
distinta. No século XVI, o conceito empreendedorismo era utilizado para descrever
uma pessoa que assumia a responsabilidade e dirigia uma ação militar. No entanto,
apenas no final do século XVIII, que o termo foi utilizado para referir-se à pessoa
que criava e administrava projetos ou empreendimentos (Veiga, Demo, & Neiva,
2017). O empreendedorismo é um conceito dinâmico e complexo, e tem apresentado
diferentes abordagens ao longo do tempo e está associado à imagem do indivíduo
que assume riscos face ao desejo de iniciar um negócio próprio (Vale, 2014). Para
Baggio e Baggio (2014), o empreendedor é o indivíduo que identifica as oportunidades
e cria possibilidades de crescimento de um determinando negócio.
Diversos trabalhos da vertente econômica apontam que o empreendedorismo é
capaz de criar postos de trabalho e gerar renda, sendo o empreendedor um agente
de transformação em sua realidade (Audretsch et al., 2006; Fontenele, 2016). A
partir de uma perspectiva da ciência psicológica, os fatores internos, os valores e
as motivações humanas podem levar os indivíduos a explorarem oportunidades e
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a iniciarem um novo empreendimento. Para Zwan et al. (2016), fatores como sexo,
idade, escolaridade e personalidade influenciam no comportamento empreendedor
dos indivíduos. Neste sentido, jovens com necessidades de realização pessoal, que
almejam autonomia e apresentam uma personalidade criativa podem estar associadas
à figura do empreendedor (Vale, 2014; Zwan et al., 2016). Igualmente, os estudos
dessa perspectiva evidenciam o empreendedorismo como gerador de impacto social,
empoderamento e emancipação especialmente para mulheres em países pobres
(Bandeira et al., 2020).
A literatura elenca diversas motivações para empreender, mas, em linhas gerais
essas podem ser classificadas em necessidade e oportunidade (Vale, Corrêa, & Reis,
2014). Os empreendedores por necessidade representariam uma parcela da população
envolvida com o empreendedorismo por não ter outra opção de trabalho, ao passo que
os por oportunidade seriam aquelas pessoas que identificaram uma oportunidade de
negócio que pretendem perseguir (Vale, 2014). Embora as pessoas possam apresentar
necessidade de realização em atividades empreendedoras, quando a motivação para
empreender é a necessidade, as pessoas o fazem porque podem estar privadas de
bens necessários à vida e buscam meios de segurança e de sobrevivência frente a
uma situação econômica desfavorável (Assunção, Queiroz, & Costa, 2017).
Vale et al. (2014) investigaram os motivos intervenientes na criação de novos
empreendimentos e concluíram que esses podem ser variados, como a necessidade
devido à insatisfação com o emprego ou a influência familiar. No estudo de Silva et al.
(2020), a necessidade foi o principal motivo que levou as mulheres a empreender devido
à busca pela autonomia financeira, reconhecimento profissional e maior flexibilidade
nos horários de trabalho. Na investigação de Martins, Veiga e Cortez (2020), as
oportunidades, a necessidade, o desejo de ter uma empresa de prestígio, a influência
familiar e de terceiros foram os motivos relatados pelos jovens empreendedores
entrevistados. Ao tratar especificamente do empreendedorismo por necessidade,
os autores levantam aspectos relacionados com crises econômicas, dificuldades de
inserção profissional e, mais recentemente a pandemia de Covid-19, que impactaram o
mercado de trabalho. Tal cenário leva profissionais a empreenderem como necessidade
para se manterem no mercado de trabalho e satisfazerem suas necessidades básicas,
pois segundo Praun (2020 apud Graner 2020, p. 2), a condição recessiva já levou a
“quase um milhão de solicitações de seguro-desemprego registradas pelo Ministério da
Economia somente ao longo de maio de 2020. O número é 53% superior à quantidade
de pedidos apurada para o mesmo período do ano anterior”, o que corrobora Ramos et
al. (2020) ao enfatizar que empreendedorismo baseado na necessidade não causam
impactos na geração de riquezas e inovação de um país, mas sim, estão associados
meramente às questões econômicas e desemprego, onde o profissional se dispõem a
trabalhar em um novo negócio por falta de opção de emprego e renda, e normalmente
assume esse novo ofício sem nenhuma preparação ou planejamento prévio.
Sustentadas nas narrativas supracitadas, Martins et al. (2020) mencionam que
o jovem busca empreender por não ter dinheiro e pela possibilidade de uma renda
alternativa para suas necessidades, fazendo dessa condição a sua principal fonte
motivacional. Fato esse reforçado por Praun (2020) onde ele ressalta que os jovens
aderem aos trabalhos mediados por tecnologias digitais e flexibilizações, mas que
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na realidade sua atuação como autônomo é imposta pela necessidade de sobreviver.
Além disso, o contexto brasileiro é sustentado pela cultura do neoliberalismo que
incentiva os profissionais a aderirem à condição de empresários, porém sem capital
ou preparação mínima, com uma falsa crença de que terão as mesmas vantagens
dos grandes empreendedores (Coelho-Lima & Bendassoli, 2020).
Em síntese, pelo referencial teórico apresentado, características pessoais e
aspectos contextuais atuam conjuntamente ao longo do processo de empreender.
No presente estudo, o conjunto de características pessoais e experiências que
permitem ao indivíduo iniciar o próprio empreendimento é compreendido como o
processo de “tornar-se empreendedor” (Cortez & Veiga, 2019; Martins et al., 2020).
Os indivíduos que já possuem o próprio negócio e executam esforços para mantê-
lo ativo são caracterizados como aqueles que vivenciam o “ser empreendedor” por
meio da manutenção cotidiana da atividade empreendedora (Cortez & Veiga, 2018;
Cortez et al., 2019).
Em condições regulares, esses fenômenos tendem a apresentar razoável
clarificação conceitual para apreender o processo de criação e manutenção do próprio
empreendimento por parte do empreendedor (Packard et al., 2017; Rauch et al.,
2018). Contudo, considerando-se as mudanças contextuais recentes ocasionadas em
decorrência do isolamento social que afetou de forma substancial as práticas sociais
e econômicas, propôs-se o presente estudo para compreender de que modo essas
organizações próprias do processo empreendedor foram afetadas pelos desafios
ocasionados pela situação de pandemia aos empreendedores (Zahra, 2021). Frente ao
exposto, apresenta-se na seção seguinte o delineamento que possibilitou a consecução
da investigação.
Método
Participantes
Como critério de inclusão neste estudo foram considerados: (a) ser maior de 18
anos de idade; (b) ter iniciado e/ou reinventado um negócio/serviço durante a vigência
da pandemia de Covid-19; (c) concordar em participar da pesquisa; (d) e preencher o
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Para a definição do tamanho amostral
foi considerado o critério da saturação (Fontanella & Magdaleno Jr, 2012; Fontanella
et al., 2008). Foi utilizada uma amostra de conveniência de sete participantes, os
quais se tornaram empreendedores durante a pandemia de Covid-19. Para a inclusão
dos participantes foi adotada a técnica do snowball. Justifica-se a adoção dessa
estratégia pela necessidade de abranger um público específico de trabalhadores,
assim a rede de contatos próxima facilita que o convite seja disparado diretamente
aos participantes que atendem aos critérios de inclusão (Handcock & Gile, 2011).
Foram entrevistados um homem e seis mulheres com idade variando de 28
a 53 anos de idade, sendo a maior parte deles microempreendedores da área de
serviços, profissionais autônomos e negócios locais. A Tabela 1 traz uma síntese das
características dos empreendedores e seus negócios. Para preservar a identidade
deles foram atribuídos nomes fictícios.
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Tabela 1 - Descrição da amostra pesquisada
Nome* Breve histórico profissional Breve descrição do negócio
Ana 53 anos, casada, com filhos, 3º grau
completo em Letras. Reside no interior
de Minas Gerais. Atua como professora,
porém a demanda por aulas diminuiu,
haja vista que não é concursada.
Marmitaria, há 6 meses. Optou por esse
ramo de atuação por ter habilidades em
cozinhar. A marmitaria funciona em sua
residência e conta com o apoio do esposo
e filhos na gestão do negócio, além
de ofertar os serviços de entrega por
delivery.
Carlos 28 anos, casado, com filho, 2º grau
completo. Reside no interior de Minas
Gerais e a loja localiza-se em uma cidade
próxima à cidade que reside, justamente
por ser uma cidade menor e por não ter
tantas opções de vestuário com preços
mais adequados mediante a qualidade do
produto. Antes, atuava em uma empresa
terceirizada no ramo de telefonia.
Roupas masculinas, há 3 meses.
Escolheu atuar no segmento de roupas
masculinas por acreditar que as pessoas
necessitam de vestuário, além de
alimentação e também por gostar de
roupas. Aplicou suas economias nesse
negócio.
Débora 38 anos, solteira, sem filhos, 3º grau
incompleto. Reside em São Paulo. Atuava
na área de turismo, eventos e há algum
tempo estava insatisfeita com a atuação.
Consultoria e delivery de plantas para
ambientes domésticos há 3 anos.
A ideia do negócio surgiu em um
evento de startup, a participação na
competição despertou o interesse pelo
empreendedorismo, depois pela ideia de
economia colaborativa.
Fernanda 29 anos, solteira, sem filho. Reside no
interior de Santa Catarina. Formada
em publicidade, com curso na área de
fotografia. Nunca trabalhou na área.
Tanto ela quanto o namorado perderam o
emprego logo no início da pandemia.
Confeitaria, vende “caseirinhos” (bolos)
e doces há aproximadamente 3 meses.
Administra o negócio junto com o
namorado, que tem nível superior.
Durante a pandemia, o casal está
morando com a família dele e o negócio
fica nessa residência.
Rita 30 anos, casada com filhos. Reside no
interior de São Paulo, com curso superior
na área de Psicologia. Já atuou na
área de formação e há 4 anos atrás era
proprietária de uma consultoria na área
de gestão de pessoas.
Empresa que oferece serviços de gestão
de pessoas no formato remoto. Entre os
serviços tem-se seleção, treinamento,
ações com foco na saúde no trabalho.
Simone 44 anos, divorciada, com filhos. Reside
na região da capital de Santa Catarina,
com curso superior na área de Psicologia.
Já atuou em gestão de pessoas e há dois
anos atuava em clínica de Psicologia e
avaliação psicológica.
Serviços de psicologia oferecidos
remotamente, especificamente
atendimento psicológico.
Tereza 44 anos, separada com filhos, 2º grau
incompleto, reside no interior de Minas
Gerais. Trabalhava na indústria, linha
de produção e perdeu o emprego pouco
antes da pandemia.
A empresa de salgados existe há 5
meses e fornece alimentos prontos e
congelados. Utiliza a rede de contatos
para divulgação dos produtos.
Fonte: Elaboração própria (2022). | Nota. * = Os nomes das entrevistadas foram modicados, com o
intuito de resguardar o anonimato dos participantes.
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Instrumentos
Foi utilizado um roteiro de entrevista semiestruturada para dirigir a verbalização
do participante para temas relativos aos problemas da investigação, a saber, se tornar
empreendedor durante a pandemia de Covid-19. Entre as questões apresentadas ao
participante da pesquisa, havia, por exemplo, as seguintes indagações: (a) relate-me
suas experiências profissionais e de empreendedorismo até o momento da pandemia
de Covid-19; (b) o que te motivou a abrir e/ou reinventar o seu negócio no contexto de
pandemia?; (c) você enfrenta/enfrentou dificuldades na proposição e gerenciamento
desse negócio até o presente momento e/ou durante a pandemia?. O instrumento foi
avaliado quanto à pertinência de conteúdo e compreensão semântica entre especialistas
e a população-alvo, demonstrando adequação para aplicação ao propósito do estudo
(Kallio et al., 2016).
Procedimentos
Primeiramente, o projeto de pesquisa foi submetido ao Comitê de Ética em
Pesquisa com Seres Humanos (CAAE: 33541520.4.0000.5152). Após a emissão do
parecer consubstanciado de aprovação, a equipe de pesquisa acionou a sua rede de
contatos e buscou possíveis participantes do estudo. Os participantes que concordaram
em participar do estudo e assinaram o Termo de Consentimento Livre Esclarecido
(TCLE) e responderam às questões de pesquisa em uma entrevista mediada pela
internet em horário previamente agendado. O tempo médio de duração da entrevista foi
de 40 minutos. As entrevistas aconteceram entre os meses setembro e dezembro de
2020. Os dados foram gravados e transcritos em relatos escritos a serem analisados
pelos pesquisadores. Após a transcrição, as gravações foram excluídas de forma
permanente e os relatos escritos arquivados de forma não identificada por nome fictício,
conforme disposto no manuscrito. Para a condução do estudo foram considerados
os critérios de qualidade essenciais à pesquisa qualitativa e, os critérios de validade
primários, a saber, credibilidade, a autenticidade, a criticidade e a integridade (Patias
& Von Hohendorff, 2019).
Análise de dados
Para a análise dos dados foi feita a análise de conteúdo de Bardin (2011) a partir
da análise do corpus das entrevistas. Primeiramente, foram selecionadas as unidades
de análise e elaboradas as categorias e as subcategorias temáticas, as quais foram
criadas com base na “conjunção de interdependência entre os objetivos do estudo e
as teorias explicativas adotadas pelo pesquisador” (Campos, 2004, p. 613).
Resultados
A partir das análises do corpus das falas dos participantes do presente estudo,
foram elaboradas duas categorias de análise, as quais estão em consonância com as
indagações do presente estudo, a saber, as tessituras de “tornar-se empreendedor em
pandemia” e “ser empreendedor em pandemia”. Essas categorias foram consideradas
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representativas do processo empreendedor de forma regular, o qual foi abarcado
anteriormente no referencial teórico.
Na primeira categoria, nomeada como “tornar-se empreendedor”, foram
identificadas a seguintes subcategorias: (a) interesse/experiência; (b) dificuldade
compreendida como oportunidade; (c) necessidade/desemprego e isolamento social;
(d) rede de contatos; e (e) flexibilidade de horários. Por sua vez, as subcategorias
representativas de “ser empreendedor em pandemia” são: (f) expansão durante e após
pandemia; (g) separação entre pessoal e trabalho; (h) ausência de política pública de
incentivo ao pequeno empreendedor; (i) divulgação do negócio em formato digital; (j)
autoconhecimento; (k) imprevisibilidade orçamentária e planejamento em pandemia; (l)
especificidade do negócio e privacidade. Todas as categorias elaboradas apresentam
compatibilidade com o recorte definido a priori na formulação dos objetivos do estudo
e do questionário semiestruturado.
Como observado na Tabela 2, o aspecto comum a todos os sete participantes
do estudo na decisão de tornar-se empreendedor em pandemia foi a interface entre o
interesse e a experiência profissional pregressa. Cabe destacar que essa subcategoria
foi mencionada diversas vezes pelos empreendedores, sendo a mais frequente. Em
seguida, têm-se as categorias que foram mencionadas por seis participantes, a saber,
a “dificuldade como oportunidade” e “necessidade, desemprego e isolamento social”,
sendo as verbalizações de cada uma delas de 17 e 14, respectivamente.
Tabela 2 - Tópicos representativos da categoria Tornar-se Empreendedor em Pandemia
Categoria Definição Falas F. FA
Interesse e
experiência
As interfaces entre a
trajetória profissional e
a experiência de vida
levaram as pessoas a
pensarem em um ramo
de negócio específico
para empreender.
“Era um sonho antigo”. Débora
“Na verdade, eu sempre tive essa ideia
de criar um negócio próprio para mim”.
Carlos
“Eu sempre trabalhei com RH, mas ficava
descontente com minha atuação. No
período mais recente, optei por trabalhar
com consultório clínico em Psicologia e
Educação”. Simone
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Dificuldade
compreendida como
oportunidade
A ausência de
oportunidades no
mercado de trabalho
formal tradicional
é encarada como
oportunidade para criar
algo novo.
“Consigo enxergar as dificuldades como
oportunidades... as pessoas passaram a
ressignificar o estar em casa... cuidar das
plantas é cuidar de si.” Débora
“Eu penso que ninguém deixa de comer
e de se vestir, e como sempre gostei de
roupa, achei que valia a pena.” Carlos
“Ninguém pode parar de comer.” Ana
“Posso fazer algo que gosto e ganhar
mais do que eu ganhava antes com
carteira assinada.” Tereza
“A maior parte dos projetos do nosso
modo antigo de trabalho pararam no início
da pandemia, mas começaram a surgir
outros durante a pandemia e começamos
a atuar em cima disso... Criamos serviços
gratuitos e de apoio para as empresas
durante a pandemia para continuar vivo
durante a parada do mercado.” Rita
617
Necessidade,
desemprego e
isolamento social
A necessidade de
subsistência, o
desemprego e o
isolamento resultaram
na criação de um
negócio para geração
de renda.
“Eu e meu namorado perdemos o
emprego logo no início da pandemia.”
Fernanda
“Com a pandemia todos os meus
contratos foram cancelados.” Débora
“Fiquei desempregado e tinha que
sustentar meu filho... correr atrás do
sustento do meu filho... Agi no medo, mas
no impulso deu certo.” Carlos
“Vários clientes solicitavam no momento
consultoria para dar conta desse
momento de pandemia.” Rita
614
Rede de contatos A rede contatos
possibilitou a
concretização do
negócio por meio
de colaborações e
parcerias na geração
do empreendimento.
“os amigos foram os primeiros a testar
os produtos... depois ajudaram na
divulgação.” Gabriela
“Os amigos compraram, divulgaram para
outras pessoas.” Tereza
“Se junta a quem está fazendo.” Debora
“Chamamos várias pessoas da área de
consultoria que já conhecíamos para
concretizar esse sonho conosco.” Rita
410
Fonte: Elaboração própria (2022). | Nota: F= frequência (foi considerado como nível análise o partici-
pante, logo o valor máximo é 7); FA= frequência acumulada (foi considerado como nível de análise a
fala dos participantes, assim sempre que foi verbalizada a categoria ela foi computada).
Na Tabela 3, observa-se que entre as categorias do ser empreendedor em
pandemia, a mais frequente foi “expansão durante e após pandemia” (F=6; FA=19),
seguida de “separação entre pessoal e trabalho” (F=5; FA=16). De forma geral, os
processos identificados apresentam-se compatíveis com as propostas apresentadas
anteriormente em literatura, mas retratam uma retroalimentação entre ambos que
parece inédita ao contexto de emersão da pandemia, o qual será discutido de forma
detalhada na seção seguinte.
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Tabela 3 - Tópicos representativos da categoria Ser Empreendedor em Pandemia
Categoria Definição Falas F. FA
Expansão durante e
após pandemia.
Dificuldade na
obtenção de
crédito e no
apoio à própria
estruturação do
negócio.
“É um sonho que quero continuar... quem sabe
cursar gastronomia”. Fernanda
“No começo da pandemia eu estava
desempregado, agora já tenho um
funcionário... O sonho é ampliar”. Carlos
“Não quero voltar a trabalhar 100% presencial
não... caminho sem volta o remoto, o que eu
puder fazer dessa maneira, eu vou fazer”.
Simone
“Hoje ganho mais que o que ganhava quando
estava com carteira assinada, quero crescer”.
Tereza
“Eu penso em atuar de forma híbrida, indo
pra presencialidade somente nos casos
dos instrumentos, sendo a entrevista e o
acompanhamento de forma online se for
também preferível pelo cliente”. Simone
619
Separação entre pessoal
e trabalho.
Como os negócios
funcionam em
casa devido ao
isolamento, às
vezes, é difícil
separar as facetas
da vida e uma
acaba afetando a
outra.
“É só trabalho... não pode nem passear por
causa do isolamento”. Ana
“Tem horas que todos precisam me ajudar”.
Tereza
“Finais de semana têm mais pedidos e afetam
os almoços em família ou almoçar em horários
certos”. Fernanda
“Eu me sinto mais sobrecarregada no trabalho
doméstico e tivemos que recombinar as
atividades. As relações continuam juntas e
separadas, conforme a necessidade de tempo
e liberdade de cada um”. Simone
516
Ausência de política
pública de apoio ao
pequeno empreendedor.
Para empreender
na pandemia é
requerido que
o profissional
domine as
ferramentas de
TI, identificação
e fidelização
de clientes no
ambiente virtual.
“Hoje eu sei o quanto é difícil para o pequeno,
então quando vou comprar um sanduíche, não
compro da empresa grande mega famosa, eu
vou no pequeno”. Fernanda
“Administrar o negócio, não é simples... tudo
na ponta do lápis.” Ana
“O Brasil nosso já está todo atrapalhado, é
juros, é corrupção demais”. Carlos
“É muito cedo para saber dos benefícios, pois
ainda não criaram novas regulações para
formalizar o que fazemos”. Rita
510
Divulgação do negócio
em formato digital.
Necessidade
de domínio de
ferramentas
relativas a
TI para que
o negócio
funcione
remotamente.
“Eu não sei mexer muito no Instagram, aí
fica mais difícil, né?” Débora
“Poucas pessoas conhecem nosso
negócio”. Fernanda
“Quero profissionalizar as fotos para
conquistar mais pessoas”. Fernanda
“Todo processo de captação agora é o
online, tudo o que fazemos era presencial
e agora é online”. Rita
5 7
83 Tornar-se(r) empreendedor: processo de criação e adapTação de negócios duranTe a pandemia
Gestão & Conees (ManageMent and ConneCtions Journal). Vitória (Es), Vol. 13, n. 2, mai./ago. 2024.
Autoconhecimento. Trabalhar em
casa possibilitou
ressignificar os
sentidos da vida
e os espaços
para cada esfera
da vida, pessoal,
profissional,
espiritual.
“No meu trabalho anterior eu não tinha vida...
gosto mais dessa Débora de agora, voltei para
minha essência”. Débora
“As plantas como possibilidade de ressignificar
a vida... Autoconhecimento foi a palavra de
2020”. Debora
“A minha vida era muito corrida antes e notei
que agora fiquei mais preguiçosa. Tenho
medo de quando voltar se conseguirei me
readaptar ao ritmo. No aspecto de qualidade
de vida foi ótimo dar uma desacelerada, mas
teve um prejuízo na perda de contatos da
presencialidade que eu gostaria de retomar
com o tempo”. Simone
412
Imprevisibilidade
orçamentária e
planejamento em
pandemia.
Manejo do
negócio em
função da
imprevisibilidade
gerada na
pandemia frente
ao número
de vendas,
cancelamento
de pedidos e
dificuldades
financeiras para o
empreendedor e
para os clientes.
“Tem dia que não tem pedido nenhum... é bem
ruim”. Fernanda
“Peço ajuda aos meus filhos que são formados
em administração, porque administrar é difícil”.
Ana
“Maior dificuldade foi ter logística interna”.
Debora
“Tivemos que recriar os projetos e aguardar o
tempo certo para aplica-los”. Rita
411
Especificidade do
negócio e privacidade
Os negócios
na área de
psicologia,
especialmente,
trabalham com a
questão do sigilo
das informações,
privacidade e
isso tanto para
o profissional
quanto para o
local em que o
paciente.
“É preciso sempre repactuar e fazer as
pessoas entenderem o nível de privacidade
que eu preciso no meu trabalho... falo pra
minha família que só pode me interromper em
casos extremos”. Simone
“A dificuldade é fazer um setting clínico e
reservado em casa”. Simone
“As empresas agora pedem apoio psicológico
e tem facilitado empreender na área de saúde
mental”. Rita
2 3
Fonte: Elaboração própria (2022). | Nota: F= frequência (foi considerado como nível análise o partici-
pante, logo o valor máximo é 7); FA= frequência acumulada (foi considerado como nível de análise a
fala dos participantes, assim sempre que foi verbalizada a categoria ela foi computada).
Discussão
Para compreender as tessituras do tornar-se e ser empreendedor durante a
pandemia de Covid-19 é preciso apreender os avanços propostos por meio do presente
estudo. Inicialmente, foi possível mapear com clareza as manifestações de tornar-se
e ser empreendedor entre os participantes investigados. De forma conjunta, houve
também a emersão de um processo adaptativo próprio da dinâmica de empreender
84
Heila Magali S. Veiga | Daniela apareciDa S. M. raMoS | aDriane BarBoSa giMenez | peDro afonSo cortez
Gestão & Conees (ManageMent and ConneCtions Journal). Vitória (Es), Vol. 13, n. 2, mai./ago. 2024.
em pandemia, o qual foi nomeado tornar-se(r) empreendedor, sendo as distinções
entre esses processos elencados a seguir.
O fenômeno de “tornar-se empreendedor” foi caracterizado como os esforços
necessários para criar o próprio negócio, abrangendo aspectos pessoais e
socioeconômicos. No relato dos participantes, dificuldades, sonhos, necessidades
e interesses profissionais e de carreira possibilitaram o surgimento do próprio
empreendimento. O desemprego gerado pela pandemia relatado por Fernanda
exemplifica os casos de “tornar-se empreendedor” por necessidade, por exemplo.
Por sua vez, o interesse profissional de Carlos ao relatar “desde sempre tive essa
ideia de gerar um negócio pra mim” demonstra o “tornar-se empreendedor” por
atitude e intenção empreendedora. Esses relatos, juntamente aos demais, tornam
essa categoria representativa do processo de “tornar-se empreendedor”, tendo em
vista as concepções previamente propostas da literatura (Cortez et al., 2019; Puente
et al., 2019; Souza et al., 2023; Veiga et al., 2020).
Ademais, no processo de se tornar empreendedor coexistem o empreendedorismo
por necessidade e por oportunidade, especialmente esse último é relevante porque
na literatura as pessoas se mostram mais bem-preparadas e capazes de desenvolver
estratégias para o sucesso do negócio e por buscar recursos (Clough et al., 2019; Jafari-
Sadeghi, 2020). Como observado, os participantes, mesmo diante das adversidades
impostas pela pandemia de Covid-19 foram capazes de analisar o contexto e mobilizar
suas competências, experiências e motivações para propor um negócio.
Por sua vez, o processo nomeado como “ser empreendedor” foi apreendido
como as ações e práticas propostas ao longo da manutenção do próprio negócio pelo
empreendedor proponente do empreendimento. A verbalização dos participantes trouxe
questões voltadas para os conflitos trabalho-família, imprevisibilidade, planejamento
e outras dificuldades próprias do processo de manutenção ou expansão do negócio
em diferentes contextos. A fala de Tereza a respeito de “tem horas que todos precisam
ajudar” elenca questões próprias da dificuldade de separar a unidade familiar e
empresarial em propostas familiares de pequenos negócios. A dificuldade relatada
por Fernanda em “tem dia que não tem pedido algum” demonstra aspectos próprios
da manutenção do negócio, como é o caso do planejamento de estoques, orçamento,
entre outras demandas usualmente vivenciadas por empreendedores com negócios
estabelecidos. De forma semelhante à primeira categoria, os diferentes relatos dessa
categoria se mostraram compatíveis com as representações prévias da literatura
sobre “ser empreendedor” (Caputo et al., 2018; Cortez et al., 2019; Cortez & Veiga,
2018; Mansoori & Lackeus, 2019).
Ao analisar de forma integrada os relatos pertencentes às duas categorias
supracitadas, nota-se que variações próprias da pandemia resultaram em uma
configuração inédita nesses dois processos. As dificuldades propostas pela pandemia
passaram a exigir daqueles que vivenciam o “ser empreendedor” reinvenções próprias
do processo de “tornar-se empreendedor” (Amankwah-Amoah et al., 2021; Packard et
al., 2017; Rauch et al., 2018). Exemplifica essa conjunção entre os dois processos a
verbalização de Rita sobre “ter que recriar o próprio negócio” e de Simone ao relatar
a “dificuldade de fazer um setting clínico em casa”. Trata-se de um processo de
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conjunção entre o “tornar-se empreendedor” durante o “ser empreendedor”, o qual
foi nomeado como “tornar-se(r) empreendedor”, conforme elencado na Figura 1.
Figura 1 - Relação entre temporalidade, contexto de negócio, fase do empreendimento e pro-
cessos de tornar-se, ser e tornar-se(r) empreendedor
Temporalidade Anterior à Pandemia Durante e Após a Pandemia
Contexto de
Negócio Menor imprevisibilidade Maior imprevisibilidade
Fase do
Empreendimento
Proposição do
Negócio
Manutenção do
Negócio
Proposição do
Negócio
Manutenção do
Negócio
Processo
Empreendedor
Ativado
Tornar-se
Empreendedor
(Criação)
Ser
Empreendedor
(Adaptação)
Tornar-se(r) Empreendedor
(Criação e Adaptação)
Fonte: Elaboração própria (2022).
Essa justaposição entre os fenômenos ocorre pelas necessidades de adaptação
às exigências psicossociais e econômicas elencadas pelos protocolos sociossanitários
e intervenções econômicas propostas até então durante a pandemia. Em conjunção
à pandemia, modificações contextuais relevantes nas práticas sociais, econômicas e
comportamentais demandam aos empreendedores novas características pessoais e
comportamentais para adaptação das próprias condutas pessoais e dos seus negócios
(Zahra, 2021). A partir das verbalizações dos participantes, verifica-se que “tornar-se
empreendedor” e “ser empreendedor” são dois processos imbricados que devem ser
considerados simultaneamente. Desta forma, não é possível manter as categorias de
análise do processo empreendedor isoladamente por meio de “tornar-se empreendedor”
e “ser empreendedor”, uma vez que a pandemia e o aumento da imprevisibilidade
decorrente dela exige que o “ser empreendedor” perpasse continuamente pela
reinvenção e reestruturação do negócio, o que comumente ocorre durante o processo
de “tornar-se empreendedor”.
Nesta perspectiva, o presente trabalho inova ao propor o tornar-se(r)
empreendedor como uma categoria relevante de análise e, portanto, fundamental
para conciliação da criação, recriação e adaptação pessoal do próprio empreendedor
e dos negócios em contextos de pandemia, devendo ter sua dinâmica explorada
com maiores detalhes em investigações ulteriores (Ketchen Jr & Craighead, 2020).
Especificamente, ainda é preciso compreender quais relações são estabelecidas
entre torna-se(r) empreendedor e outras características pessoais importantes
como coping, autorregulação, autoeficácia, entre outros construtos relevantes para
compreender a adaptação humana (Ratten & Jones, 2020). Ademais, investigações que
complementem o processo proposto, refinando a própria definição e operacionalização
do tornar-se(r) empreendedor permitirão a efetiva compreensão e aplicação dessa
compreensão em práticas de orientação profissional voltadas para a geração de
negócios e desenvolvimento profissional de empreendedores e negócios em situação
de pandemia e pós-pandemia.
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Cabe destacar ainda que a categoria denominada de “especificidade do negócio”
concernente aos aspectos relacionados com o Ser Empreendedor em Pandemia
(Tabela 3) foi criada exclusivamente a partir da fala das duas participantes graduadas
em Psicologia e com empreendimentos nessa área. Esse fato revela que empreender
nesse campo possui especificidades adicionais. Nessa direção, um estudo conduzido
com psicólogos procurou identificar motivações, desafios e dificuldades relatados por
psicólogos empreendedores. Os resultados apontaram aspectos positivos relacionados
com a realização profissional, autonomia, possibilidades de conciliar trabalho e família,
e negativos ligados à insatisfação no trabalho e obstáculos para inserção profissional
no campo de formação superior. Os profissionais relataram ainda dificuldade para
colocar em prática os valores sugeridos como piso para a categoria e conseguir
manter o negócio em funcionamento (Silva et al., 2021).
Considerações Finais
Destaca-se entre as principais contribuições do presente estudo o pioneirismo
na sistematização das condições próprias de processo empreendedor em condição
de pandemia e a atualização do aporte teórico de compreensão desse processo
por parte da noção de “tornar-se(r) empreendedor” como um recurso de constante
adaptação e aprendizagem aos empreendedores em situação de pandemia, integrando
os aspectos do tornar-se e do ser empreendedor num processo dinâmico. Ademais,
abarca as abordagens teórico-empírica e analítico-bibliográfica (Richardson et al., 2019;
Sandeloowski & Barroso, 2003), na qual a literatura sobre o fenômeno foi cotejada com
as entrevistas com vistas a compreender os imbricamentos do empreender durante
a pandemia de Covid-19, o que trouxe elucidações bem como apontou lacunas para
pesquisas futuras.
Entre as limitações da investigação destaca-se que se trata de um exemplar
preliminar que carece de novas evidências que demonstrem sua robustez e efetividade
ou proponham ajustes ao modelo apresentado. Também se situa entre as limitações
do estudo a baixa representatividade de homens na amostra e a pouca variação
etária dos participantes, o que demanda por estudos ulteriores verificando de que
forma o processo de “tornar-se(r) empreendedor” ocorre em outras populações e
contextos. Igualmente, é benéfica a inclusão de diferentes setores e tamanhos de
empreendimentos, tendo em vista que a maior parte dos negócios empreendidos pelos
profissionais participantes do estudo se caracterizava como micro empreendedorismo
por meio de atividades de prestação de serviço, relações de trabalho autônomas e
negócios locais. Sugere-se também a investigação de negócios específicos relacionados
com a profissão de psicólogo com vistas a aprofundar as idiossincrasias desses
empreendedores. Outro tópico relevante na agenda de pesquisa é a investigação de
aspectos relacionados à interseccionalidade, aprofundando questões relativas a gênero,
preconceito e minorias. Por fim, é preciso delimitar que as condições de geração e
manutenção de negócios antes e pós-pandemia se alteraram e continuarão sofrendo
modificações constantes à medida que os protocolos de biossegurança, convivência
social e intervenções econômicas se desdobrem na realidade atual. Neste contexto,
“tornar-se(r) empreendedor”, como um processo de adaptação e reinvenção nesta
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realidade de maior incerteza, presta-se como um recurso a ser aplicado e investigado
entre empreendedores para superação das dificuldades pessoais e de geração de
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