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SilaS DiaS MenDeS CoSta | Mauraia Kelly De CaSSia Vieira
Gestão & Conexões (ManageMent and ConneCtions Journal). Vitória (Es), Vol. 13, n. 3, dE 2024.
Characteristics (Hackman & Lawler, 1971), que focam na maneira pela qual as
condições do trabalho podem repercutir na motivação e no comportamento dos
trabalhadores nas organizações; e das dimensões da tarefa, que considera estados
psicológicos ‒ importância, significado e valor ‒ que podem levar à satisfação com
o trabalho (Hackman & Oldham, 1975).
Morin (2001, 2003, 2008) vale-se desses pressupostos teóricos ‒ condições
psicológicas e teorias de gestão ‒ ao propor que a experiência de construção
dos sentidos está relacionada com a possibilidade de aprendizagem, o desafio, a
autonomia, a retidão moral, o reconhecimento e a contribuição social oriunda da
atividade desempenhada (Costa, 2021). Tais características estão presentes em
diferentes contextos de trabalho e profissões (Costa et al., 2020; Costa, 2021; Rodrigues
et al., 2016).
Com foco direcionado para a área de gestão, Morin e Cherré (1999) propõem um
modelo conceitual em que o sentido do trabalho envolve três componentes: significação
(valores absolutos ou relativos); orientação (função de utilidade); e coerência (conexão
e equilíbrio entre o eu e o trabalho). Nesta perspectiva, a concepção de sentido do
trabalho compreende: significação, isto é, definição e valor relativo e absoluto para
quem o realiza; orientação, expressividade e utilidade, ou seja, o trabalho como
obrigação ou como um direito; e coerência, que envolve o grau de conexão e equilíbrio
entre o indivíduo e o trabalho.
A conceituação do construto a partir de Morin e Cherré (1999) é compartilhada
por Bendassoli & Borges-Andrade (2015, p. 223), que compreendem que o trabalho
com sentido está relacionado “ao fato de que o sujeito, na realização do seu trabalho,
identifica elementos, ou fatores, que tornam uma atividade vivenciada como algo com
propósito, direção e finalidade”. Esta definição também é observada em diferentes
estudos no campo funcionalista, contemplando diferentes grupos de trabalhadores
(Costa et al., 2020; Costa, 2021). Além da abordagem funcionalista, é possível recorrer
à abordagem crítica, ampliando epistemologicamente dos estudos.
Na abordagem crítica a discussão gira em torno das tensões e contradições
da relação capital-trabalho presente, sobretudo, nos trabalhos de Antunes (1999,
2006). O autor fundamenta-se na sociologia do trabalho e na dialética, situando
tensões e contradições dessa relação nas configurações de organização do trabalho,
a exemplo da flexibilização e terceirização, usualmente seguidas do discurso sobre
empregabilidade e autogestão da carreira (Antunes, 1999).
Autores como Rohm e Lopes (2015), argumentam que o trabalho flexível é
controverso no tocante ao perfil profissional exigido, que prioriza a subordinação,
a agilidade e a adaptação, mas, em simultâneo, demanda profissionais que não
possuam muito envolvimento afetivo na sua relação com o trabalho. Nessas novas
configurações, o trabalho tende a esvaziar-se de sentido enquanto o trabalhador tem
a sua capacidade de mobilização coletiva reduzida, dado os contratos temporários,
horário flexível, entre outras práticas (Sennet, 2006).
Depois de situar o construto historicamente e apresentar proposições teóricas
de diferentes autores, considerando questões epistemológicas, na próxima seção
tem-se os procedimentos metodológicos adotados para a condução da revisão.