
169 Uberismo, formação particUlar e plataformizada na grande indústria moderna
Gestão & Conexões (ManageMent and ConneCtions Journal). Vitória (Es),v. 14, n. 1, p. 153-159, jan./abr. 2025.
corridas inferior à de referência, a empresa responde prontamente por meio de uma
política de advertências e represálias, buscando discipliná-los sob constantes ameaças
e penalidades. Essa estratégia de controle algorítmico segue uma progressão de
punições, podendo culminar no desligamento unilateral do trabalhador do aplicativo,
privando-o do acesso às corridas (Antunes, 2018; Filgueiras & Antunes, 2020; Slee,
2017). A ideia de autonomia e liberdade vendida pelas empresas colide com o modelo
de controle via taxas de aceitação de corridas (Rosenblat & Stark, 2016). Caso os
motoristas se recusem a acatar à gestão das empresas, contrapondo-se reiteradamente
à realização de certa tarefa, elas valem-se do desligamento dos motoristas, garantindo
o comando e o disciplinamento dos trabalhadores (Abílio, 2019; 2020b).
O gerenciamento algorítmico das empresas também conta com as taxas de
avaliação pelos usuários (Sousa & Meinberg, 2020). As plataformas convidam os
passageiros a avaliar os motoristas pelos aplicativos e, assim, participar do regime
disciplinar unilateral (Tucker, 2020), atuando como gerentes intermediários dos
motoristas (Rosenblat & Stark, 2016). A tarefa de supervisão é terceirizada para o
consumidor-usuário, que a realiza gratuitamente (Abílio, 2020b). Ao término de cada
corrida, o passageiro avalia sua satisfação com o serviço pelo motorista atribuindo-
lhe uma nota que, geralmente, varia em uma escala de 1 a 5 (Rosenblat & Stark,
2016; Zamora et al., 2021) e em alguns casos, pode realizar comentários sobre a
experiência durante a viagem.
Após o passageiro avaliar a corrida, a plataforma calcula uma média para o
conjunto das avaliações recebidas pelos motoristas, as quais são critério para o
ranqueamento desses trabalhadores em diferentes patamares de distribuição das
corridas, remuneração e credibilidade, influenciando diretamente na dinâmica laboral
organizada sob o gerenciamento algorítmico (Abílio, 2019; 2020; Sousa & Meinberg,
2020). Os motoristas com melhores médias de avaliação são preferidos no processo
de atribuição de viagens pela plataforma, recebem mais solicitações de viagem pelo
sistema (Antunes, 2018; Filgueiras & Antunes, 2020). A depender da média das taxas
de avaliação, por outro lado, além de receber menos solicitações, os motoristas podem
ser suspensos ou descredenciados (Zamora et al., 2021).
Em razão do que, os próprios trabalhadores devem se colocar em constante
vigilância e assegurar que a avaliação feita pelos usuários não decresça e se mantenha
no padrão da plataforma (Antunes, 2018). Os motoristas, portanto, transportam
passageiros e os olhos intermediários das empresas. Tornam-se responsáveis por
garantir a melhor avaliação possível (Abílio, 2019) e vulneráveis, pois reclamações
que adotam critérios unilaterais podem resultar na perda do meio de sobrevivência
que possuem (Slee, 2017), sem que haja mecanismos para se contestar as avaliações
tendenciosas ou injustas (Tucker, 2020).
Os motoristas são remunerados a cada corrida, algo como o salário por peça (por
tarefa), fonte de intensificação do trabalho, que estimula a competição (Marx, 2013).
Muitas das plataformas de mobilidade urbana não informam antecipadamente aos
motoristas o destino ou o valor que receberão antes de aceitarem uma corrida, eles
são obrigados a se conformar com as tarifas recebidas pelas corridas, mesmo que elas
não sejam vantajosas (Tucker, 2020). A subordinação segundo as determinações da
empresa torna o valor pago pela força de trabalhos dos motoristas incerto, mesmo que