Revista Gestão & Conexões
Management and Connections Journal
Vitória (ES), Vol. 14, n. 1, dE 2025.
iSSn: 2317-5087
doi: https://doi.org/10.47456/regec.2317-5087.2025.14.1.43844.153.179
Artigo submetido em: 26.04.2024 Aceito em: 20.11.2024 PublicAdo em: 27.01.2025
Uberismo, formação particular e plataformizada na grande
indústria moderna
RESUMO
Este artigo aborda o uberismo como uma forma particular de organização do trabalho adequada
à base técnica da grande indústria moderna pela articulação entre a acumulação flexível e a inovação
tecnológica. Ao explorar a evolução da relação entre a base técnica e a organização do trabalho no
desenvolvimento das forças produtivas e das relações sociais de produção, o estudo situa a emergência
do uberismo em meio ao taylorismo, fordismo e toyotismo. A análise delineia o uberismo como uma
forma de organização do trabalho caracterizada pela articulação entre: gestão algorítmica de plataformas
corporativas, implementação de práticas de supervisão contínua, definição de metas, variação na
remuneração e desligamentos arbitrários, ao mesmo tempo em que nega o reconhecimento dos
vínculos de subordinação e assalariamento. O trabalho uberizado, como proposto, constitui-se como
parte associada às configurações anteriores da organização do trabalho, compondo as possibilidades
de alternativas de extração e realização de mais-valor.
Palavras-chave: uberismo; organização do trabalho; plataformas; flexibilização; grande
indústria moderna.
Kaio Lucas da Silva Rosa
Universidade Federal de Minas Gerais
kaiorosa98@gmail.com
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-7865-6585
Alexandre de Pádua Carrieri
Universidade Federal de Minas Gerais
alexandre@face.ufmg.br
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-8552-8717
Uberism, a Distinctive and Platform-Based Formation in Modern Large-
Scale Industry
ABSTRACT
This article addresses uberism as a specific form of work organization suited to the technical
foundation of modern large-scale industry through the articulation of flexible accumulation and
technological innovation. By exploring the evolution of the relationship between technical foundations
and work organization in the development of productive forces and social relations of production, the
study situates the emergence of uberism within the contexts of taylorism, fordism, and toyotism. The
analysis outlines uberism as a form of work organization characterized by the articulation of: algorithmic
management on corporate platforms, implementation of constant supervision practices, definition of
targets, variation of pay and enforcement of arbitrary dismissals, while also denying the recognition of
subordination and salary payment. As proposed, uberized work forms part of previous work organization
structures, embodying possibilities of alternative means of extraction and realization of surplus value.
Keywords: uberism; work organization; platforms; flexibilization; modern large-scale industry.
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Introdução
A produção em geral é uma abstração complexa que se desdobra em diferentes
determinações. Algumas dessas determinações são compartilhadas por todas as
épocas, enquanto outras dizem respeito a épocas específicas. Isso ressalta a
importância de isolar corretamente as determinações que se aplicam à produção
em geral, considerando que a unidade entre o sujeito (a humanidade) e o objeto (a
natureza) é constante, para as diferenças essenciais serem reconhecidas (Marx,
2011). À medida que os sujeitos adquirem novas forças produtivas, eles transformam
seu modo de produção e, consequentemente, modificam sua forma de subsistência,
alterando todas as suas relações sociais (Marx, 2018).
Essa abordagem permite compreender a unidade entre a base técnica e a
organização do trabalho como uma configuração específica das relações sociais
de produção e das forças produtivas. A relação recíproca entre a base técnica e a
organização do trabalho é caracterizada por uma preponderância da base técnica, a
qual é levada ao seu limite pela organização do trabalho que a emprega (Cunha, 2019).
Em outras palavras, entre a base técnica e a organização do trabalho, encontra-se
uma reciprocidade mediada pela prática gerencial e pelo conflito laboral segundo a
base técnica (Cunha & Guedes, 2023).
A união histórica entre a base técnica e a organização do trabalho se fundamentou
em princípios operacionais distintos. Na manufatura moderna, caracterizada pelo
trabalhador com seu ferramental, alto nível de mecanização e introdução da linha de
montagem, estão presentes os princípios do taylorismo e do fordismo. Com a transição
da manufatura para a grande indústria, marcada pelo uso intensivo de maquinário,
destaca-se a influência do toyotismo (Cunha, 2019). Esse processo atinge um novo
estágio com as redes informacional-digitais, que modificam profundamente a relação
do trabalho com a máquina no nível das relações do processo de trabalho social
combinado (Alves, 2023).
Com relação ao taylorismo, fordismo e toyotismo têm-se esforços de teorização
já bastante consolidados e apropriados pela teoria da administração e teoria das
organizações. Neste artigo, avançando nas continuidades e rupturas entre taylorismo-
fordismo-toyotismo, propõem-se que a grande indústria moderna, por meio da
convergência de dois movimentos distintos: a ascensão da acumulação flexível (Harvey,
1992; Iamamoto, 2015; Tessarini et al., 2023) e a ampla presença de automação e
inovação tecnológica e informacional na base técnica (Alves, 2023; Antunes, 2018;
Cunha, 2019), traz consigo o uberismo enquanto nova forma de organização do
trabalho ancorada nas plataformas digitais.
O trabalho por meio de plataformas digitais e aplicativos engloba cerca de 1,5
milhão de trabalhadores no Brasil, o equivalente a 1,7% da população ocupada no
setor privado. Dentre esses, 52,2% atuam no transporte de passageiros, 39,5% na
entrega de comida e produtos, e 13,2% em serviços diversos (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística [IBGE], 2023a). Esses números refletem a relevância dessa
nova forma de organização laboral. Neste contexto, ao compreender os elementos
essenciais que constituem essa forma de trabalho, é possível perceber o lugar que ela
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vem ocupando na dinâmica das relações de produção. Com isso, este artigo objetiva
abordar o uberismo como uma forma particular de organização do trabalho adequada
à base técnica da grande indústria moderna pela articulação entre a acumulação
flexível e a inovação tecnológica, situando a ontogênese desse novo modelo de
organização do trabalho habilitado pelas forças produtivas.
Este artigo realiza um resgate histórico da imprescindível conexão entre a base
técnica e organização do trabalho na grande indústria moderna como parte componente
das relações sociais de produção. Trata-se de um esforço à medida que o uberismo tem
se consolidado enquanto forma de organização baseada em plataformas, desafiando
as concepções tradicionais sobre organização (Ametowobla & Stefan, 2023; Davis
& Sinha, 2021; Faraj & Pachidi, 2021) e abrindo novos horizontes para a teorização
já que implica em novas práticas de gestão do trabalho, processos de tomada de
decisões e o controle dos trabalhadores (Faraj & Pachidi, 2021).
Após esta introdução, a primeira seção analisa as transformações nas relações
sociais de produção, enfatizando a complexa interação entre a base técnica e a
organização do trabalho ao longo do tempo. Argumenta-se que dois movimentos
principais convergem nesse processo: a flexibilização, que insere novos elementos
nas relações de trabalho, nas condições de trabalho, no conteúdo ocupacional e nos
métodos de organização laboral; e a adoção de sistemas avançados de máquinas,
que incorporam tecnologias como robótica, microeletrônica e sistemas de informação.
Essa articulação entre a base técnica e os novos contornos da produção aponta para
as possibilidades emergentes na indústria moderna, especialmente no que se refere
ao trabalho em plataformas digitais.
Na segunda seção, o uberismo é situado como uma nova forma de organização
do trabalho, inserida na grande indústria moderna, a qual reúne tecnologias avançadas
e pela flexibilidade. Embora inserida na continuidade em relação a outras formas de
organização do trabalho, como o taylorismo, o fordismo e o toyotismo, o uberismo
incorpora elementos específicos que o diferenciam. Entre suas características principais
destacam-se o gerenciamento algorítmico e a não caracterização formal do vínculo
empregatício, resultando na ausência de um contrato de trabalho tradicional entre
trabalhadores de plataforma e empresas. Por fim, a conclusão resgata as contribuições
alcançadas ao longo da análise.
Encruzilhada do trabalho: flexibilização e viragem tecnológica na grande
indústria moderna
A relação intrínseca entre a base técnica e a forma do processo de trabalho é
crucial para o entendimento das transformações no mundo do trabalho ao longo do
tempo (Faria, 2009). A base técnica abrange a especificidade dos meios empregados
no processo produtivo, como instrumentos, ferramentas e maquinaria. Essa base
técnica pode modificar-se para aperfeiçoar os meios existentes ou transformar o
próprio princípio fundamental em que determinado processo produtivo se baseia. Já
a organização do trabalho refere-se à configuração específica na qual os diversos
trabalhadores se combinam e interagem na operação dos meios de produção (Cunha,
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2019). Esta forma específica envolve uma mediação entre a atividade humana orientada
a um fim e, recuperando Lukács (2013), o médium do corpo social.
Enquanto meio de reprodução da existência humana, a venda da força de
trabalho (Marx, 2004) coloca o capitalista, personificação do capital, na posição de
dominar o trabalhador, impondo-lhe diligência e intensidade laboral (Marx, 2013). O
capital, conforme a metáfora empregada por Marx (2013) para enfatizar sua natureza
parasitária: é trabalho morto que, como um vampiro, se revitaliza ao sugar o trabalho
vivo, fortalecendo-se à medida que mais suga. Isso porque a força produtiva do
trabalho social assalariado agrega um valor superior ao qual é comprado (Marx, 2012).
A composição do modo de produção capitalista reside na capacidade do capitalista
de comprar a força de trabalho pelo valor de sua reprodução, valor dos meios de
sua subsistência, mas extrair dela bem mais do que o valor pago por ela. Esse
excedente resulta do sobretempo ou sobretrabalho, ou seja, do tempo de trabalho
que ultrapassa o necessário para repor o valor da força de trabalho, gerando mais-
valor, que constitui a essência da exploração capitalista e é, então, apropriado pela
classe capitalista (Engels, 2015). Assim sendo, o nexo entre as transformações nas
forças produtivas e suas formas de organização do trabalho opera ao longo do tempo
conforme a dinâmica do capital e suas clivagens produtivas para ampliar a magnitude
da valorização e a geração de mais-valor.
Ao longo do processo social de produção e exploração, a relação entre as forças
produtivas e as formas de organização do trabalho é recíproca até a fronteira em
que a base técnica precisa ser rompida e são criadas as condições de possibilidades
para certas formas de organização do trabalho. Esse nexo, portanto, possibilita e
simultaneamente impõe limites às formas de organização do trabalho a partir das
condições fornecidas pela base técnica (Cunha, 2019). A base técnica, embora
habilitadora de possibilidades, não determina as formas de organização do trabalho.
Ela cria condições, mas outros fatores, como as decisões dos agentes econômicos, o
estágio do conflito social e outros mais, também influenciam as tendências produtivas
e seu ritmo de transformação (Cunha & Guedes, 2023).
Segundo Marx (2013), a cooperação é a forma basilar do modo de produção
capitalista, a cooperação simples é a espécie embrionária de formas mais
desenvolvidas de cooperação, que existem sem eliminá-la. A base técnica da
cooperação simples é composta pelo trabalhador munido de sua ferramenta (Cunha,
2019). Diferente do processo de produção com trabalhadores independentes e
isolados, ou subordinados a pequenos patrões, no processo de trabalho cooperativo,
há a primeira subordinação do trabalho ao capital (Marx, 2013). Na cooperação, ocorre
a combinação inicial da força de trabalho, acompanhada do primitivo desenvolvimento
da hierarquia de comando do capital (Cunha, 2019). O emprego simultâneo de vários
trabalhadores no mesmo processo de trabalho, pressuposto da cooperação, foi um
elemento crucial para o surgimento da produção capitalista, servindo como seu ponto
de partida fundamental (Marx, 2013).
A cooperação estabelecida pela divisão do trabalho atinge sua configuração
clássica na manufatura (Marx, 2013), cuja predominância como forma do processo
de produção capitalista perdura, aproximadamente, do século XVI até o final do XVIII.
Ainda segundo Marx (2013), a manufatura surgiu a partir do trabalho artesanal. Ela
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se caracterizou pela presença fundamental do trabalhador e sua ferramenta, bem
como pelo desenvolvimento gradual de outras formas de força motriz (Cunha, 2019).
A manufatura pode ser caracterizada de duas formas: originária da combinação de
uma série de ofícios independentes e que perderam essa independência e atingiram
um determinado nível de especialização, a ponto de se tornarem componentes de
operações parciais do mesmo processo de produção de certa mercadoria. E, por
outro lado, a manufatura originou-se da cooperação de artífices de certo ofício, que
o decompuseram em determinadas operações, formando assim operações isoladas
e individualizadas, que passaram a ser exclusivas de um determinado trabalhador
(Marx, 2013).
A manufatura tem a capacidade tanto de introduzir a divisão do trabalho em um
processo de produção, quanto de aprimorá-la, além de combinar diferentes ofícios
previamente separados. Independentemente do ponto de partida, o resultado é um
mecanismo de produção no qual os seres humanos são os principais componentes.
A organização do processo de trabalho social na manufatura é (também) subjetiva,
combinando os trabalhadores parciais, que trabalham subdivididamente (Marx, 2013),
com a progressiva investigação acerca da produtividade do trabalho (Cunha, 2019).
Na manufatura moderna, cuja base técnica é composta pelo trabalhador e sua
ferramenta, nível elevado de mecanização e implantação da linha de montagem,
o princípio subjetivo passa a desvanecer e introduz-se a divisão sistemática do
trabalho. Quanto à organização do trabalho, tem-se a combinação de trabalhadores
parciais com técnicas de intensificação da produção (Cunha, 2019), agrupando e
combinando os trabalhadores em um único corpo, no âmbito de um processo de
trabalho social (Marx, 2013).
Esse período manufatureiro marca a “consumação dos estudos sobre
produtividade do trabalho e aplicação dos princípios do taylorismo e fordismo” (Cunha,
2019, p. 99). É possível elencar alguns traços do taylorismo e do fordismo não como
formas de organização do trabalho per se, mas cujos principais traços constitutivos
são pertencentes a um estágio avançado da manufatura (Cunha, 2019).
Cunha (2020) analisa a gênese do taylorismo nas condições sociais e econômicas
dos Estados Unidos entre os séculos XIX e XX, especialmente em meio à crise de
lucratividade e ao acirramento dos conflitos de classe. Com o declínio das taxas de lucro
ao longo da crise de lucratividade de décadas, apontada em 1873 no setor financeiro,
houve uma busca de métodos que aumentassem a eficiência e a produtividade.
Taylor idealizou uma organização racional do trabalho que visava eliminar disputas e
desentendimentos de classe por meio da intensificação do controle e otimização do
processo produtivo. Dessa forma, examina Cunha (2020), o taylorismo se estabelece
como uma estratégia para enfrentar as pressões econômicas e sociais da época,
refletindo a interdependência entre o pensamento administrativo e o contexto social.
O taylorismo é identificado pelo controle da execução de cada etapa da divisão
técnica do trabalho, contribuindo para a redução do tempo socialmente necessário
à produção de determinadas mercadorias (Cipolla, 2003). “A manufatura é, portanto,
taylorista em essência. É sobre esse taylorismo em essência da manufatura que brota
o taylorismo administrativo como meio de elevar ao máximo a exploração do trabalho”
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(Cipolla, 2003, p. 426). No taylorismo, pela organização científica do trabalho, foram
desenvolvidos diversos princípios que configuram a desintegração entre concepção e
execução do trabalho, e a fragmentação de tarefas (Wood, 1992). Nesse processo, a
constituição da ciência foi hostil ao trabalho em seu sentido estruturante, e distante da
classe que trabalha (Alves, 2007). Taylor, atuando na gerência da força de trabalho e na
divulgação dessas experiências (Cunha & Guedes, 2017), analisou sistematicamente
as condições do trabalho individual e de organização empresarial, isolando cada fator
variável e investigando sua influência funcional (Azevedo, 1974).
O taylorismo consiste no controle de todos os aspectos do trabalho vivo,
abrangendo os tempos e movimentos dos trabalhadores de maneira autoritária. Envolve
a transformação do ser humano em uma máquina, em vez de aproveitar a máquina
em si. O capital se desvincula da habilidade dos trabalhadores, porém, no lugar
de se alcançar essa emancipação por meio da introdução de máquinas, ele busca
objetivar o trabalho vivo (Moraes, 1986). No taylorismo, em meio à desagregação entre
concepção e execução, foram instituídos métodos padronizados buscando melhorar
a eficiência do trabalho pelo controle-otimização dos tempos e movimentos (Ribeiro,
2015). Taylor foi responsável por popularizar a análise do tempo como parte de seu
esforço para obter controle sobre o trabalho. O estudo do tempo pode ser descrito
como a medição do tempo necessário para cada operação dentro do processo de
trabalho (Braverman, 1981). Os trabalhadores tornaram-se meros operadores de
funções simplificadas e padronizadas, atuando no processo produtivo de maneira
substituível (Ribeiro, 2015).
Cipolla (2003) indica que, na manufatura, o taylorismo operava devido à
predominância do trabalho individual e ferramental no processo produtivo. Com a
introdução da esteira, o taylorismo passou a ser uma exigência da própria tecnologia:
o controle de tempos e movimentos tornou-se essencial para ajustar o trabalho ao
ritmo coletivo, agora ditado pela velocidade imposta pela esteira que transportava o
produto ao longo da fábrica. Esse processo configura o fordismo, em que a esteira
implanta a mecanização e intensificação do taylorismo.
Tanto o taylorismo quanto o fordismo estão inseridos na evolução do capital, sendo
que este último consolidou a hegemonia empresarial e a subordinação do trabalho.
A virada definitiva do fordismo deu-se no final dos anos 1920, impulsionada pelo
keynesianismo, ampliando o domínio do capital. A partir daí, firmou-se o “compromisso
fordista”, com a integração sindical e o papel do Estado de bem-estar social, reforçando
o controle capitalista sobre o espaço fabril e social da classe trabalhadora (Santos,
2015). A produção massificada e padronizada do fordismo atendia ao consumo das
massas com maior poder aquisitivo, resultado das relações de classe reguladas
no pós-Segunda Guerra. Nesse cenário, o Estado, como investidor, consumidor e
empregador, absorvia a produção capitalista, gerava empregos e oferecia serviços
públicos, além de políticas socioeconômicas. O Estado desempenhava, com isso,
sua função dentro do acordo keynesiano e do Estado de bem-estar social previsto
no contrato social do pós-guerra (Gurgel & Ribeiro, 2018).
O padrão produtivo do fordismo representa um novo modelo de organização da
produção e do trabalho (Gounet, 1999), o qual é oriundo da aplicação dos princípios
tayloristas de administração científica (Harvey, 1992). Henry Ford aplicou esses
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princípios à indústria automobilística visando a produção e o consumo em massa, o
que foi possível graças à profunda racionalização das operações dos operários e à
redução de desperdícios, buscando assim um menor preço de produção para ampliar as
vendas. O trabalho foi racionalizado com o parcelamento de tarefas (Gounet, 1999). Os
trabalhadores tornaram-se parciais/desqualificados (Moraes, 1995), superespecializados
(Wood, 1992), passaram a realizar os mesmos gestos repetidas vezes (Gounet, 1999).
A ação do operário foi reduzida a tarefas repetitivas que, interligadas, resultam no
produto coletivamente produzido (Antunes, 2009a).
A esteira rolante interligava os trabalhadores parcelares e sucessivos em uma
linha rígida de produção e ditava o ritmo e o tempo de realização das tarefas, garantindo
a fluidez e a velocidade do processo produtivo (Antunes, 2009b; Gounet, 1999). A
esteira rolante, portanto, representou uma inovação técnica de organização da produção
(Laranjeira, 1997), ocasionando significativos aumentos de produtividade (Ribeiro,
2015). Outra mudança implementada foi a padronização das peças empregadas,
que passaram a ser projetadas especificamente para o processo de produção. Isso
diminuiu o desperdício e simplificou o trabalho dos operários. Como resultado dessas
transformações, foi possível levar a cabo a automatização das fábricas (Gounet, 1999).
A transição da manufatura moderna taylorista-fordista para a grande indústria
marcou o surgimento do toyotismo como possibilidade de organização do trabalho e
da produção marcada pela introdução da robótica, microeletrônica e da flexibilização.
De acordo com Cunha (2019), o processo conhecido como a crise do fordismo indica,
na realidade, que a base técnica da manufatura moderna havia alcançado seu limite, e
representa emblematicamente a inflexão marcada pela convergência entre a manufatura
moderna para a grande indústria no fim da década de 1960, havendo o emprego da
robótica e da microeletrônica no processo de produção a partir da década de 1970.
Esse período é caracterizado pela reestruturação produtiva no final da década de
1960, em meio à crise de lucratividade do capital produtivo.
Na virada da década de 1960 e início de 1970, o Ocidente testemunhou os
sintomas da crise de acumulação, os quais foram evidenciados por sinais críticos,
que incluíam a queda na taxa de lucro devido ao aumento dos custos da força de
trabalho, vinculados às repercussões das revoltas operárias pós-45 e ao controle
social da produção. Trata-se de um quadro social que abrangeu a exaustão da
acumulação devido à contração do consumo pelo desemprego; o crescimento do
capital especulativo internacionalizado sobre os capitais produtivos; o aumento na
concentração de capitais das empresas monopolistas e oligopolistas em processo
de fusão; e a crise do Estado de bem-estar social como alicerce do capital privado
e a expansão de privatizações, desregulamentações e flexibilizações do processo
produtivo (Antunes, 2009).
Fundada na base técnica da maquinaria, a grande indústria organiza o processo
de trabalho social de maneira eminentemente objetiva. O trabalhador encontra essa
organização pronta e em operação, devendo adequar-se (Marx, 2013). As máquinas
revolucionaram a produção; na produção mecanizada, o processo subjetivo da divisão
do trabalho é abandonado. Nesse método particular de extração de mais-valor, o
processo todo é analisado objetivamente em suas fases componentes, e a resolução
do problema de executar cada um dos processos parciais e entrelaçá-los ocorre por
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meio da aplicação técnica da mecânica, química, etc. (Marx, 2013). Isso implica a
inclusão de trabalhos de monitoramento de sistemas e treinamento de equipes de
trabalho, com os trabalhos de manutenção em sistemas mecânicos assumindo um
papel crescentemente crucial (Cunha, 2019).
O modelo de produção toyotista sucedeu ao modelo taylorista-fordista,
introduzindo uma nova abordagem na organização e gestão do trabalho. No toyotismo,
a apropriação de tecnologias amplia o desemprego estrutural e uma diversidade de
novas modalidades de trabalho, definidas por empregos temporários, formas informais
de trabalho, subemprego e terceirização, muitas vezes disfarçadas sob a roupagem de
modernização das relações de trabalho. Simultaneamente, houve um enfraquecimento
do movimento operário e sindical, abrindo caminho para a redução de salários e, por
conseguinte, a perda de direitos sociais (Campos, 2017).
Como uma experiência de organização da produção, o toyotismo se ajusta
tanto à exigência de acumulação de capital durante uma crise de superprodução
quanto à nova base técnica de produção capitalista, demonstrando a capacidade de
desenvolver plenamente sua flexibilidade e habilidade de influência na subjetividade
dos trabalhadores (Alves, 2000). O toyotismo representa uma inovação originada
pós-45 na Toyota (Cunha, 2019; Gounet, 1999; Ribeiro, 2015). No cenário do pós-
Segunda Guerra Mundial no Japão, a Toyota enfrentou desafios importantes ao buscar
estabelecer a produção em larga escala. Esses desafios incluíam a necessidade de
superar um mercado doméstico limitado, a adaptação da força de trabalho ao modelo
taylorista, a falta de acesso à tecnologia estrangeira e as restrições nas oportunidades
de exportação (Wood, 1992).
Diferente da produção em massa do taylorismo-fordismo, que se caracterizava
pela padronização e homogeneidade de produtos, no toyotismo, com a adoção do
sistema just-in-time, a produção passou a ser orientada pela demanda em termos de
tempo e variedade de produtos. Como o toyotismo se baseia em equipes de trabalho
multifuncionais, esse sistema representa uma ruptura com a conformação fordista,
caracterizada pela divisão parcelar e superespecializada do trabalho. Altera-se, com
isso, a relação entre os trabalhadores e as máquinas, típica do taylorismo-fordismo,
a partir da organização do trabalho com trabalhadores polivalentes e plurifuncionais
de um processo produtivo flexível, com trabalhadores operando simultaneamente
diversas máquinas (Antunes, 2002).
A organização da produção no toyotismo adota o kanban, um sistema de um
conjunto de placas que oferece uma série de informações e opera como uma senha
de comando para a reposição de estoques de peças quando elas são utilizadas. Essa
prática se revela indispensável na configuração da produção orientada pela demanda
e com estoques enxutos (Gounet, 1999). Em contraste com a estrutura vertical do
fordismo, o enquadramento produtivo toyotista se caracteriza por uma horizontalização
da produção, envolvendo uma terceirização de atividades que anteriormente eram
realizadas principalmente internamente. Além disso, são organizados os Círculos de
Controle de Qualidade (CCQs), compostos por grupos de trabalhadores que, sob a
retórica da participação e do envolvimento, discutem seu trabalho e o desempenho,
buscando ampliar a produtividade (Antunes, 2002).
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Se no fordismo a produção industrial era essencialmente de massa e baseada
no uso de ações repetitivas, a abordagem da empresa toyotista é fundamentada na
flexibilidade produtiva e organizacional, adaptando sua oferta conforme as variações
de demanda do mercado (Neves, 2022). Ele é baseado no princípio da flexibilidade
(Alves, 2000) como resposta do sistema de capital à crise de acumulação taylorista-
fordista (Alves, 2007; Antunes, 2005; 2009b). É importante frisar que a origem da
acumulação flexível durante a década de 1970 não representa um rompimento com
o padrão de desenvolvimento capitalista transcorrido, mas uma reconfiguração de
elementos essenciais da produção em novas condições de desenvolvimento e em
um momento de crise estrutural de capital. Assim, a acumulação flexível é apenas
uma descontinuidade no interior de uma continuação plena: o capitalismo da grande
indústria (Alves, 2009).
A acumulação flexível alicerça-se à flexibilidade dos processos e mercados
de trabalho, dos produtos e modelos de consumo, e caracteriza-se pela inovação
comercial, tecnológica, organizacional (Harvey, 1992; Iamamoto, 2015). De modo geral,
conforme Alves (2009), a flexibilização tornou-se característica da organização social
da produção imposta pelo capital, e possui finalidade estratégica à sua acumulação
mediante a flexibilidade da sua parte antagônica: a força de trabalho. A flexibilização é,
com isso, importante elemento da luta de classe imposto à produção. A flexibilização
envolve a habilidade do capital de tornar a força de trabalho dócil, adaptável e submissa,
representando o aspecto principal do complexo de reestruturação produtiva. Essa
compreensão está diretamente relacionada ao debate sobre a flexibilidade associada
às características atribuídas ao chamado “modelo japonês” ou, de forma mais precisa,
ao modo de organização do trabalho e gestão da produção conhecido como toyotismo.
A flexibilização do trabalho pode ser entendida como um movimento disruptivo
que insurge na dinâmica sócio-histórica do desenvolvimento capitalista, impulsionado
por transformações estruturais nos padrões de produção. Esse movimento representa
a inserção de elementos alternativos, de forma permanente ou transitória, nas
relações, nas condições e nos modos de organização do trabalho, ajustando-os
constantemente às necessidades de acumulação de capital (Tessarini et al., 2023). O
resultado desse processo é a liberdade para desempregar trabalhadores, modificar a
jornada de trabalho, pagar salários reais mais baixos e subdividir a jornada de trabalho
conforme as conveniências das empresas, alterando os horários e as características
do trabalho, dentre outras possibilidades (Antunes, 2009a). De sua origem enquanto
ofensiva capitalista, a acumulação flexível concretiza-se como vocação do capitalismo
contemporâneo, tornando os trabalhadores ainda mais obsoletos, vulneráveis e
descartáveis, com perdas de garantias trabalhistas e sociais (Borsoi, 2011; Druck, 2011).
Alterações significativas e aceleradas na organização do trabalho, mais evidentes
durante a década de 1980, foram impulsionadas pela flexibilização. Essa mudança
ocorreu na direção contrária à formação até então predominante da massa de
trabalhadores com proteção social. Esse movimento, intensificado pela nova onda de
mundialização do capital, foi impulsionado por avanços tecnológicos que impactaram
fortemente tanto o mundo do trabalho quanto a vida social em geral (Praun, 2023).
Sem adentrar na constituição da questão enquanto processo, é preciso apontar
que as mudanças na base técnica, impulsionadas contemporaneamente pela
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transformação digital, ocorrem em um contexto de desenvolvimento superior da crise
de mais-valor (Alves, 2023). Durante suas crises, o capitalismo tende a se reestruturar,
incorporando novas tecnologias, formas organizacionais, modos de exploração e
abrindo novos mercados. Com a crise na década de 1970, a manufatura buscou
recuperar-se intensificando a exploração do trabalho e adotando modelos de negócios
cada vez mais enxutos pós-taylorismo-fordismo. Com a crise da financeirização de
2008, houve uma nova mudança marcada pela tecnologia e automação (Srnicek, 2016).
Com a inflexão da máquina na produção, a grande indústria moderna tem
apontado enquanto método particular de extração de mais-valor com a base técnica
composta por “sistemas de máquinas avançadas pela robótica e microeletrônica,
integradas por sistemas de informação e operadas por computação pesada. Machine
learning (robótica+big data+i.a.)” (Cunha, 2019, p. 99). Quanto à realidade nacional,
esse movimento é evidenciado pelos dados do IBGE (2023b), os quais revelam
que 84,9% das 9.586 empresas industriais nacionais pesquisadas adotam ao
menos uma tecnologia digital avançada. Entre os “benefícios” mais relatados desse
emprego, destaca-se a maior flexibilidade em processos administrativos, produtivos
e organizacionais (89,8%). Na nova base técnica, as tecnologias digitais avançadas
mais empregadas incluíram a computação em nuvem (73,6%), internet das coisas
(48,6%), robótica (27,7%), análise de big data (23,4%), manufatura aditiva (19,2%)
e inteligência artificial (16,9%).
Os dispêndios no setor de serviços de tecnologia da informação e comunicação
(TIC) no Brasil atingiram R$ 552 bilhões em 2023, o que representa um crescimento anual
médio de 5,4%. Esse aumento nos dispêndios reflete os investimentos das empresas
em infraestrutura de telecomunicações, desenvolvimento de software, aquisição de
equipamentos de informática e contratação de serviços de tecnologia da informação
(Associação para Promoção da Excelência do Software Brasileiro [Softex], 2024).
A nova base técnica introduziu formas inéditas de processo de trabalho social
combinado ou cooperação (Alves, 2023), subvertendo progressivamente o princípio
subjetivo da manufatura e da manufatura moderna. O sistema de máquinas, enquanto
expressão avançada das forças produtivas, revela a primazia da base técnica na
grande indústria. A grande indústria moderna, ao atingir seu desenvolvimento mais
maduro, evolui para uma automação mais sofisticada (Cunha, 2019).
O emprego das tecnologias de ponta na produção representa uma mudança
substancial na relação entre trabalho vivo (a força de trabalho) e trabalho morto
(trabalho humano objetivado em ferramentas, máquinas, infraestrutura e demais
tecnologias aplicadas à produção). Com o avanço tecnológico, observa-se, por um
lado, o crescimento da produtividade (produz-se mais em menos tempo), e, por outro,
a queda da taxa de lucro (reduz-se o valor da mercadoria devido à queda no tempo de
trabalho socialmente necessário à produção). Para garantir a lucratividade, o capital
empenha-se a reduzir o custo da força de trabalho (Normanha, 2020).
Aqui, cabe a recusa ao postulado da neutralidade material/instrumental do capital
(Mészáros, 2011). A ideologia predominante simplifica a digitalização do trabalho
como uma questão meramente técnica, conforme a noção de neutralidade técnica,
que sugere o domínio da tecnologia sobre o capital. No entanto, na realidade, o
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capital usa ferramentas tecnológicas para introduzir novas formas de exploração do
trabalho, atribuindo essas mudanças a fatores aparentemente objetivos e independentes
das relações sociais (Antunes et al., 2023). O desenvolvimento tecnológico, sob o
jugo das relações sociais de produção capitalistas, constitui, portanto, um obstáculo
fundamental à emancipação humana (Antunes, 2017).
Os progressos e modificações tecnológicas, enquanto base técnica, intensificam
o controle (Araujo, 2022; Harvey, 1992; Normanha, 2020; Wolff, 2009) e a exploração
da força de trabalho (Prieb & Carcanholo, 2011). Isso dá-se, como abordado, em
razão de determinada precedência sócio-histórica. O processo de inserção da
maquinaria na produção não se deu a serviço da humanidade, mas como instrumento
daqueles aos quais a acumulação de capital possibilita a propriedade das máquinas
(Braverman, 1981).
A relação capital versus trabalho recompõe a lei geral da acumulação capitalista
segundo as inovações da viragem tecnológica da chamada Indústria 4.0 (Araujo, 2022).
Esta fase evidencia o impulsionamento dos processos automatizados e do controle
digital em toda a cadeia de valoração: por meio de suas ferramentas automatizadas
e robotizadas, a Indústria 4.0 amplia o trabalho morto, o qual se torna dominante e
controlador do processo de produção por meio do controle informacional-digital, e
em detrimento do trabalho vivo (Antunes, 2018). No entanto, esse movimento torna
o trabalho vivo ainda mais indispensável ao processo de valorização (Antunes et al.,
2023). Na contemporaneidade capitalista, a arquitetura indivíduo-máquina na interface
do processo produtivo evolui para complexos sistemas digitais que estabelecem um
controle amplo e distribuído sobre o trabalho socialmente combinado. A execução de
processos analógicos e digitais sob gestão algorítmica intensifica as contradições e
implicações sociais resultantes do desenvolvimento da base técnica (Araujo, 2022).
Esse período não se caracteriza apenas como mais uma revolução tecnológica,
mas sim como uma revolução na própria forma tecnológica do capitalismo. Ao invés
de indicar uma transição para o pós-industrialismo ou para as sociedades de serviço,
ele dá origem ao hiperindustrialismo informacional-digital. Nesse contexto, além da
indústria informacional em si, existem também atividades que envolvem serviços
informacionais-digitais (Alves, 2023). Na grande indústria moderna, por um lado,
a organização do trabalho é comumente identificada por um “pequeno número de
trabalhadores de manutenção do sistema de máquinas e nos sistemas integrativos
e operadores” (Cunha, 2019, p. 99).
São os trabalhadores internos, aqueles que – à exceção do espalhamento
das pessoas jurídicas – mantêm um vínculo de emprego direto com a plataforma,
possuindo direitos trabalhistas e benefícios sociais. Esses trabalhadores desempenham
tarefas imprescindíveis para o funcionamento da plataforma (Organização para a
Cooperação e Desenvolvimento Econômico [OCDE], 2023a). Eles estão integrados
à emergência de novas categorias profissionais, como os trabalhadores de software,
abrangendo desenvolvedores, analistas, designers e outros especialistas, denominados
“trabalhadores do conhecimento” (Lima & Bridi, 2019).
No entanto, o reverso da moeda revela um contingente de trabalhadores externos,
aqueles cujo trabalho é mediado por plataformas, mas cuja relação com elas é
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ocultada. As empresas afirmam utilizar a plataforma apenas como uma ferramenta
para disponibilizar seus serviços ou produtos, o que as isenta de responsabilidades
e obrigações típicas de um empregador (OCDE, 2023b). Esses trabalhadores de
plataformas digitais vivenciam dinâmicas que alteram significativamente as relações
de trabalho, ofuscando a especificidade da subordinação que permeia a relação entre
capital e trabalho (Lima & Bridi, 2019).
Quanto ao numeroso neocontingente de trabalhadores de plataformas digitais,
para López-Martínez, Haz-Gómez e Manzanera-Román (2022), existem as plataformas
baseadas na web, nas quais os trabalhadores realizam tarefas de modo virtual
ou remotamente. E ainda, as plataformas baseadas em localização, nas quais os
trabalhadores executam tarefas específicas em locais específicos. A conceituação
apresentada guarda semelhanças com as propostas de De Stefano (2016) e Tucker
(2020). De Stefano (2016) estabelece uma distinção entre dois tipos de trabalho: o
trabalho na multidão e o trabalho sob demanda via aplicativos. No trabalho de multidão,
as tarefas são repassadas a um grupo de trabalhadores por meio de plataformas virtuais
que o conectam a demandantes pela internet, sendo executadas majoritariamente on-
line. Já no trabalho sob demanda via aplicativos, diferentes trabalhos, como serviços,
são oferecidos e demandados por meio de aplicativos móveis de empresas que
selecionam e gerem a força de trabalho. Após serem ofertados e demandados pela
internet, a execução desses trabalhos, em maior parte, é local.
Já para Tucker (2020), entre as diversas formas de trabalho intermediadas por
plataformas, destacam-se o trabalho na nuvem mediado por plataforma e o trabalho
presencial mediado por plataforma. O trabalho na nuvem mediado por plataforma
envolve a prestação de serviços virtualmente a clientes empresariais. Por outro lado,
no trabalho presencial mediado por plataforma, a interação ocorre virtualmente por
meio da plataforma, enquanto a prestação dos serviços é realizada pessoalmente.
O trabalho (externo) sob controle de plataformas digitais pode ser compreendido
a partir de sua distinção em dois principais modelos gerais: os trabalhos presenciais e
os trabalhos cuja materialidade se realiza virtualmente. Estes ocorrem pela mediação
de plataformas baseadas na internet, onde os trabalhadores executam tarefas de
forma virtual ou remota. São solicitados e executados em ambientes on-line. Já os
trabalhos presenciais ocorrem em plataformas baseadas em localização, onde os
trabalhadores desempenham tarefas específicas em locais físicos designados. São
solicitados virtualmente por meio de aplicativos ou plataformas, mas a execução
deles exige interação pessoal e a presença física dos trabalhadores nos locais de
prestação dos serviços.
O atual estágio do capitalismo, deste modo, intensifica a exploração do trabalho
por um receituário de flexibilização e informalização amoldado aos avanços tecnológico-
informacionais-digitais (Antunes, 2018). Cabe mencionar que essas mudanças na
base técnica e organizacionais do trabalho sofreram uma aceleração pandêmica.
Conforme exposto por Antunes et al. (2023), no panorama de crescente digitalização, a
pandemia do coronavírus intensificou o caráter de classe, agravando uma contradição
inerente: como manter o isolamento social dos trabalhadores? Com a necessidade do
trabalho humano em ação para a criação de valor e mais-valor, a pandemia catalisou
novos modelos de exploração, exacerbando a pressão corporativa pela continuidade
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das atividades produtivas. Como resultado, foram implementados mecanismos para
ampliar a quantidade e a intensidade da exploração, com o trabalho uberizado como
exemplo evidente. Sob o respaldo de políticas governamentais, a aceleração digital
foi incentivada no quadro da pandemia, aumentando riscos e disparidades sociais
em prol da manutenção e expansão do processo de valorização do capital.
Portanto, nos últimos anos, há uma expansão substancial do trabalho intermitente,
particularmente adotado pelas plataformas digitais, que tem dado origem ao específico
modelo do trabalho uberizado, que experimenta um crescimento constante no âmbito
global, nas referidas plataformas digitais (Antunes et al., 2023). Nesse sentido, é
fundamental considerar que as transformações nas relações sociais de produção não
ocorrem isoladamente, mas em uma interação complexa de diferentes determinações.
Na fase do desenvolvimento capitalista associada à grande indústria moderna, a
convergência de dois movimentos distintos torna-se evidente: a flexibilização, que
se caracteriza pela inserção de elementos alternativos nas relações de trabalho,
nas condições laborais, no conteúdo ocupacional e nos métodos de organização
laboral, juntamente com a adoção de sistemas de máquinas altamente avançados.
Estes sistemas, incorporando tecnologias de robótica, microeletrônica e sistemas de
informação, desempenham um papel crucial na expansão do trabalho em plataformas
digitais e do consequente trabalho uberizado.
Uberismo: forma avançada e pretérita de organização do trabalho pelas
plataformas digitais
Na interação complexa entre a infraestrutura técnica e a organização do trabalho,
um processo moldador da produção envolvia a influência direta dos princípios
fundamentais do taylorismo e do fordismo. À medida que a produção moderna evoluiu,
transitando para a era da grande indústria, tornou-se evidente o domínio das práticas
associadas ao toyotismo. No âmbito acadêmico, o taylorismo, o fordismo e o toyotismo
já desfrutam de um nível de teorização substancial sobre a organização do trabalho.
O uberismo, como uma forma particular de organização do trabalho, articula-se ao
lado de outras formas, como o taylorismo, o fordismo e o toyotismo. A grande indústria
moderna, marcada pela acumulação flexível e pela disseminação da automação e
inovação tecnológica, não representa uma simples continuidade, mas sim um rearranjo
das formas de exploração e controle do trabalho. Nesse contexto, o uberismo surge
como uma nova configuração dentro desse mosaico histórico. A recuperação do sufixo
“-ismo”, utilizado para formar substantivos que representam certos movimentos, busca
realçar que o uberismo está inserido nas continuidades e rupturas entre taylorismo-
fordismo-toyotismo, compondo um movimento de desenvolvimento das relações sociais
puxado pelas forças de produção e pela acumulação, tendo implicações profundas
para a organização do trabalho no mundo contemporâneo.
Especificamente no setor de serviços de transporte por plataformas digitais,
com o precedente da interconexão virtual e execução presencial, se destaca uma das
mais proeminentes empresas desse tipo de plataforma, sendo o epítome do trabalho
uberizado (Antunes, 2023). O neologismo uberismo deriva da multinacional que é
emblemática. Fundada em 2009 e com sede na cidade de São Francisco, Califórnia,
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nos Estados Unidos, a empresa detém e opera sua plataforma de prestação de
serviços de transporte via seu aplicativo para smartphone. Por meio do aplicativo, ela
conecta os prestadores de serviços de transporte a demandantes que pagam tarifas
condicionadas por ela, organizando toda a execução do trabalho (Ametowobla &
Stefan, 2023; Lima & Bridi, 2019; Rosenblat & Stark, 2016; Sousa & Meinberg, 2020).
A multinacional ampliou significativamente sua presença e seu modelo de
produção e do trabalho, consolidando assim o trabalho uberizado como uma tendência
a nível mundial (Antunes, 2023; Antunes et al., 2023; Casagrande et al., 2021). Embora
a indústria de caronas seja a versão mais conhecida, a ideia é mais ampla e hoje
abrange desde entregas de comida até atendimentos médicos virtuais em casa. Sendo
assim, o trabalho uberizado representa uma mudança significativa na forma como a
força de trabalho é recrutada, gerida e remunerada, minando aspectos centrais da
relação de trabalho formal e tradicional pela criação de trabalhos intermitentes (Davis
& Sinha, 2021). O trabalho uberizado tem remodelado a organização do trabalho
(Ametowobla & Stefan, 2023; Davis & Sinha, 2021; Faraj & Pachidi, 2021; Tessarini et
al., 2023) e, em última instância, representa uma modalidade específica de acumulação
de capital (Franco & Ferraz, 2019).
Em linhas gerais, o uberismo pode ser definido como uma forma particular de
organização e exploração da força de trabalho por meio do gerenciamento algorítmico
das plataformas digitais corporativas de empresas que não reconhecem a relação de
subordinação e assalariamento com os trabalhadores de suas plataformas. Esse modelo
é predominante nos serviços demandados virtualmente e realizados presencialmente,
e alguns elementos característicos do trabalho uberizado incluem a articulação
entre: a mediação do gerenciamento algorítmico; a assimetria de informações em
detrimento dos trabalhadores; a aplicação sistemática de métricas de avaliação para
medir assiduidade, esmero e desempenho dos trabalhadores, como as avaliações
feitas pelos consumidores-usuários; a dependência dos trabalhadores em relação à
remuneração variável; a responsabilização dos trabalhadores por prover e manter
parte dos instrumentos e ferramentas de trabalho; e a ocultação do vínculo de trabalho.
Abílio (2020a) propõe que o trabalho uberizado caracteriza-se pela figura
do “trabalhador just-in-time”, acionado sob demanda (Abílio, 2019; 2020a; 2020b;
Grohman & Salvagni, 2023), e por um processo ampliado de informalização (Abílio,
2020b). Argumenta-se, nesta contribuição ao debate, que o uberismo insere-se na
tendência mais ampla de flexibilização que tem transformado diversas configurações
de organização do trabalho precedentes; contudo, distingue-se por um aspecto
fundamental, típico da base técnica da grande indústria moderna: sua dependência
das plataformas digitais que condicionam o trabalho à lógica algorítmica.
As plataformas são “infraestruturas digitais (re)programáveis que facilitam
e moldam interações personalizadas entre usuários finais e complementadores,
organizadas por meio da coleta sistemática, processamento algorítmico, monetização
e circulação de dados” (Poell et al., 2019, p. 3, tradução nossa). Em um sentido
amplo, as plataformas são infraestruturas digitais que funcionam como intermediárias,
possibilitando a interação e a conectividade entre diferentes grupos de usuários
(Srnicek, 2016).
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Os termos “plataforma” e “aplicativo”, embora interligados, são distintos. “O
aplicativo significa apenas a interface visível do software em celular [ou computador e
outros dispositivos eletrônicos], como a ponta do iceberg do que significa exatamente
plataforma – como infraestrutura e modelo econômico” (Abílio et al., 2021, p. 36). A
noção de plataforma engloba um arranjo mais abrangente que transcende o aplicativo
em si. A própria execução do aplicativo está condicionada a uma arquitetura tecnológica
que vai além dele, envolvendo microchips, torres de telecomunicações, satélites,
servidores, processadores entre outros elementos (Guerra & Duarte, 2020).
Um dos pilares do trabalho por plataformas é o gerenciamento algorítmico. Um
algoritmo pode ser compreendido como uma unidade fundamental na computação,
voltada para a resolução de problemas por meio de um conjunto de instruções
automatizadas que convertem dados em resultados desejados. O gerenciamento
algorítmico, por sua vez, representa a forma como as plataformas coordenam
suas operações e trabalhadores, utilizando processos automatizados e instruções
codificadas segundo seus objetivos específicos (Grohman & Salvagni, 2023). No atual
quadro “de aumento exponencial do universo informacional-digital, o algoritmo, esse
novo fetiche do mundo empresarial, passou a ditar os ritmos e tempos do capital”
(Antunes, 2023, p. 20).
Nesse sentido, o gerenciamento algorítmico diz respeito a algoritmos de software,
bem como os dispositivos institucionais, que desempenham funções gerenciais,
permitindo que as empresas supervisionem de forma otimizada e em larga escala a
um grande número de trabalhadores dispersos (Lee et al., 2015). O gerenciamento
algorítmico é caracterizado pela monitoração e avaliação contínuas do comportamento
e desempenho dos trabalhadores, além da implementação automática de decisões
algorítmicas. Nas práticas de gerenciamento algorítmico, os trabalhadores interagem
com um sistema, muitas vezes, opaco, que oferece pouca transparência e omite as
regras de seu funcionamento (Möhlmann & Zalmanson, 2017).
O uberismo está hipotecado ao imperativo gerenciamento algorítmico das
plataformas pelo emprego da automação avançada na grande indústria moderna.
Esse modo particular de organização do trabalho constitui-se por algoritmos que,
a partir do trabalho de programação em seus bastidores, coordenam demandas,
alocação de tarefas, execução das atividades dos trabalhadores, avaliação de
desempenho, recebimento e efetivação de pagamentos, além das conexões entre
trabalhadores e usuários, e assim por diante. O uberismo configura uma forma de
organização do trabalho específica, mas com um alcance generalizado, que se
origina na interseção entre a flexibilização e a base técnica avançada, suscitada por
instrumentos, ferramentas e máquinas do processo produtivo. O trabalho uberizado
mantém seu entendimento balizado enquanto “modos” de ser do trabalho vinculado
às plataformas digitais:
somente pode ser compreendida e utilizada como expressão de modos de
ser do trabalho que se expandem nas plataformas digitais, onde as relações
de trabalho são cada vez mais individualizadas (sempre que isso for possível)
e invisibilizadas, de modo a assumir a aparência de prestação de serviços.
Mas, os traços constitutivos de sua concretude [...] são expressão de formas
diferenciadas de assalariamento, comportando tanto obtenção de lucro,
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exploração do mais valor e também espoliação do trabalho, ao transferir os
custos para seus/suas trabalhadores/as que passam a depender diretamente
do financiamento de suas despesas, que são imprescindíveis para a realização
de seu labor (Filgueiras & Antunes, 2020, p. 32).
Com relação ao trabalho uberizado no setor de mobilidade urbana, in nuce,
com poucos toques em seu smartphone, o passageiro seleciona os endereços de
embarque e desembarque, forma de pagamento e toma conhecimento do preço
do serviço demandado. Em alguns aplicativos, escolhe até mesmo a modalidade
da viagem, como transporte por motocicletas, viagens compartilhadas com outros
passageiros, ou uma experiência mais exclusiva com veículos sedan, bancos de
couro e ar-condicionado. Além disso, existem opções de transporte de mercadorias,
realizadas tanto por motocicletas quanto por carros. A empresa conecta o motorista
prestador do serviço ao solicitante. Estabelece-se a conexão via certo aplicativo
da empresa, acessado pelo motorista e pelo passageiro em seus smartphones. A
plataforma corporativa, como infraestrutura, permite localizar os motoristas próximos
que estão “on-line”, recrutá-los e cruzar os perfis do motorista e passageiro, para
que se identifiquem e obtenham informações como o número de viagens realizadas
e a taxa de avaliação. Em muitos aplicativos, o motorista só toma conhecimento de
informações como o endereço de destino e a quantia paga pela corrida após aceitá-
la. Ao finalizar a corrida, caso o passageiro tenha realizado o pagamento via cartão
à empresa, ela remunera o motorista. Se o pagamento for realizado diretamente ao
motorista, ele fica em débito com a empresa até repassar a quantia devida. Essa
quantia poderá ser descontada dos pagamentos futuros que a empresa fizer ao
motorista, relativos às corridas recebidas diretamente por ela, via cartões cadastrados
nos aplicativos, por exemplo. Concluída a operação, ambos podem se avaliar pelo
próprio aplicativo, que intermedia todo o processo.
O trabalho nos serviços de transporte de pessoas mediado por plataformas é
um caso emblemático do uberismo. Com o emprego do seu aparato tecnológico,
a plataforma da empresa exerce um papel ativo na gestão do processo produtivo
(Ametowobla & Stefan, 2023; Tucker, 2020). A empresa controla os motoristas com um
grau de aprimoramento muito superior a um gerente, coleta informações relacionadas
ao tráfego, às rotas, ao índice de aceitação de viagens, à pontuação dos motoristas
e à avaliação dos passageiros (Filgueiras & Antunes, 2020; Cingolani, 2016). A
logística algorítmica é uma poderosa ferramenta que molda a vigilância eletrônica,
o comportamento dos motoristas, e também as políticas de desempenho (Rosenblat
& Stark, 2016). No uberismo, o comando gerencial clássico, seja o mais direto,
hierárquico e centralizado do taylorismo e do fordismo, ou que apela à subjetividade
do trabalhador, como no toyotismo, encontra os sistemas de algoritmos, usuários
e normatizações que defendem os interesses do capitalista: assiduidade e esmero
dos trabalhadores dispersos, mas virtualmente conectados. Afinal, o capitalista não é
capitalista por ser dirigente industrial, mas seu comando industrial é uma consequência
direta de sua posição como capitalista (Marx, 2013).
Os motoristas são submetidos à manutenção da disponibilidade e assiduidade
laboral, a recusa às solicitações de viagem abaixa a taxa de aceitação de corridas
em seus perfis no aplicativo. Se os motoristas possuírem uma taxa de aceitação de
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corridas inferior à de referência, a empresa responde prontamente por meio de uma
política de advertências e represálias, buscando discipliná-los sob constantes ameaças
e penalidades. Essa estratégia de controle algorítmico segue uma progressão de
punições, podendo culminar no desligamento unilateral do trabalhador do aplicativo,
privando-o do acesso às corridas (Antunes, 2018; Filgueiras & Antunes, 2020; Slee,
2017). A ideia de autonomia e liberdade vendida pelas empresas colide com o modelo
de controle via taxas de aceitação de corridas (Rosenblat & Stark, 2016). Caso os
motoristas se recusem a acatar à gestão das empresas, contrapondo-se reiteradamente
à realização de certa tarefa, elas valem-se do desligamento dos motoristas, garantindo
o comando e o disciplinamento dos trabalhadores (Abílio, 2019; 2020b).
O gerenciamento algorítmico das empresas também conta com as taxas de
avaliação pelos usuários (Sousa & Meinberg, 2020). As plataformas convidam os
passageiros a avaliar os motoristas pelos aplicativos e, assim, participar do regime
disciplinar unilateral (Tucker, 2020), atuando como gerentes intermediários dos
motoristas (Rosenblat & Stark, 2016). A tarefa de supervisão é terceirizada para o
consumidor-usuário, que a realiza gratuitamente (Abílio, 2020b). Ao término de cada
corrida, o passageiro avalia sua satisfação com o serviço pelo motorista atribuindo-
lhe uma nota que, geralmente, varia em uma escala de 1 a 5 (Rosenblat & Stark,
2016; Zamora et al., 2021) e em alguns casos, pode realizar comentários sobre a
experiência durante a viagem.
Após o passageiro avaliar a corrida, a plataforma calcula uma média para o
conjunto das avaliações recebidas pelos motoristas, as quais são critério para o
ranqueamento desses trabalhadores em diferentes patamares de distribuição das
corridas, remuneração e credibilidade, influenciando diretamente na dinâmica laboral
organizada sob o gerenciamento algorítmico (Abílio, 2019; 2020; Sousa & Meinberg,
2020). Os motoristas com melhores médias de avaliação são preferidos no processo
de atribuição de viagens pela plataforma, recebem mais solicitações de viagem pelo
sistema (Antunes, 2018; Filgueiras & Antunes, 2020). A depender da média das taxas
de avaliação, por outro lado, além de receber menos solicitações, os motoristas podem
ser suspensos ou descredenciados (Zamora et al., 2021).
Em razão do que, os próprios trabalhadores devem se colocar em constante
vigilância e assegurar que a avaliação feita pelos usuários não decresça e se mantenha
no padrão da plataforma (Antunes, 2018). Os motoristas, portanto, transportam
passageiros e os olhos intermediários das empresas. Tornam-se responsáveis por
garantir a melhor avaliação possível (Abílio, 2019) e vulneráveis, pois reclamações
que adotam critérios unilaterais podem resultar na perda do meio de sobrevivência
que possuem (Slee, 2017), sem que haja mecanismos para se contestar as avaliações
tendenciosas ou injustas (Tucker, 2020).
Os motoristas são remunerados a cada corrida, algo como o salário por peça (por
tarefa), fonte de intensificação do trabalho, que estimula a competição (Marx, 2013).
Muitas das plataformas de mobilidade urbana não informam antecipadamente aos
motoristas o destino ou o valor que receberão antes de aceitarem uma corrida, eles
são obrigados a se conformar com as tarifas recebidas pelas corridas, mesmo que elas
não sejam vantajosas (Tucker, 2020). A subordinação segundo as determinações da
empresa torna o valor pago pela força de trabalhos dos motoristas incerto, mesmo que
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os seus trajetos sejam idênticos, cada viagem realizada pode ter um preço (Zamora
et al., 2021) e um repasse diferente aos motoristas, que geralmente desconhecem os
critérios que determinam o valor que recebem pelos serviços que prestados (Antunes,
2018). O uberismo recorre à contínua redução da remuneração dos trabalhadores
sem quaisquer justificativas (Antunes, 2018; Franco & Ferraz, 2019).
O resquício de “autonomia” (entre muitas aspas) é verificado na responsabilização
dos motoristas por arcar com parte dos instrumentos e ferramentas de trabalho
necessários à prestação – isto é, à produção – do serviço de mobilidade. Prover
e manter o veículo (nas condições especificadas pela empresa), o smartphone, o
plano de internet e, quando é o caso, o seguro, são alguns dos pré-requisitos para
os motoristas poderem efetuar o cadastro na plataforma e trabalhar (Abílio, 2020b;
Antunes, 2018; 2023; Filgueiras & Antunes, 2020; Fontes, 2017). Quando o trabalhador
no volante assume a responsabilidade por parte dos instrumentos e ferramentas de
trabalho, esse fato acarreta uma consequência imediata. Segundo Franco e Ferraz
(2019, p. 851), o proprietário da empresa é dispensado de investir em parcela do
capital constante:
os elementos físicos do custo de produção necessário para desenvolver a
atividade produtiva são [em parte, já que os meios sociais de produção seguem
privados] transferidos/terceirizados para os próprios trabalhadores motoristas
– sendo, portanto, parte do valor de reprodução da sua força de trabalho.
Essa realidade pode aparentar uma mudança dos motoristas em proprietários,
por isso, é preciso marcar que os motoristas não se tornam proprietários dos meios
sociais de produção, desfazendo a distinção de classe entre eles e os detentores do
capital das empresas das plataformas digitais. Os proprietários das empresas exercem
controle absoluto sobre todo o arranjo produtivo. Em parceria com outros patronatos de
empresas financeiras, de tecnologia e afins, eles detêm poder devido à interconexão
entre meios de produção, força de trabalho, e mercado consumidor. Isto é, detém os
recursos sociais de produção (Fontes, 2017). Os motoristas seguem sendo, conforme
Marx (2004), parte da classe dos trabalhadores despossuídos de propriedade.
Os contratos de trabalho que caracterizam as formas clássicas de organização
do trabalho, como o fordismo, taylorismo e toyotismo contrastam com o emergente
uberismo. Nesta, as empresas ocultam estrategicamente a relação de emprego
estabelecida com seus motoristas, dissimulando-se como meras plataformas de
conexão entre passageiros e motoristas (Cornelissen & Cholakova, 2019; Lima &
Bridi, 2019). Dessa forma, buscam desassociar o vínculo empregador-empregado
(Rosenblat & Stark, 2016).
O discurso infundado do empreendedorismo (Casagrande et al., 2021) encobre
a relação de subordinação e o vínculo de assalariamento entre o capital e o trabalho
(Abílio, 2019). O aparente aplicativo se apropria do sobretrabalho resultante dos
serviços prestados pelos motoristas, em sua maioria, sem estar sujeito às obrigações
trabalhistas dos países onde a plataforma exerce suas atividades (Antunes, 2023). A
apologia ao empreendedorismo é uma das artimanhas utilizadas para desmobilizar os
conflitos de classe, ao fazer parecer que um trabalhador, sendo apenas “proprietário”
de sua própria força de trabalho, está em igualdade com os capitalistas. Essa manobra
171 Uberismo, formação particUlar e plataformizada na grande indústria moderna
Geso & Conexões (ManageMent and ConneCtions Journal). Vitória (Es),v. 14, n. 1, p. 153-159, jan./abr. 2025.
procura apagar juridicamente a real relação de subordinação do trabalho ao capital
(Fontes, 2017).
O Quadro 1 a seguir sintetiza as principais características das formas clássicas
de organização do trabalho e do uberismo. Com base nele, é possível identificar
características distintivas entre essas formas e o uberismo como uma forma específica
de organização do trabalho. Enquanto o taylorismo e o fordismo enfatizam a produção
em massa e a padronização, com uma divisão rígida e técnica do trabalho, o toyotismo
incorpora a produção flexível e adaptável à demanda, com equipes autogerenciadas.
Já o uberismo, como uma forma particular, introduz o trabalho sob demanda, com os
trabalhadores multifuncionais organizados de forma flexível e dispersa pelo controle
algorítmico das plataformas corporativas que regulam a execução do trabalho e até
mesmo a disponibilidade dos trabalhadores. Isso representa uma mudança significativa
nas relações de trabalho: os trabalhadores, embora altamente substituíveis, operam
em uma relação de assalariamento e subordinação, mas sem um vínculo empregatício
tradicional.
Quadro 1 – Formas clássicas de organização do trabalho e o uberismo
Característica Taylorismo Fordismo Toyotismo Uberismo
Ênfase
Produção em
massa, manual,
organização
científica do
trabalho.
Produção
em massa,
com linhas de
montagem e
padronização.
Produção flexível,
baseada em
automação e
tecnologia de
informação.
Trabalho sob demanda,
mediado por plataformas
digitais, organizado
pelo gerenciamento
algorítmico.
Organização
do trabalho
Divisão técnica
e estrita do
trabalho,
com tarefas
simplificadas e
repetitivas.
Trabalhadores
especializados
em tarefas
repetitivas
e altamente
padronizadas.
Trabalhadores
multifuncionais,
equipes de
trabalho
autogerenciadas.
Trabalhadores
multifuncionais,
organização flexível
e dispersa, controle
algorítmico.
Controle do
trabalho
Controle da
execução rígida
do trabalho, foco
na eficiência e
na maximização
da produção.
Controle
do ritmo de
produção,
baseado
na linha de
montagem.
Controle da
produção
orientada pela
demanda,
com foco na
qualidade.
Controle da assiduidade
e desempenho dos
trabalhadores pelos
algoritmos.
Relações de
trabalho
Trabalhadores
desqualificados,
substituíveis
e com poucos
direitos
trabalhistas.
Trabalhadores
especializados,
sindicalizados e
com benefícios
sociais.
Trabalhadores
multifuncionais,
maior flexibilidade
contratual, perda
de direitos.
Trabalhadores altamente
substituíveis, relação
de assalariamento e
subordinação, mas sem
vínculo empregatício.
Flexibilidade
da produção
Baixa
flexibilidade,
foco na
produção
eficiente.
Baixa
flexibilidade,
produção em
grande escala.
Alta flexibilidade,
adaptação
à demanda,
variedade de
produtos.
Alta flexibilidade e
adaptação em tempo
real à demanda e
disponibilidade dos
trabalhadores.
172
Kaio Lucas da siLva Rosa | aLexandRe de Pádua caRRieRi
Geso & Conexões (ManageMent and ConneCtions Journal). Vitória (Es), v. 14, n. 1, p. 153-159, jan./abr. 2025.
Automação
Baixa
automação,
ênfase no
trabalho
humano.
Alguma
automação,
máquinas
avançadas.
Alta automação,
computadores,
sensores,
sistemas de
informação.
Automação avançada
por algoritmos
de plataformas e
aplicativos.
Fonte: Elaboração própria (2024).
Como escolha de representação, o Quadro 1 requer uma advertência quanto ao
risco de interpretar o uberismo de maneira etapista. Essa forma de organização do
trabalho, por mais avançada que possa se apresentar na grande indústria moderna,
está enraizada em um contínuo histórico e não deve ser compreendida como a proposta
de um paradigma substantivo de ruptura. Cunha (2019) argumenta que, embora a
grande indústria moderna represente o estágio mais avançado do desenvolvimento
produtivo, ela não elimina as modalidades regressivas de extração de mais-valor, que
coexistem com suas formas de organização do trabalho. Talvez, mais adequado do
que pensar no Quadro 1, seja pensar em um cardápio. O capital, em sua dinâmica de
acumulação, apropria-se de diversas formas de organização do trabalho – integração
tecnológica e mecanismos de controle – de acordo com as particularidades das
atividades exploradas.
O que se observa é a coexistência e complementaridade dessas formas de
organização do trabalho. O toyotismo, embora delimitado por uma estrutura flexível
e just-in-time, na prática da cadeia de produção, apenas a empresa dominante é
capaz de operar com estoque-zero, transferindo custos e métodos tradicionais de
organização do trabalho para os fornecedores e distribuidores. Em outras palavras,
o toyotismo, enquanto abstração, se concretiza sobre camadas preexistentes de
fordismo e taylorismo.
A uberização “uberiza” na ponta. As fábricas de software, enquanto produtoras
da infraestrutura do trabalho uberizado, ao adotarem metodologias ágeis, reproduzem
tanto a divisão parcializada e seriada característica da produção taylor-fordista
quanto a auto-taylorização dos coletivos de trabalho. Na produção de software, a
organização do trabalho integra mecanismos que ampliam e intensificam o controle
sobre o trabalhador. Além de seguir padrões seriados de produção, essas práticas
organizacionais exigem um engajamento ativo do trabalhador à ideologia gerencial
(Amorim & Grazia, 2018). No tempo presente, “as inovações tecnológicas e as
inovações organizacionais (formas de gestão) se misturam na constituição do novo
trabalhador coletivo do capital” (Alves, 2023, p. 189). Assim, não se trata de uma
sequência linear de etapas de complexificação da organização do trabalho, mas de
um cardápio de alternativas de extração e realização de mais-valor interdependentes,
que resultam em arranjos híbridos no nível social da produção, conforme favoreçam
a maximização da acumulação.
Conclusão
As transformações nas relações sociais de produção não são eventos fortuitos,
nem podem ser analisadas isoladamente. Compreender a interação entre a flexibilização
173 Uberismo, formação particUlar e plataformizada na grande indústria moderna
Geso & Conexões (ManageMent and ConneCtions Journal). Vitória (Es),v. 14, n. 1, p. 153-159, jan./abr. 2025.
do trabalho e a base técnica da grande indústria moderna na gênese do uberismo é
essencial para uma análise abrangente das mudanças na morfologia do trabalho e das
relações sociais de produção no tempo presente. Na etapa superior de desenvolvimento
capitalista correspondente à grande indústria moderna, a convergência de dois
movimentos distintos: a flexibilização pela inserção de elementos alternativos às
relações, às condições, ao conteúdo e aos modos de organização do trabalho; e
a utilização de sistemas avançados de máquinas, integrados por tecnologias de
robótica, microeletrônica e sistemas de informação estão ligadas ao surgimento e
ao impulsionamento do uberismo.
O uberismo emerge como uma forma particular e reconfigurada de organização
do trabalho, que potencializa novos caminhos para a exploração da força de trabalho
e a acumulação capitalista. As empresas empregam automação avançada, atuam
pela mediação do controle algorítmico e ganham ampla liberdade para controlar os
trabalhadores por meio de supervisão constante, cobrança de metas, desligamentos
arbitrários e modificações nas jornadas de trabalho. Além da redução da remuneração
e das condições de trabalho adequadas/estáveis, o uberismo também resulta na
eliminação da relação jurídica empregador-empregado. Especificamente, a indústria
de transporte por aplicativos experimenta um rápido crescimento à medida que suas
atividades são gradualmente incorporadas ao processo de valorização do capital.
Não se deve entender o uberismo como um paradigma estanque de organização do
trabalho. O objetivo central dessa forma particular é a máxima extração de mais-valor e
intensificação da exploração da força de trabalho, o que tem sido invariável e, portanto,
ocorre junto às demais formas e diferentes possibilidades de organização do trabalho
no capitalismo. Embora o controle algorítmico predomine, ainda há a necessidade de
trabalhadores regulares para manter o sistema operacional. Em vez de representar
uma ruptura, o trabalho uberizado complementa e se adapta a modelos de princípios
operacionais distintos, como o fordismo, taylorismo e toyotismo, formando arranjos
híbridos que têm como eixo central a maximização e a acumulação capitalista.
Esta abordagem do uberismo como uma forma particular de organização do
trabalho contribui para definir uma agenda de pesquisa focada em suas implicações.
Uma possibilidade promissora apresenta-se na investigação da centralidade das
plataformas e do gerenciamento em diferentes exemplos empíricos de trabalho
uberizado, visando à interlocução com esta proposta. Outra possibilidade consiste na
análise da presença do uberismo em relação ao fordismo, taylorismo e toyotismo nas
ementas dos cursos de teoria da administração e teoria das organizações, possibilitando
uma apreciação comparativa sobre a aderência entre a formação nesses campos e
o complexo das transformações na organização do trabalho.
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