Revista Gestão & Conexões
Management and Connections Journal
Vitória (ES), Vol. 14, n. 1, dE 2025.
iSSn: 2317-5087
doi: https://doi.org/10.47456/regec.2317-5087.2025.14.1.44237.38.60
Artigo submetido em: 03.04.2024 Aceito em: 29.08.2024 PublicAdo em: 27.01.2025
Sentidos e Significados do Trabalho: Um Estudo com Depen-
dentes Químicos em Recuperação e Profissionais da Saúde
RESUMO
As pesquisas na área de gestão e organizações costumam apresentar importantes orientações
relacionadas à forma como o sentido e o significado do trabalho se manifestam em grupos específicos
de trabalhadores. Contudo, ainda há uma lacuna de pesquisas na área relacionadas a grupos
estigmatizados, como os dependentes químicos. Dessa forma, o presente artigo buscou compreender
os sentidos e significados das atividades laborais para os dependentes químicos em tratamento. Para
tanto, o artigo contou com uma abordagem metodológica qualitativa, em que foram entrevistados nove
dependentes químicos e sete profissionais da área da saúde. A partir das entrevistas semiestruturadas
foram aplicadas técnica de análise de conteúdo, emergindo quatro categorias analíticas: Afastamento do
trabalho; trabalho como fator de reinserção social e cuidados no processo de retomada das atividades
laborais; desenvolvimento de atividades laborais simples na recuperação; acolhimento no trabalho.
Em cada uma das categorias foi possível destacar de que forma, no tratamento da dependência
química, o significado do trabalho é atribuído pelos profissionais, e o sentido do trabalho é atribuído
pelos dependentes químicos. Apesar das diferenças nas falas entre a atribuição de significado e
sentido do trabalho, verifica-se certa consonância quanto à importância do afastamento do emprego,
do desenvolvimento de atividades laborais simples e do acolhimento no trabalho
Palavras-chave: Sentido do trabalho; Significado do trabalho; Tratamento de dependência química;
Grupos estigmatizados.
Fernando Ressetti Pinheiro M. Vianna
Universidade Tecnológica Federal do Paraná
fernandovianna@utfpr.edu.br
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-5698-477X
Leonardo Tonon
Universidade Tecnológica Federal do Paraná
leotonon@gmail.com
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-9884-5284
Senses and meanings of work in the treatment of chemical dependence
in recovery and health professionals
Juliana Previatto Baldini Tonon
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
julianabaldini@yahoo.com.br
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-7975-8003
Aline Ferreira
Universidade Positivo
alinesf87@gmail.com
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-8017-3021
ABSTRACT
Research in the area of management and organizations usually presents important guidelines
related to how the meaning and significance of work manifests itself in specific groups of workers.
However, there is still a gap in research in the area related to stigmatized groups, such as drug addicts.
Thus, this article addresses the differences between the terms meaning and significance of work in
relation to the treatment of drug addiction and sought to understand the meanings and significance
of work activities for drug addicts undergoing treatment. To this end, the article used a qualitative
methodological approach, in which nine drug addicts and seven health professionals were interviewed.
39
Fernando ressetti Pinheiro M. Vianna | Leonardo tonon | JuLiana PreViatto BaLdini tonon | aLine Ferreira
Gestão & Conees (ManageMent and ConneCtions Journal). Vitória (Es), Vol. 14, n. 1, dE 2025.
Based on the semi-structured interviews, the content analysis technique was applied, resulting in
four analytical categories: Time away from work; work as a factor of social reintegration and care in the
process of resuming work activities; development of simple work activities in recovery; and support at
work. In each of the categories, it was possible to highlight how, in the treatment of drug addiction, the
meaning of work is attributed by professionals, and the meaning of work is attributed by drug addicts.
Despite the differences in the statements regarding the attribution of meaning and purpose to work,
there is a certain agreement regarding the importance of time away from work, the development of
simple work activities and the welcoming at work.
Keywords: Sense of the work; Meaning of work; Chemical dependency treatment; Stigmatized groups.
Introdução
Em um contexto social que usualmente midiatiza o uso das drogas com o foco
em cracolândias, grandes operações policiais (Rui, 2013) e dependentes químicos
em situação de rua (Caravaca-Moreira & Padilha, 2015; Mendes, Rozani, & Paiva,
2019), é oportuna a discussão sobre outros aspectos sociais. Dentre as repercussões
que a dependência química apresenta na vida dos indivíduos acometidos por essa
doença, é possível citar questões envolvendo os planos social, cultural, educacional e
comportamental (Diehl, Cordeiro, & Laranjeira, 2018). Nesse contexto, é emergencial
verificar de que forma essas pessoas são afetadas pelo uso (e abusos) das substâncias
psicoativas, em todas as esferas de suas vidas, especialmente, àquelas relacionadas
ao trabalho.
Nesse sentido, a dependência química é considerada uma doença crônica, que
alcança mais de 35 milhões de pessoas no Brasil (Nações Unidas, 2021) e afetando
as atividades desempenhadas pelo indivíduo (APA, 2014), podendo levar a sérios
prejuízos no âmbito do trabalho (Nimtz et al., 2016). Mesmo assim, a relação da
doença com o mundo do trabalho não recebe atenção das pesquisas na área de
organizações e gestão de pessoas, com alguns poucos esforços isolados (Lopes & De
Paula, 2017; Vianna et al., 2020). Dessa forma, o presente trabalho busca preencher
essa lacuna, ao abordar a relação entre o sentido e o significado do trabalho ao longo
do tratamento da dependência química.
A importância de tal abordagem se deve ao fato de o trabalho figurar como
elemento central na vida dos indivíduos (Della Puppa, 2023). Assim, estudos anteriores
na área de gestão e organizações vêm abordando o sentido e o significado do trabalho
em relação a grupos de trabalhadores específicos como professores (Roque, Gomes,
Chaves, & Santos, 2022), empreendedores sociais (Figueiró & Bessi, 2020) e policiais
(Benevides, Almeida, Cunha, & Mendes, 2014). Contudo, existe uma área de pesquisa
dentro do sentido e significado do trabalho que olha para grupos de trabalhadores
portadores de patologias e que compartilham o sentido como um aspecto de inclusão
e processo de tratamento, como pessoas com deficiência física e intelectual (Caron,
Costa, Rodrigues, & Gadonski, 2023; Paiva, Aquino, Lima, Marques, & Matos, 2024;
Pereira-Silva, Furtado, & Andrade, 2018). Mesmo assim, esse olhar recente para
grupos portadores de deficiência apresenta uma lacuna de pesquisa relacionada
à forma como sentido e significado do trabalho se manifestam quando abordados
40 SentidoS e SignificadoS do trabalho: Um eStUdo com dependenteS QmicoS em recUperação...
Gestão & Conees (ManageMent and ConneCtions Journal). Vitória (Es), Vol. 14, n. 1, dE 2025.
grupos estigmatizados de portadores de uma doença mental (Elraz, 2018), como os
dependentes químicos.
Além disso, o sentido e significado do trabalho podem representar fenômenos
diferentes, com o primeiro sendo relacionado ao âmbito pessoal do indivíduo e de
autorrealização, e o segundo relacionado aos aspectos sociais do trabalho (Tolfo &
Piccinini, 2007; Ventura, Pereira, Torres, & Barata, 2021). Assim, apesar de pesquisas
anteriores analisarem de que forma os sentidos e significados do trabalho são afetados
por aspectos materiais (Costa, Barbosa, Rezende, & Paiva, 2023; Sá, Lemos, &
Oliveira, 2022) ou decisões organizacionais (Kim, Nurunnabi, Kim, & Jung, 2018), o
presente artigo se difere ao analisar os fenômenos dentro do processo de inclusão
no mundo do trabalho de um grupo estigmatizado. Assim, o presente artigo parte
da seguinte pergunta de pesquisa: Quais os sentidos e significados das atividades
laborais para os dependentes químicos em tratamento?
Dessa forma, o presente artigo tem dois objetivos: primeiro, analisar e identificar
o que os dependentes químicos e os profissionais que atuam na área esperam das
atividades laborais no tratamento da doença (significado); e, segundo, identificar
quais são os sentimentos vividos pelo indivíduo dependente químico ao desempenhar
essas atividades (sentido). Para isso, foi desenvolvido um estudo exploratório, com
o objetivo de explicitar os aspectos da relação entre a dependência química e o
trabalho, com base nas experiências de pessoas envolvidas com o problema (Tolfo
& Cordova, 2009). A pesquisa contou com entrevistas de dezesseis pessoas, sendo
nove dependentes químicos abstinentes há pelo menos dez meses, e sete profissionais
da área da saúde mental, com tempos de atuação entre dois e mais de trinta anos.
Para tanto, na sequência, são apresentados os referenciais teóricos que
sustentam a pesquisa e as discussões aqui empreendidas, abrangendo as temáticas de
“trabalho”, “sentidos e significados do trabalho” e “dependência química e o processo
de tratamento”. Após as discussões teóricas, são apresentados os procedimentos
metodológicos. Em seguida, os dados são apresentados, analisados e, posteriormente,
discutidos. Por fim, são traçadas as considerações finais.
Fundamentação Teórica
Compreendendo um pouco mais sobre o trabalho
As linhas de pesquisa que abordam discussões relacionadas ao trabalho
são diversas e variadas, assim como as suas possibilidades de conceituação.
Essa multiplicidade é observada ao longo da história do trabalho, que vai desde a
perspectiva aristotélica, que o considera uma atividade inferior e degradante, até a
visão capitalista que o enxerga como mercadoria, e ainda como uma ação dignificante
na ética protestante (Borges & Yamamoto, 2004). Contudo, essa dignificação do
trabalho serve, em parte, para justificar a alienação e a submissão do trabalhador
ao capital ou aos meios de produção (Antunes, 2015).
41
Fernando ressetti Pinheiro M. Vianna | Leonardo tonon | JuLiana PreViatto BaLdini tonon | aLine Ferreira
Gestão & Conees (ManageMent and ConneCtions Journal). Vitória (Es), Vol. 14, n. 1, dE 2025.
Assim, mesmo diante das diferentes perspectivas sobre o trabalho, observa-se que
ele é central no desenvolvimento da vida do indivíduo como um todo, especialmente
no que diz respeito à sua vida social (Bajoit & Franssen, 1997). Essa centralidade
se justifica por seu caráter que vai além do processo ou dos resultados do trabalho,
já que se trata de uma complexa transformação da natureza para um resultado que
atende às demandas do indivíduo (Antunes, 2015). Além disso, estudos sobre o
tema evidenciam que o trabalho desempenha um papel importante na construção
da identidade dos indivíduos, atendendo tanto às suas necessidades sociais quanto
emocionais (Morse & Weiss, 1955; Vianna et al., 2020).
Mesmo considerando essa relação entre o trabalho e a satisfação das diversas
necessidades do indivíduo, pesquisas anteriores sugerem que o trabalho é, em grande
medida, reduzido ao emprego e à produtividade, dentro de uma perspectiva típica
da sociedade industrial (Bajoit & Franssen, 1997). No entanto, outras perspectivas
também apontam que o emprego é apenas uma entre as várias formas de trabalho, e
as motivações para que os indivíduos se engajem ou permaneçam em um emprego
podem variar (Jahoda, 1981). Nesse sentido, pesquisas anteriores indicaram que as
motivações que influenciam o trabalhador podem estar relacionadas à existência de
grupos de trabalho (Lima et al., 2013; Santos & Carvalho-Freitas, 2018; Rodrigues,
Barrichello, & Morin, 2016).
As variações relacionadas ao que o trabalho oferece como recompensa ao
trabalhador fazem parte da própria dinâmica do trabalho, considerando que tais
recompensas não estão relacionadas apenas à execução do trabalho em si, mas
também à forma como os pares percebem esse trabalho, sua estética e funcionalidade
(Dejours, 2012). Essa multiplicidade de fatores que envolvem o trabalho é observada
por teóricos da área nos gestos, aptidões, relações, cooperações e inteligências que
mobilizam a subjetividade do indivíduo em sua relação com a subjetividade do outro,
produzindo, de certo modo, sentidos e significados (Dejours, 2012; Moliniere, 2013).
Sentido do trabalho e significado do trabalho: o que dizem e o
caminho escolhido
Na área de Administração, o tema do trabalho “é multifacetado na literatura,
sendo abordado e discutido a partir de diversas correntes e estudiosos”, com estudos
anteriores explorando aspectos relacionados ao sentido e ao significado do trabalho
(Neves, Nascimento, Felix Jr., Silva, & Andrade, 2018, p. 327; Ventura, Pereira, Da
Rocha Torres, & Barata, 2021). Pesquisas anteriores sugerem que o termo “sentido”
está relacionado ao âmbito pessoal, de autorrealização e propósito do indivíduo,
enquanto o termo “significado” se refere ao âmbito social da atividade desempenhada,
à sua importância ou consequência (Tolfo & Piccinini, 2007; Yalom, 1980).
Nesse contexto, o presente trabalho se apoia na definição de sentido do trabalho
proposta por Antunes (2015), para quem o trabalho não deve ser reduzido à lógica
do capital, mas sim ser uma fonte de autodeterminação, autonomia e liberdade,
possibilitando a emancipação do indivíduo. Dessa forma, o trabalho é compreendido
como um fenômeno capaz de produzir sentidos que permeiam a vida dos indivíduos,
42 SentidoS e SignificadoS do trabalho: Um eStUdo com dependenteS QmicoS em recUperação...
Gestão & Conees (ManageMent and ConneCtions Journal). Vitória (Es), Vol. 14, n. 1, dE 2025.
afetando tanto o trabalho em si quanto a vida fora do ambiente laboral (Tolfo &
Piccinini, 2007).
Pesquisas recentes sobre o sentido do trabalho investigaram como trabalhadores
de bancos encaram suas atividades como fontes simultâneas de prazer e sofrimento,
provendo e protegendo, enquanto também cobram e ameaçam (Silva, Costa, Freitas,
& Salles, 2019). Além disso, outros estudos analisaram grupos específicos, como
trabalhadoras policiais (Sá et al., 2022) e jovens trabalhadores aprendizes (Costa et
al., 2023), que, de forma semelhante, relacionam o sentido do trabalho a elementos
como a compensação financeira. No entanto, enquanto as policiais veem no propósito
do trabalho um elemento de sentido (Sá et al., 2022), os jovens aprendizes associam
o sentido à autonomia e às expectativas profissionais (Costa et al., 2023). Outro
grupo analisado foi o de pessoas com deficiência (PcD), que relacionam o sentido do
trabalho a aspectos como a sobrevivência, inserção social, sentimento de capacidade
e utilidade na sociedade (Lima et al., 2013; Santos & Carvalho-Freitas, 2018).
Em relação ao significado do trabalho, este estudo se apoia na definição de Tolfo
e Piccinini (2007), que o concebem como a representação social da tarefa executada.
Nesse sentido, a própria evolução da palavra “trabalho” ao longo da história, passando
de uma atividade associada ao sofrimento e à vergonha até alcançar valorização e
consolidação na sociedade capitalista, sustenta essa compreensão do significado
como representação social (Marra, de Souza, & Melo, 2013).
Estudos recentes sobre o significado do trabalho exploraram como o
comportamento organizacional pode afetar a percepção dos empregados sobre o
trabalho (Kim et al., 2018), buscaram desenvolver métricas que relacionam o tema à
satisfação no trabalho (Duarte-Lores, Rolo-González, Suárez, & Chinea-Montesdeoca,
2021), além de evidenciar que jovens ingressantes no mercado de trabalho consideram
o dinheiro e a realização pessoal como elementos constitutivos do significado do
trabalho, destacando a importância do que o trabalho “proporciona como fator social”
(Graebin, Matte, Larentis, Da Motta, & Olea, 2019, p. 17).
Além disso, outros estudos vêm analisando simultaneamente os sentidos e
significados do trabalho. Por exemplo, no caso dos profissionais da medicina, o
significado está relacionado às práticas médicas e à competência profissional, enquanto
o sentido está ligado à conduta e ao respeito às normas, leis e ética (Feitosa et al.,
2022). Em outro estudo recente, indivíduos desempregados associaram aspectos
como prazer e aprendizagem ao sentido do trabalho, enquanto elementos como
reconhecimento e autoestima foram relacionados ao significado (Ventura et al., 2021).
Contudo, apesar dos esforços anteriores, observa-se um foco em grupos
específicos analisando seus próprios trabalhos, deixando uma lacuna na análise
dos sentidos e significados do trabalho a partir da perspectiva de diferentes grupos
sobre um grupo específico. Nesse contexto, sugere-se analisar o sentido do trabalho
para dependentes químicos em tratamento, bem como o significado do trabalho para
os profissionais de saúde envolvidos nesses tratamentos.
43
Fernando ressetti Pinheiro M. Vianna | Leonardo tonon | JuLiana PreViatto BaLdini tonon | aLine Ferreira
Gestão & Conees (ManageMent and ConneCtions Journal). Vitória (Es), Vol. 14, n. 1, dE 2025.
O que já é conhecido sobre dependência química e o processo
de tratamento
A temática da dependência química é marcada, amplamente, pelas ações
realizadas em cracolândias ou pelos problemas atuais relacionados à doença, mesmo
se tratando de uma doença complexa e que conta com repercussões sociais, políticas,
econômicas e culturais (Costa, 2009; Rui, 2013). Assim, os indivíduos acometidos
pela doença da dependência química, usualmente acabam acometidos, também, por
um processo de estigmatização que alcança suas vidas profissionais por meio de
discursos pejorativos e preconceitos (Elraz, 2018).
Além disso, os aspectos sociais, culturais, educacionais e comportamentais são
centrais no desenvolvimento e na evolução da síndrome de dependência química em
um indivíduo (Diehl, Cordeiro, & Laranjeira, 2018). Nesse sentido, autores da área
evidenciam que o indivíduo que desenvolve a síndrome de dependência frequentemente
atravessa um processo de perda de controle sobre seus desejos, comprometendo
seu convívio social, familiar e laboral (Maciel, de Melo, Dias, Silva, & Gouveia, 2014).
Quanto à sua classificação pela Organização Mundial da Saúde (OMS), a
síndrome da dependência química é uma doença crônica, inserida na Classificação
Internacional de Doenças (CID-10) e descrita no Manual Diagnóstico e Estatístico de
Transtornos Mentais (APA, 2014). Esta caracterização inclui os fenômenos relacionados
à doença e constata que o indivíduo acometido pela dependência química pode perder
o controle de seus comportamentos, cognição e fisiologia, priorizando a droga em
detrimento de qualquer outra relação ou obrigação.
Nesse sentido, a complexidade da doença e as barreiras encontradas no caminho
da recuperação tornam a recaída um fator comum (Buchele, Marcatt, & Rabelo, 2004).
Assim, uma das formas de reduzir a possibilidade de recidiva é “quebrar” as crenças
e o repertório de vida do indivíduo dependente químico por meio da aplicação de
novos processos de socialização e da ressignificação de seu papel na sociedade
(Monteiro, 2017).
Dessa forma, o tratamento da síndrome de dependência química é compreendido
em fases, de acordo com o modelo transteórico de mudança, que consiste em
diferentes estágios (Prochaska & DiClemente, 1983). Esses estágios variam desde
o momento em que o indivíduo não indica qualquer intenção de mudança, chamado
de pré-contemplação, passando pela fase de início de visualização de uma possível
mudança, a contemplação, até a fase em que o indivíduo traça planos para sua
recuperação, chamada de ação. A última fase é a manutenção, a qual diferentes
autores apontam como o grande desafio no processo de mudança (Oliveira, Laranjeira,
Araújo, Camilo, & Schneider, 2003; Souza et al., 2013; Tuller, Mello Rosa, Polli, &
Castelan-Mainardes, 2009).
Assim, autores da área afirmam que a fase de manutenção depende de grandes
esforços de ressignificação e valorização dos ganhos relacionados à abstinência, com
o objetivo de prevenir a recaída (Oliveira et al., 2003; Souza et al., 2013). Para tanto,
a prevenção à recaída é abordada de diferentes formas e com a adoção de diversas
estratégias, sendo o trabalho apresentado como um fator positivo nas esferas social,
44 SentidoS e SignificadoS do trabalho: Um eStUdo com dependenteS QmicoS em recUperação...
Gestão & Conees (ManageMent and ConneCtions Journal). Vitória (Es), Vol. 14, n. 1, dE 2025.
moral e econômica, enquanto sua ausência pode representar um fator negativo para
o indivíduo dependente químico (Buchele, Marcatti, & Rabelo, 2004; Monteiro, 2017).
Aproximando o sentido e o significado do trabalho ao processo de
recuperação do dependente químico
Estudos anteriores investigaram a relação entre o trabalho e a recuperação de
dependentes químicos. Quando analisado um grupo desses indivíduos que optou
pela internação como forma de tratamento, observou-se que eles consideravam o
trabalho um importante fator para o afastamento de pensamentos relacionados ao
consumo de drogas, além de associá-lo à ressocialização e à retomada de uma vida
normal (Crauss & Abaid, 2012). De forma semelhante, um estudo realizado com
dependentes químicos em tratamento verificou que eles consideravam o trabalho um
pilar tão importante quanto a família na retomada do controle de suas vidas (Tuller
et al., 2009).
Nos casos mencionados, os pacientes relatam suas expectativas em relação
ao trabalho-emprego, ou seja, o que o trabalho significa para eles enquanto estão
internados. Dessa forma, pode-se afirmar que esses relatos representam um significado
atribuído ao trabalho no processo de recuperação, uma vez que se trata de uma
atribuição anterior à própria experiência de trabalho. Por outro lado, dois estudos
recentes abordaram o processo de recuperação de dependentes químicos e o sentido
do trabalho (Lopes & de Paula, 2017; Vianna et al., 2020), demonstrando que elementos
como a sublimação e o reconhecimento nas atividades laborais podem servir de
apoio à recuperação.
Contudo, a relação entre trabalho e tratamento da dependência química nem
sempre é atribuída a significados positivos, pois outras pesquisas indicam que o
trabalho-emprego pode facilitar o uso de substâncias ou a ocorrência de recaídas.
Nesse sentido, estudos evidenciam que determinadas profissões, como a de médico,
por exemplo, podem ser consideradas fatores de risco para a recuperação (Alves et al.,
2005). Além disso, o próprio local de trabalho pode, em alguns casos, ser um ambiente
de risco para o tratamento da síndrome de dependência química (Brooker, Fitzsimons,
Moore, & Duval Neto, 2017; Lima, 2010). Outros estudos destacam fatores como
companhias, ambientes, falta de apoio social, estresse e pressões como elementos
emocionais que podem justificar recidivas (Czarnobay et al., 2015; Ferreira et al.,
2016; Gaviraghi et al., 2016; Junior, Schlindwein, & Calheiros, 2016). Nesses casos,
são apresentados aspectos relacionados aos sentimentos que o indivíduo dependente
químico pode experimentar enquanto exerce uma profissão, bem como as sensações
que ocorrem em determinados ambientes ou sob pressão. Trata-se do tensionamento
entre os sentimentos vividos como dependente químico e como trabalhador.
É importante destacar que os sentimentos não são uniformes entre todos os
indivíduos. É nesse contexto que as diferenças e semelhanças entre as expectativas em
relação ao trabalho, tanto por parte dos dependentes químicos quanto dos profissionais
que atuam na área, bem como os sentimentos experimentados pelo dependente
químico durante o desempenho laboral, orientam a sequência desta pesquisa.
45
Fernando ressetti Pinheiro M. Vianna | Leonardo tonon | JuLiana PreViatto BaLdini tonon | aLine Ferreira
Gestão & Conees (ManageMent and ConneCtions Journal). Vitória (Es), Vol. 14, n. 1, dE 2025.
Metodologia
Com o objetivo de analisar e identificar o que dependentes químicos e
profissionais que atuam na área esperam das atividades laborais no tratamento da
dependência (significado), assim como compreender os sentimentos vivenciados pelos
indivíduos dependentes químicos ao desempenharem essas atividades (sentido),
foi conduzido um estudo exploratório. A escolha pelo estudo exploratório justifica-
se pela necessidade de se basear nas experiências das pessoas envolvidas com o
tratamento da dependência química para evidenciar os aspectos de sua relação com
o trabalho (Tolfo & Cordova, 2009). Para tal, adotou-se uma abordagem qualitativa,
considerada adequada para a análise das interações entre pessoas e o ambiente
organizacional (Godoy, 1995). Foram examinadas as relações entre os indivíduos
dependentes químicos e os trabalhos que desempenham ou desempenharam ao
longo de sua recuperação, além de analisar os posicionamentos de profissionais que
atuam no tratamento desses indivíduos acerca do papel do trabalho no processo de
recuperação.
A técnica de coleta de dados consistiu na realização de entrevistas individuais com
base em um roteiro semiestruturado. Ressalta-se que essa ferramenta de pesquisa tem
sido amplamente utilizada em estudos recentes relacionados ao sentido do trabalho
(Do Nascimento et al., 2019; Muller & Scheffer, 2019). A profundidade dessa técnica e
a singularidade das informações obtidas são essenciais para o alcance dos objetivos
da pesquisa (Gaskel, 2003; Abdalla et al., 2018).
Entre fevereiro e julho de 2018, foram realizadas sete entrevistas com profissionais
das áreas de psicologia e psiquiatria que atuam em clínicas e consultórios na região
de Curitiba (Paraná), bem como com nove dependentes químicos em recuperação,
abstêmios há pelo menos dez meses. As entrevistas com os profissionais tiveram, em
média, duração de quarenta minutos, enquanto as entrevistas com os dependentes
químicos duraram aproximadamente duas horas.
O roteiro de entrevista foi desenvolvido com o intuito de orientar os entrevistados
em suas considerações sobre o trabalho. Para os profissionais, as questões abordaram
o papel do trabalho na recuperação do dependente químico e os cuidados necessários
nesse processo. Já para os dependentes químicos, as perguntas exploraram o que
o trabalho representava durante o período de adicção e no período de abstinência,
assim como os cuidados que esses indivíduos tomaram em relação às atividades
laborais desempenhadas.
Após a coleta de dados, as entrevistas foram transcritas e submetidas à análise
de conteúdo. Conforme Bauer (2003), essa técnica permite a produção de inferências
objetivas sobre uma realidade social. Considerando o caráter indutivo da pesquisa, as
categorias de análise emergiram das entrevistas. Essas categorias estão relacionadas
tanto ao significado atribuído ao trabalho no contexto do tratamento, do ponto de vista
dos profissionais, quanto aos sentimentos dos dependentes químicos em relação ao
trabalho e seu papel na recuperação.
Seguindo o processo sugerido por Bauer (2003), após a transcrição e leitura
das entrevistas, as falas foram reorganizadas em quatro categorias analíticas:
(1) o afastamento do trabalho e suas motivações; (2) o trabalho como fator de
46 SentidoS e SignificadoS do trabalho: Um eStUdo com dependenteS QmicoS em recUperação...
Gestão & Conees (ManageMent and ConneCtions Journal). Vitória (Es), Vol. 14, n. 1, dE 2025.
reinserção social e cuidados no processo de retomada das atividades laborais; (3) o
desenvolvimento de atividades laborais simples para a recuperação; (4) o acolhimento
no trabalho. Essas categorias foram definidas a partir da leitura individual dos autores
e da subsequente comparação e definição conjunta. Durante esse processo, observou-
se, por exemplo, que as falas dos profissionais, ao indicarem que o retorno ao trabalho
pode resultar em recaídas, assim como as falas dos dependentes químicos sobre
a importância do afastamento para se dedicarem ao tratamento, foram alocadas na
categoria “O afastamento social do trabalho”.
Para manter o sigilo dos entrevistados e garantir a adequada contextualização, os
profissionais foram identificados pelas seguintes siglas: PQ1 e PQ2 para os psiquiatras,
e PS1, PS2, PS3, PS4 e PS5 para os psicólogos e psicólogas; e DQ1, DQ2, DQ3,
DQ4, DQ5, DQ6, DQ7, DQ8 e DQ9 para os dependentes químicos entrevistados. As
falas transcritas foram grafadas em itálico para facilitar a identificação pelos leitores.
A pesquisa contou com a participação de sete profissionais, pertencentes a duas
diferentes instituições, que também atendem em consultórios particulares. É importante
mencionar que esses profissionais possuem tempos variados de experiência na área,
entre dois e mais de trinta anos. Suas características gerais estão apresentadas
no Quadro 1.
Quadro 1. Caracterização dos prossionais
Nome Profissão Tempo de
trabalho
Tempo de
atuação na área Onde atua ou atuou
PS1 Psicóloga 12 anos 12 anos Hospital Psiquiátrico, Capes AD,
Clínica, Ambulatório e Consultório
PS2 Psicóloga 22 anos 22 anos Clínicas, Hospitais Psiquiátricos
PS3 Psicólogo 11 anos 11 anos Ministério Público, Clínica,
Consultório
PS4 Psicóloga 2 anos 2 anos Clínica
PS5 Psicóloga e
Assistente Social 20 anos 17 anos Clínica e consultório
PQ1 Psiquiatra 5 anos 5 anos Caps, Caps TM (transtorno
mental), Clínica e consultório
PQ2 Psiquiatra 40 anos Mais de 30 anos
Clínicas, Comunidades
terapêuticas, Projetos tipo
FEBEM, Exército, Hospitais,
Prefeitura de São Paulo, Estado
de São Paulo.
Fonte: Os autores com base nos dados de pesquisa.
47
Fernando ressetti Pinheiro M. Vianna | Leonardo tonon | JuLiana PreViatto BaLdini tonon | aLine Ferreira
Gestão & Conees (ManageMent and ConneCtions Journal). Vitória (Es), Vol. 14, n. 1, dE 2025.
A pesquisa contou ainda com a participação de nove dependentes químicos,
todos em abstinência há mais de dez meses. Suas idades variam entre 36 e 51
anos e a maioria pertence ao sexo masculino. Todos passaram, pelo menos, por
um internamento em clínica particular especializada no tratamento de transtornos
obsessivos compulsivos e tiveram acompanhamento por mais de um ano ou ainda
têm. Suas características gerais são apresentadas no Quadro 2.
Quadro 2. Caracterização dos dependentes químicos
Nome Sexo Tempo de
abstinência
Quantidade de
internamentos Trabalho atual
DQ1 Masculino 6 anos 1Empresário
DQ2 Masculino 7 anos 2Professor de Educação Física
DQ3 Masculino 9 anos 3Professor universitário
DQ4 Masculino 11 anos 4Agricultor
DQ5 Masculino 12 anos 6Segurança
DQ6 Masculino 11 meses 8Desempregado
DQ7 Masculino 4 anos 3Servidor público
DQ8 Feminino 3 anos 2Desempregada
DQ9 Feminino 4 anos 13 Educadora em uma ONG
Fonte: Os autores com base nos dados da pesquisa.
Apresentação e Análise dos Resultados
O afastamento do trabalho e suas motivações
Mesmo discutindo-se a centralidade e a dignidade do trabalho na vida dos
indivíduos (Morse & Weiss, 1955; Bajot & Franssen, 1997; Borges & Yamamoto, 2004),
as pessoas acometidas pela síndrome da dependência química podem enfrentar
diferentes obstáculos no trabalho e/ou no retorno ao trabalho. Dessa forma, apesar da
importância do trabalho destacada em muitas discussões teóricas, cabe mencionar que
o tratamento frequentemente sugere intervenções que culminam com o afastamento
dos dependentes químicos de suas rotinas laborais.
O psiquiatra PQ2 é enfático ao afirmar: “Logo depois da internação, ele
[dependente químico] não pode trabalhar, só quando a equipe terapêutica autoriza,
geralmente o psicólogo, que está o acompanhando, junto do psiquiatra”. E ainda
complementa: “[...] vários dependentes químicos não conseguem mais trabalhar,
eles tentam, recaem, criam problemas no trabalho” (PQ2). A psicóloga PS2 defende
que o retorno ao trabalho “tem que ser feito com bastante cuidado, por isso demora
muito; é um tratamento que leva muitos anos e, depois, ainda requer manutenção e
acompanhamento” (PS2).
48 SentidoS e SignificadoS do trabalho: Um eStUdo com dependenteS QmicoS em recUperação...
Gestão & Conees (ManageMent and ConneCtions Journal). Vitória (Es), Vol. 14, n. 1, dE 2025.
A necessidade de estabelecer um período de afastamento do trabalho, citada
pelos profissionais PQ2 e PS2, está alinhada aos relatos dos dependentes químicos
DQ4 e DQ5 sobre o retorno ao trabalho: “Fiquei um ano e meio [sem trabalhar]”
(DQ4). “Esse afastamento [do trabalho] durou um ano e meio, eu fiquei afastado pelo
INSS durante todo esse período, recebendo, com boas condições [de seguir com o
tratamento]” (DQ5).
O afastamento do trabalho ocorre porque o dependente químico perde o controle
de suas ações e compromete diferentes áreas de sua vida, inclusive a laboral (Carneiro
Maciel et al., 2014). Esse fato é evidenciado pelo psicólogo PS3:
[...] é como se a droga fosse subindo uma escala de prioridades na
vida dele. E, em algum momento, essa escalada da droga na prioridade
ultrapassa o trabalho, e então começam os prejuízos. Ele vai abrir mão de
responsabilidades no trabalho, de questões de trabalho, pela droga” (PS3).
A fala acima, sobre abrir mão das responsabilidades no trabalho, é corroborada
pelos relatos de alguns dependentes químicos entrevistados. DQ5 afirma ter deixado
um emprego por ter que fazer hora extra, o que adiava o momento em que consumiria
bebida alcoólica: “Me dava uma agonia porque eu comecei a trabalhar bastante, não
saía no horário, por exemplo. E imagina não conseguir sair no horário e ficar até às
22h trabalhando. Isso me levou a decidir fazer um acordo para sair” (DQ5).
Ainda nesse contexto, DQ3 e DQ9 relatam dificuldades em cumprir horários e
priorizar o trabalho. DQ3 explica: “Virava a noite direto e... assim, trabalhar mesmo
eu não trabalhava. Quando tinha que fazer coisas tipo pagar funcionário e tal, daí
eu fazia, ia correndo no banco...” (DQ3). E a dependente química DQ9 afirma que,
devido ao uso, “não conseguia ter responsabilidade, não conseguia chegar no horário
[no trabalho]” (DQ9).
O trabalho como fator de reinserção social e cuidados no processo de
retomada das atividades laborais
Estudos anteriores demonstraram que o trabalho pode ter impactos positivos na
recuperação de dependentes químicos, especialmente em questões sociais, morais e
econômicas (Buchele, Marcatti, & Rabelo, 2004; Monteiro, 2017). A presente pesquisa
também destacou a importância do trabalho nas entrevistas com profissionais que
atuam na área da dependência química, embora os mesmos tenham ressaltado a
necessidade de cuidados adequados. Para a profissional PS1, o trabalho é “muito
importante, mas no momento adequado”. Em consonância, a profissional PS2 observa
que a importância do trabalho não reside apenas no emprego em si, mas no fato de o
dependente químico sentir-se útil: “Quanto mais inútil a pessoa se sentir, mais difícil
será a recuperação” (PS2).
Na perspectiva dos dependentes químicos, a atividade laboral também se mostra
essencial no processo de recuperação. O dependente químico DQ1 afirmou que
o trabalho sempre foi importante para trazer equilíbrio a sua vida: “Eu acabo me
equilibrando um pouquinho na minha dedicação ao trabalho” (DQ1). Já DQ5 relatou
49
Fernando ressetti Pinheiro M. Vianna | Leonardo tonon | JuLiana PreViatto BaLdini tonon | aLine Ferreira
Gestão & Conees (ManageMent and ConneCtions Journal). Vitória (Es), Vol. 14, n. 1, dE 2025.
que, após seu último internamento, passou a trabalhar como segurança e percebeu
a importância da atividade em outros aspectos além do econômico: “Mas foi ali [no
trabalho] que comecei a entender: esse é o sentido de você fazer as coisas, de ter
responsabilidade, de ter o seu trabalho”.
Após o afastamento, os dependentes químicos enfrentam o desafio de retornar
ao trabalho, o que exige cuidados, pois pode envolver desde colegas que usam
substâncias psicoativas até lembranças de uso despertadas pelo ambiente de
trabalho ou a necessidade de lidar com situações emocionalmente desgastantes.
Entre os fatores que requerem atenção, pesquisadores da área destacaram o
estresse e a pressão no trabalho (Gaviraghi et al., 2016), aspectos que também
emergiram nas falas das profissionais PS2 e PS4. Esses profissionais sublinham
a intolerância do dependente químico às frustrações. Para a psicóloga PS2: “Uma
pressão emocional, não saber lidar com uma situação emocional pode ser um risco
de recaída, especialmente porque eles têm o emocional muito fragilizado e leva tempo
para isso se fortalecer”. A psicóloga PS4 corroborou essa visão ao mencionar que
o dependente químico “tem muita intolerância à frustração, então a pessoa que usa
substância é intolerante a qualquer tipo de frustração, e eu acho que o trabalho é o
lugar onde mais se gera frustração...”.
Essas dificuldades de retomada do trabalho, devido à pressão e aos círculos
de amizades, foram relatadas pelo dependente químico DQ4 em dois momentos da
entrevista. Primeiro, ele mencionou que a pressão no trabalho pode comprometer o
sono, o que agrava a situação: “A doença já fica bem à flor da pele. Se não estiver
com o intuito de manter a abstinência, é bem fácil recair” (DQ4). Em seguida, DQ4
relatou que decidiu mudar de profissão devido aos círculos de amizade: “Eu trabalhava
só com pessoas que gostavam de usar, não que fossem dependentes químicos,
mas que sempre consumiam. Então, depois desse um ano e meio, resolvi mudar de
ramo...” (DQ4).
O desenvolvimento de atividades laborais simples para a recuperação
As variadas formas de trabalho dignificantes e constitutivas (Jahoda, 1981; Morse
& Weiss, 1955), que trazem sentido à vida (Tolfo & Piccinini, 2007), não se limitam a
atividades remuneradas. De fato, essa perspectiva é corroborada por Antunes (2015),
para quem o sentido do trabalho transcende o processo em si ou os resultados obtidos.
Assim, embora as rotinas relacionadas às atividades domésticas não tenham
a mesma relevância para a sociedade industrial que as atividades produtivas, os
profissionais que trabalham com dependência química consideram essas atividades
como uma forma de retomada de comportamentos responsáveis e sociais. Dessa forma,
o dependente químico em tratamento pode ser orientado a executar atividades de menor
complexidade, mas que visam à retomada da rotina, ao senso de responsabilidade
e à socialização.
Os profissionais entrevistados relataram que as responsabilidades relacionadas
às atividades de menor complexidade estão presentes nos processos de recuperação
nas clínicas de tratamento. Essas atividades funcionam como um meio para que os
50 SentidoS e SignificadoS do trabalho: Um eStUdo com dependenteS QmicoS em recUperação...
Gestão & Conees (ManageMent and ConneCtions Journal). Vitória (Es), Vol. 14, n. 1, dE 2025.
dependentes químicos desenvolvam responsabilidade, socialização e autonomia.
Na clínica onde a psicóloga PS2 trabalha, o dependente químico em recuperação
começa a assumir tarefas após o período de desintoxicação: “Passou o período de
desintoxicação, já começa a arrumar a cama... não arrumar de qualquer jeito, tem que
arrumar como deve ser. ‘Então, agora você vai arrumar os pratos no refeitório, você
vai organizar as coisas’”. De forma semelhante, a psicóloga PS4 afirma que essas
pequenas atividades ajudam o dependente químico a desenvolver certa autonomia,
mesmo nas atividades mais básicas, como nas reuniões de orientação: “Temos a
reunião de tarefas, então cada paciente vai se responsabilizar por uma tarefa”.
A psiquiatra PQ1 acredita que os dependentes químicos têm plena capacidade
de desempenhar atividades cotidianas, pois, apesar de terem uma doença mental,
“eles têm funções, eles têm habilidades, eles são criativos, eles têm capacidade”
(PQ1). O psiquiatra PQ2 observa que, mesmo sendo atividades que podem parecer
desinteressantes, a recuperação é um processo para que os dependentes químicos
desenvolvam organização no seu dia a dia: “...é pequeno, mas isso tem que ser
modelo para o resto da vida dele” (PQ2). A psicóloga PS1 relata que a retomada
do trabalho ocorre “[...] nas pequenas responsabilidades, como arrumar a cama, se
organizar. Então já se inicia dessa forma e vai aumentando gradualmente conforme
as responsabilidades também vão aumentando” (PS1).
Os relatos dos dependentes químicos refletem a importância atribuída às
atividades menos complexas pelos profissionais. DQ2 compartilhou um relato
significativo sobre as atividades que desempenhou após receber alta, destacando o
quanto elas foram cruciais para a manutenção de sua abstinência:
Quando eu saí do internamento, o que eu fazia, que tipo de trabalho eu fazia?
Trabalho em casa, com o meu pai. Pintando porta, pintando janela, reformando
a casa, porque lá em casa a gente faz tudo. Trocamos o telhado todo da
casa. Lixamos e pintamos todas as grades. Trocamos o piso da garagem.
Era só esse tipo de trabalho que eu tinha para fazer. Então, o que eu tinha
para fazer era isso. Quando faço alguma coisa que não seja remunerada,
esse conceito de trabalho que você mencionou me ajuda a lembrar e a manter
meu tratamento (DQ2).
DQ3 também relatou que as atividades menos complexas o ajudaram a
desenvolver uma noção de responsabilidade, assim como a socialização com um
grupo de indivíduos responsáveis e com valores diferentes dos grupos com os quais
convivia antes de seu internamento. Após seu terceiro internamento, sua psicóloga e
sua família decidiram que sua última chance seria trabalhar de forma rotineira. DQ3
foi, então, trabalhar em uma indústria, como auxiliar de almoxarifado, mesmo tendo
uma graduação em Administração. Assim, DQ3 descreve seu trabalho: “Eu carregava
caixa e fazia embalagem o dia todo. E caixas pesadas. E aquilo me ajudou tanto”.
Ele ainda relata a importância das relações que desenvolveu naquele ambiente de
trabalho, já que seu chefe era muito honesto, assim como todos os colegas com os
quais se relacionava: “Eram pessoas muito diferentes do que eu era. E aquilo se
tornou um exemplo para mim”.
51
Fernando ressetti Pinheiro M. Vianna | Leonardo tonon | JuLiana PreViatto BaLdini tonon | aLine Ferreira
Gestão & Conees (ManageMent and ConneCtions Journal). Vitória (Es), Vol. 14, n. 1, dE 2025.
Acolhimento no trabalho
As diferentes fases do tratamento, segundo o modelo transteórico, vão desde o
momento em que o dependente químico não demonstra qualquer intenção de mudança
até as fases mais avançadas de ação e manutenção (Prochaska & DiClemente, 1983).
Nessas fases, é crucial reforçar comportamentos positivos em diversas atividades,
incluindo o trabalho (Oliveira et al., 2003; Souza et al., 2013). Entre esses reforços,
destaca-se o papel do acolhimento no ambiente de trabalho.
Os profissionais envolvidos no tratamento de dependentes químicos reconhecem
que o acolhimento desses indivíduos no trabalho representa um suporte significativo
durante a fase de manutenção do tratamento. A importância desse acolhimento é
mencionada pelo psiquiatra PQ1 como um fator decisivo na recuperação do paciente:
“Eu acho que a forma como o paciente se sente acolhido é o que vai depois também
determinar até mesmo o fortalecimento desse tratamento do paciente” (PQ1). Para
ilustrar essa afirmação, pode-se citar o relato do psicólogo PS3, que observou um
paciente beneficiado por um acolhimento positivo: “Isso [o acolhimento positivo] foi muito
bom para ele ficar mais tranquilo, porque eles têm medo de como as pessoas vão vê-
los, sabendo de um segredo que não conseguiu ser mantido por muito tempo” (PS3).
A importância do acolhimento no trabalho também é evidenciada no relato do
dependente químico DQ6, que trabalha em uma multinacional. Ele afirmou que o
acolhimento da equipe de assistência social e de seu chefe, após sua última recaída,
foi fundamental para a continuidade de seu tratamento. Segundo DQ6, seu chefe
“entendeu perfeitamente, porque ele viu que eu tentei me matar, na verdade, tentei
me matar porque eu não aguentei mais” (DQ6). Já para DQ7, o acolhimento superou
suas expectativas: “O acolhimento acho que foi o melhor possível... na época em
que eu voltei não poderia ter sido melhor, tanto por parte da minha chefe quanto do
pessoal” (DQ7).
No entanto, o psicólogo PS3 lembra que o acolhimento “infelizmente é uma coisa
que não depende do paciente [...], há ambientes de trabalho onde ele encontrará
acolhimento, com pessoas que entendem ou reconhecem quem ele é e não apenas
sua doença”, mas em outros ambientes isso pode não ocorrer. O acolhimento pode,
portanto, variar de acordo com a importância atribuída ao dependente químico naquele
ambiente, ou seja, seu valor como trabalhador ou, ainda, seu tempo de trabalho. A
psicóloga PS2 relata o caso de um paciente que trabalhava no mercado financeiro
e estava prestes a se aposentar. Segundo a psicóloga, o chefe e a secretária do
dependente químico acompanharam todas as reuniões com a família durante o
internamento, desempenhando um papel crucial no retorno do paciente ao trabalho.
No entanto, PS2 afirma que o senso comum não percebe o indivíduo como dependente
químico, mas como um símbolo estigmatizado, associado a termos como “drogado” e
“ladrão”, que só causa problemas. Nesse sentido, o psiquiatra PQ2 observa que, entre
os próprios profissionais de saúde, o termo “dependente químico” não é comumente
utilizado, sendo substituído por expressões como “o drogado” ou “o alcoólatra”.
52 SentidoS e SignificadoS do trabalho: Um eStUdo com dependenteS QmicoS em recUperação...
Gestão & Conees (ManageMent and ConneCtions Journal). Vitória (Es), Vol. 14, n. 1, dE 2025.
Discussão
O presente artigo buscou analisar e identificar o que dependentes químicos
e profissionais que atuam na área esperam das atividades laborais no tratamento
da doença (significado), e identificar quais os sentimentos vividos pelo indivíduo
dependente químico quando desempenha essas atividades (sentido). A doença
da dependência química afeta uma parcela significativa da população brasileira,
inclusive indivíduos que desempenham atividades laborais, afetando a sociedade e
as organizações. Observa-se na análise de dados que o sentido e o significado do
trabalho em alguns momentos convergem entre os entrevistados, indicando o trabalho
como um elemento de reinserção social dos indivíduos, mas também um elemento
de agravamento da doença. Assim, a presente pesquisa apresenta três principais
contribuições relacionadas ao sentido e significado do trabalho.
A primeira contribuição está relacionada à literatura de sentido e significado
do trabalho na área de gestão de pessoas, especialmente no que diz respeito à
multiplicidade de atores abordados sobre o fenômeno analisado. Nesse sentido,
observa-se que estudos anteriores apontaram para as caracterizações do sentido
e significado do trabalho dentro de um mesmo grupo de indivíduos (Feitosa et al.,
2022; Ventura et al., 2021). Contudo, não foram desenvolvidos estudos comparativos,
abordando tanto a percepção do grupo de trabalhadores quanto de outros grupos
correlacionados. Assim, o presente estudo mostra que, mesmo apresentando
congruências entre o sentido e o significado do trabalho para dependentes químicos
e profissionais, evidenciaram-se diferenças complementares.
Conforme analisado na pesquisa, apesar de o sentido do trabalho para os
dependentes químicos representar um sentido à vida (Jahoda, 1981), evidenciou-se
que um retorno precipitado ao trabalho ou o não afastamento do trabalho pode significar
um elevado risco de comprometimento ao tratamento da dependência química. Dessa
forma, diferentemente daquilo que os estudos anteriores apontaram, o presente estudo
mostra que pode haver uma diferença entre sentido e significado do trabalho dentro
de um mesmo contexto, mas quando observado por atores diferentes.
Com isso, conseguimos identificar aspectos práticos que dizem respeito
à compreensão mais aprofundada do trabalho como um fenômeno que, não
necessariamente, terá sentido quando for relevante esteticamente ou funcionalmente
(Dejours, 2012). Ao contrário, o caso estudado evidencia que o afastamento do trabalho
por questões relacionadas à recuperação em um contexto de transtorno mental pode
ser mais positivo e ter mais sentido que o próprio trabalho em si. Assim, faz-se
necessário um maior esforço das instituições públicas, especialmente das áreas
social e da saúde, para disseminar a importância desse tempo para o tratamento e
reduzir os possíveis estigmas que o portador de uma doença mental grave vivencia.
A segunda contribuição está relacionada ao significado do trabalho. Estudos
anteriores mostraram que esse está relacionado à representação social do trabalho
(Tolfo & Piccinini, 2007), sendo materializado por questões como retorno financeiro e
realização pessoal (Graebin et al., 2019). Contudo, o presente estudo mostrou que no
caso de dependentes químicos em tratamento que retomam as atividades laborais,
um dos principais aspectos sociais do trabalho está relacionado ao acolhimento no
53
Fernando ressetti Pinheiro M. Vianna | Leonardo tonon | JuLiana PreViatto BaLdini tonon | aLine Ferreira
Gestão & Conees (ManageMent and ConneCtions Journal). Vitória (Es), Vol. 14, n. 1, dE 2025.
ambiente de trabalho. Ou seja, à forma como outras pessoas, sejam colegas de trabalho
ou profissionais que acompanham o dependente químico, enxergam o dependente
químico e o trabalho realizado por ele, buscando protegê-lo.
Nesse sentido do acolhimento, é possível relacionar o significado do trabalho
à sua vinculação com as relações e cooperações que mobilizam a subjetividade
dos indivíduos (Dejours, 2012; Moliniere, 2013). Nesse caso, o presente trabalho
evidencia um aspecto até então não explorado, que trata da subjetividade relacionada
à cooperação entre trabalhadores que compreendem o significado do trabalho para
o dependente químico e sua recuperação.
Assim, observa-se que o aspecto do acolhimento no trabalho para portadores de
deficiências intelectuais já vem sendo investigado, mas ainda indica oportunidades de
desenvolvimento e pouca efetividade dentro do processo prático (Pereira-Silva, Furtado,
& Andrade, 2018). Assim, o presente estudo pode contribuir com o desenvolvimento
de políticas internas das próprias organizações privadas que têm seus trabalhadores
acometidos pela doença e buscam reinseri-lo no contexto do trabalho. Além disso,
acredita-se que as experiências aqui relatadas auxiliam a jogar luz sobre a importância
para o desenvolvimento de políticas públicas que visem reinserir grupos estigmatizados
no ambiente de trabalho e seus cuidados.
Finalmente, a terceira contribuição está relacionada ao sentido do trabalho.
Diferentemente de estudos anteriores que evidenciaram a importância do aspecto
financeiro e das expectativas profissionais como fatores que influenciam positivamente
o sentido do trabalho (Costa et al., 2023; Sá et al., 2022), o presente estudo mostra
que mesmo tarefas de menor complexidade, inclusive tarefas domésticas de rotina,
como a manutenção de uma casa, são importantes para os dependentes químicos
em tratamento.
Dessa forma, o sentido do trabalho se mostra alinhado à sugestão de Antunes
(2015) sobre o trabalho como uma forma de autonomia e autorrealização. Assim, o
sentido do trabalho se afasta da lógica capitalista e apresenta um papel terapêutico,
em que a realização de atividades coordenadas rotineiras e consecutivas representa
para o indivíduo uma realização e uma conquista. Essa contribuição se difere dos
estudos anteriores, inclusive a respeito de grupos de pessoas com deficiência, que
evidenciaram o trabalho como conquista dentro de uma lógica capitalista e em um
ambiente corporativo (Lima et al., 2013; Santos et al., 2018).
No presente estudo, os dependentes químicos em tratamento, muitas vezes,
estão desempenhando atividades como arrumar a cama ou pintar a própria casa, sem
que haja uma recompensa financeira, mas buscando uma estabilidade emocional.
Dessa forma, acredita-se que os processos dentro de organizações que se dedicam à
recuperação de pessoas acometidas por patologias, e, especialmente, a dependência
química, podem desenvolver estratégias baseadas nas práticas relatadas, como
o desenvolvimento de treinamentos para organizações que desejam reinserir
trabalhadores, quanto o desenvolvimento de etapas de tratamento que envolvam
trabalhos terapêuticos.
54 SentidoS e SignificadoS do trabalho: Um eStUdo com dependenteS QmicoS em recUperação...
Gestão & Conees (ManageMent and ConneCtions Journal). Vitória (Es), Vol. 14, n. 1, dE 2025.
Conclusões: buscando por considerações que não encerrem
as discussões
O presente artigo buscou compreender os sentidos e significados das atividades
laborais para os dependentes químicos em tratamento. Assim, tivemos como objetivos
analisar e identificar o que dependentes químicos e profissionais que atuam na área
esperam das atividades laborais no tratamento da doença (significado), e identificar
quais os sentimentos vividos pelo indivíduo dependente químico quando desempenha
estas atividades (sentido).
De forma geral é possível identificar, tanto nos relatos dos profissionais que
trabalham com indivíduos dependentes químicos quanto nos relatos dos próprios
dependentes em processo de recuperação, certa congruência quanto ao significado
e ao sentido do trabalho. Inicialmente se percebe que, mesmo havendo declarada
a grande importância do trabalho como fator dignificante e de desenvolvimento de
responsabilidade, há também um cuidado quanto à retomada das atividades laborais
pelo indivíduo que sofre intervenção.
Nos relatos dos dois grupos se percebe a existência de um tensionamento entre
a importância do trabalhar e o tempo para o dependente químico ressignificar sua
relação com o trabalho. Nesse sentido, tanto o trabalho em si, quanto a possibilidade
de afastamento do trabalho representam importantes sentidos para os dependentes
químicos e significados para os profissionais, especialmente no afastamento da
possibilidade de recaída. Além disso, os resultados da pesquisa evidenciaram que
os trabalhos criativos e atividades rotineiras podem ser tão relevantes quanto o próprio
trabalho formal para a recuperação. Nesse sentido, observa-se que o comprometimento
e a responsabilidade de desempenhar tarefas operacionais trazem satisfação quanto
à manutenção da abstinência.
Observa-se, ainda, que o acolhimento no trabalho é um importante fator para a
(re)inserção do dependente químico, mas ainda trata-se de uma iniciativa e/ou política
das próprias organizações, e de uma cultura a ser implementada.
A partir das considerações apresentadas até aqui, o artigo evidencia que mesmo
havendo distinções entre sentido e significado do trabalho ‒ apontadas pela literatura e
acolhidas nesta pesquisa ‒, é oportuno teorizar sobre as congruências aqui observadas
entre o social (significado) ‒ percebido pelos especialistas ‒ e o pessoal (sentido) ‒
percebido pelos dependentes químicos. Nesse sentido, essa congruência aparece
como um fator preponderante a ser incorporado às diferentes fases do tratamento,
e tangenciando as áreas da medicina, psicologia e organizações.
Além disso, o estudo é relevante por apresentar o papel do trabalho no processo
de recuperação de dependentes químicos, desde que seja devidamente acompanhado
pelos profissionais adequados, ampliando a possibilidade de sucesso em fases mais
avançadas do tratamento. Além disso, observa-se que esse grupo específico de
pessoas carrega uma condição específica que é a estigmatização da sociedade e,
consequentemente, do ambiente de trabalho formal. Assim, por meio dos dados e
das reflexões aqui apresentadas, espera-se despertar, mesmo que no longo prazo,
55
Fernando ressetti Pinheiro M. Vianna | Leonardo tonon | JuLiana PreViatto BaLdini tonon | aLine Ferreira
Gestão & Conees (ManageMent and ConneCtions Journal). Vitória (Es), Vol. 14, n. 1, dE 2025.
discussões a respeito do papel da sociedade, dos governos e das organizações na
transformação do alijamento desse grupo de indivíduos em uma nova oportunidade.
Como limitações desta pesquisa é apontado o reduzido número de entrevistados,
ou até mesmo o fato de todos estarem localizados em uma região geográfica restrita.
Também houve uma limitação quanto ao equilíbrio de pacientes entrevistados do sexo
masculino e feminino, com ampla maioria dos primeiros. Sugere-se, no entanto, que
futuros estudos possam estar baseados nestas limitações e buscar amostras mais
diversificadas para aumentar a generalização, assim como possam ser desenvolvidos
estudos sobre a mulher dependente química e sua relação com o trabalho, para
uma maior compreensão dessa relação. Também é sugerido o desenvolvimento de
trabalhos quantitativos, apesar da dificuldade em relação à localização de grupos
significativos de dependentes químicos em recuperação.
Referências
Abdalla, M. M., Oliveira, L. G. L., Azevedo, C. E. F., & Gonzalez, R. K. (2018). Qualidade
em pesquisa qualitativa organizacional: tipos de triangulação como alternativa
metodológica. Administração: Ensino e Pesquisa, 19(1):66-98.
Alves, H. N. P., Nogueira-Martins, L. A., Marques, A. C. P., Ramos, S. D. P., & Laranjeira,
R. R. (2005). Perfil clínico e demográfico de médicos com dependência química.
Revista da Associação Médica Brasileira, 51(s.n.):139-43.
American Psychiatric Association - APA (2014). DSM-5: Manual diagnóstico e estatístico
de transtornos mentais. São Paulo: Artmed Editora.
Antunes, R. (2015). Os sentidos do trabalho: ensaio sobre a afirmação e a negação
do trabalho. São Paulo: Boitempo Editorial.
Bajoit, G., & Franssen, A. (2007). O trabalho: busca de sentido. In: Fávero, O., Sposito,
M. P., Carrano, P., & Novaes, R. R. (Orgs.), Juventude e contemporaneidade,
1(s.n.):93-123.
Bauer, M. W. (2002). Análise de conteúdo clássica. In: Bauer, M. W. (Ed.) Pesquisa
qualitativa com texto, imagem e som: um manual prático, p. 189-217.
Benevides, T. M., de Almeida, D. R., Cunha, E. A., & Mendes, J. F. (2014). Os sentidos
do trabalho para os policiais militares do estado da Bahia: uma primeira análise.
Revista Gestão & Conexões, 3(2):181-97.
56 SentidoS e SignificadoS do trabalho: Um eStUdo com dependenteS QmicoS em recUperação...
Gestão & Conees (ManageMent and ConneCtions Journal). Vitória (Es), Vol. 14, n. 1, dE 2025.
Borges, L. D. O., & Yamamoto, O. H. (2004). O mundo do trabalho. Psicologia,
organizações e trabalho no Brasil, 2. Porto Alegre: Artmed.
Brooker, S., Fitzsimons, M., Moore, R., & Duval, G. (2017). Dependência química em
anestesiologistas: atualidade. Revista Brasileira de Anestesiologia, 67(s.n.):227-30.
Büchele, F., Marcatti, M., & Rabelo, D. R. (2004). Dependência química e prevenção
à recaída. Texto & Contexto Enfermagem, 13(2):233-40.
Caravaca-Morera, J. A., & Padilha, M. I. (2015). Entre batalhas e pedras: histórias de
vida de moradores de rua, usuários de crack. Hacia la Promoción de la Salud,
20(1):49-66.
Caron, D., Costa, V. F., Rodrigues, G. F., & Gadonski, J. (2023). Percepções sobre
a inclusão laboral e o sentido do trabalho para trabalhadores com deficiência.
Pensamento & Realidade, 38(2):21-40.
Costa, S. D. M., Barbosa, J. K. D., Rezende, A. F., & de Paiva, K. C. M. (2023). Os
sentidos do trabalho para trabalhadores jovens: uma análise com aprendizes
na região metropolitana de Belo Horizonte. Revista Gestão & Conexões,
12(1):106-26.
Costa, S. F. (2009). As políticas públicas e as comunidades terapêuticas nos
atendimentos à dependência química. Serviço Social em Revista, 11(2):1-14.
Crauss, R. M. G., & Abaid, J. L. W. (2012). A dependência química e o tratamento de
desintoxicação hospitalar na fala dos usuários. Contextos Clínicos, 5(1):62-72.
Czarnobay, J., Ferreira, A. C. Z., Capistrano, F. C., Borba, L. D. O., Kalinke, L. P.,
& Maftum, M. A. (2015). Determinantes intra e interpessoais percebidos pela
família como causa da recaída do dependente químico. Revista Mineira de
Enfermagem, 19(2):93-106.
Dejours, C. (2012). Trabalho vivo: trabalho e emancipação. Brasília: Paralelo.
Della Puppa, F. (2022). Decline of the Centrality of Work? Critique of a Contemporary
Ideology. Work, Employment and Society, 1(6).
Diehl, A., Cordeiro, D., & Laranjeira, R. (2018). Dependência química: prevenção,
tratamento e políticas públicas. Porto Alegre: Artmed Editora.
57
Fernando ressetti Pinheiro M. Vianna | Leonardo tonon | JuLiana PreViatto BaLdini tonon | aLine Ferreira
Gestão & Conees (ManageMent and ConneCtions Journal). Vitória (Es), Vol. 14, n. 1, dE 2025.
Do Nascimento, R. L., Santos, A. S. L., De Lima, T. C. B., & Pinho, A. P. M. (2019).
O sentido do trabalho para o agente funerário. Revista de Ciências da
Administração, 21(53):112.
Duarte-Lores, I., Rolo-González, G., Suárez, E., & Chinea-Montesdeoca, C. (2023).
Meaningful work, work and life satisfaction: Spanish adaptation of work and
meaning inventory scale. Current Psychology, 42(14):12151-63.
Elraz, H. (2018). Identity, mental health and work: how employees with mental health
conditions recount stigma and the pejorative discourse of mental illness. Human
relations, 71(5):722-41.
Ferreira, A. C. Z., Czarnobay, J., de Oliveira Borba, L., Capistrano, F. C., Kalinke, L.
P., & Maftum, M. A. (2016). Determinantes intra e interpessoais da recaída de
dependentes químicos. Revista Eletrônica de Enfermagem, 18.
Figueiró, P. S., & Bessi, V. G. (2020). Sentido do trabalho: a percepção de
empreendedores sociais de cooperativas de reciclagem. Revista Gestão &
Conexões, 9(1):50-72.
Gaskell, G. (2002). Entrevistas individuais e grupais. In: Bauer, M., Gaskell, & G. (Eds.).
Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som: um manual prático, 2(s.n.):64-89.
Gaviraghi, D., Antoni, C. D., Amazarray, M. R., & Schaefer, L. S. (2016). Medicalización,
uso de sustancias y contexto laboral en trabajadores de bancos en Rio Grande
do Sul, Brasil. Revista Psicologia Organizações e Trabalho, 16(1):61-72.
Godoy, A. S. (1995). Pesquisa qualitativa: tipos fundamentais. Revista de Administração
de empresas, 35(s.n.):20-9.
Graebin, R. E., Matte, J., Larentis, F., da Motta, M. E. V., & Olea, P. M. (2019).
O significado do trabalho para jovens aprendizes. Revista Gestão
Organizacional, 12(1).
Hackman, J. R., & Oldham, G. R. (1975). Development of the job diagnostic survey.
Journal of Applied psychology, 60(2):159.
Jahoda, M. (1981). Work, employment, and unemployment: values, theories, and
approaches in social research. American psychologist, 36(2):184.
58 SentidoS e SignificadoS do trabalho: Um eStUdo com dependenteS QmicoS em recUperação...
Gestão & Conees (ManageMent and ConneCtions Journal). Vitória (Es), Vol. 14, n. 1, dE 2025.
Junior, I. J. F., Schlindwein, V. D. L. D. C., & Calheiros, P. R. V. (2016). A relação
entre o uso de drogas e o trabalho: uma revisão de literatura PSI. Estudos e
Pesquisas em Psicologia, 16(1):104-22.
Kim, B. J., Nurunnabi, M., Kim, T. H., & Jung, S. Y. (2018). The influence of corporate
social responsibility on organizational commitment: The sequential mediating effect
of meaningfulness of work and perceived organizational support. Sustainability,
10(7), 2208.
Lima, M. E. A. (2010). Dependência química e trabalho: uso funcional e disfuncional
de drogas nos contextos laborais. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional,
35(s.n.):260-68.
Lima, M. P. D., Tavares, N. V., Brito, M. J., & Cappelle, M. C. A. (2013). O sentido
do trabalho para pessoas com deficiência. RAM: Revista de Administração
Mackenzie, 14(s.n.):42-68.
Lopes, F. T., & Paula, A. P. P. D. (2017). Entre a bebida e a atividade de doméstica:
um estudo sobre a relação entre o uso de drogas e o trabalho. Revista gestão
& conexões, 6(1):15-39.
Maciel, S. C., de Melo, J. R. F., Dias, C. C. V., Silva, G. L. S., & Gouveia, Y. B. (2014).
Sintomas depressivos em familiares de dependentes químicos. Psicologia: teoria
e prática, 16(2):18-28.
Marra, A. V., de Souza, M. M. P., Marques, A. L., & Melo, M. C. D. O. L. (2013).
Significado do trabalho e envelhecimento. Revista Administração em Diálogo,
15(2):103-28.
Mendes, K. T., Ronzani, T. M., & Paiva, F. S. D. (2019). População em situação de
rua, vulnerabilidades e drogas: uma revisão sistemática. Psicologia & Sociedade,
31, e169056.
Molinier, P. (2013). O trabalho e a psique: uma introdução à psicodinâmica do trabalho.
Brasília: Paralelo.
Monteiro, R. M. P. (2012). A ‘carreira moral’ de jovens internos em instituições de
recuperação para dependentes químicos. Dilemas-Revista de Estudos de Conflito
e Controle Social, 5(1):131-55.
59 SentidoS e SignificadoS do trabalho: Um eStUdo com dependenteS QmicoS em recUperação...
Gestão & Conees (ManageMent and ConneCtions Journal). Vitória (Es), Vol. 14, n. 1, dE 2025.
Morin, E. M. (2008). The meaning of work, mental health and organizational
commitment. Quebec, Canadá: Institut de recherche en santé et en sécurité du
travail du Québec.
Morse, N. C., & Weiss, R. S. (1955). The function and meaning of work and the job.
American Sociological Review, 20(2):191-98.
Müller, C. V., & Scheffer, A. B. (2019). Turismo voluntário: uma experiência em
busca do sentido? Vida e trabalho em questão. RAM: Revista de Administração
Mackenzie, 20(1):1-26.
Oliveira, M. D. S., Laranjeira, R., Araujo, R. B., Camilo, R. L., & Schneider, D. D.
(2003). Estudo dos estágios motivacionais em sujeitos adultos dependentes do
álcool. Psicologia: Reflexão e crítica, 16(s.n.):265-70.
Paiva, L. E. B., Aquino, J. P. C., Lima, T. C. B., Marques, D. S., & Matos, T. M. (2024).
Além das limitações: o sentido do trabalho sob a perspectiva das pessoas com
deficiência. Gestão.org: Revista Eletrônica de Gestão Organizacional, 22(s.n.)1-28.
Pereira-Silva, N. L., Furtado, A. V., & Andrade, J. F. C. D. M. (2018). A inclusão no
trabalho sob a perspectiva das pessoas com deficiência intelectual. Trends in
Psychology, 26(s.n.):1003-16.
Prochaska, J. O., & DiClemente, C. C. (1983). Stages and processes of self-change
of smoking: toward an integrative model of change. Journal of consulting and
clinical psychology, 51(3):390.
Rodrigues, A. L., Barrichello, A., & Morin, E. M. (2016). Os sentidos do trabalho para
profissionais de enfermagem: um estudo multimétodos. Revista de Administração
de Empresas, 56(s.n.):192-208.
Roque, M. G. M., Gomes, A. F., Chaves, A. M., & Santos, M. O. (2022). Para além
de uma vocação: sentido do trabalho para os professores da unidade escolar
municipal conveniada Belo Campo. Revista Gestão & Conexões, 11(2):28-51.
Rui, T. (2013). Depois da “Operação Sufoco”: sobre espetáculo policial, cobertura
midiática e direitos na “cracolândia” paulistana. Contemporânea: Revista de
Sociologia da UFSCar, 3(2):287-87.
60 SentidoS e SignificadoS do trabalho: Um eStUdo com dependenteS QmicoS em recUperação...
Gestão & Conees (ManageMent and ConneCtions Journal). Vitória (Es), Vol. 14, n. 1, dE 2025.
Sá, J. G. S. D., Lemos, A. H. D. C., & Oliveira, L. B. D. (2022). Para além dos
estereótipos: os sentidos do trabalho para mulheres da Polícia Militar do Estado
do Rio de Janeiro. Cadernos Ebape.br, 20(s.n.):500-13.
Santos, J. C., & Carvalho-Freitas, M. N. D. (2018). Sentidos do trabalho para pessoas
com deficiência adquirida. Psicol. Soc. (online), 30: e160054-e160054.
Seadi, S. M. S., & Oliveira, M. D. S. (2009). A terapia multifamiliar no tratamento da
dependência química: um estudo retrospectivo de seis anos. Psicologia Clínica,
21(s.n.):363-378.
Schneider, J. F., Roos, C. M., Olschowsky, A., Pinho, L. B. D., Camatta, M. W., & Wetzel,
C. (2013). Atendimento a usuários de drogas na perspectiva dos profissionais
da estratégia saúde da família. Texto & Contexto: Enfermagem, 22(s.n.):654-61.
Silva, E. B. D., Costa, I. D. S., Freitas, J. A. D. S., & Salles, D. M. R. (2019). Meteoro da
ilusão: sentidos do trabalho para jovens gerentes de bancos públicos. Cadernos
Ebape.br, 17(s.n.):765-82.
Tolfo, D., & Córdova, F. P. (2009). A pesquisa científica. In: Tolfo, D., & Córdova, F. P.
(Eds.). Métodos de pesquisa, 1(s.n.):33-44. Porto Alegre: Editora da UFRGS.
Tolfo, S. D. R., & Piccinini, V. (2007). Sentidos e significados do trabalho: explorando
conceitos, variáveis e estudos empíricos brasileiros. Psicologia & Sociedade,
19(s.n.):38-46.
Ventura, L. K. C., Pereira, J. R., Rocha Torres, T. P., & Barata, J. G. (2021). O valor do
não ter: significados e sentidos do trabalho sob a perspectiva de desempregados
de Belo Horizonte. Revista Horizontes Interdisciplinares da Gestão, 5(1):42-63.
Vianna, F. R. P. M., Tonon, J. P. B., Tonon, L., & Ferreira, A. (2020). “Uma hora o trabalho
começou a atrapalhar”: os diferentes sentidos do trabalho de um dependente
químico em recuperação. Revista Gestão & Conexões, 9(2):51-73.
Yalom, I. D. (1980). Existential psychotherapy. London: Hachette Book Group.