Management and Connections Journal
Vitória (ES), v. 14, n. 3, de 2025.
ISSN 2317-5087 DOI: 10.47456/regec.23175087.2025.14.3.47427.12.33
Mapping Creative Careers: Global Bibliometric Review
Amanda Oliveira Sabino | Marco Túlio Costa Oliveira |
Universidade Federal de Lavras (UFLA) ORCID: https://orcid.org/0000-0002-7312-2063 | Universidade Federal de Lavras (UFLA) |
José Willer do Prado | Rafaela Costa Brandão |
Universidade Federal de Lavras (UFLA) | Universidade Federal de Lavras (UFLA) |
RESUMO
Este estudo realiza uma revisão bibliométrica sobre carreiras criativas, com o objetivo de mapear a produção científica global, identificar lacunas e propor uma agenda de estudos futuros. Foram analisados 166 artigos publicados nas bases Web of Science e Scopus, utilizando o software RStudio® com o pacote Bibliometrix® e o VOSviewer® para as análises bibliométricas. Os resultados apontam um crescimento expressivo das publicações sobre as carreiras criativas a partir de 2016 e as redes de cocitação evidenciam núcleos teóricos consolidados e temas emergentes, como neurociências e saúde mental com as carreiras criativas. A agenda proposta sugere investigações sobre digitalização, segmentação de setores criativos, estratégias de sobrevivência no pós- pandemia, bem como pesquisas com utilização de métodos biográficos. O estudo contribui para o avanço teórico e conceitual do campo, destacando a multidisciplinaridade como elemento central.
Palavras-Chave: carreiras; carreiras criativas; criatividade; trabalho criativo; bibliometria.
ABSTRACT
This study conducts a bibliometric review on creative careers, aiming to map global scientific production, identify research gaps, and propose a future research agenda. A total of 166 articles published in the Web of Science and Scopus databases were analyzed using RStudio® with the Bibliometrix® package and VOSviewer® for the bibliometric analyses. The results indicate a significant growth in publications on creative careers since 2016, and the co-citation networks reveal consolidated theoretical clusters and emerging topics, such as neuroscience and mental health in connection with creative careers. The proposed agenda suggests investigations on digitalization, segmentation of creative sectors, post-pandemic survival strategies, as well as studies employing biographical methods. This study contributes to the theoretical and conceptual advancement of the field, highlighting multidisciplinarity as a central element.
Keywords: careers; creative careers; creativity; creative work; bliometrics.
Introdução
As carreiras ocupam um papel central na vida das pessoas (Mayrhofer et al., 2023), uma vez que todo mundo que participa do mundo do trabalho possui uma trajetória profissional (Mayrhofer et al., 2023). A carreira pode ser compreendida como o conjunto de experiências de trabalho e outras vivências relevantes na trajetória de um indivíduo, ocorridas tanto dentro quanto fora das organizações, que, em conjunto, configuram um padrão único em sua vida (Baruch & Sullivan, 2022). Essa concepção de carreira é mais abrangente, pois considera elementos que transcendem o percurso linear e ocupacional tradicional, frequentemente associado à trajetória de um indivíduo dentro de uma única organização. Nessa perspectiva, é possível afirmar que a carreira envolve trabalho, mas não se restringe a ele (Hughes, 1958).
No que se refere à importância dos estudos sobre carreiras, este campo fornece uma lente analítica para interpretar as transformações em curso no mundo do trabalho e contribui para que os indivíduos planejem e gerenciem suas trajetórias em uma perspectiva multinível – individual, social e organizacional (Baruch & Sullivan, 2022). Além disso, faz-se mister reforçar a interdisciplinaridade no campo (Arthur et al., 1989; Gunz; Peiperl, 2007; Khapova; Arthur, 2011), uma característica que impulsiona e favorece a inserção de debates sobre carreiras nas áreas de psicologia, sociologia, história, antropologia e os estudos organizacionais (Arthur et al.,1989; Gunz et al., 2019) contexto no qual se insere este presente artigo.
Considerando essa interdisciplinaridade, diversos campos voltados à criatividade também demonstram interesse em analisar como as carreiras se desenvolvem no âmbito criativo, como, por exemplo, o trabalho de Ashton (2014) sobre as carreiras criativas na economia criativa e Bendassolli e Wood Jr (2010) sobre as carreiras nas indústrias criativas, dentre outros, mostrando a potencialidade da vinculação entre estes dois temas. Autores como Calasans & Davel (2020) produziram uma revisão sistemática intensa com o objetivo de integrar toda a produção acadêmica existente no campo sobre as carreiras no contexto do trabalho criativo, relacionando com os estudos sobre as carreiras criativas em si. Em um trabalho recente, os autores realizaram esta mesma revisão, apontando as características e singularidades dessas trajetórias profissionais, bem como uma análise da tipologia dessas carreiras e dos modelos de gestão mais comuns dentro das carreiras criativas, além de uma agenda
Neste estudo, adotamos uma abordagem distinta: em vez da revisão sistemática, utilizamos técnicas bibliométricas, com a aplicação de gráficos, redes de cocitação e mapeamento da produção científica em termos quantitativos. Com isso, foi possível identificar não apenas padrões de crescimento e dispersão do campo, mas também visualizar as conexões entre autores, periódicos e correntes teóricas, oferecendo uma perspectiva complementar à revisão narrativa. Assim, enquanto o trabalho de Calasans & Davel (2024) enfatiza a síntese qualitativa das reflexões já existentes, esta pesquisa contribui para compreender a estrutura intelectual do campo, a dinâmica da consolidação das carreiras criativas como fenômeno científico e sugere uma definição conceitual do termo a partir das leituras realizadas nesta bibliometria.
Em termos de características, as carreiras criativas se destacam por sua conexão com as indústrias culturais e artísticas, onde trajetórias profissionais são marcadas por características como fragmentação, não-linearidade e precariedade (Comunian; England, 2020). Inseridas em contextos econômicos, sociais e culturais
específicos (Gunz et al., 2011), essas carreiras são moldadas pela tensão entre criatividade e mercado (Adorno & Horkheimer, 1985),1 além de exigirem constante inovação e adaptação às mudanças tecnológicas.
A literatura brasileira evidencia um baixo número de pesquisas que articulem carreira e formas não tradicionais de trabalho, especialmente no campo dos estudos organizacionais (Soares & Saraiva, 2019). Ainda assim, autores como Calasans & Davel (2020, 2024) têm ampliado esse debate ao explorar as carreiras criativas, ressaltando as suas singularidades, desafios e modos de gestão, o que apresenta um avanço importante, mas ainda insuficiente diante da complexidade que abarcam essas trajetórias profissionais . Com base nesse entendimento, este trabalho bibliométrico visa mapear a produção científica sobre carreiras criativas, analisando as contribuições do campo, redes de cocitações, lacunas e tendências, a fim de compreender como o campo tem-se estruturado e quais são as principais implicações teóricas. Além disso, o artigo propõe uma agenda de estudos futuros e apresenta uma possibilidade definição conceitual sobre as carreiras criativas a partir das leituras e análises realizadas no decorrer deste estudo bibliométrico.
Indústria criativa, trabalho criativo e a tentativa de definir o que é carreira criativa
O conceito de indústria cultural, formulado por Adorno & Horkheimer (1985), surge como crítica à padronização e mercantilização da cultura no capitalismo avançado. Para os autores da Escola de Frankfurt, a cultura se transforma em mercadoria, perdendo seu potencial crítico e sendo absorvida pela lógica do consumo. Décadas depois, com as mudanças na economia global, especialmente nos anos 1990, emerge o termo "indústrias criativas", com destaque para políticas públicas britânicas que passam a classificar atividades como design, música, cinema, artes, moda e software como centrais à nova economia (Department for Culture, Media and Sport- DCMS, 2006; Luckman, 2018).
Embora conectadas, as noções de indústria cultural e criativa não são equivalentes (Dias & Lima, 2021; Oliveira, Araújo & Silva, 2013). As indústrias criativas ampliam o escopo econômico da cultura, incluindo produtos e serviços baseados em capital intelectual e inovação (Dias & Lima, 2021). Enquanto a indústria cultural enfatizava o valor simbólico e artístico da produção, as indústrias criativas reconfiguram esse valor em termos de contribuição ao Produto Interno Bruto (PIB) (Sistema Firjan, 2014) e ao crescimento econômico (Oakley & O’Connor, 2015). Nesse processo, como alerta Luckman (2018), as artes são reconfiguradas como alavancas da inovação e não mais como esferas que demandam financiamento público. Isso gera tensões: ao mesmo tempo que impulsionam oportunidades de trabalho, essas indústrias tendem a reforçar desigualdades e precariedades, sobretudo em economias periféricas.
1 Optamos pela edição de 1985 por ser a tradução brasileira de referência, amplamente citada na literatura nacional e responsável pela introdução sistemática do pensamento adorniano e horkheimeriano no campo das ciências sociais no Brasil. Cabe ressaltar, contudo, que o presente trabalho não se ancora na tradição da Teoria Crítica; a referência a Adorno e Horkheimer (1985) tem caráter pontual e busca apenas reforçar determinados aspectos conceituais relevantes à discussão, alinhando-se epistemologicamente a uma abordagem interpretativista.
O trabalho criativo se insere nesse cenário como uma forma de atividade que mobiliza originalidade, expressão pessoal e inovação. Para Valenti e Silva (1995), o trabalho criativo resgata a subjetividade e a ética da realização pessoal, contrapondo- se ao modelo fordista de alienação. Entretanto, essa idealização é frequentemente contrastada por estudos que denunciam a precarização estrutural do setor. Autores como Comunian & England (2020) revelam que, apesar da imagem de liberdade e autenticidade associada ao trabalho criativo, ele é marcado por instabilidade, baixa remuneração e ausência de proteção social. A informalidade e a lógica de “trabalhar por paixão” obscurecem as desigualdades e os desafios reais enfrentados por profissionais da área.
Além disso, há ambiguidade no uso dos termos “trabalho criativo” e “trabalho cultural”, muitas vezes tratados como sinônimos (Dias & Lima, 2021). Essa sobreposição contribui para a dificuldade de definição precisa das carreiras criativas, cuja delimitação permanece fluida. Por um lado, essas carreiras são associadas a setores como artes, audiovisual, design, moda, publicidade e arquitetura. Por outro, a criatividade é uma competência transversal, presente em múltiplos campos profissionais (Bendassolli et al., 2009).
A definição de “carreira criativa”, portanto, ainda é um ponto de debate. O campo é caracterizado por trajetórias marcadas pela fragmentação, descontinuidade do trabalho e pelas múltiplas inserções no mercado (Comunian & England, 2020). Há quem defina uma carreira criativa pelas experiências profissionais de indivíduos que lidam com a criatividade no seu cotidiano profissional (McLeod; O’Donohoe; Townley, 2009 apud Calasans & Davel, 2024). Porém, esses trajetos profissionais não seguem lógicas lineares ou organizacionais tradicionais, exigindo dos indivíduos habilidades de autogestão, resiliência e adaptação a condições incertas. Menger (2014) argumenta que o trabalho criativo opera sob alta incerteza de resultados, sendo impulsionado mais pela reputação e pela construção de redes do que por estruturas formais.
No campo dos estudos de carreira, autores como Hall (1976, 1996) e Arthur & Rousseau (1996) e propuseram os conceitos de carreira sem fronteiras e carreira proteana para dar conta dessas novas configurações de carreira que surgiram em paralelo à globalização. Ambas as abordagens enfatizam autonomia, mobilidade e o papel ativo do indivíduo na construção de seu percurso profissional — aspectos que ressoam com o contexto das indústrias criativas. No entanto, como pontuam Gunz et al. (2011), é impossível discutir carreiras sem considerar os contextos históricos, sociais e culturais em que se desenvolvem. Nesse sentido, qualquer definição de carreira criativa deve articular biografia individual e estruturas sociais mais amplas.
Furst (2022) reforça essa perspectiva ao mostrar como as carreiras literárias iniciais podem ser atravessadas por desigualdades de gênero, classe e capital simbólico. A continuidade em uma carreira criativa depende não apenas de talento ou dedicação, mas também do acesso a recursos sociais e econômicos, bem como da capacidade de sustentar uma identidade artística frente às exigências da vida cotidiana.
Em síntese, as carreiras criativas representam um campo complexo e multifacetado, onde convergem inovação e instabilidade, liberdade e vulnerabilidade. São trajetórias que desafiam classificações rígidas e demandam abordagens teóricas
e metodológicas sensíveis às tensões entre mercado, subjetividade e contexto. Compreendê-las requer, portanto, uma perspectiva crítica que reconheça tanto o potencial emancipador da criatividade quanto os limites impostos por estruturas desiguais de oportunidade.
Metodologia
É no século XX que o uso de métodos estatísticos e matemáticos para mapear informações a partir de registros bibliográficos de documentos ganham maior notoriedade e legitimidade (Fidelis et al., 2009). Autores de origem anglo-saxônica atribuem a criação do método da bibliometria a Pritchard (1969), que propôs sua utilização em substituição à bibliografia estatística. Nesse sentido, a bibliometria foi caracterizada por este mesmo estudioso como um conjunto de métodos e técnicas quantitativos para a administração de bibliotecas e entidades envolvidas com o tratamento de informações (Fidelis et al., 2009). Ainda conforme Fidelis et al. (2009, p.3) “os resultados das análises bibliométricas foram considerados importantes coadjuvantes da definição de estratégias de gestão de unidades de informações e de base de dados”.
Todavia, a escolha do procedimento metodológico para este estudo se fundamenta nas diversas razões que ressaltam sua adequação enquanto método investigativo e de coleta de dados. Uma dessas razões diz respeito ao abrangente e sistemático mapeamento do conhecimento científico da área de carreiras e das carreiras pertencentes às indústrias criativas. Ao utilizar métodos quantitativos para compreender a literatura científica existente, é possível identificar padrões e encontrar lacunas no conhecimento. O delineamento da pesquisa bibliométrica é caracterizado como um estudo quantitativo e descritivo, voltado para a análise de produção científica em um determinado campo ou tema.
Ademais, este procedimento metodológico favorece a identificação dos trabalhos mais citados e relevantes da área, além de permitir que conheçamos quem são os autores mais influentes na área de estudo em questão. Esta identificação é essencial para se construir uma base sólida para a fundamentação teórica e o direcionamento de agendas de pesquisas futuras. A bibliometria também se justifica como procedimento metodológico para esta pesquisa por apresentar o estado da arte e da literatura científica analisada.
O percurso metodológico deste trabalho seguirá os passos propostos pelo framework de Prado et al. (2016), estruturado em sete etapas principais, desde a definição do campo teórico e operacionalização da pesquisa até a construção de uma agenda de estudos futuros, conforme apresentado no Quadro 1.
Quadro 1 - Framework de pesquisa proposto para os artigos de revisão.
Etapa | Descrição | ||
1.1 | Definir o campo científico e teórico do trabalho | ||
1ª | Operacionalização da pesquisa | 1.2 | Delimitar os objetivos do trabalho |
1.3 | Escolha das bases científicas ou periódicos | ||
1.4 | Delimitação dos termos e strings que representam o campo | ||
Procedimentos de busca | 2.1 | Definir os termos de busca para localizar as referências | |
2ª | (filtros) | 2.2 | Definir os caracteres para uma pesquisa avançada |
2.3 | Definir outros filtros de busca para refinamento | ||
3ª | Procedimentos de seleção (Banco de dados) | 3.1 | Download das referências para software Zotero® |
3.2 | Download das referências em formato planilha eletrônica | ||
3.3 | Download das referências para os softwares bibliométricos | ||
3.4 | Organização das referências no Zotero® | ||
3.5 | Organização das matrizes de análise em planilha eletrônica | ||
3.6 | Importação dos dados para os softwares de análise bibliométrica | ||
4ª | Adequação e organização dos dados | 4.1 | Eliminação dos artigos duplicados no banco de dados |
4.2 | Eliminação de artigos por meio de leitura flutuante | ||
4.4 | Busca dos artigos completos em .pdf no Zotero® | ||
Análise da Frente de Pesquisa | 5.1 | Análise do volume das publicações e tendências temporais | |
5ª | 5.2 | Análise dos artigos mais citados da amostra | |
5.3 | Análise dos países dos artigos selecionados | ||
6ª | Análise da Base Intelectual | 6.1 | Análise da rede de cocitações dos autores mais citados |
7ª | Agenda de Estudos Futuros | 7.1 | Leitura flutuante dos artigos dos anos de 2022, 2023 e 2024 da intellectual base |
7.2 | Síntese textual das principais sugestões de estudos futuros | ||
7.3 | Construção de texto corrido com os principais temas por categoria | ||
7.4 | Apresentação e discussão dos principais temas de estudos futuros |
Fonte: Adaptado de Prado et al. (2016, p. 1011).
A coleta de dados foi realizada em base de dados acadêmicas globalmente reconhecidas, como a WoS e a Scopus, abrangendo somente publicações ao nível de artigos científicos publicados em revistas científicas. Foi utilizada uma string específica nas buscas das bases unindo as palavras carreiras e criativas a fim de garantir maior abrangência e relevância de estudos relacionados aos temas. A escolha por estas bases se deu, primeiramente, pela cobertura global que ambas possuem. Além disso, na Web of Science e na Scopus encontramos títulos reconhecidos internacionalmente e de qualidade (Rodrigues, Quartiero & Neubert, 2015), e estas bases possuem um rigoroso critério de avaliação por pares. A revisão por pares é conduzida por especialistas do campo que não estão envolvidos no estudo. Dessa forma, pode ser vista como uma extensão significativa do processo científico (Jenal et al., 2012). Ademais, a string de busca foi sintetizada no Quadro 2.
Quadro 2 - Strings de busca utilizados na pesquisa.
Base indexadora | String de busca |
SCOPUS | TITLE-ABS-KEY (creative_career*) |
WoS | TS=(creative_career*) |
Fonte: Elaboração própria (2024).
As strings de busca utilizadas para a coleta de dados em bases indexadoras foram construídas com base nos objetivos e no campo teórico do trabalho. O termo creative_career* foi escolhido por ser representativo do conceito central da pesquisa, abrangendo tanto o singular (career) quanto o plural (careers), garantindo maior abrangência dos resultados. O uso do caractere (*) permite a inclusão de diferentes variações da palavra, assegurando a captura de artigos relevantes que utilizem essas expressões. Além disso, um dos trabalhos mais antigos encontrados a partir da string foi “The Individual Creative Career and the Typowgy of Culture Codes”, de Z.G. Mints & Iu Lotman (1974), reforçando a representatividade do termo “creative career”.
Contudo, a pesquisa não se limitou a tempo e tampouco a área de publicação, possibilitando encontrar trabalhos com a mesma temática realizados em outras áreas de estudo, visto que o campo é multidisciplinar por natureza. A multidisciplinaridade do campo das carreiras criativas possibilita uma análise mais aprofundada e abrangente do tema, captando as múltiplas influências que o permeiam.
A busca foi feita entre os meses de abril a setembro de 2024. Com os filtros aplicados respeitando os critérios de busca na WoS de “artigos e artigos de revisão”, os resultados encontrados foram de 118 trabalhos. Anteriormente, sem os filtros, eram de 143 resultados. Na Scopus, por sua vez, o mesmo processo foi realizado, selecionando apenas artigos de revisão e artigos tradicionais, os resultados foram de 216 trabalhos, mas selecionando os filtros os resultados foram de 163 documentos.
O Diagrama de Venn da Figura 1 representa o universo de artigos coletados na amostra, conforme dito anteriormente nos procedimentos metodológicos, nas bases indexadoras WoS e Scopus e os artigos duplicados entre elas. Há mais artigos encontrados na Scopus (n=163) do que trabalhos advindos da WoS (n=118 artigos). Com as análises extraídas do software RStudio com o pacote Bibliometrix foi possível perceber que 115 artigos eram duplicados, ou seja, estavam presentes nas duas bases. O retorno trazido pelo Biblioshiny foi de 166 artigos totais somados nas duas bases com os duplicados excluídos. A Figura 1 ilustra a construção dessa base de dados.
Figura 1 - Volume total de publicações sobre as carreiras criativas da amostra coletada nas bases Scopus e WoS.
Fonte: Elaboração própria (2024).
A decisão por selecionar somente artigos e artigos de revisão se dá pelo fato de que nestes tipos de trabalhos científicos há um processo rigoroso de avaliação a cega
por pares. Em razão de seu processo de revisão às cegas, eles garantem a fonte mais útil e confiável para revisões de literatura (Filser, Silva & Oliveira, 2017; Garza-Reyes, 2015; Sounders et al., 2012). Em termos de processo de coleta de dados, a Figura 2 esquematiza este processo de coleta.
Além disso, foram priorizados artigos e revisões nas línguas portuguesa, espanhola e inglesa, pois os autores dominam esses idiomas, o que possibilita análises mais consistentes por meio da leitura e interação aprofundada com esses trabalhos.
Figura 2 - Mapeamento do processo de coleta de dados nas bases escolhidas.
Fonte: Elaboração própria (2024).
Os dados extraídos dos indexadores WoS e Scopus foram exportados em formato plaintxt e CSV, respectivamente. Os arquivos exportados foram transferidos para o software RStudio®, na pasta Library, facilitando o acesso e a manipulação dos dados.
Dessa maneira, para realizar as análises bibliométricas foi utilizado o pacote Bibliometrix no ambiente RStudio®. Este pacote é uma ferramenta poderosa para a análise e visualização dos gráficos e dados bibliométricos. Posteriormente os dados provenientes das duas bases escolhidas foram combinados em um único dataframe para facilitar a análise conjunta.
Além disso, utilizou-se a função Biblioshiny para explorar os dados de forma interativa, permitindo análises de clusters e a identificação de grupos de artigos com características semelhantes. Para complementar as análises e criar visualizações gráficas do campo científico, foi empregado um software adicional de análise de dados, juntamente com o VOSviewer®. Este último foi explorado por suas funcionalidades avançadas na construção de redes bibliométricas, incluindo mapas de coautoria, acoplamento bibliográfico e redes de citação (Caneppele et al., 2023).
Análise e discussão
Esta seção tem como foco apresentar e analisar os resultados obtidos na revisão bibliométrica sobre carreiras criativas. Serão destacados a produção científica anual das bases Scopus e Web of Science, o ranking dos três artigos mais citados encontrados nas bases e os respectivos periódicos, a análise dos países dos artigos encontrados e as análises das redes de cocitações dos autores mais citados dessas bases. Além disso, serão discutidos os avanços e as lacunas identificadas, com o objetivo de mapear o estado da arte do campo e apontar possíveis caminhos para pesquisas futuras.
Evolução da Produção Científica: Análise Anual nas Bases Scopus e WoS via Biblioshiny®
O Gráfico 1 mostra a evolução científica temporal da produção científica acerca das carreiras criativas, que teve sua gênese no ano de 1974, e com destaque mais evidente a partir dos anos 2000. A partir dos anos 2016 houve um aumento significativo e contínuo, com um pico notável em 2020 e 2021. Este aumento poderia ser justificado pelo período pandêmico da COVID-19, que trouxe mudanças significativas na economia e no cenário de trabalho geral, e isto pode ter impulsionado o trabalho científico no campo.
Gráfico 1 - Evolução da produção científica ao longo dos anos.
25
20
15
10
5
2024
2022
2020
2018
2016
2014
2012
2010
2008
2006
2004
2002
2000
1998
1996
1994
1992
1990
1988
1986
1984
1982
1980
1978
1976
1974
0
Fonte: Elaboração própria (2024).
A produção científica sobre carreiras criativas iniciou nos anos 1970, com destaque para o artigo The Individual Creative Career and the Typowgy of Culture Codes de Z.G. Mints & Iu Lotman (1974). Entretanto, foi apenas a partir do final dos anos 2010 que o tema ganhou maior destaque, com um crescimento expressivo das publicações no início dos anos 2020, conforme apontam as bases analisadas. Os autores exploram em seu estudo como a trajetória criativa de um indivíduo não pode ser compreendida de maneira isolada, relembrando que as carreiras devem ser sempre analisadas a partir de um contexto (Gunz et al., 2019), mas está imersa em um sistema cultural mais amplo.
Neste sentido, os autores abordam que cada carreira criativa se constrói num diálogo entre o indivíduo e os códigos culturais, que organizam significados, valores e
práticas (Mints & Lotman, 1974). Outro aspecto relevante desse artigo refere-se à natureza interdisciplinar do campo dos estudos de carreira, amplamente reconhecida na literatura (Arthur et al., 1989; Gunz & Peiperl, 2007; Khapova & Arthur, 2011). O trabalho de Mints e Lotman (1974) exemplifica essa característica ao articular, conceitos da semiótica, teoria literária e sociologia, além de incorporar noções oriundas da economia e da administração.
O pico em 2020 pode ser atribuído ao impacto da pandemia de COVID-19, que acelerou transformações no setor, destacando sua capacidade de adaptação (UNESCO, 2021). Nos anos anteriores ao período pandêmico, especialmente após 2015, o crescimento acelerado da produção científica sobre o tema também pode estar atrelado à digitalização e ao surgimento de novas formas de trabalho no setor criativo (Hesmondhalgh, 2019). Essa perspectiva se conecta intimamente com as transformações que atingiram o mundo do trabalho, com destaque à ascensão das mídias digitais,
Artigos mais citados nas bases WoS e Scopus e seus respectivos periódicos
Os estudos sobre carreiras nas indústrias criativas têm se expandido nos últimos anos, refletindo a crescente relevância desse campo para a economia e o desenvolvimento social. A análise dos artigos mais citados nas bases de dados Scopus e WoS revela as principais abordagens teóricas que vêm moldando o debate acadêmico. O Quadro 1 apresenta a análise dos artigos mais citados, o total de citações e seus respectivos periódicos.
Quadro 1 - Ranking dos 3 artigos mais citados com as bases mescladas a partir do Bibliometrix®.
Autor | Produção | Periódico | Total de citações (Scopus) | Total de citações (WoS) |
Peterson e Anand (2004) | The Production Of Culture Perspective | Annual Review Of Sociology | 537 | 445 |
Comunian e England (2020) | Creative And Cultural Work Without Filters: Covid-19 And Exposed Precarity In The Creative Economy | Cultural Trends | 188 | 148 |
Simonton (1991) | Career Landmarks In Science: Individual Differences And Interdisciplinary Contrasts | Developmental Psychology | 142 | 142 |
Fonte: Elaboração própria (2024).
Observando os periódicos em que as obras mais citadas aparecem, nota-se que a Annual Review of Sociology aparece em destaque com o trabalho de Peterson e Anand (2004) sendo significativamente o mais citado. A Annual Review of Sociology é uma revista que publica revisões críticas de pesquisa nas ciências sociais, abordando uma ampla gama de temáticas sociológicas. As principais áreas e temáticas exploradas com frequência incluem: Estratificação e desigualdade; sociologia do trabalho e das organizações; sociologia cultural; sociologia urbana e comunitária; teoria social, dentre outras. É possível encaixar o trabalho de Peterson e
Anand (2004) em Sociologia Cultural, uma vez que esta temática abarca estudos com foco em como o comportamento humano pode ou não ser influenciado pela produção cultural, o que, de certa maneira tem bastante conexão com o trabalho desenvolvido pelos autores.
Esse artigo é particularmente interessante para a análise das carreiras nas indústrias criativas porque demonstra como fatores externos e estruturais, como as mudanças tecnológicas ou transformações nos mercados, podem afetar o desenvolvimento e a trajetória profissional dos trabalhadores criativos. A visão de Peterson e Anand também ajuda a entender a precariedade e a flexibilidade que caracterizam muitas dessas carreiras, uma vez que elas estão inseridas em sistemas amplamente influenciados por fatores sociais, econômicos e legais, além dos desafios próprios de quem vivencia esta carreira.
O periódico Cultural Trends é focado em análises e estudos sobre políticas culturais, economia criativa e o impacto das indústrias culturais e criativas na sociedade, tendo como aspecto principal o foco em trabalhos voltados para políticas públicas e indústrias criativas, e com isso é possível destacar a obra de Comunian e England (2020) em Creative And Cultural Work Without Filters: Covid-19 And Exposed Precarity In The Creative Economy, que examina o impacto da pandemia de Covid-19 nas condições de trabalho das indústrias criativas e culturais. Os autores destacam como a crise sanitária exacerbou a precariedade já presente nesses setores, especialmente devido à informalidade, à falta de segurança no emprego e à instabilidade econômica.
A revista Developmental Psychology explora o desenvolvimento humano ao longo da vida, incluindo estudos como o de Simonton (1991), que analisa marcos de carreira de cientistas, destacando as variações individuais e disciplinares que influenciam o sucesso científico. Reconhecido por seus trabalhos sobre criatividade, Simonton investiga os fatores que moldam o progresso e as contribuições científicas.
A multidisciplinaridade das carreiras criativas reflete a diversidade de abordagens em áreas como Sociologia, Psicologia e Cultura. A interdisciplinaridade já era um elemento explorado pelos teóricos do campo de carreiras (Arthur et al., 1989; Gunz; Peiperl, 2007; Khapova; Arthur, 2011). Cada perspectiva enriquece a compreensão do que significa ser criativo no mundo contemporâneo, ampliando as possibilidades de análise desse fenômeno complexo e multifacetado (Gunz; Peiperl, 2007).
Análises dos países dos artigos selecionados
A Figura 3 apresenta os países com maior produção científica sobre carreiras criativas, com base nas análises do Biblioshiny®. Os diferentes tons de azul representam os níveis de contribuição, sendo os Estados Unidos o principal destaque, com tonalidade azul mais escura. Reino Unido, Rússia e Austrália também aparecem com contribuições significativas. Em contrapartida, as áreas em cinza indicam regiões com pouca ou nenhuma produção identificada, evidenciando possíveis lacunas na pesquisa científica sobre o tema.
Há também alguns contribuintes moderados, como é o caso do Canadá, Brasil, China e Alemanha: estes aparecem em azul-médio, o que indica uma participação
satisfatória, mas em menor grau em relação aos principais contribuintes. Outros países na Europa, Ásia e América Latina: são representados em tons de azul-claro, indicando uma menor produção científica sobre o tema. Em termos de regiões com baixa participação ou participação nula temos os países da África, Oriente Médio e América Central, o que nos leva a pensar que há uma necessidade de ampliar o cenário das indústrias criativas nestes países e/ou realizar parcerias com Universidades e autores de áreas correlacionadas destas regiões.
Figura 3 – Países que mais publicaram sobre as carreiras criativas.
Fonte: Biblioshiny (2024).
Em síntese, os países de língua inglesa, especialmente os Estados Unidos, Reino Unido e Austrália, lideram a produção científica sobre carreiras nas indústrias criativas. Isso pode estar relacionado ao desenvolvimento mais avançado dessas indústrias nesses países, bem como ao investimento em pesquisa acadêmica. Já outros países, como Brasil, China e alguns na Europa, também mostram uma presença significativa, embora em menor escala. As regiões com pouca ou nenhuma produção científica provavelmente refletem economias onde as indústrias criativas ainda não são tão desenvolvidas, ou onde há menos investimento em pesquisa acadêmica nessa área.
Análise das redes de cocitações dos autores mais citados
O gráfico 2 reflete o cenário das redes de cocitações da WoS. A figura mostra a formação de quatro clusters distintos, representados por diferentes cores, que podem indicar grupos de autores frequentemente citados. Por exemplo, na cluster azul nota- se o destaque de Dean Keith Simonton, conhecido por suas contribuições significativas para a pesquisa sobre criatividade, especialmente no que se refere à psicologia da criatividade, ao desempenho criativo e à trajetória de indivíduos criativos. Nesse sentido, o trabalho de Simonton, Career Landmarks in Science: Individual Differences and Interdisciplinary Contrasts (1991), é particularmente relevante. Ele explora os marcos nas trajetórias de carreiras científicas, investigando diferenças individuais e contrastes entre disciplinas em temas de sucesso e produtividade. É importante notar que esse artigo apareceu no ranking dos três mais citados nas bases mescladas pelo software Bibliometrix®.
A proposta de Simonton (1991) faz com que o leitor reflita a respeito de fatores que influenciam o sucesso em carreiras científicas, destacando os marcos, as
diferenças individuais e as variações interdisciplinares. No cluster azul, destacam-se temas relacionados à psicologia da criatividade, desempenho criativo e teorias de carreiras, com ênfase nos estudos de Douglas T. Hall e Michael B. Arthur. Hall (1994) propôs a carreira proteana, que valoriza autonomia, flexibilidade e alinhamento entre valores pessoais e objetivos profissionais, características das carreiras criativas, como apontam Comunian & England (2020) em seu artigo. Arthur & Rousseau (1996) introduziram o conceito de “carreiras sem fronteiras”, que descreve trajetórias que transcendem os limites organizacionais, nas quais o próprio indivíduo assume a responsabilidade pelo direcionamento de sua carreira, característica típica de quem exerce o trabalho criativo. Lembrando que o conceito de carreira não se restringe ao trabalho, mas também está ligada a ele (Hughes, 1958).
No cluster verde, por exemplo, vê-se como destaque Roberta Comunian, com sua expressiva contribuição no campo das indústrias criativas, se tratando especialmente da relação entre carreiras criativas, contextos geográficos e políticas culturais. Na obra de Comunian & England (2020) há uma discussão relevante acerca da precariedade do trabalho criativo, revisitando questões relacionadas a falta de estabilidade financeira e ocupacional. Comunian (2020), por sua vez, figura entre os artigos mais citados nas análises realizadas pelo software mencionado anteriormente.
Howard S. Becker (2010) e Pierre Bourdieu (1993) surgem proeminentes no cluster vermelho devido a importâncias de suas contribuições teóricas para o estudo do trabalho cultural e estrutura social. Ambos os autores são referências importantes sobre produção cultural e artísticas em si, o que explica sua conexão com outros autores relevantes no gráfico. Becker (2010) propõe um estudo a respeito dos mundos da arte pelas lentes da sociologia da arte, revelando como a criação artística é um esforço coletivo e interdependente. Em paralelo, Bourdieu (1993), por sua vez, oferece contribuições essenciais sobre a existência e estruturação de um "campo artístico", um espaço social onde agentes e instituições disputam posições e legitimidade.
Gráfico 2 - Análise das redes de cocitações dos autores mais citados da WoS via VOSviewer®.
Fonte: Importada do VOSviewer (2024).
O gráfico 2, por sua vez, reflete o cenário das redes de cocitações da Scopus. O gráfico revela clusters de cocitação distintos, os quais representam agrupamentos de autores frequentemente citados em conjunto. Cada cluster está associado a um campo específico de estudo ou a um conjunto temático. No cluster azul, por exemplo, tem-se como destaque Roberta Comunian, reforçando a sua contribuição científica e intelectual para o campo das carreiras criativas. Do mesmo modo, David Hesmondhalgh se mostra como uma das referências centrais em termos de trabalhos sobre as indústrias criativas. Por meio de The Cultural Industries o autor analisa como essas indústrias operam em um contexto global, enfatizando suas dinâmicas econômicas, sociais e políticas.
O trabalho de Hesmondhalgh (2019) também discute questões relacionadas à concentração de poder, precariedade laboral, além de examinar os desafios do trabalho criativo, tais como a autonomia e a sustentabilidade da carreira, conforme apontado no referencial teórico do presente trabalho. No cluster verde, Michael B. Arthur permanece como uma importante referência no campo, reafirmando a sua relevância nos estudos sobre carreiras pela originalidade de suas contribuições. Dean Keith Simonton também se repete no gráfico por suas investigações sobre desempenho criativo e psicologia da criatividade, como apontando anteriormente.
No que concerne ao cluster vermelho, Richard A. Peterson surge em evidência, principalmente pelo destaque de seu artigo ao lado de N. Anand The Production of Culture Perspective (2004). Ainda no mesmo cluster, Herink Furst é um nome relevante, com suas investigações sobre as dificuldades enfrentadas por escritores na construção de suas carreiras literárias, como revelado em The Curse of the Difficult Second Book: Continuation and Discontinuation in Early Literary Careers (2022). Nos clusters mais periféricos do gráfico emergem temas ainda pouco explorados no campo das carreiras criativas, como as investigações de Leeanne, M. Carey, que realiza trabalhos relacionados à área de neurociências e da psicologia clínica.
Gráfico 3 - Análise das redes de cocitações dos autores mais citados da Scopus via VOSviewer®.
Fonte: Importada da VOSviewer ® (2024).
O gráfico 3, portanto, evidencia como as redes de cocitação estruturam o campo das carreiras criativas, destacando autores centrais e temáticas emergentes. A presença de clusters bem definidos demonstra a consolidação de núcleos teóricos, como os trabalhos de Comunian e Hesmondhalgh sobre indústrias criativas e políticas culturais, bem como de Arthur e Simonton com enfoques em carreiras sem fronteiras e criatividade. Por outro lado, a emergência de autores em posições periféricas, como Leeanne M. Carey, sugere o surgimento de novas conexões interdisciplinares, incluindo áreas como neurociências e psicologia clínica, que podem oferecer perspectivas inovadoras para futuras investigações. Essa análise reforça a importância de explorar tanto os campos já consolidados quanto as temáticas periféricas, como se apresentam no gráfico, contribuindo para o avanço teórico do cenário das carreiras criativas.
Agenda de estudos futuros
Este trabalho segue a abordagem de Prado et al. (2016), que adota a proposta de Filser, Silva & Oliveira (2017) para a construção de uma agenda de estudos futuros, a partir da análise de artigos em inglês, espanhol e português. Foram considerados artigos de 2022, 2023 e 2024, períodos em que as sugestões de pesquisa tendem a permanecer não resolvidas, de acordo com Filser, Silva & Oliveira (2017). Entre 2024 e 2023, 9 artigos foram mapeados, sendo 8 disponíveis, 6 de 2024 e 2 de 2023. No que tange aos de 2022, dos 20 artigos mapeados, apenas 4 cumpriram os critérios e apresentaram sugestões de tendências futuras.
Os demais não foram considerados por estarem inacessíveis, escritos em idiomas que não faziam parte dos critérios da pesquisa ou não abordavam direções de pesquisa. Três artigos biográficos acessíveis (Cavett, 2022; Patel, 2022; Leung & Burwell, 2022) destacaram um enfoque nas carreiras criativas. Ao explorar áreas emergentes ou tendências em desenvolvimento, a agenda fomenta novas perspectivas teóricas e metodológicas, possibilitando inovações e reconfigurações no campo. Com base nos critérios estabelecidos, os direcionamentos encontrados são apresentados a seguir.
Os artigos revisados indicam oportunidades valiosas para o avanço da área em múltiplas direções. Primeiramente, as propostas de Bernard et al. (2024) e Kerrigan et al. (2023) destacam a importância de compreender como a formação educacional e os momentos de transição impactam as aspirações e possibilidades profissionais de quem ingressa nas indústrias criativas. Esses estudos sugerem que o campo pode se beneficiar de investigações aplicadas sobre políticas públicas educacionais e processos formativos, fortalecendo a relação entre carreira, criatividade e sistemas institucionais de ensino.
A proposta de Fuerst (2023) sobre a manutenção de identidades artísticas aponta para a necessidade de ampliar os estudos sobre a articulação entre vida pessoal, tempo dedicado à criação e sustentabilidade profissional. Isso pode contribuir para uma compreensão mais refinada da agência individual e dos constrangimentos sociais, como classe, gênero e etnia, que moldam o engajamento nas carreiras criativas.
De maneira complementar, os trabalhos de Zaeske et al. (2022) e May et al. (2022) enfatizam os impactos psicossociais e contextuais (como a pandemia da
COVID-19) na experiência de profissionais criativos, chamando atenção para a relevância de abordagens qualitativas que captem vulnerabilidades, estratégias de resiliência e desigualdades. Essas propostas ampliam o entendimento das carreiras criativas como fenômenos atravessados por dimensões estruturais e subjetivas, o que reforça a importância de metodologias que deem voz aos atores sociais envolvidos.
Finalmente, o estudo de Furst (2022) alerta para o entrelaçamento entre desigualdades estruturais e o desenvolvimento de trajetórias criativas, propondo que pesquisas futuras incorporem análises interseccionais. A inclusão de perspectivas de raça, classe, gênero e território pode fortalecer o campo ao torná-lo mais crítico, plural e sensível às dinâmicas de exclusão.
Além das propostas identificadas nos trabalhos analisados, os autores deste artigo apresentam, no framework presente no Quadro 4, eixos temáticos que podem fomentar o avanço e a expansão dos estudos no campo das carreiras criativas.
Quadro 2 – Framework de agenda de estudos futuros propostos pelos autores.
Eixo temático | Descrição da proposta | Possíveis abordagens | Autores Referenciados |
Sobrevivência no pós- pandêmico | Investigar estratégias de sobrevivência dos profissionais das indústrias criativas no período pós-COVID-19, considerando desafios socioeconômicos e de saúde mental. | Estudos qualitativos (entrevistas, narrativas) e etnografia. | Zaeske et al. (2022; May et al. (2022) |
Segmentação por setores criativos | Analisar carreiras criativas de forma segmentada (teatro, música, cinema/audiovisual, design), considerando suas complexidades e particularidades em contextos locais e globais. | Estudos comparativos por setor; análises organizacionais. | May et al. (2022) |
Profundamento nas trajetórias individuais dos artistas | Investigar como artistas em início de carreira constroem e sustentam sua identidade artística ao longo do tempo, diante de dilemas entre criação, sobrevivência e reconhecimento. | Estudos longitudinais; entrevistas em profundidade; análise de alinhamento de trajetórias e escolhas identitárias. | Fuerst (2023) |
Perspectiva interseccional | Explorar como marcadores sociais como gênero, classe, raça e etnia influenciam o acesso, a permanência e a continuidade nas carreiras criativas. | Análises interseccionais; estudos qualitativos com foco em desigualdades estruturais. | Furst (2022) |
Trabalhos biográficos com artistas | Realizar investigações sobre carreiras criativas a partir de metodologias biográficas e de oralidades, valorizando narrativas de uma carreira individual e coletiva. | História Oral, História de Vida, entrevistas narrativas. | Cavett (2022); Patel, 2022; Leung & Burwell (2022) |
Fonte: Elaborado pelos autores (2025).
Considerando que as carreiras devem ser analisadas sempre em seu contexto (Gunz et al., 2011), uma vez que este pode influenciar e transformar como indivíduos atuam e gerenciam suas trajetórias profissionais, é fundamental reconhecer que os fatores contextuais também podem constituir objetos de investigação em pesquisas futuras. Ademais, como evidenciado nos gráficos das redes de cocitação de autores, Arthur (1994) e Hall (1996) aparecem com expressividade, o que sugere que as carreiras criativas podem ser investigadas sob as perspectivas das carreiras proteanas e das carreiras sem fronteiras, ambas inseridas no debate sobre as novas configurações de carreira.
Ao propor essa agenda, reafirmamos que o campo das carreiras criativas se beneficia enormemente de abordagens que cruzam fronteiras disciplinares, respeitam os contextos e integram a experiência subjetiva dos indivíduos aos condicionantes estruturais que moldam suas trajetórias. Investir nesses eixos significa ampliar o escopo do debate, tornar o campo mais sensível às desigualdades e fomentar uma compreensão mais plural, crítica e inovadora sobre as múltiplas formas de ser e fazer carreira no mundo contemporâneo.
Conclusões
A pesquisa bibliométrica permitiu mapear o estado da arte sobre carreiras criativas, revelando o crescimento recente da produção científica, os núcleos teóricos consolidados e os temas emergentes do campo. Apesar da diversidade conceitual, os artigos mais citados oferecem pistas sobre os contornos das carreiras criativas, ainda que sem uma definição unificada e robusta.
Como contribuição teórica e conceitual, propomos que carreiras criativas podem ser entendidas como trajetórias profissionais pautadas na expressão de ideias originais em contextos culturais, midiáticos ou artísticos, articulando criatividade e mercado. Tais carreiras são marcadas por precariedades, pelas múltiplas formas de inserção neste mercado e pela necessidade de constante reinvenção diante de transformações sociais, econômicas e tecnológicas em um mundo dinâmico.
Os achados também revelam lacunas relevantes: a escassa presença de estudos latino-americanos, em especial, brasileiros, e a limitada incorporação de abordagens provenientes da administração e dos estudos organizacionais, apesar da existência de referências emblemáticas que exploram a temática ao nível nacional. Além disso, como pode ser percebido na maioria das pesquisas, este estudo possui suas limitações: realizamos a pesquisa bibliométrica apenas em duas bases: Scopus e WoS, o que pode justificar a ausência de referências brasileiras e latino-americanas.
Em outros estudos, recomendamos a utilização de um número maior de bases para reproduzir esta pesquisa e realizar uma possível comparação. Além disso, recomendamos como estratégia complementar a utilização de um trabalho empírico para evidenciar o que a literatura aponta como características das carreiras criativas. A agenda de estudos futuros proposta neste trabalho reforça essa direção, ao apontar temas emergentes como digitalização, trajetórias artísticas, desigualdades e experiências subjetivas. Assim, este estudo oferece uma base promissora para novas investigações que desejem compreender e teorizar os múltiplos sentidos do fazer carreira em contextos criativo, em determinado tempo e espaço.
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