GESTÃO & CONEXÕES - MANAGEMENT AND CONNECTIONS JOURNAL, VITÓRIA (ES), V. 14, N. 3, DE 2025.
Revista Gestão & Conexões
Management and Connections Journal
Vitória (ES), v. 14, n. 3, de 2025.
ISSN 2317-5087
DOI: 10.47456/regec.23175087.2025.14.3.47477.57.83
Empreendedorismo Cultural na Perspectiva do Placemaking
e da Orientação Empreendedora do Effectuation
Cultural Entrepreneurship from the Perspective of Placemaking and the
Entrepreneurial Orientation of Effectuation
Jessica Ianne Fiusa do Monte
Beatriz Gondim Matos
Universidade Federal de Pernambuco
jessica.fiusa@ufpe.br
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-9895-6443
Universidade Federal do Cariri
beatriz.gondim@ufca.edu.br
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-1871-797X
Magnus Luiz Emmendoerfer
Ives Romero Tavares do Nascimento
Universidade Federal de Viçosa (UFV)
magnus@ufv.br
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-4264-8644
Universidade Federal do Cariri
ives.tavares@ufca.edu.br
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-3314-6618
RESUMO
A emergência de feiras itinerantes como espaços de circulação cultural e econômica tem despertado interesse por seu potencial
de transformação social e espacial. No contexto do Cariri cearense, destaca-se a Feira das Meninas, iniciativa protagonizada por
mulheres empreendedoras. Este estudo teve como objetivo analisar de que forma as ações empreendedoras desenvolvidas
nessa feira itinerante se articulam às diretrizes de placemaking, entendidas como princípios orientadores para a gestão e ativação
de espaços centrados nas pessoas (Mediotte et al., 2022), e à lógica do effectuation, voltada à ação empreendedora em contextos
incertos (Sarasvathy, 2001). A pesquisa adotou abordagem qualitativa de orientação interpretativista, com uso de entrevistas
semiestruturadas realizadas com sete participantes da feira. A análise temática dos dados revelou que a itinerância opera como
eixo estruturante da feira, contribuindo para o placemaking por meio de três dimensões principais: (1) Agente ressignificador de
espaços, ao atribuir novos significados aos lugares e impulsionar mobilizações populares; (2) elemento causador de experiências,
ao facilitar interações entre feirantes, consumidores e os territórios ocupados; e (3) diferencial para o negócio, ao atrair novos
públicos e fortalecer a presença empreendedora em eventos culturais. Conclui-se que a itinerância, enquanto estratégia
empreendedora bottom-up, atua na mediação entre cultura, território e cidadania, evidenciando as feiras como práticas coletivas
de reapropriação e ressignificação dos espaços urbanos.
Palavras-chave: economia criativa; empreendedorismo cultural; feiras Itinerantes; lógica effectuation; placemaking.
ABSTRACT
The emergence of traveling fairs as spaces for cultural and economic circulation has aroused interest due to their potential for
social and spatial transformation. In the context of Cariri, Ceará, the Feira das Meninas stands out, an initiative led by women
entrepreneurs. This study aimed to analyze how the entrepreneurial actions developed in this traveling fair are linked to
placemaking guidelines, understood as guiding principles for the management and activation of people-centered spaces (Mediotte
et al., 2022), and to the logic of effectuation, focused on entrepreneurial action in uncertain contexts (Sarasvathy, 2001). The
research adopted a qualitative approach with an interpretivist orientation, using semi-structured interviews conducted with seven
participants in the fair. Thematic analysis of the data revealed that itinerancy operates as a structuring axis of the fair, contributing
to placemaking through three main dimensions: (1) An agent that resignifies spaces, by attributing new meanings to places and
driving popular mobilizations; (2) an element that creates experiences, by facilitating interactions between vendors, consumers
and the occupied territories; and (3) a differentiator for the business, by attracting new audiences and strengthening the
entrepreneurial presence in cultural events. It is concluded that itinerancy, as a bottom-up entrepreneurial strategy, acts as a
mediator between culture, territory, and citizenship, highlighting fairs as collective practices of reappropriation and resignification
of urban spaces.
Keywords: Creative Economy; Cultural Entrepreneurship; Itinerancy Fairs; Effectuation Logic; Placemaking.
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Introdução
A economia criativa vem se consolidando como um vetor de desenvolvimento
sustentável, articulando produção simbólica, identidade cultural e participação cidadã
(Aguiar & Lima, 2020). Mais do que um setor econômico, ela representa uma
abordagem integradora, que valoriza os saberes locais, a inovação social e a
reconfiguração dos modos de viver e produzir (Melo-Silva, Emmendoerfer & Araújo,
2017). Em paralelo, o conceito de placemaking têm ganhado força ao promover a
apropriação coletiva e criativa dos espaços urbanos e rurais, favorecendo processos
de pertencimento, cooperação e revitalização comunitária (Fuller & Sutti, 2021). Esse
modelo de diretrizes espaciais não apenas remodela o ambiente físico, mas também
amplia os vínculos afetivos e sociais com o território.
Ao integrar o campo da economia criativa com o placemaking, composto por
diretrizes operacionais e princípios de ação observamos o fortalecimento de formas
de empreendedorismo cultural, que articulam dimensões materiais, simbólicas e
territoriais (Richards, 2021). Essas iniciativas, em geral, de base local, operam
segundo lógicas situadas e sensíveis ao contexto, promovendo a ressignificação dos
espaços e a geração de novos sentidos coletivos (Madgerova & Kyurova, 2019). A
teoria do effectuation (Sarasvathy, 2001) contribui para entender a lógica de ação dos
empreendedores culturais, a partir dos seus princípios norteadores, que atuam com
base nos recursos disponíveis, nas redes sociais e nas oportunidades emergentes,
mostrando uma racionalidade prática, contingente e relacional. Esses processos não
partem de fins predeterminados, mas de um agir criativo orientado por valores, afetos
e trocas colaborativas.
Com o foco no uso de espaços e nas pessoas que os utilizam, as feiras
itinerantes, podem despontar como experiências de transformação territorial e social
e fazem ponte entre os termos de economia criativa, placemaking, empreendedorismo
cultural e effectuation. Ao ocupar diferentes lugares com produtos culturais,
performances artísticas e narrativas locais, essas feiras podem ativar circuitos de
circulação simbólica e econômica, fortalecer a visibilidade de empreendedores
culturais e promover encontros intersubjetivos (Ezzeldin & Assem, 2020). Podem se
estabelecer como elementos de placemaking ao revitalizar espaços ociosos ou
invisibilizados, ativando dinâmicas de engajamento comunitário e valorização da
diversidade cultural. Apesar de seu papel, ainda são escassos os estudos que
investigam como essas iniciativas atuam na coprodução de valor público e na
construção de práticas de governança participativa em contextos periféricos e
interioranos.
As práticas empreendedoras culturais que emergem de feiras itinerantes podem
atuar como formas de reconfiguração simbólica e territorial, especialmente em
contextos periféricos ou interioranos. Ao ocupar e ativar espaços urbanos e
comunitários, essas iniciativas promovem interações sociais, circulação de saberes e
valorização da produção cultural local (Ezzeldin & Assem, 2020). No Cariri cearense,
a Feira das Meninas representa um exemplo desse movimento, ao articular
empreendedorismo criativo, protagonismo feminino e ocupação coletiva de espaços.
Apesar da crescente valorização das feiras como práticas culturais, pouco se sabe
sobre como essas iniciativas promovem a transformação de espaços e relações
sociais sob a lógica do placemaking e do effectuation. Diante disso, a presente
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pesquisa busca responder: Como as práticas empreendedoras de feiras itinerantes
promovem placemaking e se articulam à lógica do effectuation?
Diante disso, o objetivo geral desta pesquisa é analisar de que forma as ações
empreendedoras desenvolvidas em uma feira itinerante se alinham às diretrizes do
placemaking e à lógica empreendedora do effectuation. Para isso, os objetivos
específicos são: (1) Identificar os princípios de effectuation presentes nas estratégias
das empreendedoras; (2) analisar como a itinerância da feira contribui para a criação
de valor simbólico e cultural; e (3) compreender de que maneira essas práticas geram
transformação nos espaços urbanos e comunitários em que a feira se instala.
A abordagem adotada nesta pesquisa é de base epistemológica interpretativista,
comprometida com a compreensão situada dos fenômenos culturais e sociais. Ao
privilegiar os sentidos produzidos pelas experiências vividas, buscamos compreender
as feiras itinerantes como expressões de um empreendedorismo relacional, enraizado
nas dinâmicas locais. O estudo parte do entendimento de que os territórios são
construções sociais marcadas por disputas simbólicas, memórias e afetos, e que
iniciativas como a Feira das Meninas contribuem para sua ressignificação por meio de
ações coletivas de base popular, alinhadas à lógica do placemaking e à coprodução
do espaço social a partir de processos bottom-up (Mediotte, Silva & Emmendoerfer,
2022).
Os principais achados desta pesquisa nos ajudam a compreender que, embora
as feirantes não protagonizem diretamente os processos de placemaking em sua
concepção mais ampla, suas práticas empreendedoras atuam como catalisadoras de
engajamento social, ativação simbólica e valorização dos espaços em que atuam. A
itinerância da Feira das Meninas se destaca por três dimensões interligadas, como:
Agente de ressignificação de espaços, ao atribuir novos sentidos a locais diversos;
como promotora de experiências únicas, ao facilitar encontros entre feirantes,
consumidores e territórios; e como diferencial estratégico para o negócio, por ampliar
a visibilidade, atrair novos públicos e fortalecer os vínculos com a comunidade. Esses
resultados demonstram que as práticas empreendedoras analisadas contribuem para
a geração de valor simbólico e para o fortalecimento da cultura local, mesmo sem se
configurarem, isoladamente, como processos formais de planejamento urbano.
As contribuições deste estudo se dão em diferentes dimensões. Teoricamente,
buscamos articular os conceitos de economia criativa, placemaking, effectuation e
empreendedorismo cultural em contextos regionais. Praticamente, o estudo oferece
subsídios para ações de fortalecimento de feiras criativas como ferramentas de
desenvolvimento territorial. Gerencialmente, propomos reflexões sobre o papel de
gestores públicos e privados na valorização de práticas empreendedoras culturais em
espaços públicos e privados. Socialmente, destacamos a relevância de mobilizações
populares pouco reconhecidas, como feiras e mercados, como catalisadores de
inovação cultural e participação cidadã.
A articulação entre os conceitos de economia criativa, placemaking,
empreendedorismo cultural e effectuation parte da compreensão de que os
fenômenos empreendedores, sobretudo em contextos periféricos e coletivos, não
podem ser compreendidos por lentes isoladas. A economia criativa oferece o
enquadramento para compreender a relevância simbólica e cultural dessas práticas;
o placemaking aporta uma dimensão espacial e relacional ao uso e transformação dos
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territórios; o empreendedorismo cultural permite reconhecer o papel das expressões
culturais como formas de agência e produção de valor; e a lógica do effectuation
oferece uma chave interpretativa sobre como essas práticas são viabilizadas em
cenários incertos, por meio de recursos disponíveis, redes de apoio e estratégias
contingentes. A combinação desses marcos analíticos possibilita uma leitura mais
integrada das ações empreendedoras em feiras itinerantes, respeitando sua
complexidade e seu potencial transformador.
Economia criativa e placemaking
O termo “economia criativa foi mencionado nos estudos de Howkins (2001)
sobre as indústrias culturais por volta do ano de 1990 na Austrália. E, fornece o
entendimento de que economia criativa é um artifício revolucionário capaz de inovar
na prestação de serviços, valorizando peculiaridades regionais e permitindo um novo
olhar à sustentabilidade. A matéria-prima da economia criativa é a criatividade e a
cultura de uma região que transforma e simboliza (Moraes, 2018).
A criatividade brasileira como fonte de riqueza contribuiu para o processo de
institucionalização com a criação da Secretaria de Economia Criativa atuando junto
ao Ministério da Cultura, visando conduzir a política pública para o desenvolvimento
local e regional, dando apoio aos profissionais do setor (Reis, Serafim, Pinheiro, &
Alperstedt, 2017). No Estado do Ceará, o primeiro Plano Estadual de Cultura,
aprovado em 2016, se apresenta como um instrumento para fomento a rede de
festivais de artes e festejos populares, estímulo à criação, produção e intercâmbio
artístico e cultural, que reforçam a importância da cultura regional (SECULT, 2016).
A interação entre a economia criativa e a cultura inseridas na era da economia
do conhecimento une o saber científico a tecnologia, transformando a vida social e a
percepção da informação atuando como fator estruturante da sociedade (Filho, Lima,
& Lins, 2019). Sendo a cultura a representação da diversidade por meio de expressões
e manifestações, percebe-se que por meio da gestão cultural formas de criar e
manusear espaços culturais (Kauark & Leal, 2019). Esses espaços atuam como locais
de criação e difusão de demonstrações artísticas e culturais de um povo, têm se
apresentado cada vez mais sobrepostos e fluídos (Kauark & Leal, 2019). A exemplo
disto, se tem feiras itinerantes e espaços colaborativos que unem
microempreendedores de distintas linguagens (Porto, 2021).
Os empreendedores criativos são instigados a produzir pela cultura que os
cercam (Porto, 2021), e a economia criativa se torna uma estratégia a gestão pública
para regenerar núcleos urbanos (Dos Reis & Zille, 2020). Ou seja, de um lado a
necessidade de trabalhar processos que dinamizam a interação do público e os
espaços culturais e, do outro lado, uma forma de promover a gestão desses espaços
(Kauark & Leal, 2019). Identificando os benefícios de eventos como feiras para
espaços, -se a necessidade de atenção da administração pública e de stakeholders
para promoverem bem-estar aos empreendedores, ao público, além de oferecer
estrutura física de qualidade que incentive a participação e permanência nos
ambientes (Porto, 2021; Lixandrão & Branchi, 2021).
Essas características também fazem parte do conceito de placemaking que é um
processo coletivo, onde humanos e espaços interagem dando origem ou
transformando ambientes ao promoverem sociabilidade e refletem a identidade local
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causando sentimento de pertencimento (Salzman & Yerace, 2018; Strydom, Puren, &
Drewes, 2018). Além disso, o conceito pode ser pensado como uma ferramenta
estratégica que integra planejamento espacial, cultura, artes e práticas comunitárias.
Sob a perspectiva de construção social e espacial, percebemos a necessidade
de uma gestão cultural de áreas urbanas e rurais para promover a preservação e
ampliação dos recursos ambientais e dos patrimônios culturais de um país,
significando o estado de placemaking, que parte de uma iniciativa da governança local
implicando na valorização de espaços para a participação comunitária (Carneiro,
Binda, Costa, & Ulbricht, 2017).
três caminhos para a construção de lugares, o primeiro é criado por
stakeholders e governança; o segundo por meio de eventos como feiras que
ressignificam e quebram os padrões da contemporaneidade, e o terceiro com espaços
desenvolvidos pela comunidade que atuam como agentes de mudança movimentando
ambientes e os levam a serem flexíveis e a se adaptarem aos visitantes (Richards,
2015; Richards, 2020), assim como, associam as experiências aos sentimentos
(Vilutis, 2019; Richards, 2020; Noelli & Sallum, 2020).
A aliança entre governança e o empreendedorismo urbano se tornou uma
estratégia de desenvolvimento econômico, com dimensões simbólicas, se tornando
chave para se reinventar na era pós-estruturalista (Farhat, 2019). Por essa ótica,
reconhece-se a construção social dos espaços (Lalli, 1992; Johnstone, 2012) e a
constante transformação que passam para adquirir novos usos e sentidos.
A abordagem do placemaking busca orientar tanto especialistas quanto não
especialistas na construção e revitalização de espaços públicos (Mediotte et al.
(2022). Essa diretriz oferece um referencial estruturado para o desenvolvimento local
sustentável a partir de práticas colaborativas e criativas de ocupação do espaço
urbano. No contexto deste estudo, os espaços onde ocorrem as edições da Feira das
Meninas são denominados espaços de convivência, podendo incluir praças, ruas,
parques ou equipamentos culturais. O modelo de placemaking considera que esses
espaços devem ser analisados a partir de quatro dimensões fundamentais:
acessibilidade, conforto, atividades e sociabilidade (Mediotte et al., 2022), todos
entendidos como indicadores da qualidade da interação entre o espaço e as pessoas.
A Figura 1 pode melhor demonstrar esses aspectos relacionais:
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Figura 1. Principais diretrizes do placemaking
Fonte: Mediotte et al. (2022)
A diretriz proposta por Mediotte et al. (2022), apresentada na Figura 1, estrutura-
se em camadas que inter-relacionam recursos tangíveis e intangíveis: a criatividade e
os significados atribuídos ao lugar, resultando em inovação social e valor simbólico. A
centralidade do lugar como elemento fundante permite identificar como os atores,
incluindo poder público, stakeholders e a comunidade comunicam-se por meio dessas
camadas e, a partir dessa interação, ativam processos de placemaking e effectuation.
estudos que trazem exemplos práticos de placemaking, como o caso do
jardim comunitário Himmelbeet, em Berlim, partindo da inclusão social ao desafiar
questões como despolitização de espaços públicos e ilustra as possibilidades de
revitalização liderada por cidadãos, demonstrando como esses espaços podem
transformar comunidades e fomentar pertencimento social (Karge, 2018). Outro
exemplo é o de Pendleton County, em Cincinnati uma comunidade rural, revitalizada
a partir de conexões sociais locais envolvidas em iniciativas cívicas e políticas, com
relatos de relações formadas e mantidas a partir dos eventos e fomentadas por
ferramentas digitais como redes sociais. Nesse exemplo, as políticas públicas podem
dificultar ou facilitar projetos, dessa forma o apoio de líderes locais é mais
determinante para o sucesso dessas iniciativas (Salzman & Yerace, 2018).
Empreendedorismo Cultural e a lógica effectuation
O termo é trabalhado no Brasil, com pauta na Secretaria da Cultura e é tratado
como empreendedorismo sociocultural sustentável, compreendendo que a ação de
empreender gera múltiplos efeitos nos campos social, político, econômico, ambiental
e cultural por meio da elaboração de políticas públicas, com medidas que estimulem
o agente criativo a perceber os pontos culturais fortes da sua localidade (SECULT,
2018).
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Embora o termo possa conter transversalidades pela forma como é entendido e
praticado, podemos recorrer ao estudo pragmático de effectuation de Sarasvathy
(2001). Apesar de tratar de esquemas de causalidade, confere relevância aos meios
disponíveis para que a ação empreendedora aconteça na busca de finalidades
(Watson, 2013). A atenção se concentra tanto no ser empreendedor e no seu saber,
quanto nas suas relações, aceitando e lidando com as ocasiões de forma flexível
(Sarasvathy, 2001; Watson, 2013).
Como pertinentes a uma orientação pragmática da realidade, estes estudos são
apontados (Steyaert, 2007) como influências para conceber o fenômeno do
empreender de forma menos individualizada, ao descobrir como surgem
oportunidades, como são ou não captadas, a influência de redes, a interferência do
tempo e as análises de riscos (Busenitz, Plummer, Klotz, Shahzad, & Rhoads, 2014).
A abordagem alternativa à lógica causal tradicional do empreendedorismo, em
vez de partir de objetivos previamente definidos, os empreendedores effectuais
constroem caminhos a partir dos recursos disponíveis, das redes de relacionamento
e das contingências do ambiente. Essa lógica se organiza em torno de cinco
princípios: (1) pássaro na mão, que enfatiza o uso do que o empreendedor já possui,
conhecimentos, redes e meios, sem esperar pelos recursos ideais; (2) perda aceitável,
que substitui a maximização do retorno pelo cálculo do quanto se está disposto a
perder; (3) limonada, que valoriza as contingências inesperadas como oportunidades
de inovação e adaptação; (4) colcha de retalhos, que destaca a coautoria das
oportunidades com base nas interações e compromissos estabelecidos com outros
agentes; e (5) pilotar o avião, que defende que o futuro é construído pelos próprios
agentes, e não previsto, sendo moldado pelas decisões e relações que se formam ao
longo do processo. Esses princípios contribuem para compreender o
empreendedorismo como uma prática situada, relacional e criativa, especialmente
relevante em contextos marcados pela incerteza e pela escassez de recursos, como
é o caso das iniciativas culturais de base comunitária.
Alguns estudos colocam diferentes lentes para estes e outros fatores, tendo em
vista à compreensão da natureza cotidiana e socialmente construída do fenômeno
(Feldman & Orlikowski, 2011), como o reconhecimento da prática, de ferramentas e
métodos utilizados, o relacionamento e integração com as cognições,
comportamentos e habilidades dos empreendedores, o relacionamento com o
contexto da organização (Johannisson, 2011; Nielsen & Gartner, 2017), com a
criatividade (Steyaert, 2007) e suas diferentes finalidades (Davel & Cora, 2016).
Os empreendedores culturais criativos são agentes que encontram a
oportunidade de fazer mudanças de forma criativa, sustentável e inovadora (P. J.
Ellery & J. Ellery, 2019; Mediotte, Emmendoerfer, Silva, & Almeida, 2023). Essa
perspectiva teórica também está presente na lógica effectuation (Sarasvathy, 2001)
que conceitua a ação empreendedora relacionada além de tomadas de decisão,
Sarasvathy (2001) explica que mais fatores envolvidos no processo de
empreender.
Esses agentes se deparam com o desafio de se capacitar e enfrentarem as
estratégias capitalistas para permanecerem dentro da economia da cultura (Vieira,
Cornélio, Cavalcante & Corrêa, 2024), além de empreenderem a si e a seus negócios
(Madgerova & Kyurova, 2019). Logo, os criadores culturais estão diante da
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necessidade de buscar mais atributos para sobreviverem na modernidade capitalista,
por meio de práticas empreendedoras, enquanto precisam fortalecer sua produção na
demanda da sociedade, envolvendo o meio ambiente e a economia para criarem
valores culturais e reforçarem expressões que valorizam seus projetos (Vieira et al.,
2024).
Visto que seus trabalhos têm poder de influência em áreas de aprendizado,
inovação, desenvolvimento e transformação do território alguns pontos de interação
apontam uma revisão na colaboração entre atores para que consigam oferecer
suporte entre si (Dos Reis & Zille, 2020). Também podemos rever aspectos que visem
minimizar desigualdades, entre elas a dicotomia entre a precarização do trabalho e o
prazer em trabalhar e produzir cultura (Porto, 2021; Vieira et al., 2024).
Os espaços que envolvem atividades culturais são alternativas para
empreendedores criativos atraírem os consumidores (Porto, 2021). Os
empreendedores não somente fazem parte da economia criativa, como participam do
placemaking, compreendendo aspectos tangíveis e intangíveis capazes de envolver
os três elementos desse processo: lugar, empreendedores e consumidores (Richards,
2015; Mediotte et al., 2022).
Os empreendedores culturais criativos destacam-se no contexto social
instigando a capacidade criativa e a influência da coletividade (Locatelli, Silveira &
Barbacovi, 2017), afetam a estrutura dos modelos de gestão que precisam se adaptar
para gerir a criatividade, de modo que articulem o indivíduo, a liderança e a cultura
criativa (Muzzio, 2017). A gestão criativa pode se apesentar como útil, mas não
trabalhada, facilitando a apropriação da criatividade por parte das organizações (Paz,
Muzzio, Andrade & Lacerda, 2022).
Com a recente disseminação da economia criativa pode ser importante iniciar
discussões sobre a gestão criativa a nível de uma análise organizacional
empreendedora, sob a forma de administrar suas peculiaridades, acompanhado
adequadamente pela evolução teórico-empírica e possível de replicar em outros
contextos. Da mesma maneira no campo da gestão pública na criação de políticas
públicas e práticas de apoio mais inclusivas, refletindo nas necessidades sociais (Paz
et al., 2022). Essa interseção entre práticas espaciais e criatividade empreendedora
será explorada no contexto das feiras itinerantes.
Feiras itinerantes como práticas de criação e deslocamento de valor
A itinerância, enquanto prática cultural e espacial, carrega consigo dimensões
simbólicas, afetivas e políticas que ultrapassam o simples deslocamento geográfico.
Quando articulada a eventos como feiras culturais, essa mobilidade passa a operar
como forma de ativação territorial, criação de redes e reconfiguração de vínculos entre
pessoas e lugares (Giménez, 2001). As feiras itinerantes não apenas circulam
produtos ou serviços, mas produzem espaços de encontro, negociação e
pertencimento, em constante reinvenção a cada montagem e desmontagem (Noelli &
Sallum, 2020).
Embora a literatura sobre feiras itinerantes ainda seja escassa no campo dos
estudos sobre economia criativa, algumas experiências vêm sendo documentadas
como manifestações legítimas de práticas culturais enraizadas no cotidiano, como nas
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feiras livres e mercados populares (Barros & Costa, 2020) ou de comunidades de
mulheres ceramistas que ressignificam seus saberes por meio da mobilidade
artesanal (Cunha & Gesteira, 2019). Tais eventos representam formas de expressão
social e econômica que constroem redes de solidariedade, trocas simbólicas e
afirmação identitária, especialmente em contextos marcados por desigualdades
estruturais.
A inserção da lógica itinerante no debate sobre placemaking amplia o escopo
das diretrizes propostas por Mediotte et al. (2022), que se baseiam em experiências
espacialmente localizadas e contínuas. Ao tensionar a ideia de lugar como algo fixo,
as feiras itinerantes introduzem camadas de fluidez, temporalidade e transitoriedade,
revelando que o pertencimento e a produção de significado também podem se dar em
espaços efêmeros e móveis. Assim, a itinerância se torna uma dimensão crítica na
compreensão de como o lugar é vivido, criado e transformado a partir das práticas
empreendedoras.
Essa perspectiva nos permite compreender que o placemaking não ocorre
apenas em intervenções planejadas e institucionalizadas, mas também em ações
espontâneas, afetivamente engajadas e coletivamente organizadas. Ao ocupar
sucessivos espaços com criatividade, cuidado estético e sociabilidade, as feiras
itinerantes se tornam plataformas móveis de coprodução do espaço público,
articulando valores culturais, práticas colaborativas e modos de vida alternativos à
lógica urbana dominante (Richards, 2020; Farhat, 2019). Nesse processo, elas criam
zonas de experimentação, onde o território é provisoriamente reimaginado por sujeitos
que agem a partir de suas realidades, recursos e redes locais, aspectos centrais à
lógica do effectuation (Sarasvathy, 2001).
Assim, ao integrar a itinerância como uma categoria analítica nas diretrizes do
placemaking, o presente estudo contribui para repensar o papel das práticas
empreendedoras móveis na produção cultural dos territórios. Longe de serem meras
estratégias logísticas, essas práticas tornam-se formas de insurgência simbólica e de
criação de espaços temporários de resistência, afeto e criação coletiva, reafirmando
o papel da cultura como vetor de transformação social.
No caso da Feira das Meninas, observamos que os locais de realização das
edições, como praças, ruas, cafés e espaços culturais são compreendidos como
espaços de convivência. Esses espaços, segundo a diretriz de placemaking de
Mediotte et al. (2022), devem compartilhar alguns indicadores essenciais:
acessibilidade, conforto, atividades e sociabilidade. Tais elementos não apenas
viabilizam o uso do espaço, mas também sustentam sua ativação simbólica como
lugar de encontro, troca e pertencimento. A presença desses atributos orienta como
as feirantes avaliam os locais e decidem por sua ocupação, revelando uma lógica
própria de organização territorial.
A mobilidade da feira entre cidades do Cariri cearense (Juazeiro do Norte, Crato
e Barbalha) gera uma rede de significações que transforma os espaços visitados.
Como destaca Noelli e Sallum (2020), a itinerância constitui um processo relacional
no qual pessoas e objetos produzem sentidos mutuamente, fazendo circular valores
culturais e práticas de pertencimento. Nesse sentido, a itinerância da Feira das
Meninas pode ser compreendida como mais do que um deslocamento físico, pode se
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tratar de uma prática cultural que articula território, identidade e empreendedorismo
em um mesmo gesto.
Adicionalmente, o formato itinerante se diferencia de outras modalidades de
feiras fixas ou sazonais ao ampliar o alcance das iniciativas empreendedoras e
favorecer a diversificação dos públicos. Essa característica confere às participantes a
possibilidade de ampliar suas redes e adaptar-se às condições de cada local, o que
se traduz em inovação nos modos de fazer e comunicar seus produtos. Como
sugerem Locatelli et al. (2017), feiras de negócios operam como espaços de
fortalecimento de vínculos entre expositoras, promovendo colaboração, aprendizado
mútuo e coesão do grupo. Tais aspectos podem estar presentes ou não no caso
estudado, onde a itinerância pode fortalecer laços entre as feirantes e permite o
compartilhamento de experiências e práticas empreendedoras.
Em síntese, as feiras itinerantes operam como dispositivos de construção de
lugar, ativando espacialidades de forma efêmera, mas com efeitos duradouros nas
memórias e nos vínculos entre os sujeitos. Elas ampliam a capacidade de ação de
grupos sociais historicamente marginalizados, como as mulheres empreendedoras, e
ativam circuitos criativos de base comunitária que articulam o fazer econômico com o
fazer cultural.
Metodologia
Esta pesquisa possui natureza qualitativa, com abordagem interpretativista, e
buscou compreender a interação entre os espaços e as participantes de feiras
itinerantes, sob a lógica effectuation, que ressignificam lugares, assumindo que essa
relação produz elementos de placemaking (Emmendoerfer et al., 2020). Para alcançar
esse objetivo, optou-se por um estudo de caso único instrumental (Stake, 1995;
Denzin & Lincoln, 2011), considerando que o fenômeno da Feira das Meninas
representa um contexto contemporâneo que demanda análise aprofundada de suas
dinâmicas sociais e culturais.
O estudo de caso foi escolhido por permitir a imersão em uma realidade social
específica, possibilitando a análise das múltiplas dimensões que envolvem as práticas
de feiras itinerantes protagonizadas por mulheres empreendedoras no Cariri
cearense. A Feira das Meninas é um coletivo feminino formado por mulheres que
desenvolvem atividades empreendedoras em diferentes segmentos criativos. As
feiras ocorrem de forma itinerante em espaços públicos e privados, como praças, ruas,
bares e centros culturais das cidades de Juazeiro do Norte, Crato e Barbalha.
Os dados coletados seguiram critérios de saturação teórica (Fontanella, Ricas &
Turato, 2008; Minayo, 2012), sendo composto por sete participantes: duas gestoras e
cinco feirantes. As entrevistas semiestruturadas foram realizadas em novembro de
2022, em formato remoto, com duração média de 1h40min, e contaram com o
consentimento das participantes. As entrevistas foram posteriormente transcritas na
íntegra, compondo o corpus empírico da pesquisa.
A Feira em estudo é realizada na região do Cariri, no sul do Ceará, desde o ano
de 2019. A proposta é de atuação itinerante com participantes femininas. Durante a
coleta de dados desse estudo 7 expositoras de diferentes nichos são identificadas,
como a seguir.
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Tabela 1
Descrição das entrevistadas
Identificação
Idade
Cidade onde
mora
Negócio
Participação
na Feira das
Meninas
G1
27
Juazeiro do
Norte
-
Gestora
G2
38
Juazeiro do
Norte
Biocosméticos
Gestora e
Feirante
E1
27
Juazeiro do
Norte
Fotografia e
artesanato
Feirante
E2
27
Juazeiro do
Norte
Luminárias
Artesanais
Feirante
E3
16
Juazeiro do
Norte
Acessórios
artesanais e
papelaria
Feirante
E4
29
Crato
Bordados
Feirante
E5
21
Juazeiro do
Norte
Artigos em
prata
Feirante
Fonte: Elaborada pelos autores (2023)
As respondentes são mulheres entre 16 e 38 anos, duas são gestoras da feira,
uma delas tem dedicação exclusiva ao grupo (G1), a segunda gestora organiza e
expõe produtos na Feira (G2). As outras cinco entrevistadas o empreendedoras,
uma trabalha com fotografia e artesanato (E1), outra trabalha com luminárias
artesanais (E2), outra trabalha com acessórios artesanais e papelaria (E3), outra
trabalha com bordados (E4) e outra participante com artigos em prata (E5). Das sete
entrevistadas, seis residem na cidade de Juazeiro do Norte e uma na cidade Crato,
ambas situadas na região do Cariri, no sul do Ceará.
A análise dos dados foi conduzida com base na análise temática (Braun &
Clarke, 2012), permitindo a identificação, categorização e interpretação de temas
centrais emergentes das falas das entrevistadas. Para isso, foram utilizados códigos
abertos no software MAXQDA, organizados posteriormente em grupos temáticos. A
codificação inicial deu origem a temas interpretativos que possibilitaram aprofundar a
compreensão do fenômeno.
Os temas identificados foram: (a) espaço, (b) empreendedoras, (c) feiras e (d)
experiências. As três primeiras categorias estavam previamente alinhadas ao escopo
do estudo e ao modelo teórico de placemaking adaptado de Mediotte et al. (2022). A
categoria “experiências” emergiu do contato com os dados empíricos, como uma
dimensão transversal às demais. Com base nas dimensões do modelo teórico de
cooperação e coordenação entre atores, imersão no contexto local, recursos
disponíveis, significados atribuídos ao lugar e criatividade dos atores envolvidos, foi
possível estabelecer aproximações e contrastes com os achados empíricos.
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A organização dos dados e temas será detalhada na seção de análise e
discussão dos resultados. Para fins de clareza visual, os temas serão também
sistematizados na Tabela 2, favorecendo a leitura e o alinhamento com o referencial
adotado.
Tabela 2
Temas identificados na pesquisa e sua relação com as diretrizes de placemaking
(Mediotte et al., 2022)
Subtema empírico
Dimensão teórica
correspondente
(Mediotte et al., 2022)
Descrição da relação
Espaço
Significados atribuídos
ao lugar
Ressignificação simbólica dos locais pela
vivência das feirantes; fortalecimento do
senso de pertencimento.
Empreendedoras
Criatividade dos
atores envolvidos
Atuação empreendedora feminina
baseada em estratégias adaptativas,
colaboração e inovação cotidiana.
Feiras
Cooperação e
coordenação entre
atores
Organização colaborativa das feiras,
articulação entre gestoras e feirantes,
relação com instituições locais.
Experiências
Imersão no contexto
local e recursos
disponíveis
As experiências vividas pelas feirantes
influenciam a escolha dos espaços e a
viabilidade das feiras; revelam limitações
estruturais, afetivas e operacionais.
Fonte: Elaborada pelos autores (2024)
Dando continuidade à análise dos dados, foi percebido que os temas
desencadeiam subtemas complementares, que podem ser discutidos no tópico
seguinte. Mas, podemos antecipar que na Tabela 2 apresentamos os temas centrais
da investigação, identificados a partir da leitura aprofundada das transcrições, com
base na análise temática de Braun e Clarke (2012). Esses temas refletem os principais
focos de atenção das entrevistadas, como o espaço, as empreendedoras, as feiras e
as experiências vividas. Em seguida, na Tabela 3, os subtemas foram organizados a
partir do cruzamento entre os achados empíricos e o modelo de diretrizes de
placemaking de Mediotte et al. (2022), sendo interpretados à luz dos referenciais
teóricos mobilizados, como economia criativa e effectuation. Esse encadeamento
permitiu associar os relatos das participantes a dimensões mais amplas de análise,
mantendo coerência entre o processo metodológico e os objetivos da pesquisa.
Análise e Discussão
Esta seção apresenta a análise interpretativa dos dados coletados, guiada pelas
diretrizes de placemaking propostas por Mediotte et al. (2022) e complementada pelos
conceitos de economia criativa (Howkins, 2001; Richards, 2020) e lógica effectuation
(Sarasvathy, 2001). A interpretação foi estruturada a partir da identificação de
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subtemas emergentes das entrevistas com as empreendedoras da Feira das Meninas,
alinhados com as dimensões analíticas do modelo de placemaking. O objetivo foi
compreender como as práticas empreendedoras desenvolvidas em contextos
itinerantes contribuem para a produção compartilhada de significados, territorialidades
e formas colaborativas de inovação.
Para facilitar a visualização dos resultados e promover uma síntese interpretativa
coerente com os objetivos da pesquisa, a Tabela 3 apresenta os subtemas
identificados a partir dos temas e sua relação com os elementos do modelo de
Mediotte et al. (2022). A seguir, discutimos em profundidade cada um desses
subtemas, com base nos dados empíricos e no referencial teórico adotado.
Tabela 3.
Subtemas identificados na pesquisa e sua relação com as diretrizes de placemaking
(Mediotte et al., 2022)
Relação com Placemaking
Eixos teóricos relacionados
Estratégia de ativação de
lugares e circulação
simbólica
Placemaking; Economia
Criativa; Effectuation
Geração de
pertencimento,
valorização do espaço e
memória coletiva
Placemaking;
Effectuation; Sentimento
de lugar
Co-produção simbólica do
lugar, relação de
consumo e
ressignificação cultural
Placemaking; Economia
Criativa
Fragilidade da
governança e
precarização das práticas
culturais e
empreendedoras
Lógica bottom-up;
Effectuation; políticas
públicas culturais
Fonte: Elaborado pelos autores (2024)
A análise parte do reconhecimento de que a Feira das Meninas é um fenômeno
multifacetado, em que os aspectos culturais, territoriais e econômicos estão
entrelaçados nas práticas cotidianas das empreendedoras. Os dados demonstram
que a feira, em sua configuração itinerante, atua como catalisadora de experiências
culturais, fortalecendo vínculos comunitários e promovendo a ressignificação de
espaços urbanos e rurais. Além disso, os relatos indicam que a criação de valor e
inovação ocorre de maneira coletiva, sendo influenciada por fatores como estrutura
dos espaços, apoio institucional, práticas comunicativas e vínculos afetivos com os
locais.
Nos tópicos a seguir, os subtemas serão discutidos de forma aprofundada,
destacando como cada um deles dialoga com as diretrizes do modelo teórico adotado
e como revelam tensões, estratégias e potencialidades presentes nas práticas da
Feira das Meninas.
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O contexto da Feira das Meninas e as diretrizes de placemaking
O modelo de Mediotte et al. (2022) demonstra sua contribuição para a diretriz
de placemaking como parte de medidas de governança, especialmente quando
observada em contextos itinerantes, como a Feira das Meninas, e buscamos
compreendê-lo a partir de feiras para compreender melhor o fenômeno das práticas e
seu potencial a partir da economia criativa. No modelo de negócio local investigado,
observamos a oportunidade de expandir a variação da diretriz com a itinerância como
componente desse negócio, além de partir da perspectiva de bottom-up.
No modelo da Figura 1, o lugar é o elemento central e está posicionado na
camada 1 que resulta em ativos identificados nas camadas seguintes, enumeradas
em ordem crescentes até a camada 4, influenciadas por recursos tangíveis e
intangíveis. A criatividade e os significados que os une deriva em inovação e criação
de valor à cidade (Richards & Duif, 2019). Compreendemos que as influências possam
ser de forma não linear no modelo, ou seja, os elementos trocam influências. Quando
existe ou não um dos elementos, uma influência sobre o lugar, assim como o lugar
influencia a existência ou não desses elementos.
No contexto da Feira das Meninas identificamos que o elemento “lugar e os
elementos das seguintes camadas agem como no modelo da Figura 1, entretanto,
sofre modificações quanto a presença ou não de elementos a medida em que são
observados em diferentes cenários.
Por meio dos relatos, as empreendedoras se percebem de duas formas: a)
enquanto estão no local com seus negócios atuam como empreendedoras, b) quando
estão no local sem os seus negócios, atuam como consumidoras do espaço. As duas
atuações têm relação com as feiras, elas podem ir aos locais depois de conhecê-los
por meio das feiras, ou podem levar a feira após a atuação como consumidoras.
As empreendedoras revelam que os seus negócios dependem de elementos
para que as feiras tenham sucesso e consigam fazer boas vendas. Esses elementos
são determinados por elas como o apoio da gestão pública em diversas frentes, tais
como diminuição da burocracia para instalação da feira em locais públicos, divulgação
dos eventos, segurança e qualidade da estrutura física dos espaços. Esses elementos
relacionam-se tanto a prática empreendedora, quanto na atratividade de
consumidores dos produtos e dos espaços.
Quando consumidoras destacam a experiência e o contato com a cultura e a
criatividade, além da oportunidade de desempenhar a atividade de lazer. E então,
esses elementos justificam a relação para a atuação ou não das feiras, a partir da
avaliação que as feirantes fazem quando consomem dos espaços.
Vale ressaltar a itinerância do modelo de negócio da Feira, por fortalecer outros
elementos, ampliar outros como a coletividade e colaboração das feirantes,
comprometimento e a participação das edições das feiras. A novidade nesse formato
de negócio atraiu as feirantes respondentes da pesquisa. Os locais de escolha
influenciam as participações, de acordo com alguns fatores destacados nos relatos,
como distância, horário e estilo. Questões como a identificação e o pertencimento
ideológico, cultural e econômico com os locais também foram mencionados como
fatores de visita e exposição para as feiras.
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Esses achados, sugerem que o modelo da Figura 1 sofra algumas alterações
diante do contexto empírico na realidade de feiras itinerantes. Ao retomar a Figura 1
podemos acrescentar duas novas camadas, com base na coleta de dados e
interpretação do placemaking.
A Figura 1 passaria a ter uma quinta camada, nela podemos adicionar o
elemento itinerância surge como uma evidência da análise do campo que contribui
para o processo de criatividade e inovação de placemaking, por potencializar os
negócios locais, repassando influência sobre os elementos ‘usos da área’, ‘valor dos
imóveis’ e a ‘venda e varejo’ do quadrante de usos e atividades. Entretanto, a atuação
itinerante da Feira, demonstra que a capacidade de relacionar com todos os outros
elementos do modelo, esse resultado demonstra que esse elemento contribui para a
relevância do placemaking.
Ainda na quinta camada, na posição do quadrante seguinte, novos elementos
foram encontrados no campo, tais como a ‘qualidade das estruturas’, a criatividade’,
o ‘lazer’ e a ‘cultura’. Esses novos elementos emergiram dos dados das entrevistas,
destacados como importantes pelas respondentes para a atuação das feiras, tanto
como empreendedoras, como consumidoras dos espaços visitados por meio ou não
das feiras itinerantes.
A sexta camada, diz respeito a elementos que são emergentes do contexto
itinerante das feiras, considerados importantes para a conscientização e melhoria das
práticas empreendedoras. São o sentimento de pertencimento pela região e a
coletividade entre as mulheres. O elemento da ‘comunicaçãoinsere o processo de
divulgação e de mecanismos atrativos para novas feirantes e clientes. E o elemento
de ‘processos ágeis’ são destacados como essenciais para facilitar a instalação e
atuação da Feira em locais públicos. Unidos, refletem a criatividade e inovação de
produtos e serviços das empreendedoras.
Elementos que relacionam as feirantes e os espaços a partir das feiras
A relação entre as empreendedoras e os espaços apresenta desafios
influenciados pela precariedade da governança municipal, ou seja, mesmo com apoio
do Governo do Estado do Ceará e fomento a políticas públicas de economia da cultura
e de economia criativa um descompasso entre as esferas governamentais que
causam atenuantes aos empreendedores locais, visto que convivem também com a
subvalorização do produto artesanal pelos consumidores. Esses problemas refletem
fragilidades estruturais associadas à desvalorização da cultura e da criatividade. Os
resultados desta pesquisa evidenciam como práticas empreendedoras, que deveriam
ter suporte da gestão pública, são desempenhadas por conta própria pelas feirantes,
contrariando o discurso empreendedor de desenvolvimento, quando a realidade é
cheia de precariedade.
As feirantes enfrentam o desafio de alinhar aspectos culturais, econômicos e
ambientais com a criatividade e inovação, ao mesmo tempo em que competem com
empresas que oferecem produtos de forma desproporcional à sua escala (Porto,
2021). Essa competição desigual prejudica os incentivos ao setor que valoriza o
território e a cultura local. Mas, apesar das adversidades, as feirantes utilizam
estratégias de effectuation que podem ser relacionadas ao princípio da limonada,
proposto por Sarasvathy (2001), adaptando-se às eventualidades em vez de evitá-las.
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Essa abordagem bottom-up, observada no campo, demonstra a resiliência da
comunidade, embora possa sobrecarregar os trabalhadores, causando precarização
(Lixandrão & Branchi, 2021; Vieira et al., 2024).
O placemaking emerge para subsidiar melhorias para a comunidade a partir da
conexão entre diversos agentes. De acordo com P. J. Ellery e J. Ellery (2019), essas
práticas devem ser guiadas pela comunidade, para controlar os resultados e promover
o senso de lugar necessário para o desenvolvimento local. Contudo, os dados de
campo revelam que a autonomia do grupo, por si só, não é suficiente para sustentar
plenamente as feiras itinerantes. A fala da entrevistada E4 ilustra a importância do
senso de lugar:
Eu acho que o projeto da feira não diz respeito somente a feira, mas também
tem uma dimensão formativa, eu acredito muito no interesse comum da feira,
tanto de capacitar no sentido de formação de outras mulheres, como também no
sentido de fazer essa economia do local acontecer. E também esse lance da
feira ser itinerante, ser em espaços públicos, também provoca outras questões,
por exemplo, contratar um cantor pra ir pra praça, um grupo de reisados, então
é uma cadeia produtiva que circula, que gera emprego, gera movimentação
econômica (E4).
Essa realidade confirma o princípio da colcha de retalhos de Sarasvathy (2001),
onde as ações empreendedoras se adaptam aos desafios emergentes. As feirantes
demonstram capacidade de criar soluções para superar dificuldades, embora isso
frequentemente reforce narrativas de satisfação diante da precarização (Porto, 2021;
Lixandrão & Branchi, 2021; Vieira et al., 2024). Um exemplo é a comunicação, que,
embora central para divulgar eventos e atrair público, é insuficiente sem melhorias na
segurança e nas estruturas físicas dos espaços. Aqui, o princípio do pássaro na mão,
também de Sarasvathy (2001), sugere negociar com stakeholders para transformar
esses desafios em oportunidades, conectando feirantes e artistas locais.
Estudos de Mediotte et al. (2023) reforçam as fragilidades do setor cultural,
evidenciando o paradoxo entre as lógicas cultural e econômica. Essa desigualdade é
ilustrada na fala da entrevistada E2: "Você pega uma peça minha de R$ 150,00 e
entra no Facebook, onde encontra algo semelhante por R$ 50,00."
Além disso, Mediotte et al. (2023) defendem a participação cidadã como uma
forma de reduzir desigualdades e fortalecer o papel das mulheres empreendedoras
na construção de um desenvolvimento local sustentável, como destacado pela
entrevistada E4: "Por sermos mulheres, mães e trabalhadoras, o mercado é muito
mais desafiador para nós."
Esses resultados se alinham com o estudo de Richards (2020), que enfatiza as
vantagens de pequenos espaços para a valorização de recursos patrimoniais e
culturais. O uso do placemaking, entendido como uma prática colaborativa, é
fundamental para promover mudanças físicas e sociais em busca do bem-estar
comunitário. Estudos de Salzman e Yerace (2018) também corroboram essas
descobertas, destacando como o placemaking pode revitalizar comunidades e
promover engajamento cívico.
A relevância das práticas bottom-up mencionadas por King, Richards e Chu
(2023) apontam a falta de apoio de investidores para práticas comunitárias como as
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feiras itinerantes. Apesar disso, as feirantes destacam elementos como qualidade da
estrutura, comunicação, inovação e pertencimento como fatores que impactam
positivamente suas vidas e negócios, evidenciando a importância do placemaking no
fortalecimento cultural e econômico de suas comunidades.
Trocas de experiências entre feirantes e espaços
As feirantes, por meio da itinerância, visitam lugares e vivenciam experiências
que as conectam à cultura local e regional. Essa dinâmica não apenas transforma os
espaços onde as feiras ocorrem, mas também os ressignifica, atribuindo-lhes novos
significados culturais e sociais. Como resultado, a presença das empreendedoras
modifica os espaços e os insere em um processo contínuo de valorização simbólica.
A partir desse ponto de vista, observamos que a Feira das Meninas constrói
elementos de placemaking fundamentadas na colaboração e na coletividade, em que
as empreendedoras se percebem como parte integrante dos espaços onde expõem
seus produtos. Para aprofundar essa análise, examinamos três locais: a Praça Padre
Cícero, o Refúgio bar e café e o Sesc. Diante disso, a E2 relata que:
Na Praça Padre Cícero eu costumo frequentar aos finais de semana, por
passeio mesmo e eu percebo que é um canto muito movimentado, as pessoas
costumam ir pra com a família, seus filhos, mais como lazer e eu percebo
que devido esse movimento uma feira lá ficaria muito legal (E2).
A itinerância, portanto, surge como um elemento central para o placemaking,
permitindo a criação de novas experiências e promovendo interações sociais. Por
exemplo, a presença da feira na Praça Padre Cícero transforma o espaço em um
ponto de encontro cultural, enquanto o Sesc, mencionado pela G1, é reconhecido
como um espaço cultural consolidado:
Eu conheço o Sesc de adolescência, sempre tem algumas atividades, tipo teatro,
essas coisas mais culturais (...), a gente pensou que seria bom por ser um
espaço cultural, e até o histórico, das pessoas saberem que acontecem
atividades culturais, para além das atividades físicas (G1).
Da mesma forma, o Refúgio Bar e Café é apontado como um local de conforto e
afinidade para as feirantes, como relatado pela G2:
O Refúgio que é um lugar que eu frequentava antes, e eu acho que
atualmente, as três experiências que a gente teve lá, é o lugar que eu me senti
mais a vontade de levar meu produto, porque é um público que, às vezes nem
compra, mas é um público que mostra interesse, que você sabe que é um público
acessível, que tem afinidade com a feira, que tem afinidade com a proposta, com
a ideia, então eu me sinto muito à vontade para expor (G2).
Essas percepções das feirantes estão alinhadas com o princípio da perda
acessível de Sarasvathy (2001), que destaca como os empreendedores podem focar
no compromisso e na coletividade sem se preocupar excessivamente com análises
competitivas ou custos de oportunidade. Essa abordagem favorece o sentimento de
pertencimento, como também explorado por Vilutis (2019), que argumenta que
memórias compartilhadas fortalecem a identidade e a valorização cultural.
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Ampliando a discussão, os achados da pesquisa indicam que a relação das
feirantes com os locais influencia diretamente sua criatividade e inovação, ao mesmo
tempo, em que reforça o sentimento de pertencimento. Esse fenômeno é comparável
ao caso do jardim comunitário Himmelbeet, em Berlim, onde a coletividade
ressignificou o espaço urbano, promovendo um senso de lugar compartilhado (Karge,
2018).
As experiências vividas nesses espaços fazem as feirantes estabelecerem
conexões afetivas, motivando-as a frequentar os locais mesmo fora dos dias de feira.
Essa interação emocional reflete os argumentos de Richards (2020), que destaca
como as pessoas criam laços emocionais com os lugares, os quais, por sua vez,
precisam oferecer atratividade e bem-estar para se tornarem significativos.
Os elementos de experiência e coletividade, representados na Figura 2,
demonstram as conexões criadas entre os espaços e as feirantes, confirmando que
os locais não são apenas ambientes físicos, mas também fontes de significados,
criatividade e sentimentos. Esses fatores não apenas fortalecem ações
empreendedoras, mas também ressignificam os espaços, movimentam comunidades
e atraem visitantes, contribuindo para o desenvolvimento sustentável (Richards,
2020).
Por fim, a Feira das Meninas se destaca como uma iniciativa que beneficia
mulheres, comunidades e espaços, consolidando-se como uma prática exemplar de
placemaking. No entanto, a viabilização dessas práticas depende da gestão pública,
que deve assumir um papel central como provedora de ações sociais em um plano de
governança colaborativa.
Itinerância e a dimensão social
Como discutido anteriormente, a itinerância não se reduz a uma prática logística,
mas atua como um princípio estruturante da Feira das Meninas e de sua capacidade
de promover experiências culturais, circulação simbólica e reconfiguração territorial.
Noelli e Sallum (2020) retratam a itinerância como um processo dinâmico de interação
entre humanos e objetos, onde ambos moldam e são moldados reciprocamente. Essa
interação contínua revela aos humanos os significados subjacentes e a continuidade
das mudanças, promovendo, além disso, uma circulação de pessoas, ideias e valores
culturais. Com base nesse pressuposto, os resultados desta pesquisa indicaram que
a construção de significados emerge da interação entre pessoas e espaços,
consolidando a ressignificação dos locais envolvidos.
A relação das empreendedoras com os espaços vai além da identidade
intrínseca dos locais, abrangendo os sentidos e significados atribuídos a eles. Essa
percepção alinha-se aos estudos de Lalli (1992) e Johnstone (2012), que afirmam que
os lugares são construídos socialmente e estão em constante transformação,
adquirindo novos usos e sentidos. O relato da E3 ilustra como a itinerância amplia as
possibilidades de interação e acesso ao público:
Então essa itinerância oportunidade para várias pessoas, de poder participar,
de escolher locais diferentes, com públicos diferentes, pelo menos pra mim tinha
essa questão, às vezes tinham pessoas que queriam comprar, mas não queriam
pagar a taxa de entrega, quando viu que tinha feira, então vai até a feira porque
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é mais próxima. Então como é itinerante, abrange mais pessoas, acaba se
tornando mais interessante (E3).
Nesse contexto, as feiras precisam demonstrar flexibilidade para se adaptar às
diferentes características dos espaços em que atuam. A criatividade e a inovação não
se limitam aos produtos expostos, mas permeiam todo o processo da atividade
empreendedora. Entretanto, os relatos também demonstram tensões associadas à
itinerância, que demandam negociações entre identidades, localização e uso dos
espaços. A E5, por exemplo, destaca preocupações com a segurança em espaços
abertos:
Agora uma coisa do meu produto, eu acho que nas praças, eu tenho um receio,
de não me sentir segura porque o valor das minhas peças são muito caras, aí eu
sempre tenho que levar alguém comigo, porque tem muito movimento na praça,
pra ficar de olho nas coisas. E meu público, é mais lugar fechado também, e
assim eu me sinto mais segura (E5).
(...) e como foi um Dia das Mães e estava lotado lá, e gente estava com mesas,
em tal momento se formou uma fila de pessoas esperando pra almoçar perto da
minha mesa e as pessoas estavam começando a me olhar com raiva, porque
parecia que eu tinha tomado as mesas que iam almoçar, foi horrível, essa foi a
pior feira pra mim (E4).
Embora a itinerância não tenha sido evidenciada diretamente como uma
estratégia de promoção do turismo criativo ou de base comunitária, ela pode ser
entendida como um deslocamento das próprias empreendedoras entre os territórios
de Crato, Juazeiro do Norte e Barbalha, fomentando a ressignificação e a conexão
entre espaços e comunidades.
A pesquisa identificou três dimensões principais da itinerância: a) agente
ressignificador de espaços: promove movimentos populares e atribui novos
significados a diferentes locais; b) elemento causador de experiências: facilita
interações entre lugares, feirantes e consumidores, gerando vivências únicas; c)
diferencial para o negócio: atrai novos participantes e fortalece a presença em
eventos, destacando-se como motivador de engajamento.
Para ilustrar essas relações, apresenta-se a seguir a Figura 2, que representa a
diretriz de placemaking adaptada ao contexto da feira, com base nos achados da
pesquisa de campo. A figura evidencia como os elementos simbólicos e operacionais
mencionados e discutidos ao longo do texto emergem das experiências das feirantes,
relacionando-se com os diferentes quadrantes do modelo e destacando o lugar como
eixo estruturante da coprodução do espaço:
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Figura 2. Diretrizes de placemaking na Feira das Meninas
Fonte: Adaptado de Mediotte et al. (2022)
Conforme ilustrado, a itinerância amplia os efeitos das dimensões clássicas do
placemaking (sociabilidade, conforto e imagem, acessos e conexões, usos e
atividades), ao passo que elementos como coletividade, experiência, estrutura e
segurança ressignificam os espaços a partir das práticas e percepções das próprias
feirantes.
Por fim, a feira se apresenta como um ambiente que fortalece conexões pessoais
e promove colaborações entre as empreendedoras. De acordo com Locatelli et al.,
(2017), feiras de negócios contribuem significativamente para o relacionamento entre
expositoras, incentivando trabalhos conjuntos que, por sua vez, atraem novas
participantes e mantêm a coesão do grupo.
Conclusões
Este estudo teve como objetivo investigar a relação entre empreendedoras de
uma feira itinerante, a Feira das Meninas, e os espaços em que atuam, explorando
como essas práticas promovem o placemaking e valorizam aspectos do
empreendedorismo cultural, ao conciliarem bem-estar social, inovação e
pertencimento. Para isso, foram utilizadas como lentes analíticas as diretrizes de
placemaking propostas por Mediotte et al. (2022), em articulação com os princípios da
lógica do effectuation (Sarasvathy, 2001), a fim de compreender como práticas
bottom-up empreendidas por mulheres podem gerar impacto territorial, simbólico e
econômico em contextos urbanos e culturais.
A análise dos dados demonstrou que, embora o placemaking seja
tradicionalmente compreendido como uma prática de governança compartilhada entre
diversos atores sociais, no caso da Feira das Meninas, observa-se que as próprias
empreendedoras exercem um papel ativo na produção de significados, usos e
ressignificações dos lugares onde atuam. A itinerância, longe de representar apenas
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uma estratégia logística, mostrou-se um princípio estruturante da feira, ao permitir a
circulação simbólica, a criação de experiências e a ativação de espaços públicos e
privados com forte engajamento comunitário. Assim, argumentamos que as feirantes,
mesmo em contextos de ausência ou fragilidade da gestão pública, promovem
práticas de placemaking por meio de ações colaborativas, criativas e resilientes,
configurando uma forma de governança distribuída.
A contribuição teórica desta pesquisa está na interpretação crítica das diretrizes
de placemaking para compreender o empreendedorismo cultural feminino em um
contexto de itinerância, revelando como elementos como pertencimento, coletividade,
estrutura física, lazer, cultura e comunicação emergem da prática cotidiana das
feirantes e influenciam diretamente a dinâmica dos espaços ocupados. Ao integrar
essas diretrizes com os princípios de effectuation, o estudo avança no entendimento
de como mulheres empreendedoras enfrentam adversidades com criatividade,
resiliência e adaptação, construindo redes de apoio e transformando territórios por
meio da ação coletiva.
Do ponto de vista prático e gerencial, os resultados indicam que a promoção de
feiras itinerantes pode ser uma estratégia eficaz de valorização do patrimônio cultural,
estímulo à economia criativa e fomento à ocupação qualificada de espaços públicos.
A partir das experiências relatadas pelas participantes, é possível propor diretrizes de
gestão pública mais sensíveis às realidades das empreendedoras culturais, incluindo
a facilitação de processos burocráticos, o investimento em infraestrutura e segurança,
e o fortalecimento de canais de comunicação e divulgação. Tais ações poderiam
potencializar o valor simbólico, afetivo e econômico gerado pelas feiras e consolidar
políticas públicas de apoio ao desenvolvimento local com base na cultura e na
criatividade.
Entre as principais limitações deste estudo, destacamos a análise centrada
exclusivamente na perspectiva das empreendedoras, o que representa apenas uma
das dimensões envolvidas no placemaking e empreendedorismo cultural. Ademais, a
investigação abordou apenas uma iniciativa específica a Feira das Meninas , sem
abarcar outras práticas culturais similares que poderiam oferecer um panorama mais
abrangente. Por fim, o modelo teórico de placemaking utilizado, embora robusto,
mostrou-se insuficiente para abarcar toda a complexidade das interações sociais,
simbólicas e territoriais observadas, exigindo adaptações analíticas no decorrer da
pesquisa.
A partir dessas limitações, sugerimos como agenda para pesquisas futuras a
realização de estudos longitudinais que investiguem os impactos da itinerância no
tempo, considerando os efeitos acumulados sobre os lugares, as redes sociais e os
modos de vida das empreendedoras e das comunidades envolvidas e suas
transformações junto as que o próprio tempo e espaços causam e podem refletir nas
políticas, produções, consumo, identidade, representações e interações. Também se
recomenda a ampliação do escopo analítico para incluir outros atores relevantes,
como consumidores, gestores públicos e parceiros institucionais, a fim de
compreender os múltiplos pontos de vista sobre o processo de placemaking. Além
disso, estudos comparativos entre diferentes regiões e formatos de feiras culturais
poderiam contribuir para o refinamento teórico das diretrizes de placemaking em
contextos latino-americanos.
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Por fim, reforçamos que esta pesquisa contribui para o campo dos estudos
culturais e da inovação social ao evidenciar a potência transformadora de práticas
empreendedoras femininas e comunitárias. Ao articular criatividade, território e
pertencimento, a Feira das Meninas demonstra que o desenvolvimento local pode
emergir de iniciativas que operam à margem das estruturas institucionais formais, mas
que ativam profundamente os significados dos lugares e das relações sociais que
neles se desenrolam. Essa constatação reforça a urgência de políticas públicas e
pesquisas comprometidas com a escuta, o reconhecimento e o fortalecimento das
práticas culturais que emergem “de baixo” e que ressignificam os modos de habitar,
produzir e viver a cidade.
Acknowledgments
Este trabalho foi financiado e teve o apoio da Fundação Cearense de Apoio ao
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap) e da Pró-Reitoria de Pesquisa,
Pós-Graduação e Inovação da Universidade Federal do Cariri (PRPI/UFCA).
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