JESSICA IANNE FIUSA DO MONTE, BEATRIZ GONDIM MATOS, MAGNUS LUIZ EMMENDOERFER, IVES ROMERO TAVARES DO NASCIMENTO 63
GESTÃO & CONEXÕES - MANAGEMENT AND CONNECTIONS JOURNAL, VITÓRIA (ES), V. 14, N. 3, DE 2025.
Embora o termo possa conter transversalidades pela forma como é entendido e
praticado, podemos recorrer ao estudo pragmático de effectuation de Sarasvathy
(2001). Apesar de tratar de esquemas de causalidade, confere relevância aos meios
disponíveis para que a ação empreendedora aconteça na busca de finalidades
(Watson, 2013). A atenção se concentra tanto no ser empreendedor e no seu saber,
quanto nas suas relações, aceitando e lidando com as ocasiões de forma flexível
(Sarasvathy, 2001; Watson, 2013).
Como pertinentes a uma orientação pragmática da realidade, estes estudos são
apontados (Steyaert, 2007) como influências para conceber o fenômeno do
empreender de forma menos individualizada, ao descobrir como surgem
oportunidades, como são ou não captadas, a influência de redes, a interferência do
tempo e as análises de riscos (Busenitz, Plummer, Klotz, Shahzad, & Rhoads, 2014).
A abordagem alternativa à lógica causal tradicional do empreendedorismo, em
vez de partir de objetivos previamente definidos, os empreendedores effectuais
constroem caminhos a partir dos recursos disponíveis, das redes de relacionamento
e das contingências do ambiente. Essa lógica se organiza em torno de cinco
princípios: (1) pássaro na mão, que enfatiza o uso do que o empreendedor já possui,
conhecimentos, redes e meios, sem esperar pelos recursos ideais; (2) perda aceitável,
que substitui a maximização do retorno pelo cálculo do quanto se está disposto a
perder; (3) limonada, que valoriza as contingências inesperadas como oportunidades
de inovação e adaptação; (4) colcha de retalhos, que destaca a coautoria das
oportunidades com base nas interações e compromissos estabelecidos com outros
agentes; e (5) pilotar o avião, que defende que o futuro é construído pelos próprios
agentes, e não previsto, sendo moldado pelas decisões e relações que se formam ao
longo do processo. Esses princípios contribuem para compreender o
empreendedorismo como uma prática situada, relacional e criativa, especialmente
relevante em contextos marcados pela incerteza e pela escassez de recursos, como
é o caso das iniciativas culturais de base comunitária.
Alguns estudos colocam diferentes lentes para estes e outros fatores, tendo em
vista à compreensão da natureza cotidiana e socialmente construída do fenômeno
(Feldman & Orlikowski, 2011), como o reconhecimento da prática, de ferramentas e
métodos utilizados, o relacionamento e integração com as cognições,
comportamentos e habilidades dos empreendedores, o relacionamento com o
contexto da organização (Johannisson, 2011; Nielsen & Gartner, 2017), com a
criatividade (Steyaert, 2007) e suas diferentes finalidades (Davel & Cora, 2016).
Os empreendedores culturais criativos são agentes que encontram a
oportunidade de fazer mudanças de forma criativa, sustentável e inovadora (P. J.
Ellery & J. Ellery, 2019; Mediotte, Emmendoerfer, Silva, & Almeida, 2023). Essa
perspectiva teórica também está presente na lógica effectuation (Sarasvathy, 2001)
que conceitua a ação empreendedora relacionada além de tomadas de decisão,
Sarasvathy (2001) explica que há mais fatores envolvidos no processo de
empreender.
Esses agentes se deparam com o desafio de se capacitar e enfrentarem as
estratégias capitalistas para permanecerem dentro da economia da cultura (Vieira,
Cornélio, Cavalcante & Corrêa, 2024), além de empreenderem a si e a seus negócios
(Madgerova & Kyurova, 2019). Logo, os criadores culturais estão diante da