ANDERSON GOIS MARQUES DA CUNHA, FAGNER JOSÉ COUTINHO DE MELO, JOSÉ LUIZ ALVES 86
GESTÃO & CONEXÕES - MANAGEMENT AND CONNECTIONS JOURNAL, VITÓRIA (ES), V. 14, N. 3, DE 2025.
Por último, a análise brasileira tenta identificar uma estrutura mínima necessária,
munida de requisitos, para que o país e os demais entes federados consigam articular-
se de maneira integrada e eficaz suas ações e estratégias no fomento da economia
criativa. Com base nisto, a problemática de pesquisa busca entender como a
economia criativa tem sido institucionalizada no contexto brasileiro, por meio de
políticas e marcos legais nas diferentes esferas federativas?
As bases da economia criativa
Desde os primórdios, os seres humanos buscaram meios de manifestar a
criatividade e sua identidade por meio da pintura, do teatro, das artes, da música e de
diversas outras técnicas que se traduziam em diferentes linguagens artísticas e visões
de mundo. Essas expressões não apenas possibilitaram a comunicação entre os
indivíduos e suas comunidades, como também foram essenciais para a formação de
suas identidades culturais. Trata-se de um fenômeno com raízes antropológicas, que
evoluiu no meio global, entrelaçando esforços de centros e periferias marcados por
suas particularidades culturais (Newbigin, 2010; Dharmani et al., 2021).
A expressão artístico-cultural exerce papel essencial na estimulação do intelecto
humano, influenciando o pensamento criativo, a inovação social e o desenvolvimento
territorial. Essas manifestações são moldadas por fatores sociodemográficos, valores,
costumes e condições econômicas, integrando-se ao tecido social de forma singular
em cada localidade (Gomes et al., 2024; Newbigin, 2010). Essa base simbólica e
cultural, acumulada ao longo do tempo, constitui um lastro sobre o qual emergem as
ideias e as práticas associadas à economia criativa. Sua essência reside em um
aprendizado colaborativo e interconectado, intensificado na contemporaneidade pelas
tecnologias digitais, pelas redes sociais e pelas tecnologias de informação e
comunicação [TICs], que redefiniram a maneira como a criatividade se legitima e
circula no meio social (Khan & Patel, 2025; Sung, 2015).
A compreensão das bases da economia criativa, enquanto política pública, é
recente (Oliveira et al., 2003), e incorpora conceitos que ajudaram a sistematizar sua
trajetória histórica, como “economia da cultura”, “indústrias criativas” e “classe
criativa”. Embora frequentemente usados como sinônimos em dispositivos legais e
marcos institucionais, esses termos possuem origens distintas e escopos teórico-
metodológicos complementares.
A “economia da cultura” foi uma das primeiras bases conceituais a integrar os
elementos simbólicos da cultura ao campo econômico. Suas raízes remontam às
décadas de 1960 e 1970, mas foi com os estudos de David Throsby, especialmente
na obra Economics and Culture (2001), que se estabeleceu uma abordagem
estruturada sobre como bens culturais, dotados de valor simbólico, podem ser
analisados também sob uma ótica econômica. Para Throsby, os bens culturais têm
significados sociais, estéticos e identitários que transcendem sua dimensão mercantil,
exigindo, portanto, políticas específicas de fomento e proteção.
O final da década de 1990 fomentou uma ampliação do sentido econômico da
cultura. A partir do Creative Nation de 1994, relatório representativo do ideário das
políticas culturais australianas, houve fortalecimento da diversidade e das identidades
locais que se inserem em raízes tradicionais. De certo modo, essa política atuou como
um relevante ponto de resistividade à tendência de transformação e absorção cultural