Carreiras políticas e relações de gênero no legislativo brasileiro: uma reflexão acerca da sub-representação de mulheres na política formal.
Resumo
O artigo se insere no debate de “gênero e política” ao apresentar parte da pesquisa acerca da trajetória de dez mulheres representantes do Estado do Espírito Santo no Congresso Nacional Brasileiro. Avalia aspectos de gênero que permeiam a representação política de mulheres, sobretudo na política brasileira, e apresenta alguns dos dilemas debatidos nesse campo de estudo. A metodologia principal é a história oral de vida, acompanhada de pesquisa documental, quando também se realizou levantamento da produção legislativa dessas mulheres. Objetivou-se analisar suas condições sociais, seus
projetos ao longo da carreira, ganhos e perdas, entraves e possibilidades, tensões e conciliações sob a influência das relações de gênero. Conclui-se que, mais exitosas em seu projeto político ou menos, tais mulheres tentam uma mútua adequação entre o “intelectual orgânico” de Gramsci e o “político profissional” de Weber, tendendo, porém, a rejeitar a segunda denominação. Acreditam “fazer política” de jeito diferente dos homens, com maiores preocupações éticas e sociais, que, em alguma medida, notam obstaculizar a carreira político-partidária. Convivem com marcante tensão entre carreira e família, admitindo o alto preço pago pelas mulheres para se manterem no campo político. Reconhecem, contudo, a relevância, para si, da escolha de participar do poder de Estado. Tal empreitada busca colaborar na produção de reflexões que possibilitem analisar os dilemas da representação e da participação das mulheres na política, visando ao diálogo com questões mais abrangentes de desigualdade de gênero no país, considerando as especificidades do contexto espírito-santense.