UMA POPULAÇÃO COM MÚLTIPLOS NÚMEROS DIPLÓIDES DISTINTOS PODERIA SOFRER O EFEITO WAHLUND?

Autores

  • Amanda Freitas Haase Universidade Federal do Espírito Santo - UFES
  • Valéria Fagundes Universidade Federal do Espírito Santo - UFES

Resumo

No Efeito Wahlund (EW), populações estão subdivididas em grupos/subpopulações com diferentes frequências de variantes genéticas. Embora estejam em Equilíbrio de Hardy-Weinberg (EqH-W), há tendência para fixar uma das formas. Sabendo-se que rearranjos cromossômicos podem promover incompatibilidade genética (ocasionando isolamento reprodutivo em indivíduos simpátricos) por problemas meióticos dos portadores de rearranjos heterozigotos, testamos se indivíduos simpátricos de Akodon cursor com diferentes números diplóides (2n=14, 15, 16) comportam-se como grupos distintos. A. cursor é um roedor do leste brasileiro com três números diplóides distintos devido à rearranjos envolvendo fusão/inversão dos pares 1 e 3, com pares fundidos (2n=14) ou não (2n=16) e heterozigotos (2n=15). Ainda ocorrem inversões pericêntricas nos pares 2, 4, 6, formando pares homozigotos (acrocêntricos ou metacêntricos) ou heterozigotos (um cromossomo de cada morfologia) cujas frequências de todos os polimorfismos variam ao longo da área distributiva da espécie. Analisamos 72 espécimes de Una/Bahia (aprovado pelo CEUA-UFES 37/2015), onde os três 2n são simpátricos (n=44 para 2n=14, n=14 para 2n=15 e n=14 para 2n=16), calculando a frequência das formas do par 2 em cada grupo 2n: (1) frequência do par (FP) acrocêntrico (2A), submetacêntrico (2S) e heterozigoto (2H); e (2) frequência cromossômica (FC) acrocêntrico (A)/submetacêntrico (S). Utilizou-se o teste Qui-quadrado de Pearson (χ²) para verificar se a população/subpopulação está em EqH-W e o teste Exato de Fisher para comparar populações. A população de Una mostrou-se em EqH-W (χ²=0.5379) com FP(2A)=0.2083, FP(2H)=0.5417, FP(2S)=0.25, FC(A)=0.4792 e FC(S)=0.5208. Os três subgrupos revelaram-se em EqH-W. O subgrupo 2n=14 (χ²=3.4392) mostrou FP(2A)=0.273, FP(2H)=0.614, FP(2S)=0.113, FC(A)=0.5795 e FC(S)=0.4205. O subgrupo 2n=15 (χ²=1.925) mostrou FP(2A)=0, FP(2H)=0.50, FP(2S)=0.50, FC(A)=0.25 e FC(S)=0.75, enquanto 2n=16 (χ²=1.5082) mostrou FP(2A)=0.214, FP(2H)=0.357, FP(2S)=0.429, FC(A)=0.3928 e FC(S)=0.6072. Observou-se acúmulo das formas 2S em 2n=15 e 16, contrários ao 2n=14, onde há distribuição equivalente de 2A e 2S. Esse acúmulo da forma homozigótica 2S nos agrupamentos 2n=15 e 2n=16 é característica do EW. Este fato aliado à frequência FP distinta em 2n=15 dos outros agrupamentos (p<0.05), sem pares 2A, sugere uma separação da população local da espécie em grupos de acordo com seu 2n, o que gera o EW, e ainda que os cruzamentos podem não ser totalmente aleatórios. Por fim, as frequências de pares da população total de Una, por não tenderem ao acúmulo de uma forma homozigótica, sugerem que a possível fragmentação da população não seja tão simples e incisiva separando totalmente os grupos 2n uns dos outros.

Palavras-chave: Akodon cursor. Cariótipo. Genética Evolutiva. Genética Populacional.

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Publicado

15-04-2021