O EU E A AGRESSIVIDADE NA PRIMEIRA DUALIDADE PULSIONAL FREUDIANA
EGO AND AGGRESSION IN FREUD’S FIRST
INSTINCTUAL DUALISM
Fabrício de Siqueira Gonçalves
Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF
Fátima Caropreso
Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF
Recebido: 20/03/2023
Received: 20/03/2023
Aprovado: 09/05/2023
Approved: 09/05/2023
Publicado: 17/05/2023
Published: 17/05/2023
RESUMO
Este trabalho aborda as hipóteses sobre os conflitos agressivos e sua relação com as instâncias que constituem o Eu na teoria freudiana da primeira dualidade pulsional. Essas hipóteses ganharam maior consistência com a introdução do conceito de narcisismo, em 1914, e das ideias apresentadas em As pulsões e seus destinos. Desde então, a agressividade se tornou um tema cada vez mais frequente, complexo e abrangente na explicação freudiana dos fenômenos psíquicos. Esse desenvolvimento permitiu a Freud inferir a existência de duas diferentes instâncias responsáveis pela agressividade dirigida ao Eu: o “Ideal do Eu” e a parte crítica do próprio Eu. Discutimos algumas incoerências presentes na tentativa de Freud de explicar os conflitos agressivos nessas instâncias e apontamos que elas dão margem a uma dupla interpretação das causas do suicídio e das funções desempenhadas pela parte crítica do Eu.
Palavras-chave: Freud. Agressividade. Ego. primeiro dualismo pulsional.
ABSTRACT
This article approaches the hypotheses about aggressive conflicts in their relations to the agencies constituting the ego in the context of Freud’s theory of the first instinctual dualism. These hypotheses gain greater consistency with the 1914 introduction of the concept of narcissism and the ideas presented in Instincts and their vicissitudes. Since then, aggressiveness became an increasingly frequent, complex, and encompassing subject in Freud’s explanation of mental phenomena. This development made it possible for Freud to infer the existence of two different agencies responsible for the aggressiveness direct towards the ego: the ego-ideal and the critical part of the ego itself. Certain incoherence in Freud’s attempts to explain aggressive conflicts in these agencies is discussed and it is pointed out that these incoherences allow a double interpretation of the causes of suicide and the functions performed by the critical part of the ego.
Keywords: Freud. aggression. Ego. First instinctual dualism.
Desde os Três ensaios sobre a teoria da sexualidade (FREUD, 2018 [1905]), podemos observar o desenvolvimento do conceito de pulsão (Trieb) na obra de Freud, embora suas raízes possam ser encontradas já no Projeto de uma psicologia cientifica (GABBI, 2003). Laplanche e Pontalis (1995) lembram que a noção de pulsão é desenvolvida por Freud, inicialmente, a partir do modelo da sexualidade e que, desde o início, a pulsão sexual é contraposta a outras pulsões. Na concepção freudiana da primeira dualidade pulsional, supõe-se a existência de duas classes de pulsão que se opõem: as “pulsões sexuais” e as “pulsões do Eu”. Com essa oposição, Freud procurou explicar os conflitos psíquicos que estariam na base das neuroses. No entanto, principalmente a partir da tentativa de compreensão da esquizofrenia e da formulação do conceito de narcisismo, o autor é levado a repensar o primeiro dualismo pulsional. Em Além do princípio do prazer (FREUD, 2018 [1920]), ele apresenta, então, sua teoria do segundo dualismo pulsional, de acordo com a qual as pulsões sexuais e as egoicas atuariam em oposição às “pulsões de morte” e formariam a categoria das “pulsões de vida”.
Encontramos, na bibliografia da área, uma ampla gama de estudos que mencionam as hipóteses sobre agressividade presentes na teoria freudiana da primeira dualidade pulsional. Entre esses, podemos citar os trabalhos de Hartmann, Kris & Loewenstein (1949); Parens (1973); Smith, Pao & Schweig (1973); Davis (1979); Jaffe (1982); Parens (1991); Pedder (1992); Mayes & Cohen (1993); Rizzuto, Sashin, Buie & Meissner (1993); Gray (2000); Dennen (2005); Birman (2006); Ferraril (2006); Blum (1997); Chaves (2008); Andrade (2008); Aleksandrowicz (2009); Juni (2009); D'Amato (2010); André (2014); Guillot (2014); Simanke (2014); Fernandes (2016); Corrêa (2019) e Lemos (2019). Esses trabalhos, contudo, não abordam as suposições de Freud sobre a agressividade de forma sistemática, mas apenas citam algumas das ideias apresentadas ao longo da elaboração de sua teoria. Essa lacuna na bibliografia da área justifica a realização de uma análise detalhada da maneira como Freud concebeu a agressividade na etapa inicial de sua obra.
Na teoria da primeira dualidade pulsional, Freud se refere à agressividade relacionada a diferentes fenômenos: a agressividade presente no Eu e que o leva a se desenvolver e tentar evitar o desprazer (FREUD, 2018a [1915]); a agressividade ligada às pulsões egoístas (FREUD 2018b [1915]) e às pulsões sexuais, que se manifesta nos relatos de sonhos de mortes de pais e irmãos (FREUD, 1976 [1900]); a agressividade vinculada à “pulsão de apoderamento” (FREUD, 2018 [1905]); o ciúme agressivo da criança no complexo de Édipo (FREUD, 2018a [1909]); a agressividade presente no estágio sádico-anal (FREUD, 2018b [1913]); a ambivalência afetiva (FREUD, 2018 [1917[1915]]); a agressividade no sadismo e no masoquismo (FREUD, 2018a [1915]); a agressividade nas fantasias de surra (FREUD, 2018 [1919]); a agressividade entre as instâncias que compõem o Eu (FREUD, 2018 [1914]; FREUD, 2018 [1917[1915]]); a agressividade presente na relação entre indivíduo e civilização (FREUD, 2018b [1915]); por fim, a agressividade na transferência (FREUD, 2018 [1917]).
Nesse artigo, abordaremos os conflitos agressivos que ocorrem entre as instâncias que compõem o Eu, de acordo com a teoria apresentada nos textos Introdução ao narcisismo (2018 [1914]) e Luto e melancolia (2018[1917[1915]]). Procuraremos discutir algumas incoerências presentes na tentativa de Freud de explicar os conflitos agressivos nessas instâncias, as quais dão margem a uma dupla interpretação das causas do suicídio e das funções desempenhadas pela parte crítica do Eu.
A AGRESSIVIDADE NA MELANCOLIA
Para entender os conflitos agressivos entre as instâncias que compõem o Eu na primeira dualidade pulsional, é preciso compreender os processos que ocorrem na melancolia, considerada por Freud, na época, como uma neurose narcísica. Segundo Simanke (1994), de acordo com a teoria freudiana, nas neuroses narcísicas, o estabelecimento dos vínculos libidinais com objetos estariam perdidos ou seriamente prejudicados. A libido retirada dos objetos retornaria para o Eu, limitando ou impossibilitando o acesso à realidade exterior. A partir do conceito freudiano de neurose narcísica e das hipóteses formuladas em Introdução ao narcisismo (2018 [1914]) e em As pulsões e seus destinos[1] (2018a [1915]), podemos inferir que essa dificuldade de estabelecer vínculos libidinais com os objetos seria parcialmente produzida pela fixação na fase narcísica. Diante de uma frustação, o indivíduo regrediria a essa fase narcísica do desenvolvimento do Eu, devido à fixação nela presente. Tal regressão impossibilitaria o estabelecimento de uma relação satisfatória com a realidade, uma vez que seria retomado um estágio do desenvolvimento em que os limites entre o Eu e o mundo ainda não estão plenamente estabelecidos.
Como consequência da regressão da libido ao Eu, esse voltaria a apresentar as características da fase narcísica. Nessa fase, o ser humano começaria a estabelecer a fronteira entre si e o outro por meio da introjeção no Eu de tudo o que é fonte de prazer, e da projeção no mundo de tudo que é fonte de desprazer (FREUD, 2018a [1915]). Portanto, essa regressão estabeleceria uma forma arcaica de relação consigo e com o mundo, a qual representaria uma tentativa de reviver uma situação gratificante e seria um refúgio contra as frustrações impostas pela realidade. No entanto, com a regressão, o Eu do melancólico não funcionaria exatamente da mesma forma como na fase narcísica, uma vez que as instâncias que compõem o Eu se constituíriam em um período posterior a essa fase. Nesse caso, a regressão produziria condutas agressivas intensas entre instâncias que compõem o Eu.
Sobre a perda do objeto na melancolia, Freud (2018 [1917[1915]]) comenta:
Numa série de casos, é evidente que também ela pode ser reação à perda de um objeto amado; em outras ocasiões, nota-se que a perda é de natureza mais ideal. O objeto não morreu verdadeiramente, foi perdido como objeto amoroso (o caso de uma noiva abandonada, por exemplo). Em outros casos ainda, achamos que é preciso manter a hipótese de tal perda, mas não podemos discernir claramente o que se perdeu, e é lícito supor que tampouco o doente pode ver conscientemente o que perdeu. Esse caso poderia apresentar-se também quando a perda que ocasionou a melancolia é conhecida do doente, na medida em que ele sabe quem, mas não o que perdeu nesse alguém (p.175).
Seguindo essa linha de raciocínio, Cintra (2011) lembra que, segundo Freud, as perdas na melancolia podem ser estendidas a vários problemas com o objeto, como esse ter abandonado o sujeito, o desaprovado, desprezado, desautorizado, retirado seu amor e sua aprovação moral, entre outros. Para Freud (2018 [1917[1915]]), essas perdas se devem a uma ligação objetal de natureza aparentemente contraditória devido à grande intensidade e, ao mesmo tempo, baixa resistência do investimento no objeto. Essa baixa resistência do investimento libidinal seria ocasionada pela necessidade de gratificação narcísica e pela intolerância a frustrações. Também contribuiria para esse processo o fato de que a ligação do Eu com a realidade seria muito tênue, de forma que qualquer abalo nessa relação faria com que a libido fosse retirada do objeto e se voltasse para o Eu, promovendo a regressão.
A AMBIVALÊNCIA E A IDENTIFICAÇÃO NARCÍSICA
Freud considera que, na melancolia, uma dupla regressão é produzida pelo fim do investimento amoroso. Sobre esse investimento, ele afirma que: “parte (...) regrediu à identificação, mas outra parte, sob a influência do conflito da ambivalência, foi remetida de volta ao estágio do sadismo, mais próximo desse conflito” (FREUD, 2018 [1917[1915]], p.184). Dessa forma, na melancolia, a libido regridiria à fase narcísica , na qual ocorreria a identificação narcísica, e também provocaria a regressão ao estágio oral, responsável pelas condutas sádicas. Essas duas regressões seriam concomitantes e paralelas, pois ocorreriam em direção ao mesmo período do desenvolvimento do ser humano, um período em que as pulsões sexuais se apoiavam nas pulsões do Eu para se desenvolver. Esses dois processos de regressão serão comentados separadamente para fins de compreensão, mas é importante mencionar que, em alguns momentos ao longo de nossa explicação, os argumentos utilizados para esclarecer essas regressões são semelhantes. O fato delas acarretarem o retorno ao início da fase narcísica, na qual as pulsões do Eu e as pulsões sexuais atuam conjuntamente, faz com que seja difícil separar os processos psíquicos que ocorrem nessa etapa do desenvolvimento.
Vamos abordar, incialmente, a regressão à fase narcísica para entender um dos destinos da libido na melancolia. Em As pulsões e seus destinos (2018a [1915]), Freud descreve os primeiros processos de identificação que acontecem no estágio do narcisismo primário. Com a regressão, a libido voltaria a se comportar da mesma forma que se comportava nesse estágio. Nele, o Eu introjetaria os objetos que são úteis e fontes de prazer e, a partir dessa introjeção, tornar-se-ia semelhante a esses objetos. Esse processo de identificação seria um dos responsáveis pelo desenvolvimento patológico da melancolia. Uma vez que que parte do Eu do melancólico se tornaria semelhante ao objeto, a parte crítica do Eu trataria a parte do Eu identificada com o objeto como se ela fosse o objeto que o abandonou e, então, descarregaria sobre ele toda a agressividade e a hostilidade por ter sido abandonado. Assim, a perda objetal se transformaria numa perda do Eu.
No que concerne à identificação na melancolia, Freud (2018 [1917[1915]]) comenta:
[...] expusemos, em outro lugar, que a identificação é o estágio preliminar da escolha de objeto, e o primeiro modo, ambivalente em sua expressão, como o Eu destaca um objeto. Ele gostaria de incorporar esse objeto, e isso, conforme a fase oral ou canibal do desenvolvimento da libido, por meio da devoração (p.182).
Pode-se dizer que, para Freud (2018 [1917[1915]]), a identificação citada acima é a identificação narcísica que ocorre nos primórdios do desenvolvimento e da constituição do Eu, processo que ocorreria simultaneamente ao estágio oral. Nesse estágio, ocorreria a incorporação e a devoração do objeto, uma vez que as duas classes de pulsões atuariam conjuntamente, de forma que não seria possível separá-las, o que teria como consequência a manifestação do amor mesclado ao ódio e aos impulsos sádicos. Com o retorno da libido a essa fase de desenvolvimento, seria formada a parte crítica do Eu, que o trataria com ódio e sadismo como se ele fosse o objeto que o abandonou.
No estágio oral, estaria presente a ambivalência[2] afetiva, que se manifestaria no processo de incorporação e devoração, resultante do fato de que o mesmo objeto é fonte de sensações prazerosas e desprazerosas. Essa ambivalência levaria o Eu a querer incorporar e também destruir o objeto alvo de sentimentos ambivalentes (FREUD, 2018a [1915]). Para Freud (2018a [1915]), a incorporação e a devoração aconteceriam simultaneamente, uma vez que a libido seria governada pelo amor e pelo ódio, que estariam mesclados , esse último daria origem a impulsos sádicos[3]. O ódio pelo objeto fonte de prazer surgiria porque ele nem sempre satisfaz as necessidade do Eu de forma imediata, o que aumenta o desprazer. Quando adquirisse certa intensidade, ele seria descarregado sobre o objeto sob a forma de comportamentos agressivos.
O desenvolvimento do sadismo proveniente do estágio oral é pouco desenvolvido na obra de Freud (2018 [1917[1915]]). May (2019) levanta uma hipótese sobre o motivo dessa ausência. Ao analisar as contribuições de Abraham e Ferenczi ao trabalho de Freud, essa autora afirma que, nessa época, o pai da psicanálise entendia o sadismo como um impulso pulsional pertencente ao estágio sádico-anal. Foi Abraham quem o fez perceber a possibilidade de que o sadismo também esteja presente no estágio oral. Este autor apontou que o melancólico quer (inconscientemente) devorar o objeto e que esse desejo é “uma manifestação de amor e também destruição”. Assim, os desejos canibais seriam o núcleo da agressividade na melancolia.
O conceito de ambivalência é central para a compreensão da concepção freudiana da melancolia, embora Freud tenha deixado algumas conclusões implícitas sobre o tema em Luto e melancolia. Schwartz (1989), ao descrever o conceito de ambivalência ao longo das obras freudianas, comenta que os sentimentos ambivalentes intensificariam a agressividade. A ambivalência aumentaria as manifestações agressivas, principalmente como consequência da frustração dos desejos individuais. Podemos supor que, na melancolia, se não estivesse presente a ambivalência proveniente do estágio oral, o que discutiremos mais a diante, dificilmente a agressividade alcançaria a proporção nela presente.
Em trabalhos anteriores ao texto Luto e melancolia, (FREUD, 2018 [1905]; FREUD, 2018b [1909]; FREUD, 2018a [1913]; FREUD, 2018b [1913]), Freud utiliza várias vezes a palavra ambivalência para descrever o amor e o ódio voltados para o mesmo objeto no dia a dia do indivíduo. Todavia, nessa obra, o autor comenta que a ambivalência na melancolia “ora se origina na realidade, ora na constituição do indivíduo” (p.184). Podemos considerar que, mesmo a ambivalência se originando a partir da relação do sujeito com a realidade externa, ela remete à ambivalência constitucional devido à fixação na fase narcísica e no estágio oral. Na melancolia, essa fixação seria responsável pelos inúmeros comportamentos ambivalentes do sujeito, sendo, portanto, responsável por grande parte da agressividade contra o objeto.
A AGRESSIVIDADE NAS INSTÂNCIAS DO EU
Em Luto e melancolia, Freud (2018 [1917[1915]]) descreve o Eu como possuindo diversas funções, dentre as quais a “consciência moral”, a “censura da consciência” e o “exame de realidade”. É plausível considerar que a agressividade direcionada ao Eu , tal como concebida nesse período, seja oriunda da consciência moral, chamada também de ideal do Eu. Na melancolia, juntar-se-ia a essas condutas agressivas a agressividade da parte crítica do Eu[4]. Como comentam Laplanche e Pontalis (1995), nas obras de Freud publicadas entre 1914 e 1915, o autor atribui a condição de juiz do Eu a duas instâncias, o ideal do Eu e uma instância crítica.
O ideal do eu emergiria após o infante passar pela fase narcísica, e carregaria as marcas de toda perfeição que a criança imaginou desfrutar na primeira infância, ilusão essa produzida pela libido narcísica. Segundo Freud, a criança teria sido “incapaz de renunciar à satisfação que uma vez foi desfrutada” (FREUD, 2018 [1914], p.40). Após essa fase, parte da libido narcísica seria deslocada para ajudar a formar o ideal do Eu. Assim, podemos dizer que, por ser fixado na fase narcísica, o melancólico não desenvolve satisfatoriamente seu ideal do Eu, pois não consegue deslocar toda a libido narcísica que ajudaria a formar esse ideal. Este seria um dos motivos pelo qual ele não lidaria muito bem com frustações, uma vez que uma das funções do ideal do Eu seria barrar/restringir a satisfação das pulsões egoístas e ajudar o ser humano a lidar com o desprazer de forma sadia, sem reagir a ele com ódio e com agressividade, tendo em vista favorecer a vida em sociedade.
Em Introdução ao narcisismo, Freud (2018 [1914]) diz que:
Não seria de admirar se encontrássemos uma instância psíquica especial, que cumprisse a tarefa de assegurar a satisfação narcísica a partir do ideal do Eu e que, com esse propósito, observasse continuamente o Eu atual, medindo-o pelo ideal. Havendo uma tal instância, será impossível para nós descobri-la; poderemos apenas identificá-la e constatar que o que chamamos de nossa consciência moral tem essas características (2018 [1914], pp.41-42).
Em relação ao ideal do Eu, Laplanche e Pontalis (1995) explicam que são as críticas que os pais fazem à criança que fazem com que ela abandone o estado narcísico. Segundo esses autores, essas críticas são interiorizadas sob a forma de uma instância psíquica de censura e auto-observação, distinta do Eu, que observa incessantemente o Eu atual e o compara com o ideal. Freud (2018 [1914]) diz que, ao longo do desenvolvimento do Eu, ocorre um distanciamento do narcisismo primário, o que gera um intenso esforço por parte do Eu para reconquistá-lo. Esse distanciamento aconteceria para propiciar o convívio com o outro. Ele faria com que parte da libido narcísica fosse deslocada para formar o ideal do Eu, e influenciaria o Eu de acordo com as figuras de autoridade importantes para a criança. A dissolução do complexo de Édipo acentuaria esse distanciamento e ajudaria a barrar os pensamentos edípicos. Para Freud (2018 [1916]), a censura do ideal do Eu poderia gerar sentimentos de culpa, desconhecidos pelo neurótico, de grande intensidade, pois o ideal do Eu se enfureceria contra o Eu por ele ter abrigado os pensamentos edípicos. Em alguns casos, o sentimento de culpa levaria o neurótico a cometer crimes para encontrar um representante para o sentimento de culpa e, assim, diminuí-lo.
Sobre a consciência moral na melancolia, Freud (2018 [1917[1915]]) afirma:
Vemos como uma parte do Eu se contrapõe à outra, faz dela uma avaliação crítica, toma-a por objeto, digamos. Nossa suspeita de que a instância crítica aí dissociada do Eu poderia, em outras condições, demonstrar também sua autonomia, será confirmada em toda observação posterior. Realmente encontraremos motivo para separar essa instância do resto do Eu. Aqui travamos conhecimento com a instância habitualmente chamada de consciência moral (p.178).
Essa parte crítica, descrita acima, é considerada como constituindo a consciência moral ou o ideal do Eu. Em alguns momentos da obra, Freud parece tratar a consciência moral como sinônimo da parte crítica do Eu e, em outros, como instância distinta. Podemos supor que isso se deveu à dificuldade encontrada pelo autor para explicar a agressividade sobre o Eu, na melancolia, apenas por meio do ideal do Eu. Porém, admitir explicitamente que a instância crítica do Eu é diferente do ideal do Eu, e mais severa do que esse ideal, colocaria a necessidade de explicar os processos subjacentes a essa instância, e, consequentemente, elucidar qual pulsão produziria as expressões agressivas, o que entraria em confronto com as hipóteses sobre a agressividade defendidas até então.[5] Tendo isso em vista, podemos considerar que, na melancolia, a parte crítica[6] resulta da regressão à fase narcísica, diferentemente do ideal do Eu, uma vez que ela não reconhece o Eu identificado com o objeto e descarrega sobre ele toda a agressividade, como se ele fosse o objeto abandonador, provocando a cisão entre a parte do Eu identificada com o objeto e a parte crítica do Eu. A seguinte passagem de Freud (2018 [1917[1915]]) corrobora essa interpretação:
A sombra do objeto caiu sobre o Eu, e a partir de então este pôde ser julgado por uma instância especial como um objeto, o objeto abandonado. Desse modo a perda do objeto se transformou numa perda do Eu, e o conflito entre o Eu e a pessoa amada, numa cisão entre a crítica do Eu e o Eu modificado pela identificação (p.181).
Parece que Freud (2018 [1917[1915]]) tenta conciliar suas hipóteses sobre a fase narcísica, sobre a agressividade como manifestação das pulsões do Eu, sobre a primeira dualidade pulsional e sobre a melancolia introduzindo a suposição de uma instância crítica. Essa instância seria responsável por parte das condutas agressivas voltadas para o exterior, nas quais pulsões egoístas, parte das pulsões do Eu, atuariam em conjunto com os impulsos sádicos oriundos do estágio oral[7]. A tentativa de explicar a instância crítica por meio dessas hipóteses nos leva a considerar que as pulsões do Eu e as pulsões sexuais podem ter uma relação mais íntima do que a defendida em Introdução ao narcisismo (2018 [1914]), com a formulação dos conceitos de libido do Eu e de libido objetal. Nessa época, a parte crítica do Eu seria exclusiva da melancolia devido à regressão à fase narcísica e ao estágio oral. Mesmo que tenha admitido que todo ser humano possui uma parte crítica no Eu, Freud se refere a essa parte crítica como ideal do Eu, também chamado de consciência moral, já que ela seria responsável por descarregar a agressão sobre o Eu, e não sobre o objeto.
Sobre a relação entre a agressividade da parte crítica do Eu e aquela do ideal do Eu, Freud (2018 [1917[1915]]) comenta que:
Ouvindo com paciência as várias autoacusações de um melancólico, não conseguimos, afinal, evitar a impressão de que frequentemente as mais fortes entre elas não se adequam muito a sua própria pessoa, e sim, com pequenas modificações, a uma outra, que o doente ama, amou ou devia amar. Toda vez que examinamos o fato, essa suposição é confirmada. De maneira que temos a chave para o quadro clínico, ao perceber as recriminações a si mesmo como recriminações a um objeto amoroso, que deste se voltaram para o próprio Eu (p.179).
A consciência moral reconheceria a agressividade dessa parte crítica voltada contra o objeto, faria uma mediação entre essa agressividade e as necessidades e restrições da vida em sociedade, e imporia sua descarga contra si. Considerando essa explicação sobre a parte crítica e a consciência moral, é interessante citar a afirmação de Carhart-Harris, Mayberg, Malizial & Nutt (2008) sobre o texto Luto e melancolia. Eles argumentam que a severidade da agressão descarregada sobre o Eu é proporcional à gravidade da agressão que, na ausência da repressão, seria direcionada ao objeto. É possível afirmar que a agressividade da consciência moral é intensificada devido ao fato do Eu não ter satisfeito os requisitos desse ideal e tê-la descarregado sobre o Eu, uma vez que a agressividade da parte crítica do Eu se une àquela do ideal do Eu.
A interferência do ideal do Eu sobre a agressividade proveniente da parte crítica do Eu se daria a partir do momento em que essa parte crítica desejasse descarregar a agressividade contra o objeto. O censor do ideal do Eu detectaria esse desejo e imporia a busca de outro caminho para descarregá-la, ao direcioná-la ao próprio Eu, o que carregaria marcas do desejo de descarregá-la sobre o objeto. Nas palavras de Freud (2018 [1914]): “O ideal do Eu deixou em condições difíceis a satisfação libidinal nos objetos, na medida em que seu censor rejeita parte deles como intolerável” (p.48). É possível afirmar que o censor do Eu rejeita não só boa parte da satisfação libidinal, mas tudo que for contrário ao ideal do Eu.
Como supomos acima, pelo fato do melancólico ser fixado na fase narcísica, a libido narcísica, desviada para ajudar a formar o ideal do Eu, não seria totalmente desviada, fazendo com que o indivíduo fosse bastante instável por seu ideal do Eu não auxiliá-lo satisfatoriamente para lidar com frustações. Quando as exigências desse ideal não fossem satisfeitas, principalmente nos casos de perda do objeto amoroso, ocorreria a diminuição do amor-próprio pelo fato desse ideal não conseguir lidar com a frustação causada pelo abalo da relação amorosa e se enfurecer contra o Eu, como se ele fosse culpado pelo abandono.
O amor-próprio seria formado por três partes, segundo Freud (2018 [1914]). A primeira seria resto do narcisismo infantil, a segunda, o cumprimento do ideal do Eu, e, a última, a satisfação da libido objetal. Essas três partes atuariam em conjunto, propiciando a autoestima. Na melancolia, o resto do narcisismo infantil teria grande influência sobre o Eu. Devido à fixação na fase narcísica, o Eu não teria se desenvolvido completamente para se relacionar com outros seres humanos, e o ideal do Eu possuiria um limiar baixo para frustações. O indivíduo não conseguiria lidar com a frustação decorrente de relações objetais, e a libido objetal seria retirada do objeto e se voltaria ao Eu, gerando a regressão deste à fase narcísica. O ideal do Eu se enfureceria contra o Eu por ter perdido o objeto, o que causaria um “enorme empobrecimento do Eu” (2018 [1914], p.175). Rado (1928) comenta que encontramos, no melancólico, um desejo intensamente forte de gratificação narcísica e uma intolerância narcisista muito considerável. Eles reagem às pequenas frustações diárias com a diminuição considerável na autoestima. São pessoas totalmente dependentes de outros para manter sua autoestima elevada; eles não teriam atingido o nível de independência em que a autoestima se baseia nas próprias realizações e julgamentos críticos do sujeito.
NOVA LUZ SOBRE O SUICÍDIO
Após comentar sobre a ambivalência e a identificação narcísica na melancolia, é importante discutir o avanço do entendimento do suicídio que essa neurose proporcionou. Em Introdução e conclusão de um debate sobre suicídio (2018 [1910]), Freud coloca a questão sobre “como é possível subjugar a poderosa pulsão de vida, se isso pode ocorrer apenas com a ajuda da libido decepcionada ou se o Eu renuncia à afirmação de si mesmo por motivos próprios do Eu”[8] (FREUD, 2018 [1910], p.390, tradução modificada). Porém, o autor não chega a uma conclusão e apenas afirma que o luto e a melancolia poderiam ajudar a compreender esse fenômeno.
Em Luto e melancolia, Freud (2018 [1917[1915]]) comenta que a psicanálise já havia apontado que o suicídio, no caso do neurótico, resulta de um desejo homicida que se voltou contra si. Nesse trabalho, o psicanalista adiciona novas hipóteses para explicar esse fenômeno. Ele argumenta que o suicídio ocorre, na melancolia, porque há a regressão à fase narcísica e ao estágio oral. A primeira regressão faria com que parte do Eu do melancólico se tornasse semelhante ao objeto, graças à identificação narcísica. Já a segunda regressão levaria à constituição da parte crítica do Eu, a qual reagiria com ódio, impulsos sádicos e destrutivos contra o objeto (o Eu) por ter sido abandonada provocando uma cisão entre essas duas partes. Esse desejo destrutivo seria percebido pelo censor do ideal Eu e essa instância faria com que ele se se voltasse contra o próprio sujeito, por ele ter permitido que o objeto o abandonasse, o que poderia levar ao suicídio. No entanto, também é possível interpretar que o ódio e o sadismo da parte crítica do Eu adquiriram tamanha intensidade que foram descarregados sobre o Eu, tomado como objeto, provocando sua destruição. O ideal do Eu, por não ter se constituído plenamente, não teria tido energia suficiente para barrar esse desejo de extermínio contra ele.
É interessante mencionar as observações de Mikhailova (2006) sobre o suicídio. Segundo ela, nesse período, Freud considera que a ligação a outro ser humano serve como meio de sobrevivência. No entanto, todo fenômeno levado ao extremo se transforma em seu oposto. Nesse mesmo sentido, Rado (1928) comenta que o melancólico é extremamente dependente do outro, de modo que o abalo da relação amorosa gera uma frustação que é convertida em agressividade, a qual, ao se voltar contra o Eu, pode acarretar sua própria morte. Mikhailova (2006) explica que, se o apego torna-se muito forte, o objeto pode deixar de ser nosso aliado na luta contra a morte e, em vez disso, começar a incitar o comportamento de busca da morte. Essa autora aponta dois pontos interessantes na teoria freudiana sobre o suicídio: tirando a própria vida, a pessoa não apenas se mata, mas também destrói o objeto interior usurpador do Eu. Dessa forma, o suicídio pode ser pensado como uma tentativa de resolver o conflito com o objeto.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em Introdução ao narcisismo (2018 [1914]) e em As pulsões e seus destinos (2018a [1915]), Freud formula uma série de hipóteses sobre o papel do narcisismo no desenvolvimento e na constituição do Eu, assim como na produção dos conflitos entre as instâncias que o compõem. Os conflitos entre o Eu e o ideal do Eu seriam herança da fase narcísica, segundo o autor. Na melancolia, esses conflitos seriam intensificados, pois, surgiria a parte crítica do Eu, responsável pela agressividade dirigida à parte do Eu identificada com o objeto. Esse processo seria ocasionado pela identificação narcísica, pela regressão egóica e pela ambivalência constitucional.
Nesses trabalhos, Freud separa duas instâncias egóicas, responsáveis pela agressividade na melancolia, uma voltada para o exterior (parte crítica do Eu) e outra voltada para o interior do Eu (ideal do Eu). Na atuação da instância crítica, as pulsões do Eu se uniriam ao sadismo procedente do estágio oral fazendo com que o ódio e os impulsos sádicos fossem descarregados sobre o objeto. O ideal do Eu, por sua vez, direcionaria a agressividade ao Eu quando este não conseguisse cumprir suas exigências. Nesse caso, esse ideal se enfureceria e daria origem a pensamentos agressivos que seriam dirigidos ao Eu. Na melancolia, essa agressividade seria intensificada pelo fato do ideal do Eu reconhecer a agressividade da parte crítica voltada para o objeto e direcioná-la ao Eu.
Podemos ver, em Luto e melancolia, um avanço nas indagações de Freud (2018 [1917[1915]]) sobre o suicídio com a formulação da hipótese da identificação narcísica, a introdução da parte crítica do Eu e a hipótese ambivalência constitucional. No entanto, sua teoria dá margem a duas interpretações sobre o suicídio. Uma é a de que o indivíduo pode se matar porque a agressividade adquire tamanha intensidade na instância crítica do Eu que conduz à destruição do objeto. Nesse caso, o suicídio decorreria do fato do Eu ter se tornado o objeto devido à identificação narcísica e à incapacidade do ideal do Eu de e barrar o desejo destrutivo. Outra interpretação possível é a de que a agressividade adquire tamanha intensidade na parte crítica do Eu que conduz à sua própria destruição, ao se juntar com a agressividade do ideal do Eu por esse ter permitido que ele fosse abandonado pelo objeto.
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Fabrício de Siqueira Gonçalves
Doutorando em Psicologia pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)
Fátima Caropreso
Doutora em Filosofia pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Professora do Departamento de Psicologia e do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPQ – nível 2.
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[1] O título Os instintos e seus destinos, utilizado pela Companhia das letras, foi modificado para As pulsões e seus destinos.
[2] A ambivalência afetiva na melancolia ocorreria porque o indivíduo reagiria à frustação causada pelo objeto com ódio. Essa frustação também acarretaria a regressão ao estágio oral, gerando uma mistura de amor, ódio e comportamentos sádicos com objeto.
[3] Segundo a teoria freudiana da primeira dualidade pulsional, na fase narcísica, as pulsões sexuais se apoiam nas pulsões do Eu para se desenvolver. Isso poder fazer com que características do ódio se vinculem às manifestações das pulsões sexuais. Nesse caso, surgem ações e comportamentos agressivos vinculados às pulsões sexuais sem a presença do desprazer, originando condutas sádicas. Já o ódio seria a reação do Eu ao desprazer, causado tanto pelas pulsões sexuais como pelas pulsões do Eu.
[4] Essas duas instâncias, responsável pela agressividade, estarão na base da noção de “Supereu”, introduzida em 1923.
[5] Nessa época Freud defendia que as manifestações agressivas seriam oriundas das pulsões do Eu.
[6]Procuraremos comentar sobre como Freud concebe a instância crítica do Eu na sua teoria do primeiro dualismo pulsional, todavia essa explicação esbarrará em vários problemas, como será possível observar.
[7] Ao tentar entender a instância crítica com essa hipótese, nos deparamos com um problema, pois parte das pulsões do Eu agiria de forma agressiva contra o Eu identificado com o objeto, ou seja, as pulsões do Eu atuariam contra o próprio Eu, sem ter como objetivo a proteção do indivíduo ou da espécie.
[8] Nessa passagem, o termo "instinto", usado pelo tradutor da edição Companhia das letras como tradução do termo alemão Trieb, foi substituído por "pulsão".