Fundo Pblico e
Desenvolvimento Regional no Brasil: elementos para debate no contexto do Novo
Arcabouo Fiscal
Public Fund and Regional Development in Brazil: elements for debate in
the context of the New Fiscal Framework
Daniel Pereira SAMPAIO*
https://orcid.org/0000-0002-6130-2753
INTRODUO
E |
ste trabalho realiza um
dilogo com os textos dos professores Evilsio Salvador (UnB) (2024) e Osmar
Gomes de Alencar Jnior (UFDPAR) (2024) na seo Debates deste peridico, Argumentum, sobre fundo pblico e o novo arcabouo fiscal
(NAF, lei complementar n 200/2023). Alm do dilogo em si, que trata do novo
arcabouo fiscal em tempos de capitalismo em crise, so apresentados elementos
que busquem relacionar com o desenvolvimento regional no Brasil, tendo em vista
as elevadas disparidades existentes entre as regies em nosso pas, bem como
Poltica Nacional de Desenvolvimento Regional (PNDR).
Em 2024 so completados
30 anos do Plano Real e 25 anos do Trip Macroeconmico. A estratgia de
poltica econmica do Plano Real combateu com sucesso o processo
(hiper)inflacionrio da economia brasileira, porm agravou o problema fiscal,
do financiamento externo, do baixo crescimento e da crise social (Oliveira,
2012). A estratgia do Plano Real coroou o neoliberalismo no Brasil (Belluzzo;
Almeida, 2002) e instalou um ajuste fiscal permanente (Behring, 2022), que
progressivamente vem desmontando os mecanismos de financiamento das polticas
sociais.
O trip macroeconmico
constitudo por sistema de metas de inflao, supervit primrio e cmbio
flutuante , regime de poltica macroeconmica institudo em 1999, no sofreu
alteraes substantivas ao longo do tempo, no que tange conduo da poltica
macroeconmica (fiscal, monetria e cambial), mesmo durante o perodo da Nova
Matriz Macroeconmica (Prates; Fritz; Paula, 2017). Ao longo do tempo,
predominou a combinao de supervits primrios elevados, taxa de cmbio
valorizada e taxa de juros altas (dentre as maiores do mundo), conformando
aquilo que Wilson Cano chamou de trilogia insana (Cano, 2008).
A ao do Estado, da
poltica econmica e do fundo pblico no Brasil esto subordinadas
financeirizao global e suas aes atuam no sentido de promover a acumulao, a
concentrao e a centralizao do capital. O controle do dficit e da dvida
pblica so variveis-chave da poltica econmica voltada para estas
finalidades, o que tende a comprometer as condies para a reproduo social. O
NAF um novo captulo nesse sentido, pois constitucionaliza (Emenda
Constitucional n 126/2022) novamente a austeridade no Brasil em substituio
Emenda Constitucional n 95/2016 (Bastos, 2023). Em meio renovao da austeridade,
importante ressaltar que o Brasil tem passado por graves problemas, por
exemplo, um logo processo de estagnao econmica especialmente na dcada de
2010, a dcada mais que perdida (Barros, 2022) e de
desindustrializao (Sampaio, 2019), alm do recrudescimento da crise social.
Evidentemente, o Brasil
um pas de dimenses continentais, de elevada populao e suas regies no
so homogneas. Pelo contrrio, a heterogeneidade inter-regional e
intrarregional so marcas da formao econmica, social e territorial
brasileira (Brando, 2007; Cano, 2008; Macedo, 2023). Parte substantiva do
Produto Interno Bruto (PIB), produo industrial e populao do pas ainda est
localizado na regio Centro-Sul e na faixa litornea do pas. A crise e as
prticas de austeridade, portanto, afetam de modos distintos as pores
territoriais o pas, a depender dos elementos econmicos, sociais e
territoriais que esto presentes nelas. O fundo pblico teve (e ainda tem) um
papel central na articulao das distintas pores territoriais do pas,
contribuindo para o processo de integrao regional (Macedo, 2023), mas, por
outro lado, tambm pode contribuir para reforar as desigualdades regionais.
Alm dos elementos explcitos da Poltica Nacional de Desenvolvimento Regional
(PNDR), o fundo pblico pode atuar de maneira implcita, por exemplo, via
financiamento de poltica sociais e, assim, contribuir para a reduo das
disparidades regionais. Porm, o ajuste fiscal permanente, cujo atual nome
NAF, pode servir como um uma espcie freio para a reduo das
disparidades regionais.
O presente artigo
composto por trs sees, alm desta introduo e das consideraes finais. A
primeira discute algumas notas sobre austeridade e o NAF e, a segunda, traz
elementos para debate da relao entre o NAF e o desenvolvimento regional. Por
fim, discutida possveis relaes entre fundo pblico e a PNDR.
NOTAS SOBRE A
AUSTERIDADE E O NOVO ARCABOUO FISCAL (NAF)
Em livro recente, Clara
Mattei (2023) recorda que a austeridade tem suas origens como poltica de
distintos Estados nacionais no Reino Unido (liberal) e na Itlia (fascista)
aps primeira Guerra Mundial. A austeridade conforma um conjunto de medidas de
estrito controle do gasto pblico, que levam coero para grande parte da
populao, privando-as de acesso a servios pblicos essenciais para a
reproduo social. Segundo a autora [...] especialistas econmicos, fascistas
ou liberais, reconheceram que, para garantir a liberdade econmica isto , a
liberdade de mercado para o poupador-empreendedor virtuoso os pases tinham
que renunciar s liberdades polticas, ou, no mnimo, coloca-las em segundo
plano (Mattei, 2003, p. 32). Nesse sentido, a prtica da austeridade,
lastreada em corpo terico burgus bem como sua dominao ideolgica, priva o
oramento da deciso popular a soberana. Tal avaliao no destoa de um dos
principais economistas da teoria convencional, Olivier Blanchard (2016), pois
para ele a conduo da poltica econmica convencional Em algum momento a
questo do dficit de democracia surge (Blanchard, 2016, p. 286).
A crise de 2008
demonstrou limites da financeirizao do capital em escala global, tanto no
centro quanto na periferia capitalista. Inicialmente, foi conclamada a nova era
da austeridade (Rossi; Dweck; Arantes, 2018), mas logo os Estados nacionais
foram chamados para promover a limpeza dos balanos contbeis dos setores
empresariais privados afetados pela crise, incluindo a estatizao de empresas
(Mazzucchelli, 2008). A justificativa para tais medidas, foi que o resgate do
setor privado era fundamental, pois eles so muito grandes para quebrar
(too big to fail
na lngua inglesa). Evidentemente, a operao de resgate mobilizou trilhes de
dlares e recaiu, dentre outros, sobre a expanso da dvida pblica de vrias
economias. Evidentemente, aps o resgate ao setor privado, a classe
trabalhadora chamada a pagar a conta por meio da austeridade:
So as
pessoas que na realidade dependem dos servios governamentais e ficaram com uma
enorme quantidade de dvida (em relao aos respectivos rendimentos) que ser fiscalmente
consolidada. [...] quando se espera que os da base paguem desproporcionalmente
um problema criado pelos do topo, quando os do topo fogem ativamente a qualquer
responsabilidade pelo problema, atribuindo a culpa dos seus erros ao Estado,
espremer os da base no s no produzir receitas suficientes para resolver as
coisas como produzir uma sociedade ainda mais polarizada e politizada, em que
as condies para uma poltica sustentvel de lidar com mais dvida e menos
crescimento esto minadas (Blyth, 2017, p. 33).
Ou seja, a evoluo da
dvida pblica significa mais presso sobre o gasto social e de investimento.
Segundo, Rossi, Dweck e Arantes (2018), a prtica da austeridade leva a um crculo
vicioso da austeridade: a reduo dos gastos e dos investimentos pblicos
impacta negativamente na demanda privada, que, por sua vez, leva a uma reduo
do crescimento, reduo da arrecadao e, por fim, piora do resultado
primrio. A austeridade, portanto, no resulta, necessariamente, em equilbrio
do dficit e da dvida.
Durante a pandemia, o
Estado tambm foi chamado para salvaguardar o capital. A Conferncia das Naes
Unidas para o Comrcio e o Desenvolvimento (United Comission
for Trade and Devolpment, 2020), que realizou estudo a partir do anncio
de medidas dos governos ainda no incio da pandemia, estimou que dos US$ 5
trilhes anunciados pelos governos apenas 25% seria efetivo para manuteno do
emprego e da renda. Ela alertou para a possibilidade de os pacotes econmicos
anunciados pelos governos contriburem mais para a limpeza dos balanos de
empresas privadas do que efetivamente contribuir para a reproduo social e
manuteno do emprego e da renda em meio a uma crise sanitria.
As prticas de
austeridade afetaram de forma diferenciada as classes sociais. Na verdade,
conforme j discutido, ela escolhe a classe que ser responsvel pelo ajuste
na disputa pelo oramento. Nesse sentido, Kelton
(2023) questiona:
Mas voc
j notou que isso nunca parece ser um problema quando o assunto e ampliar o
oramento de defesa, resgatar bancos ou proporcionar incentivos fiscais
gigantes para os mais ricos, mesmo se essas medidas significarem um aumento
considervel do dficit? [...] Dficits no impediram Franklin Delano Roosevelt
de implementar o New Deal nos anos 1930. No
dissuadiram John F. Kennedy de enviar um homem lua. E nunca impediram o
Congresso de entrar em uma guerra (Kelton, 2023, p.
22).
Aps a pandemia, Estados
nacionais foram chamados guerra, que mobiliza parte importante do oramento e
contribui para ampliao da dvida. As guerras da Ucrnia e da Palestina
demonstram o esforo internacional pela conquista de territrios
internacionais, sendo a classe trabalhadora a mais afetada por interesses alheios
e estranhos a elas. A crise social, ps pandemia, como o aumento da fome e da
desigualdade, no mobilizam recursos e nem a vontade dos grupos no poder, assim
como com as guerras. Essas crises so reais. O dficit federal no uma
crise (Kelton, 2023, p. 31).
No Brasil, o Plano Real
inaugurou a prtica de austeridade permanente (Behring, 2022).
Progressivamente, foram desmontados os mecanismos de financiamento de poltica
sociais previstos pela Constituio de 1988. O discurso do combate ao dficit
fiscal prevaleceu sobre a busca pela justia social. Contudo, a
dvida brasileira no deixou de crescer, o que ocorreu mais em virtude dos
gastos financeiros do que do prprio resultado primrio. Alm do trip
macroeconmico, o NAF ter impactos sobre o controle dos gastos primrios, que
afetar a oferta de servios pblicos essenciais. Evidentemente, a austeridade
tem impactos diferenciados no territrio, o que pode frear a reduo das
desigualdades regionais.
NOVO ARCABOUO FISCAL E
DESENVOLVIMENTO REGIONAL: ELEMENTOS PARA DEBATE
marca da formao
econmica, social e territorial brasileira o colonialismo e a escravido. So
produzidas e reproduzidas no territrio os elementos constituintes de uma
economia subdesenvolvida, dependente e perifrica. Articulam-se entre os nveis
internacional, regional e local, os grupos no poder, bem como de atividades
econmicas no territrio, especialmente o controle sobre a terra o n cego
do desenvolvimentismo brasileiro (Fiori, 1994).
O Estado ator
fundamental no direcionamento do processo de acumulao de capital, bem como de
sua localizao territorial utilizando-se, dentre outros, o fundo pblico. O
capital, em busca de valorizao, apropria-se do territrio, moldando-o de
acordo com suas necessidades no processo de produo e valorizao, incluindo
a a acumulao primitiva ou a acumulao por espoliao, com impactos
diferenciados nos territrios. So produzidas e reproduzidas heterogeneidades
inter-regionais e intrarregionais no territrio, levando a elevadas disparidades
regionais, especialmente em economias subdesenvolvidas, dependentes e
perifricas. A reproduo social no capitalismo ocorre no territrio, assim
como as polticas sociais. A disputa do fundo pblico ocorre no s entre as
classes, mas tambm nos diferentes territrios, de acordo com as diferentes
articulaes que podem ocorrer no nvel internacional, nacional, regional ou
local.
A partir da opo pelo
modelo neoliberal na dcada de 1990, o Estado brasileiro tendeu a diminuir o
seu papel como agente coordenador, planejador, indutor, investidor e empresrio
na economia. Nesse sentido, foram enfraquecidos os instrumentos que articulavam
as regies do pas que sob hegemonia paulista constituram um sistema
econmico nacional prevalecendo, a partir da dcada de 1990, lgica
concorrencial entre os territrios para captao de recursos e atrao de
investimentos. As reformas econmicas, como abertura comercial, financeira e
privatizaes tambm afetaram as distintas regies do pas. A austeridade no
ficou restrita ao mbito nacional, mas, tambm, compareceu para estados e
municpios, por exemplo, por meio da Lei de Responsabilidade Fiscal (Lei
Complementar n 101/2000).
A economia brasileira
uma federao organizada pela Unio, estados e muncipios, cada qual com um
conjunto de atribuies, tal qual definida pela Constituio de 1988. Em geral,
a discusso sobre o federalismo no Brasil centrada no federalismo fiscal,
dada a relevncia da discusso fiscal no Brasil, tanto para a Unio, mas,
tambm, para os estados e municpios (Oliveira, 2020). O pacto federativo no
Brasil predominantemente competitivo, e sua exacerbao se deu aps o
Plano Real, no qual a chamada guerra fiscal se fez mais presente
(Cardozo, 2010). O principal
instrumento da guerra fiscal utilizado pelos estados para atrair
investimentos para seus territrios o Imposto sobre Circulao de Mercadorias
e Servios (ICMS)[1].
A guerra fiscal tem
um papel relevante no processo de lenta desconcentrao produtiva regional no
Brasil, tendo ganhado flego a partir do Plano Real, uma vez que regies
perifricas tem sido lcus de atrao e investimento sem a devida coordenao
federativa. A desconcentrao produtiva regional pode ser entendida como a
perda, no longo prazo, de participao do estado de So Paulo e sua regio
metropolitana no PIB e na indstria de transformao. No perodo de 1970 a 1985
em virtude de um contexto de crescimento econmico acelerado ela pode ser
chamada de virtuosa. Nesse perodo, So Paulo cresceu a taxas elevadas,
ainda fazendo o papel de locomotiva nacional, porm as demais regies cresceram
a taxas mais elevadas. Porm, aps 1985, com a tendncia estagnao econmica
e desindustrializao, ela pode ser chamada de espria (Cano, 2008).
Nesse perodo, So Paulo cresceu a taxas baixas, em valores inferiores aos
obtidos pelo restante do pas.
Durante o perodo
ps-1990 possvel observar que a dinmica econmica de determinadas regies
do pas voltou a estar mais relacionadas com o setor externo do que ao mercado
interno, especialmente com o relativo enfraquecimento de conexes comerciais e produtivas
realizadas a partir da economia paulista. Isto pode ser observado, por exemplo,
na macrorregio do Centro-Oeste, que apresentou aumento na participao do PIB
nacional, com destaque para o agronegcio exportador. possvel afirmar,
portanto que h uma tendncia fragmentao da nao, que tende a
diminuir os efeitos irradiadores do crescimento no mercado interno (Brando,
2007; Cano, 2008; Macedo, 2023).
Dentre outros, a
desconcentrao produtiva regional, a guerra fiscal e a fragmentao
espacial so elementos constituintes das novas determinaes da questo
urbano-regional do Brasil no ps-1980 (Cano, 2011). Elas se do no contexto de
mudanas profundas na economia brasileira, sem que ela tenha superado as
perversas heranas quando aderiu ao movimento ao movimento global da
financeirizao.
De acordo com Affonso
(1994), a costura do pacto federativo brasileiro se d por meio do fundo
pblico e o mercado insuficiente para faz-lo. De acordo com este autor, o
fundo pblico pode ser observado por meio de receitas tributrias (prprias,
transferidas, constitucionais ou negociadas), receita disponvel da Unio,
gasto das empresas estatais, incentivos fiscais regionais e setoriais, e, por
fim, emprstimos do setor financeiro pblico.
Dentre os elementos
destacados, esto inclusos aqueles da face mais visvel do fundo pblico, ou
seja, aqueles presentes no oramento dos distintos entes federativos. H,
tambm, outros elementos que compem o fundo pblico que no passam,
necessariamente, pelo oramento. importante ressaltar, segundo Macedo (2023),
que o fundo pblico tem papel relevante no processo de integrao comercial e
produtiva do Brasil, contribuindo para a construo do sistema econmico
nacional (quem vem sendo crescentemente desarticulado no ps-1990).
De acordo com o
exposto, bem como a avaliao do NAF feita por Evilsio Salvador e Osmar Gomes
de Alencar Jnior neste nmero da Argumentum, o NAF
poder reduzir a atuao do fundo pblico nos distintos subespaos regionais
seja por meio do gasto corrente, seja por meio dos investimentos, podendo
acirrar os conflitos pela disputa de recurso numa federao em crise.
A POLTICA NACIONAL DE
DESENVOLVIMENTO REGIONAL E O FUNDO PBLICO NO CONTEXTO DO NOVO ARCABOUO FISCAL
A Poltica Nacional de
Desenvolvimento Regional (PNDR, Decreto n 11.962/2024) (Brasil, 2024) tem por objetivo, considerando as especificidades
locais: i) reduzir as desigualdades regionais, ii)
consolidar uma rede policntricas de cidades, iii)
estimular ganhos de produtividade e a competitividade da produo regional, iv) fomentar a agregao de valor e a diversificao
econmica, promovendo a sustentabilidade especialmente nas regies altamente
especializadas na produo de commodities agrcolas ou minerais. De forma
geral, trata-se de medidas voltadas para a dinamizao e atividades produtivas
nas regies que so alvo da poltica[2].
So regies-alvo da
PNDR: i) macrorregies da Amaznia Legal, Nordeste e Centro-Oeste[3], ii) sub-regies correspondentes ao recorte territorial da
PNDR, a saber, a faixa de fronteira, a Regio Integrada de Desenvolvimento (RIDE),
e o semirido, iii) por fim, aquelas definidas pelo
Comit-Executivo da Cmara de Polticas de Integrao Nacional e
Desenvolvimento Regional.
Para atingir seus
objetivos, alm de uma estrutura de governana[4], a
PNDR contribui para a orientao de recursos do fundo pblico, principalmente
de origem federal, que atua sobre as regies que so alvo da poltica. Em
relao aos instrumentos de ao[5],
de acordo com o Ministrio da Integrao e do Desenvolvimento Regional (MDR)[6]
possvel elencar:
Fundo de
Desenvolvimento Regional (Fundo de Desenvolvimento da Amaznia-FDA, Fundo de
Desenvolvimento do Nordeste-FDN e Fundo de Desenvolvimento do
Centro-Oeste-FDCO): tem por objetivo prover recursos financeiros nas reas de
abrangncia da Superintendncia do Desenvolvimento da Amaznia (SUDAM),
Superintendncia do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) e Superintendncia do
Desenvolvimento do Centro-Oeste (SUDECO) para promoo de infraestrutura,
servios pblicos e empreendimentos produtivos de
maior porte.
Incentivos fiscais:
incentivar o aumento da taxa de investimento em reas e setores prioritrias
das regies de abrangncia da SUDAM e da SUDENE, utilizando como principal
instrumento a deduo do Imposto de Renda sobre Pessoa Jurdica (IRPJ).
Regime Especial de
Incentivos para Desenvolvimento da Infraestrutura: promover a desonerao da
implantao em projetos de infraestrutura, utilizando a suspenso do pagamento
do Programa de Integrao Social (PIS) e Contribuio para o Financiamento da Seguridade
Social (COFINS).
Fundos Constitucionais
de Financiamento (Fundo Constitucional de Financiamento do Norte-FNO, Fundo
Constitucional de Financiamento do Nordeste-FNE, Fundo Constitucional de
Financiamento do Centro-Oeste-FCO): fundos pr-mercado e voltados para atuao
prioritria para micro, pequenas e mdias empresas nas reas de atuao da
SUDAM, SUDENE e SUDECO.
Em que pese a atuao
dos diversos elementos relacionados com o fundo pblico coordenados pelo MDR,
tambm possvel elencar outros que afetam o desenvolvimento regional nas
regies que so alvo da poltica, mas que no esto articulados com os instrumentos
de ao deste Ministrio. De acordo com o exposto acima, os instrumentos da
PNDR contribuem para estimular atividades produtivas nas regies que so alvo
da poltica, porm, dado o baixo dinamismo econmico, muitas delas no so
atrativas ao capital, os que pode limitar o raio de ao da poltica.
Outras polticas, que
fogem ao escopo da coordenao do MDR, podem ter um impacto mais direto em
regies de baixo dinamismo econmico. Por exemplo, os recursos empregados em
previdncia social, em polticas de transferncia de renda, as polticas de
valorizao do salrio-mnimo, a realizao de investimentos pblicos, os
programas de habitao, os recursos aplicados instituies de ensino superior,
a atuao de bancos pblicos e de desenvolvimento regional, entre outros
(Macedo, 2023), os quais podem estar relacionadas tanto com o governo federal
quanto dos entes subnacionais tm impactos significativos na economia e no
territrio, sobretudo nas regies de menor dinamismo econmico. Elas podem ser
chamadas de polticas implcitas de desenvolvimento regional e, tambm,
contribuem para a diminuio das desigualdades regionais, sobretudo quando
esto relacionadas com polticas sociais.
Considerando as
polticas implcitas e explicitas de desenvolvimento regional,
importante ressaltar, segundo Macedo (2023) que
[...] as polticas
regionais devem ser pensadas e executadas cada vez mais coordenadas com as
demais aes federais, estaduais e municipais, o que torna a dicotomia entre
polticas regionais explcitas e implcitas menos importante. Relevante a
coordenao federativa, que inexiste, dificultando, logo, qualquer perspectiva
de combate aos desequilbrios regionais (Macedo, 2023, p. 255).
Independente da
poltica de desenvolvimento regional ser explcita ou implcita,
o fundo pblico est presente, ora soldando os interesses do capital e dos
grupos locais, ora atuando na melhoria de condies de vida das pessoas que
demandam polticas sociais. O NAF estabelece certos limites para atuao
especialmente das polticas implcitas, tendo em vista que elas so
parte do gasto primrio do governo. Portanto, pode ser entendido como uma
espcie de freio reduo das desigualdades sociais regionais.
CONSIDERAES FINAIS
O tema da austeridade
no novo na economia internacional e tem novos contornos na atualidade,
especialmente em um momento de capitalismo em crise. A opo clara: os
direitos sociais conquistados so caros e no so prioridade para governos. O
ajuste recai sobre a parcela mais vulnervel da populao, com medidas
restritivas de acesso a servios pblicos e sociais. Principalmente em momentos
de crise, o fundo pblico chamado para salvar o capital, como foi o caso da
crise de 2008 e da pandemia.
No Brasil, pode-se
afirmar que a austeridade est relacionada com o neoliberalismo e ganhou flego
a partir do Plano Real. A longa estagnao econmica, a desindustrializao, a
austeridade so marcas do neoliberalismo tardio no Brasil. J em relao ao desenvolvimento
regional, entre outros, o lento processo de desconcentrao produtiva, a guerra
fiscal e a fragmentao espacial, dentre outras, podem ser
considerados como elementos constituintes da questo urbano-regional do Brasil
no ps-1980. Tais elementos tem contribudo para o recrudescimento das
desigualdades econmicas, sociais e regionais no pas.
Como forma de combater
as desigualdades regionais, foi criada a PNDR. A utilizao do fundo pblico
via PNDR ocorre tanto nas polticas explcitas, mais voltada para a
dinamizao de atividades produtivas, quanto para as polticas implcitas,
incluindo a o financiamento de polticas sociais. O presente texto buscou
demonstrar que na prtica o novo captulo da austeridade no Brasil proposto
pela NAF pode servir como uma espcie de freio para as polticas implcitas
de desenvolvimento regional, pois os investimentos pblicos e os gastos sociais
afetam regies de menor dinamismo econmico, que geralmente no so atrativas
ao capital.
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________________________________________________________________________________________________
Daniel Pereira SAMPAIO
Professor de Magistrio
Superior no Departamento de Economia e professor permanente do Programa de
Ps-Graduao em Poltica Social da Universidade Federal do Esprito Santo (Ufes).
Doutor e Mestre em Desenvolvimento Econmico pela Universidade de Campinas (UNICAMP).
Bacharel em Cincias Econmicas pela Ufes.
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* Economista.
Doutor em Desenvolvimento Econmico. Professor do Programa de Ps-graduao em
Poltica Social e do Departamento de Economia da Universidade Federal do
Esprito Santo. (Ufes, Vitria, Brasil).
Av. Fernando Ferrari, n 514,
Goiabeiras, Vitria (ES), CEP.
29075-910. E-mail: daniel.sampaio@ufes.br.
A(s)
Autora(s)/O(s) Autor(es). 2024 Acesso Aberto Esta obra est licenciada sob os
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[1] Evidentemente, a atual reforma tributria,
dada pela Emenda Constitucional n 132/2023 (ainda em processo de
regulamentao), ao alterar e simplificar o sistema tributrio, tende a
diminuir a capacidade dos estados em manterem em funcionamento o principal
instrumento da guerra fiscal.
[2] Uma avaliao da evoluo sobre o debate
das polticas de desenvolvimento regional pode ser acessada em Macedo (2023).
[3] Tendo em vista que a regio Centro-Oeste
tem apresentado elevado dinamismo econmico, via exportao de produtos do
agronegcio, e, tambm, tem apresentado elevados indicadores sociais, Macedo
(2023) questiona se ela deveria ser alvo da PNDR.
[4] As estruturas de governana da PNDR esto
descritas no Decreto (Brasil, 2014) que a institui, a saber: Cmara de
Polticas de Integrao e Desenvolvimento Regional, Comite Executivo da Cmara,
Ncleo de Inteligncia Regional.
[5] Em geral, os fundos, principalmente
constitucionais, no esto no raio de atuao da austeridade.
[6] Disponvel em: https://www.gov.br/mdr/pt-br/assuntos/fundos-regionais-e-incentivos-fiscais. Acesso em: 28 abr. 2024.