A construção educacional do “aluno- problema” como processo de estigmatização
DOI:
https://doi.org/10.47456/gwf6cb89Resumo
O estigma é um fenômeno social que pode se mani- festar no ambiente escolar. Este artigo tem como objetivo discutir suas manifestações em instituições públicas de ensino, a partir da análise da construção educacional do aluno-problema. Para isso, são mobilizados trabalhos que sustentam a argumentação de que o aluno-problema pode ser entendido como o estudante cuja identidade foi deteriorada. Considera-se o conceito goffmaniano de estigma, articulado à teoria do desvio proposta por Becker (2008), para, em seguida, apresentar pesquisas de diferentes matizes, temporalidades e contextos que abordam as interações estabelecidas entre estudantes “desajustados” e suas respecti- vas escolas. Com base no diálogo com as pesquisas referen- ciadas, o aluno-problema é definido como um sujeito construído nas escolas enquanto “não-aluno”, por um processo marcado por múltiplos atravessamentos. O desvio, em seu sentido sociológico - ou seja, aquilo que é, no contexto analisado, definido de forma relacional como “mau comportamento” ou “indisciplina” - torna-se um componente central do estigma, a qual acaba por reforçar a noção de “ineducabilidade”, associada a questões étnico-ra- ciais, socioeconômicas e de gênero. Trata-se de uma discussão relevante e necessária, uma vez que estudantes estigmatizados podem não concluir seus estudos, mesmo estando inseridos em escolas que compõem sistemas de ensino que preconizam se- rem republicanos, democráticos e universais.
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