PEDAGOGIA PRETA E EDUCAÇÃO MEDU NETER: CONTRIBUIÇÕES À CULTURA ANTIRRACISTA NA ESCOLA
BLACK PEDAGOGY AND MEDU NETER EDUCATION: CONTRIBUTIONS TO ANTI-RACIST CULTURE AT SCHOOL
Resumo
Desde as primeiras experiências de educação formal no Brasil, ocorridas ainda no século XVI, até os dias atuais, as matrizes curriculares escolares e, com elas, as correntes pedagógicas presentes na escola têm sido marcadas pela predominância da cultura brancocentrada, notadamente de viés europeu. Num país majoritariamente de população negra e constituído por povos originários resistentes de mais de duzentas nações, essa situação poderia parecer paradoxal, não fossem as conhecidas formas de opressão, violência e dominação política, econômica, religiosa, cultural, militar, dentre outras, que marcaram a história nacional em mais de quinhentos anos. Essa realidade educacional, no entanto, tem sido radicalmente criticada e denunciada por intelectuais, educadoras e educadores particularmente desde a segunda metade do século XX. Mais recentemente, um grande números de trabalhos têm sido desenvolvidos na perspectiva não apenas de aprofundar as críticas sobre a branquitude, mas, igualmente, de apresentar respostas viáveis para o enfrentamento e superação desse quadro de opressão cultural. Tomando como referências distintos autores e autoras do pensamento crítico, especialmente os(as) de tradição freiriana e marxista que investigam temáticas étnico-raciais, este estudo tem como objeto o processo de construção da pedagogia preta, como legado da educação medu neter e das contribuições culturais afro-brasileiras, com vistas a contribuir para um novo paradigma pedagógico, fundado no exercício da denúncia (crítica) e do anúncio (proposição), como elementos estruturantes à construção de uma cultura antirracista na escola, em especial, no âmbito da Educação Básica.
Downloads
Referências
ALMEIDA. Silvio Luiz de. Racismo estrutural. São Paulo: Jandaíra, 2020.
ASHBY, Sebai Muata Abhaya. Antigos hieróglifos egípcios para iniciantes -Medtu Neter- “Palavras Divinas”. Flórida: Sema Institute, 2006.
BRASIL. Lei nº. 10.639 de 09 de janeiro de 2003. Inclui a obrigatoriedade da temática História e Cultura Afro-Brasileira no currículo oficial da rede de ensino. Diário Oficial da União, Brasília, 2003.
BRASIL. MEC. Plano Nacional de Implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais para educação da relações étnico-raciais e para o ensino de história e cultura afrobrasileira e africana. Brasília, 2008.
CANDAU, Vera Maria Ferrão; OLIVEIRA, Luiz Fernandes de. Pedagogia decolonial e educação antirracista e intercultural no Brasil. Educação em Revista. Belo Horizonte, v.26, n.0, p.15-40, abr. 2010.
CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO. Parecer n.03 de 10 de março de 2004. Dispõe sobre as diretrizes curriculares nacionais para a educação das relações étnico-raciais e para o ensino de história e cultura afro-brasileira e africana. Ministério da Educação. Brasília, julho de 2004.
CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO. Resolução n.01 de 17 de junho de 2004. Dispõe sobre as diretrizes curriculares nacionais para a educação das relações étnico-raciais e para o ensino de história e cultura afro-brasileira e africana. Ministério da Educação. Brasília, julho de 2004.
CRUZ, Manoel de Almeida. Alternativas para combater o racismo: um estudo sobre o preconceito racial e o racismo. Uma proposta de intervenção científica para eliminá-los. Salvador. Núcleo Cultural Afro Brasileiro, 1989.
CRUZ, Manoel de Almeida. Pedagogia interétnica. Cadernos de pesquisa, nº 63. São Paulo. Fundação Carlos Chagas, 1987.
DIOP, Cheikh Anta. A origem africana da civilização: mito ou realidade. Chicago. Lawrence Hill & Co., 1974.
FREIRE, Paulo. Cartas à Guiné-Bissau: registros de uma experiência em processo. Rio de Janeiro. 3. ed. Paz e Terra, 1978.
FREIRE, Paulo. Conscientização: teoria e prática da libertação: uma introdução ao pensamento de Paulo Freire. São Paulo: Cortez & Moraes, 1979.
FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1967.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da esperança: um reencontro com a pedagogia do oprimido. 6. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1999.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da indignação: cartas pedagógicas e outros escritos. São Paulo: Editora UNESP, 2000.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 17. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
GHIRALDELLI JUNIOR, Paulo. O que é pedagogia. São Paulo: Brasiliense, 2006.
GÓES. Washington Lopes. A abordagem da história e cultura afro-brasileira na BNCC do ensino médio: reflexão a partir da lei nº 10.639/03. Revista Fim do Mundo, nº 7, jan/jun 2022. https://doi.org/10.36311/2675-3871.2022.v3n7.p135-157
GOMES. Ana Beatriz Sousa. A pedagogia do movimento negro em instituições de ensino em Teresina, Piauí: as experiências do NEAB Ìfaradá e do Centro Afrocultural “Coisa de Nêgo”. Tese (Doutorado) - Universidade Federal do Ceará, Faculdade de Educação, Programa de Pós-Graduação em Educação Brasileira, Fortaleza (CE), 28/09/2007.
GORENDER, Jacob. O escravismo colonial: a categoria escravidão. São Paulo: Perseu Abramo, 2010.
IBGE. Quilombolas no Brasil. Disponível em: < https://educa.ibge.gov.br/jovens/materias-especiais/21311-quilombolas-no-brasil.html#:~:text=Um%20estudo%20realizado%20pela%20Base,5.972%20localidades%20quilombolas%20no%20Brasil>. Acesso em: 11 dez. 2023.
LIMA, Ivan Costa. Memória histórica da pedagogia multirracial no Rio de Janeiro na década de 1980: o protagonismo de Maria José Lopes da Silva. Vozes, Pretérito & Devir Dossiê Temático: Gênero e Diversidade. Ano IV, Vol. VII, Nº I (2017). ISSN: 2317-1979, Florianópolis, 2017.
LIMA, Ivan Costa. Uma proposta pedagógica do Movimento Negro no Brasil: pedagogia interétnica de Salvador, uma ação de combate ao racismo. Dissertação de Mestrado Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, 2004.
MANACORDA, Mario Alighiero. História da educação: da antiguidade aos nossos dias. 3 ed. São Paulo: Cortez: Autores Associados, 1992.
MARX, K; ENGELS, F. A ideologia alemã: crítica da mais recente filosofia alemã em seus representantes Feuerbach, B. Bauer e Stirner,e do socialismo alemão em seus diferentes profetas. São Paulo: Boitempo, 2007.
MORAES, Marcelo José Derzi. Filosofia e educação no Egito Antigo. In: BRANCAGLION Jr., Antonio; CHAPOT, Gisela; GAMA-ROLAND, Cintia (org.). SEMNA: estudos de egiptologia VI: Semana de Estudos de Egiptologia do Museu Nacional UFRJ. 2 Ed. Rio de Janeiro: Seshat - Laboratório de Egiptologia do Museu Nacional/Editora Klínē, 2019.
PONTES, Katiúscia Ribeiro. Kemet, escolas e arcádeas: a importância da filosofia africana no combate ao racismo epistêmico e a lei 10639/03. Dissertação (Mestrado) Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca, Rio de Janeiro, 2017.
QUIJANO, Aníbal. Colonialidade do poder, Eurocentrismo e América Latina. In: CLACSO, Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales. A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas latino-americanas. Buenos Aires: CLACSO, 2005. Disponível em: < https://biblioteca.clacso.edu.ar/clacso/sur-sur/20100624103322/12_Quijano.pdf>. Acesso em: 06 dez. 2023.
WALSH, Catherine. Pedagogías decoloniales. Práticas Insurgentes de resistir, (re)existir e (re)vivir. Quito: Abya -Yala, 2017.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2023 Cadernos de Pesquisa em Educação
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Os artigos publicados na Revista Cadernos de Pesquisa em Educação, estão licenciados conforme CC BY. Para mais informações sobre essa forma de licenciamento, consulte: http://creativecommons.org/licenses/by-nc/4.0