Gênero e marxismo: uma relação necessária para o serviço social
Resumo
Este resumo socializa a discussão teórica desenvolvida em trabalho de conclusão de curso, apresentado ao Curso de Graduação em Serviço Social da Universidade Federal de Santa Maria, em 2017, constituído como uma pesquisa bibliográfica e documental. Focando o Serviço Social como profissão teórico-operativa, pretende problematizar a conceituação do gênero, alertando para os riscos teóricos propostos pelas referências pós-modernas, hegemônicas nesse debate atualmente, e propor caminhos para sua apreensão a partir da abordagem marxista.
Problematizando o conceito de gênero
A partir dos anos 1980, o gênero começa a se disseminar nas ciências, constituindo-se uma categoria analítica que substitui, aos poucos, o termo mulheres, passada a ser vista como categoria empírica e descritiva. Surgiu como contraponto à categoria sexo, explicada biologicamente até então e utilizada para justificar os “papeis sociais” de mulheres e homens. Estabeleceu-se, assim, enquanto construção social. Daí que utilizar o gênero é compreender que as mais diversas desigualdades entre mulheres e homens não advém de questões naturais, e/ou de “essência” masculina ou feminina, mas de construções sócio-históricas que determinam tais relações.
O contexto de consolidação desta categoria converge com um momento em que um conjunto de mudanças sociais acarreta em questionamentos aos paradigmas teóricos da modernidade. A perspectiva que se fortalece desde então, a pós-moderna, é pioneira e hegemoniza a conceituação do gênero, difundindo uma análise individualista e individualizada das relações de poder entre homens e mulheres, que se basta na linguagem e no discurso, assim como traz o risco de elevar as diferenças percebidas e não as desigualdades concretas entre estes e estas[1]. Ademais, tem-se acordo com Saffioti (2015) quando alerta que pode possuir uma generalidade excessiva e pretensão de neutralidade, que apresentam grande grau de extensão, mas baixo de compreensão.
No entanto, também se afirma que a categoria gênero é política, histórica e analítica, por isso contraditória e em disputa. Sendo assim, apesar de sua conceituação ser hegemonizada pela perspectiva pós-moderna, ela também pode – e vem, ainda que não como um consenso - ser apropriada e trabalhada pelo marxismo, dada sua ampla difusão e utilização hoje, inclusive na formulação de políticas sociais, estas operacionalizadas pelo (a) assistente social. Essa abordagem aponta para a possibilidade de tratar o gênero como estruturante das relações sociais, sempre articulado a outras categorias e/ou relações cruciais. Entende-se que o conteúdo do conceito de gênero, “[...] se apartado das relações sociais de classe e ‘raça’, e da luta pela erradicação das explorações e opressões daí decorrentes, pouco oferece como ‘arma da crítica’” (CISNE, 2014, p.67) e da prática na perspectiva de transformação social.
Considerações finais
Preocupa a difusão e a hegemonia do conceito de gênero pelo referencial pós-moderno, que, ao fim e ao cabo, contribui para imperar um idealismo que tende a atenuar a desigualdade das relações sociais de gênero e a contribuir com sua reprodução. Por essa razão, defende-se que essa categoria seja tratada e apropriada pela abordagem marxista, já que se distingue radicalmente daquela quando propõe a relação indissociável entre teoria e prática e a necessidade de transformar a realidade.
Neste sentido, para o Serviço Social aprimorar sua análise e intervenção nas relações sociais, tendo coerência com seu projeto profissional, que é calcado no marxismo, precisa aprofundar sua abordagem sobre gênero sob uma perspectiva crítica.
Palavras-chave: Gênero; Marxismo; Crítica à pós-modernidade; Serviço Social.
[1] Como exemplo disso, cita-se a “teoria queer”.
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Referências
SAFFIOTI, Heleieth. Gênero, patriarcado, violência. 2. ed. São Paulo: Expressão Popular, 2015.