Gênero e marxismo: uma relação necessária para o serviço social

Autores/as

  • Mariana Marques Sebastiany Pontifícia Universidade Católica
  • Laura Regina da Silva Câmara Maurício da Fonseca Universidade Federal de Santa Maria

Resumen

Este resumo socializa a discussão teórica desenvolvida em trabalho de conclusão de curso, apresentado ao Curso de Graduação em Serviço Social da Universidade Federal de Santa Maria, em 2017, constituído como uma pesquisa bibliográfica e documental. Focando o Serviço Social como profissão teórico-operativa, pretende problematizar a conceituação do gênero, alertando para os riscos teóricos propostos pelas referências pós-modernas, hegemônicas nesse debate atualmente, e propor caminhos para sua apreensão a partir da abordagem marxista.

Problematizando o conceito de gênero

A partir dos anos 1980, o gênero começa a se disseminar nas ciências, constituindo-se uma categoria analítica que substitui, aos poucos, o termo mulheres, passada a ser vista como categoria empírica e descritiva. Surgiu como contraponto à categoria sexo, explicada biologicamente até então e utilizada para justificar os “papeis sociais” de mulheres e homens. Estabeleceu-se, assim, enquanto construção social. Daí que utilizar o gênero é compreender que as mais diversas desigualdades entre mulheres e homens não advém de questões naturais, e/ou de “essência” masculina ou feminina, mas de construções sócio-históricas que determinam tais relações.

O contexto de consolidação desta categoria converge com um momento em que um conjunto de mudanças sociais acarreta em questionamentos aos paradigmas teóricos da modernidade. A perspectiva que se fortalece desde então, a pós-moderna, é pioneira e hegemoniza a conceituação do gênero, difundindo uma análise individualista e individualizada das relações de poder entre homens e mulheres, que se basta na linguagem e no discurso, assim como traz o risco de elevar as diferenças percebidas e não as desigualdades concretas entre estes e estas[1]. Ademais, tem-se acordo com Saffioti (2015) quando alerta que pode possuir uma generalidade excessiva e pretensão de neutralidade, que apresentam grande grau de extensão, mas baixo de compreensão.

No entanto, também se afirma que a categoria gênero é política, histórica e analítica, por isso contraditória e em disputa. Sendo assim, apesar de sua conceituação ser hegemonizada pela perspectiva pós-moderna, ela também pode – e vem, ainda que não como um consenso - ser apropriada e trabalhada pelo marxismo, dada sua ampla difusão e utilização hoje, inclusive na formulação de políticas sociais, estas operacionalizadas pelo (a) assistente social. Essa abordagem aponta para a possibilidade de tratar o gênero como estruturante das relações sociais, sempre articulado a outras categorias e/ou relações cruciais. Entende-se que o conteúdo do conceito de gênero, “[...] se apartado das relações sociais de classe e ‘raça’, e da luta pela erradicação das explorações e opressões daí decorrentes, pouco oferece como ‘arma da crítica’” (CISNE, 2014, p.67) e da prática na perspectiva de transformação social.

Considerações finais

Preocupa a difusão e a hegemonia do conceito de gênero pelo referencial pós-moderno, que, ao fim e ao cabo, contribui para imperar um idealismo que tende a atenuar a desigualdade das relações sociais de gênero e a contribuir com sua reprodução. Por essa razão, defende-se que essa categoria seja tratada e apropriada pela abordagem marxista, já que se distingue radicalmente daquela quando propõe a relação indissociável entre teoria e prática e a necessidade de transformar a realidade.

Neste sentido, para o Serviço Social aprimorar sua análise e intervenção nas relações sociais, tendo coerência com seu projeto profissional, que é calcado no marxismo, precisa aprofundar sua abordagem sobre gênero sob uma perspectiva crítica.

Palavras-chave: Gênero; Marxismo; Crítica à pós-modernidade; Serviço Social.


[1] Como exemplo disso, cita-se a “teoria queer”.

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Biografía del autor/a

Mariana Marques Sebastiany, Pontifícia Universidade Católica

Graduada em Serviço Social pela Universidade Federal de Santa Maria e mestranda no Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. 

Laura Regina da Silva Câmara Maurício da Fonseca, Universidade Federal de Santa Maria

Doutora em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul e professora do Departamento de Serviço Social da Universidade Federal de Santa Maria. 

Citas

CISNE, Mirla. Feminismo e consciência de classe no Brasil. São Paulo: Cortez, 2014.

SAFFIOTI, Heleieth. Gênero, patriarcado, violência. 2. ed. São Paulo: Expressão Popular, 2015.

Publicado

04-06-2018